Mostrar mensagens com a etiqueta Maputo. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Maputo. Mostrar todas as mensagens

domingo, 7 de julho de 2013

Fotos de José Cabral, PG Junho 2013



em "DE MAPUTO", A Pequena Galeria, 26 Junho - 14 Julho 2013


1 e 2  Iluminando Vidas (recusadas - impossíveis de expor em Bamako, 2003) // 3 e 4, provas de As Linhas da Minha Mão 2006 Ilha de Moçambique) / 5 e 6, provas de Anjos Urbanos (P4 Lisboa 2009 - cat.: http://issuu.com/p4live...)


1 e 2 As Linhas da Minha Mão, 2006 ; foto 1 exp. em Salão # 1 (inauguração) P.G. Março 2013 // 2 exposto em Anjos Urbanos 2009 // 3 a 6, provas de Anjos Urbanos // 3 tb exposto em Espelhos Quebrados 2012 / 4 tb reprod. em Iluminando Vidas
1 prova de As Linhas da Minha Mão, 2006 e foto tb exp. em Anjos Urbanos 2009 // 2 a 6 provas exp. em Anjos Urbanos

"De Perto" - fotos expostas em Espelhos Quebrados, Maputo 2012 (1 a 6) - legendas abaixo
"De Perto" - fotos expostas em Espelhos Quebrados, Maputo 2012 (1 a 4)



www.flickr.com






sexta-feira, 28 de junho de 2013

DE MAPUTO, folha de sala

“De Maputo” n'A Pequena Galeria

Fotografias de José Cabral e Luís Basto, e também de Rogério Pereira e Moira Forjaz (duas pequenas homenagens)

Entre o pioneiro Ricardo Rangel e os novos fotógrafos que têm passado pelo BES Photo e o Próximo Futuro da Gulbenkian – Mário Macilau, Mauro Pinto e Filipe Branquinho –, existem as obras dos que divergiram do que se pode chamar a escola moçambicana de fotografia, a tradição fotojornalística e humanista, que conta, aliás, com um número extenso de bons autores. José Cabral (n. 1952, Maputo) é o homem da ruptura, que veio trazer ao colectivo da fotografia de Moçambique a necessidade do discurso pessoal, fundado num conhecimento alargado da fotografia internacional e na abertura a interesses culturais amplos, para além do quadro nacional e africano.

A referência autobiográfica presente nas suas últimas três exposições (“As Linhas da Minha Mão”, 2006 Maputo, 3º Photofesta; “Anjos Urbanos / Urban Angels”, 2009, P4 Photography, Lisboa, e Maputo; “Espelhos Quebrados”, 2012, Maputo) é uma contribuição corajosa para pôr em evidência o papel e o lugar de quem observa, e que assim, ao expor também a sua história própria, intervém lucidamente como artista nos acontecimentos do presente de um país em mudança. Durante e depois da dinâmica colectiva, com as suas vicissitudes imprevistas, e também terríveis, era tempo de cada um se interrogar a si mesmo e ao possível sentido do percurso comum. Vêem-se agora em “De Maputo” obras escolhidas dessas três exposições: a antologia pessoal, as crianças (os filhos de Cabral e os dos outros, com uma óbvia diferenciação de cor de pele e de meios sociais) e por fim os quase auto-retratos que sinalizam percursos de vida e relações (agora sob o título geral "De Perto").

José Cabral é hoje a referência cultural e o mestre indisciplinado dos jovens fotógrafos, com uma extensa obra realizada desde que em 1975 começou a trabalhar como fotógrafo no Instituto Nacional de Cinema, a que se seguiram alguns poucos anos de repórter fotográfico de agência, depois no Notícias e no Domingo, com Rangel em 1981-82, mais tarde professor no Centro de Formação Fotográfica, de 1986 a 1990. Em 1996 publicou o primeiro livro A Guerra da Água, edição da Ébano Multimédia associada ao filme de Licínio de Azevedo com o mesmo nome (a cores, com problemas de impressão). Tem tentado viver como fotógrafo em Maputo, o que é bem difícil.

Luís Basto (n. 1969, Maputo) é igualmente um autodidacta, com um discurso próprio e reconhecido, que esteve presente em colectivas internacionais como “Africa Remix” (2004) e “Snap Judgments – new positions in contemporary african photography” (2006) de Orkui Enwezor, aqui como único representante de Moçambique. Ao mesmo tempo que tem construído um grande banco de imagens documentais do país (www.mozambiquephotos.com), é um fotógrafo da cidade e da capacidade de sobreviver que aí se refugia: "Os anos vazios passaram; com eles o destino de uma geração que deveria combater pelas razões de outros homens. Muitos nascidos na paz não têm memória das vidas fragmentadas que inundavam a cidade como almas penadas. Donde viemos e onde estamos agora enquadra-se menos no tempo que nas dimensões de espaço da cidade. Estamos nas janelas, atrás das portas, cidadãos reflectidos em todas as nossas contradições." – Berry Bickle e Luís Basto, em Luís Basto fotógrafo, 2004, Éditions de l’Oeil, Montreuil.

Recuando no tempo, a exposição inclui duas obras de dois autores que, de modos diferentes, trouxeram a experiência adquirida na Rodésia e na África do Sul para desenvolver em Maputo percursos originais e independentes nos anos posteriores à independência, depois interrompidos.

Rogério Pereira foi um fotógrafo e fotojornalista com itinerário na África do Sul (1968-1977), em Moçambique (1973-1979) e em Portugal (1979-1987), que se destacou com uma produção politicamente empenhada e inquieta, de grande exigência formal. Nasceu em 1942 em Lisboa, foi aos sete anos para Moçambique, e morreu de cancro em Setúbal em 1987 com 45 anos. Em 1973 expôs no Núcleo de Arte com Ricardo Rangel e Basil Breakey. Em 1981 mostrou o seu trabalho na Fundação Gulbenkian (“Momentos”). Em 1990 foi-lhe dedicada uma retrospectiva em duas partes na Associação Moçambicana de Fotografia com a colaboração de Ricardo Rangel, Kok Nam e José Pinto de Sá, que escreveu o texto do catálogo. Uma outra retrospectiva integrou o 1.º Photofesta, em 2002, com o título “Verdade”.

Moira Forjaz é a autora de Muipiti, Ilha de Moçambique (com texto de Amélia Muge, Imprensa Nacional, 1983 – editado sem a sua supervisão). Nasceu no Zimbabwe em 1942; visitou Lourenço Marques desde 1961; com formação em Graphic Arts na Johannesburg School of Arts and Design, trabalhou como fotojornalista na África Austral desde 1964, e viveu em Maputo entre 1975 e 1988; participou na formação da Associação Moçambicana de Fotografia em 1981 e realizou dois filmes nesse mesmo ano. Outras publicações: Ruth First, Black Gold: The Mozambican Miner, Proletarian and Peasant, St. Martin’s Press, New York / Harvester Press, Brighton, 1983 (fotografias), e Images of a Revolution: Mural Art in Mozambique, Zimbabwe Publishing House, Harare, 1983 (Albie Sacks, texto; Moira Forjaz e Susan Meiselas, fotografias). Voltou a expôr em 2009, “Kukumbula  (Memórias) 1976 – 1986”, Espaço de Kulungwana, Maputo.

#

A organização da exposição teve a colaboração de Filipe Branquinho, e a cumplicidade de Janice Lemos e Uno Pereira, em Maputo e Cape Town, bem como de Isabel Carlos e Leonor Nazaré (do Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian), que tornaram possível a representação de Rogério Pereira. Na montagem colaboraram também Malenga e Mauro Pinto.
A mostra "De Maputo" é dedicada a Elisa Santos, que nos tem revelado os novos Ocupantes, e a Elísio Macamo, que de Maputo via Basileia, nos ensina a pensar.


quarta-feira, 26 de junho de 2013

“From Maputo” / “De Maputo” . 2013

at A Pequena Galeria (The Little Gallery), Lisbon. 26.06 - 14.07.2013

Photographs by José Cabral and Luís Basto, with Moira Forjaz and Rogério (two small tributes)


In the space between pioneer photographer Ricardo Rangel and the new photographers who have taken part in BES Photo and Gulbenkian’s Next Future – Mário Macilau, Mauro Pinto and Filipe Branquinho –, there are the works of those who differed from what we might refer to as the Mozambican school of photography, the photojournalistic and humanist tradition, which, incidentally, has quite a few good authors in its ranks. 

JOSÉ CABRAL (b. 1952, Maputo) is the man behind the rupture, having instilled the desire for a personal discourse in Mozambique’s photography collective, a discourse based upon a wide knowledge of international photography and in broad cultural interests, going beyond the national and African framework.

The autobiographical reference in his last three exhibitions – “As Linhas da Minha Mão” (The Lines of My Hand), 2006 Maputo, Photofesta; “Anjos Urbanos / Urban Angels”, 2009 at P4 Photography, Lisbon - http://2009/05/condicao-humana.html - and Maputo, “Espelhos Quebrados” (Broken Mirrors), 2012, Maputo – is a courageous contribution to bringing to light the role and place of the beholder, and in doing so, in exposing his own history as well, is a lucid artistic intervention in the present events of a rapidly changing country. Both during and after the collective dynamic, with its unforeseen and often terrible setbacks, it was time for each artist to question himself, as well as the sense of a common path.

In “De Maputo” there are works of those three exhibitions on display: personal anthology, children (Cabral’s and the other people’s, with an obvious differentiation in skin colour and social means) and the near self-portraits signalling courses of life and relationships.

José Cabral: Kok Nam and Lisdália, Maputo, 1988.

José Cabral: Inhambane, 1995

José Cabral is now the cultural reference and the unruly master of young photographers, with an extensive body of work dating back to 1975, when he began working as a photographer at the Instituto Nacional de Cinema (National Film Institute), followed by few years as an agency photojournalist, a newspaper photographer for Notícias e and Domingo, with Rangel, in 1981-82, and, later, a professor at the Centro de Formação Fotográfica (Centre for Photographic Education), between 1986 and 1990. In 1996 he published his first book, Guerra da Água (Water War), on Ébano Multimédia, in association with a Licínio de Azevedo film of the same name (in colour, with printing problems). He has tried to get by as a photographer in Maputo, which is no easy feat.

LUÍS BASTO (b. 1969, Maputo) is also a self-taught photographer, with a unique and recognizable language, present in international collective shows such as “Africa Remix” (2004) and Okwui Enwezor’s “Snap Judgments – new positions in contemporary African photography” (2006), in which he was Mozambique’s sole representative. 

While building a large database of documentary footage of the country www.mozambiquephotos/Portfolio.html Luís Basto has also been a photographer of the city and the of the ability to survive that lies therein: “The mpty years are decades gone; with them the fate of a generation who had to fight war for other men’s reasons. Many born into peace have no memory of the fragmented lives that flooded the city as wandering souls. Where we came from and where we are now is framed not as much by time as by the dimensions of city space. We are in the windows, behind the doors, reflected citizens in all our contradictions.” – Berry Bickle, in Luís Basto fotógrafo / photographer, Éditions de l’Oeil, Montreuil, 2004, http://www.editionsdeloeil.com/index.

Luís Basto: Passionate body / Corpo apaixonado, Bairro da Liberdade, Maputo, 2008

Going back in time, the exhibition includes two works by two authors who, in different ways, brought experience back from Rhodesia and South Africa to Maputo so as to develop original and independent careers in the years after independence, which they later interrupted.

ROGÉRIO (Pereira) was a photographer and photojournalist working in South Africa (1968-1977), Mozambique (1973-1979) and Portugal (1979-1987), whose formally demanding, politically committed and restless production stood out. Born in Lisbon in 1942, he was seven years old when he moved to Mozambique, and 45 when he died of cancer in Setúbal, Portugal, in 1987. In 1973 he exhibited at the Núcleo de Arte (Center for Art) Ricardo Rangel and Basil Breakey. In 1981 he showed his work at the Gulbenkian Foundation (“Momentos”). 
In 1990 he was honoured with a retrospective show in two parts at the Associação Moçambicana de Fotografia (Mozambican Association of Photography), in collaboration with Ricardo Rangel, Kok Nam and José Pinto de Sá, who wrote the accompanying text. “Verdade” (Truth), another retrospective of his work, was part of the first edition of Photofesta, in 2002. 

Rogério Pereira: S/ Título, s/ data. (Col. Centro de Arte Moderna, FCG). 

MOIRA FORJAZ is the author of Muipiti, Ilha de Moçambique (Muipiti, Island of Mozambique) – text by Amélia Muge, Imprensa Nacional, 1983, published without her supervision). Born in Zimbabwe in 1942, she visited Lourenço Marques / Maputo regularly since 1961. Holding a degree in Graphic Arts from the Johannesburg School of Arts and Design, Moira Forjaz worked as a photojournalist in Southern Africa since 1964, and lived in Maputo between 1975 and 1988. She helped create the Associação Moçambicana de Fotografia (Mozambican Photography Association), in 1981, and directed two films in that same year. 

Other publications: Ruth First, Black Gold: The Mozambican Miner, Proletarian and Peasant, St. Martin's Press, New York / Harvester Press, Brighton, 1983 (photographs) and Images of a Revolution: Mural Art in Mozambique, Zimbabwe Publishing House, Harare, 1983 (Albie Sacks, text, Moira Forjaz, Susan Meiselas, photographs). Moira Forjaz went back to showing her work in 2009, “Kukumbula (Memórias) 1976 – 1986”, Espaço de Kulunguana, Maputo. (http://2009/03/depoisdemuitipi.html)

Moira Forjaz: Moamba, Sul de Moçambique, c. 1962

#

This exhibition was organized with Filipe Branquinho (http://filipebranquinho2013/04.html, http://www.magnin-a.com/artiste.php?id_artiste=45), with the complicity of Janice Lemos and Uno Pereira, in Maputo and Cape Town, as well as Isabel Carlos and Leonor Nazaré (at the Modern Art Centre of the Calouste Gulbenkian Foundation (http://rogeriona-colecao-do-cam.html), who made it possible for Rogério Pereira to be represented. Malenga and Mauro Pinto (http://www.magnin-a.com ) also assisted in the assembling. “De Maputo” is dedicated to Elisa Santos, who has been revealing the new “Ocupantes” to us ("Ocupações Temporárias", ocupacoestemporarias.blogspot.pt/2010/03.html.com Maputo 2010/2013, Lisboa 2013, and to Elísio Macamo, the sociologist who teaches us how to think, from Mozambique via Basel.


(translation by Francisca Cortesão)


PHOTOS

José Cabral: Kok Nam and Lisdália, Maputo, 1988.

José Cabral: Inhambane, 1995

Luís Basto: Passionate body / Corpo apaixonado, Bairro da Liberdade, Maputo, 2008

Rogério Pereira: S/ Título, s/ data. (Col. Centro de Arte Moderna, FCG). 

Moira Forjaz: Moamba (?), Sul de Moçambique,1962?

© os autores / Janice Lemos, Maputo - Cortesia CAM-FCG

SEM FLASH, Homenagem a Rangel, estreia em Portugal

A notícia publicad no blog do Sérgio Gomes:
Artephotographica.blogspot.pt
O ciclo de cinema do festival Futuro Próximo, na Gulbenkian, em Lisboa, programou para o dia 25 de Junho, às 22h, o filme Sem Flash - Homenagem a Ricardo Rangel (1924-2009), de Bruno Z'Graggen e Angelo Sansone.


Homenagem a Ricardo Rangel (1924–2009), o retrato cinematográfico sob a forma de documentário realizado pelo curador de exposições Bruno Z‘Graggen, com direção de fotografia do produtor de vídeo Angelo Sansone (ambos de Zurique), assume-se como um condigno ensaio sobre a obra do grande fotógrafo moçambicano Ricardo Rangel.
Ricardo Rangel é considerado o decano da fotografia moçambicana e um dos mais destacados fotojornalistas africanos da segunda metade do século XX. As suas afinidades situam-se numa fotografia de documentário, na tradição dos fotógrafos da Magnum. Assumiu uma atitude crítica perante o regime colonial português, o que lhe trouxe conflitos com a censura e penas de prisão. Após a independência (1975), a sua contribuição foi importante na construção do novo estado socialista, sem que tenha perdido a distância face ao poder. Através da sua actuação orientadora como jornalista e como professor no Centro de Formação Fotográfica (CFF), Rangel marcou a seguinte geração de jovens fotógrafos e lançou de forma determinante os fundamentos para uma tradição de fotografia em Moçambique.
É extraordinário o legado de Ricardo Rangel. A sua obra como fotojornalista, fotógrafo independente e director do CFF abrange um período de criação de mais de 50 anos. A sua acção ajudou a moldar profundamente a imprensa em Moçambique como fotógrafo, editor de fotografia e cofundador de novos jornais ou revistas, empenhando-se em promover a fotografia. A sua obra-prima Pão nosso de cada noite (Our Nightly Bread, 1959–1975) trouxe-lhe o reconhecimento internacional a partir de meados dos anos 90, graças ao seu aparecimento em exposições e publicações. É uma obra que retrata de forma impressionante a intensa vida noturna de Lourenço Marques (Maputo). No início dos anos 80, tinha criado o CFF, assumindo as suas rédeas de 1983 até à sua morte. Este centro – com escola, serviço de documentação, estúdio e laboratório – é único no continente africano e o seu arquivo constitui uma memória visual de grande importância no país.
O filme mostra imagens de Ricardo Rangel em 2003, captadas em Maputo por ocasião da inauguração da exposição Iluminando Vidas. Ricardo Rangel & the Next Generation (cujos curadores foram Bruno Z‘Graggen e Grant Lee Neuenburg). Rangel fala energicamente das suas origens, das suas experiências como fotojornalista no período colonial, do seu amor pelo jazz e recorda cenários de Pão nosso de cada noite daquela época. Além disso, conduz o realizador por dentro do CFF e permite obter uma esclarecedora perspectiva das diversas áreas de actuação do centro de fotografia. Vê-se também as suas fotografias e ouve-se música de jazz.
Estas imagens são intercaladas com passagens mais longas de entrevistas com Alexandre Pomar (1947, Lisboa) e Sérgio Santimano (1956, Lourenço Marques/Maputo), realizadas em 2011. Pomar é um crítico de arte e jornalista português de grande renome e vive em Lisboa. Santimano, "aluno" de Rangel, é actualmente o fotógrafo moçambicano mais bem-sucedido internacionalmente e reside em Uppsala, na Suécia. Ambos recordam intensamente encontros pessoais com Ricardo Rangel e, do respectivo ponto de vista, explicam a importância do trabalho e da influência de Rangel, a receção da sua obra, abordando também a pessoa. Em complemento, ouvimos igualmente as palavras de Kok Nam (1939, Lourenço Marques/Maputo - 2012) - a par de Rangel, o mais importante fotógrafo do país e seu companheiro de viagem - e de Luís Carlos Patraquim (1953, Lourenço Marques/Maputo), poeta e jornalista.
O resultado é um denso retrato cinematográfico que nos aproxima de um fotógrafo fora do comum e de uma personalidade carismática: um homem absolutamente apaixonado pela fotografia e pelo jazz, com alegria de viver e sentido de humor, voluntarioso e incorruptível, com uma enorme capacidade criadora e um olhar sensível sobre os seres humanos em situações de vida difíceis.

Texto: Espaço Gesto

sexta-feira, 3 de julho de 2009

José Cabral. URBAN ANGELS. 2009 ("Human condition")


Human condition

Photography in Mozambique was a great collective adventure for about two decades. It was defined by a few books, which, as a rule, were an extension of exhibits and gestures of international cooperation (Moçambique, A Terra e os Homens, 1983; Karingana ua Karingana, 1990; Maputo - Desenrascar a vida, 1997; Iluminando Vidas, 2002). When Europe discovered photography made by Africans, a few years back, Mozambique was in the front line (Africa, Africa, Copenhagen, 1993; Revue Noire, n. º 15, Paris, 1994). With life slowly turning normal in Mozambique (after the revolution and the civil war, after the election of 1994 or 1999…), the chapter of mobilization and propaganda that had called for photography headed to its natural demise and the routes forcibly turned personal. There had been nototious exceptions, such as José Henriques da Silva with Pescadores Macua (Lisbon, 1983 and 1998) and Moira Forjaz with Muitipi, Ilha de Moçambique (Lisbon, 1983).
The aforementioned adventure had trailblazers, Ricardo Rangel and Kok Nam, who came very soon into a colonial press that was more permissive that the one based in Lisbon and who set the models for the transition. More than some Portuguese tradition (Século Ilustrado?), the exciting example of the photographers of Drum magazine, in South Africa, must have made an impact. The adventure then had its headquarters and school, the Associação Moçambicana de Fotografia [Mozambican Association of Photography] and the Centro de Formação Fotográfica [Photography Learning Centre], in which dozens of photographers were trained, some of them more perseverant than others. It had a documental and political style, as a way to answer to the urgencies of socialism, war, hunger and the reconstruction. Times changed.
José Cabral came to this collective history in a unique way, having trained with his amateur photographer and filmmaker father — he also had a grandfather, homonymous, on his father’s side, who was a governor (1910-1938) and who had a park named after him in the old capital (Continuadores Park, today). He started in cinematography and he joined his experience as a news photographer to documental programmes of a less urgent nature. Later, he was probably the first to distance himself from the routines of journalism, and he made that challenge very clear with the choice of works in display in the Iluminando Vidas exhibit: instead of war, misery, victims, ruins and promises of reconstruction, that can still be seen yet another face for exoticism, he showed feminine nudes without any ethnographical pretext. The representation encountered some problems in Bamako, Mali, photographical capital in a country of Islamic severity.
His photography — particularly the fact that he shows it as the work of an artist — became more autobiographical and even more intimate, albeit free from any pretence to self-reference or narcissism. In the country’s new situation of economic growth, that is a battle that matters, a more individualist battle for convivial spaces. As Linhas da Minha Mão [The lines of my hand], in 2006, during the third edition of Photofesta, was an affirmation of the personal dimension of a gallery of portraits and places — meetings with people, landscapes, cities and trees all through Mozambique’s recent history.
The Urban Angels are children: his own three and then four and other people’s children, street children. The differences of colour and of social condition aren’t hidden, quite the opposite, they make the record of the unbearable inequalities more pungent and penetrating. José Cabral’s images are simple and beautiful, tender and terrible, but they always lack the weightings of chance, artifice and policy that so often are the easy formula of the art of photography. They are simultaneously direct and charged with emotion, without distancing themselves from life in search of metaphors. There’s a personal history and many collective histories in these images of Mozambique. One of them associates General Mouzinho de Albuquerque, who defeated Gunganhana in 1895, to Colonel José Cabral’s great-grandson, who had continued his plans for rail tracks and who made a statue to him, which has meanwhile gone down. It is just a family photograph, a child playing…




José Cabral. ANJOS URBANOS. 2009



Condição humana

A fotografia em Moçambique foi uma grande aventura colectiva durante cerca de duas décadas. Ficaram a marcá-la alguns livros, que em geral prolongam exposições e gestos de cooperação internacional (Moçambique, A Terra e os Homens, 1983; Karingana ua Karingana, 1990; Maputo - Desenrascar a vida, 1997; Iluminando Vidas, 2002). Quando a fotografia feita por africanos foi descoberta na Europa, há poucos anos, Moçambique estava na primeira linha (Africa, Africa, Copenhaga, 1993; Revue Noire, nº 15, Paris, 1994). Com a normalização lenta da vida do país (depois da revolução e da guerra civil, depois das eleições de 1994, ou das de 99…), esse capítulo de mobilização e propaganda a que a fotografia tinha sido chamada encaminhou-se para o seu fim natural e os itinerários passaram a ter de ser individuais. Tinha havido alguns casos de excepção, como José Henriques e Silva e os Pescadores Macua (Lisboa, 1983 e 1998), Moira Forjaz e Muitipi, Ilha de Moçambique (Lisboa, 1983).
A referida aventura teve pioneiros, Ricardo Rangel e Kok Nam, que entraram muito cedo numa imprensa colonial mais liberal que a de Lisboa e construíram os modelos da transição. Mais do que uma tradição portuguesa (o Século Ilustrado?), terá contado o exemplo empolgante dos fotógrafos do magazine Drum, da África do Sul. A aventura teve depois uma sede e uma escola, a Associação Moçambicana de Fotografia e o Centro de Formação Fotográfica, no qual se fizeram dezenas de fotógrafos mais ou menos perseverantes. Teve um estilo testemunhal e militante, para responder às urgências do socialismo, da guerra, das fomes e da reconstrução. Os tempos mudaram.
José Cabral chegou por uma via original a essa história colectiva, praticando com um pai amador de fotografia e cinema – e, por sinal, também teve um homónimo avô paterno que foi governador (1910-1938) e um parque com o seu nome na velha capital (hoje Parque dos Continuadores). Começou pela fotografia de cinema e aliou a prática de foto-repórter a programas documentais menos determinados pela urgência. A seguir, terá sido o primeiro a distanciar-se da dinâmica jornalística, e tornou muito claro esse desafio com a escolha das obras para a exposição Iluminando Vidas: em vez de guerra, miséria, vítimas, ruínas e promessas de reconstrução, que podem ser ainda uma outra face do exotismo, mostrou nus femininos que não tinham qualquer pretexto etnográfico. A representação acabou por ter problemas em Bamako, no Mali, sede fotográfica e país de rigores islâmicos.
A sua fotografia – em especial a forma de a mostrar como trabalho de artista - tornou-se mais autobiográfica e até intimista, sempre sem pretender ser auto-referencial e narcísica. Essa é a outra luta que importava travar nas novas condições de crescimento do país, uma batalha já mais individualista para abrir espaços conviviais. As Linhas da Minha Mão, em 2006, por ocasião do 3º Photofesta, afirmava a dimensão pessoal de uma galeria de retratos e de lugares – encontros com pessoas, paisagens, cidades e árvores ao longo da história recente de Moçambique.
Os seus Anjos Urbanos são as crianças: os três e depois quatro filhos do fotógrafo e os filhos dos outros, as crianças da rua. Há diferenças de cor e de condição social que se não escondem, pelo contrário, e que tornam mais incisivo ou mais pungente o testemunho sobre as insuportáveis desigualdades. As imagens de José Cabral são simples e belas, ternas e terríveis, mas sempre sem os cálculos de acaso, artifício ou programa que são tantas vezes a fórmula fácil da arte fotográfica. São ao mesmo tempo directas e carregadas de emoção, sem se distanciarem da vida à procura de metáforas. Há uma história pessoal e há muitas histórias colectivas nestas imagens de Moçambique. Uma delas associa o general Mouzinho de Albuquerque, o vencedor de Gungunhana em 1895, ao bisneto do coronel José Cabral, que tinha continuado os seus planos de vias férreas e lhe ergueu a estátua, entretanto apeada. É só uma fotografia de família, uma criança que brinca…



texto do catálogo, com 3 poemas de Luís Carlos Patraquim