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terça-feira, 26 de agosto de 2025

Júlio Pomar, 1951, As pombas da paz: o PCP contra a NATO

As pombas da paz. Menina e pombas, 1951. Da campanha do PCP contra a NATO passava pelo Atelier da Praça da Alegria.



 

Duas gravuras de 1951 (não expostas no Atelier-Museu: NEORREALISMOS...) são testemunho de um momento relevante da história da Oposição e em especial das relações da oposição portuguesa com a entrada do país na NATO. 

MENINA E POMBAS - 2º estado. Litografiia. Edição do autor, tiragem 200 exemplares. Exp.: Faculdade de Ciências Lisboa 1952. E II Bienal de São Paulo, representação portuguesa 1953. e MENINA E POMBAS - 1º estado. Litografia. Edição do autor, tiragem 45 exemplares. Exp.: SNBA 1951 

Enquanto os sectores republicanos e socialistas viam com bons olhos a adesão à NATO, em 1949, que significava uma aproximação ao lado ocidental da Guerra Fria, com potenciais oportunidades de democratização (logo após as eleições presidenciais em que Norton de Matos foi forçado a desistir; considerando-se que então a Espanha não foi admitida e que o próprio regime se dividira quanto à adesão), o PCP combatia a entrada na NATO e em especial a realização em 1952 em Lisboa, no Instituto Superior Técnico, da reunião do Conselho do Atlântico Norte.
 
Nas duas gravuras e também em outras duas da mesma data aparece na obra de Pomar a "pomba da paz" que Picasso tinha proposto como emblema do cartaz do Congresso Mundial pela Paz de 1949, em Paris e Praga, no qual se reuniu o lado pró-soviético da Guerra Fria, ao tempo da Guerra da Coreia. Os tempos do congresso de Wroclaw, Polónia 1948, e o de Varsóvia em 1950, com a difusão do Apelo de Estocolmo pela proibição das armas nucleares, marcam uma radicalização da política do PCP e uma direcção sectária que terminaria em 1954 com a nova direcção de Júlio Fogaça.
Esse é um segundo momento de maior intervencionismo político do artista, depois do período 1945-1947 que se segue ao fim da II Guerra.
 


 
Meninas com pomba. Litografia 1951. Tiragem desconhecida
A Refeição do Menino (ou Família), litografia 1951. Edição do autor. Tiragem 200 ex. Exp. II Bienal de São Paulo, representação portuguesa 1953.
 
As pombas da paz da agitação partidária contra a NATO. O neo-realismo da Guerra Fria (1951-54) - um segundo momento de intensa movimentação política depois dos anos mais militantes de 1945-1947, no caso de Júlio Pomar e não só. 
Veja-se o calendário para 1954 editado por Victor Palla.
 

 


JÚLIO POMAR,  JOSÉ DIAS COELHO e ALICE JORGE

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

1944 (cronologia) FERROS, "PINTURA", CAFÉ e TABERNA, os retratos

Por ocasião da exp no Atelier-Museu ("Neorrealismos ou a politização da arte em Júlio Pomar") pode tentar fazer-se uma cronologia comentada, a acompanhar a sequência das obras e das datas.

1. FERROS, 1944 (col. CAM - FCG)

Em 1944 Pomar inscreve-se na Escola de Belas Artes do Porto, depois de ter frequentado a Escola de Lisboa desde 1942, com 16 anos, e antes a António Arroio. Já em 1942 participara numa mostra com colegas vindos da António Arroio (Fernando Azevedo, Vespeira, Pedro Oom) num quarto/atelier na Rua das Flores: essa primeira mostra fora notada no meio artístico do Chiado e na Imprensa (a revista 'Panorama' reproduz-lhe "Pintura" ou "Saltimbanco", uma obra perdida, e é relevante a atenção concedida a um muito jovem artista - Almada Negreiro compra o quadrinho e promove a sua apresentação na 7ª  Exposição de Arte Moderna do SNI. Uma muito pequena pintura sobre madeira agora exposta  "Sem Título [Rapaz]" pode ser dessa data. 

No Porto Pomar integra-se rapidamente no grupo de estudantes (e alguns professores) que expõem com o nome de Independentes desde 1943, do qual se destacam Fernando Lanhas, com quem estabelece uma duradoura cumplicidade, e também Júlio Resende, Nadir Afonso, Amândio Silva, Victor Palla, igualmente ido de Lisboa. Expõe na 3ª Independente, no Coliseu.






Em FERROS nota-se o interesse por Léger ou a sua influência, confirmados por anotações desenhadas num pequeno álbum que se conservou. Terá chegado ao CAM por via de Manuel Filipe, sobre quem publicou uma entrevista no ano seguinte ("Arte") onde surgiu a primeira menção do neo-realismo. Foi exposto em 1945, na Exposição Independente vinda ao IST.

A GUERRA (nº 18) ficou com Fernando Lanhas, e Mário Dionísio referiu-se em 1945 na Seara Nova a outra pintura anterior de tema próximo que lhe pertenceu (título desconhecido, óleo sobre cartão, 46x39cm, CR. nº 9, aqui atribuído a 1942 e à exp. da Rua das Flores, o que parece incerto): "apontamento onde se vê um homem brutalizado pelo peso dum capacete e duma cartucheira, um vago arame farpado, uma forca, uma figura estranha que atravessa o campo (a morte? a humanidade chicoteada e desiludida, mas nem por isso capaz de parar?)" - reed. em M.D., "Entre palavras e cores", 2009.

Em FERROS encontram-se os planos recortados de cor lisa que caracterizam a produção desse ano, numa configuração que seria depressa abandonada. 


De 1942 era o SALTIMBANCOS (Pintura) que veio do atelier da rua das Flores, passou pelo Salão do SNI e desapareceu. Conhece-se a reprodução no Panorama e um desenho preparatório, um estudo.

1942, em Panorama, Revista Portuguesa de Arte e Turismo, n.º 13, Fevereiro 1943

Na PINTURA (nº 16), que agora é peça maior da col. Rui Victorino, aparece ao centro uma auto-representação de punho erguido entre chaminés de fábricas e um corpo de mulher de pernas para o ar, que se disse premonitório de posteriores cenas eróticas.

Em CAFÉ aparece um retrato de Victor Palla, à esquerda, e outro de José Maria Gomes Pereira, também arquitecto, também transferido de Lisboa e um dos presentes na exp. de 1942

e em baixo um auto-retrato em 1º plano. 





Em TABERNA é bem visível outro auto-retrato à direita baixa, com cachimbo, copo e garrafa, e dois longos braços que marcam os bordos lateral e inferior: 











sexta-feira, 15 de junho de 2018

Victor Palla, o itinerário fotográfico

Victor Palla

Victor_Palla1bw
Sem título, ca.1952. Vintage gelatin silver print (prova única), 27.5 x 19.5 cm. 
VICTOR PALLA [1922-2006]
Arquitecto e fotógrafo, com trabalhos de referência em ambas as áreas, Victor Palla foi também pintor, ceramista, designer gráfico, editor, tradutor, galerista, agitador de ideias e animador de muitas iniciativas.
“Lisboa Cidade Triste e Alegre”, que expôs e publicou em 1957-1959, em colaboração com o  também arquitecto Manuel Costa Martins (1922-1995), foi uma obra de excepção no panorama da fotografia portuguesa. Redescoberto - ou reapresentado, melhor - e redistribuído em 1982 por António Sena e a associação-galeria Ether, o livro tem vindo a ser internacionalmente valorizado como uma das realizações editoriais mais significativas do seu tempo, nomeadamente por Martin Parr e Gerry Badger, na sua história do livro fotográfico, «The Photobook», vol. 1, em 2004.

Victor Palla nasceu em Lisboa em 1922 e aqui faleceu também, em 2006, com 84 anos. Começou por estudar arquitectura em Lisboa, antes de se transferir para o Porto, onde se diplomou. Ainda como estudante, logo em 1944, no Porto, dirigiu a Galeria Portugália e foi um dos dinamizadores das Exposições Independentes, onde expôs pintura ao lado de Fernando Lanhas, Júlio Resende, Nadir Afonso e Júlio Pomar. De regresso a Lisboa, participou nas Exposições Gerais de Artes Plásticas, em quase todas as edições entre 1947 e 1955, com obras de desenho, pintura, artes decorativas, escultura e fotografia (esta só em 1955, autonomamente, para além das ilustrações de arquitectura e design).

Em 1973 fundou a galeria Prisma com Costa Martins, Rogério de Freitas e Joaquim Bento de Almeida, onde expôs pintura no ano seguinte. Além das inúmeras mostras colectivas em que participou, fez outras exposições individuais de pintura, desenho ou colagens - Galeria de Arte Moderna da SNBA, em 1977; Diagonal, 1983; Diário de Notícias, 1984.

A partir do início da década de 50, Victor Palla foi um dos modernizadores da arquitectura portuguesa, seguindo os princípios funcionalistas do Estilo Internacional com particular radicalidade plástica, sob influência brasileira. À intervenção teórica e de divulgação em revistas (algumas sob a sua direcção) juntaram-se obras como a escola do Vale Escuro, de 1953, projectada com Joaquim Bento de Almeida. Com atelier conjunto durante 25 anos, esta dupla de arquitectos teve acção relevante na renovação dos espaços comerciais de Lisboa, em paralelo com Keil de Amaral e Conceição Silva. Em especial, ficou a dever-se-lhes os novos cafés e snack-bares Terminus, Tique-Taque, Suprema, o antigo Pique-Nique, no Rossio, e o Galeto, já em 1966. O seu talento multifacetado está presente no dinamismo espacial e material dos volumes arquitectónicos, conjugado com o design inovador do mobiliário e da iluminação, adequados aos novos consumos da «vida moderna».

O design gráfico e a edição foram outras áreas em que Victor Palla se destingiu desde muito cedo, com trabalhos importantes para criação de um gosto visual moderno. Em 1952, frequentou o Publishing and Book Production Course em Londres, criando a seguir a famosa colecção de bolso “Os Livros das Três Abelhas” e as edições Folio, ambas com José Cardoso Pires. Fundou com Orlando da Costa, o Círculo do Livro e, entre outras actividades de editor, autor, tradutor e capista, realizou o plano gráfico da editorial Arcádia.

Para além do livro "Lisboa...", as fotografias de Victor Palla continuaram a ser pouco conhecidas, em especial quanto à vertente mais experimentalista e ao cruzamento com as inquietações do artista plástico ou com as actividades do arquitecto e do designer, que foram as suas outras carreiras paralelas. Essa vertente experimental foi ensaiada logo nos primeiros anos da década de 50 e voltou a estar muito presente em várias exposições realizadas a partir dos anos 80, com destaque para a representação nas mostras colectivas da Festa do Avante, “Objectiva 84” e "Objectiva 86", ou a individual “A Casa”, em 2000, no Centro Cultural da Gulbenkian, em Paris.
O Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian dedicou a Victor Palla uma grande antologia fotográfica em 1992, onde se mostraram obras de 1948 a 1991 (foi repetida nos 12ºs Encontros de Fotografia de Coimbra, nesse mesmo ano). O Centro Português de Fotografia atribuiu-lhe o Prémio Nacional em 1999.
O conhecimento da obra de Victor Palla, e em especial do seu trabalho fotográfico, ganhou uma nova dinâmica com o leilão de uma parte do seu espólio levado a cabo por P4 Photography em 29 de Maio de 2008. Aí foram expostas (e em muitos casos vendidas) provas inéditas do início dos anos 50, que documentam várias linhas de pesquisa, e também trabalhos menos conhecidos e provas de autor que mostrou nas suas exposições mais tardias.

(Inicialmente publicado em tradução inglesa no catálogo do leilão da P4, actualizado e alargado)







Antes e depois de Lisboa 'cidade triste e alegre'"
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1. Em 1982, a exposição "Lisboa e Tejo e Tudo (1956/59)", que inaugurou a galeria Ether* e foi acompanhada pela redistribuição do livro "Lisboa, Cidade Triste e Alegre", apresentou apenas fotografias inéditas ou que tinham sido reenquadradas nesta edição (em provas reimpressas para a ocasião, usando sempre o negativo integral), para além de alguma documentação de trabalho (estudos de paginação, provas, etc). Foi publicado um catálogo em formato cartaz/desdobrável com a reprodução de 31 fotografias de Costa Martins e Victor Palla. Parte da mostra foi reapresentada nesse ano nos Encontros de Coimbra. (* ether/vale tudo menos tirar olhos, "centro de animação fotográfica, a.e.p., R. Rodrigo da Fonseca, 25")
Em 1989 a exposição foi repetida com alterações na Casa de Serralves, Porto. Esta 2ª versão de "Lisboa e Tejo e Tudo", com 30 fotografias e 19 documentos/fotografias originais, deu lugar a um novo catálogo, ed. Ether. Inclui um texto de promoção da edição de 1959.
Os catálogos contam com dois textos de apresentação sem título e não assinados (mas de António Sena), que são quase na totalidade coincidentes. Curtas notas biográficas - no caso de V.P. são omitidas as presenças nas exposições colectivas da Festa do Avante em 1984 e 86, o que não acontece quanto a Costa Martins; não é também referida a participação na 9ª EGAP em 1955.
(Ver também "Lisboa e Tejo e Tudo (história de uma exposição)", António Sena, JL, 27 Abril 1982.)

2. A exposição do CAM em 1992, intitulada apenas com o nome do autor, não foi de facto uma retrospectiva, embora apareça com frequência designada como tal (até pelo próprio V.P.; nos Encontros de Coimbra  chamou-se-lhe "Exposição retrospectiva"). Não podendo incluir as fotografias do livro "Lisboa, Cidade Triste e Alegre" (e também do respectivo acervo de inéditos) por serem de autoria conjunta com Costa Martins, nunca descrimidada (**), esta antologia excluiu também toda a produção fotográfica do autor que não se integra na tradição alargada da fotografia de rua (street photography).
Os trabalhos experimentais que se aparentam com as linhas do movimento Subjektive Fotografie, os nus e os retratos, as composições com figuras e as provas manipuladas, ficaram ausentes da exposição sem que uma tal opcão tivesse sido aí indicada e justificada. Os trabalhos mostrados na "Objectiva 1984" (48 impressões por processos experimentais) e "Objectiva 1986" (retratos) não foram incluídos, ou escolhidos. Foram expostas apenas reimpressões feitas em Paris por Ivon le Marlec. No catálogo, publicam-se fotografias de 1948 (3), 1949 (auto-retrato), 1953, 1956 (17), 1957 (3), 1960, 1980 (4), 1986 (3), 1987 e 88 (2), 1989 (9), 1990, 1991 (3).
(são possivelmente retratos, ou poderiam ser, uma foto de 1948 e a de 1953; de entre as fotos até 1957 estão praticamente ausentes as captadas nas zonas populares de Lisboa, que seriam incluídas no acervo do livro "Lisboa..." - a capa de cat. é uma das duas ou três excepções, e nela aparece Costa Martins à direita, de câmara na mão)
(**) São comuns ao livro "Lisboa..." pelo menos duas fotografias de 1957 (a 1ª do cat. e pág. 39 de Lisboa; e adiante, Rua Augusta, pág. 100).
Numa entrevista de Margarida Medeiros (Público, 2 Out. 1992) V.P. diz que o livro "Lisboa..." resultou de uma sugestão de Costa Martins e "muitas das fotos eram anteriores a esta decisão. Fomos procurando, entre o material que já tínhamos e o que fizemos a partir dali."
Em 1992, numa outra entrevista, V.P. refere ter quase prontos para publicação dois livros: "um deles reúne uma série de retratos, nomeadamente de muitos escritores que conheci... O outro consta de uma reportagem sobre o 1º de Maio de 1974." (JL, 17 Nov. 1992, Maria Leonor Nunes) Não chegaram a ser editados.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Fernando Lemos, 1952, Galeria de Março

catálogo da Galeria de Março, Exp. 27 Dez. 1952 a 9 Jan. 1953
(ver fernando-lemos...indice)

http://alexandrepomar.typepad.com/photos/uncategorized/2008/04/22/lemos1_2.jpg Photo

Victor Palla / Costa Martins, 1958, LISBOA

04/01/2010