publicado em INDUSTRIALIZAÇÃO EM PORTUGAL NO SÉCULO XX. O CASO DO BARREIRO, Actas do Colóquio Internacional Centenário da CUF do Barreiro, 1908-2008, Universidade Autónoma de Lisboa, 2010. Pp. 423-442.
(colóquio que teve lugar no Auditório Municipal Augusto Cabrita,
Barreiro, 8-10 de Outubro de 2008. Painel 4 - Do Realismo ao
Neo-realismo: imagens do trabalho e do operário na arte portuguesa)
tb disponível em Scribd
#
(...)
os resultados de alguma pesquisa tornaram possível abordar um período
pouco conhecido da fotografia portuguesa, por forma a isolar um conjunto
de imagens e de autores que podem justificar, como sucede em Espanha e
em Itália, o uso do termo neo-realismo. O texto é um momento de uma
investigação em curso, ainda necessariamente fragmentária.
#
Apesar da natureza culturalmente retrógrada do regime de Salazar, ele acompanhou os outros países autoritários dos anos 30 numa relação moderna com a fotografia, usando-a com grande eficácia enquanto instrumento de representação e propaganda. Apropriou-se de linguagens vanguardistas em publicações de paginação arrojada (o álbum Portugal 1934, por exemplo - edição do Secretariado da Propaganda Nacional, SPN) e adoptou orientações de uma modernidade formal mais sóbria ou clássica por ocasião das comemorações de 1940. Atraiu para a sua órbita ou dependência os melhores profissionais, que não podiam encontrar um real mercado de trabalho fora dos círculos do poder ou da imprensa, e também os amadores de Arte Fotográfica, por muito tempo associados da antiga Sociedade de Propaganda de Portugal (1), onde as elites se encontravam sem atritos visíveis com a estratégia do SPN, antecessor do Secretariado Nacional de Informação, SNI.
#
Apesar da natureza culturalmente retrógrada do regime de Salazar, ele acompanhou os outros países autoritários dos anos 30 numa relação moderna com a fotografia, usando-a com grande eficácia enquanto instrumento de representação e propaganda. Apropriou-se de linguagens vanguardistas em publicações de paginação arrojada (o álbum Portugal 1934, por exemplo - edição do Secretariado da Propaganda Nacional, SPN) e adoptou orientações de uma modernidade formal mais sóbria ou clássica por ocasião das comemorações de 1940. Atraiu para a sua órbita ou dependência os melhores profissionais, que não podiam encontrar um real mercado de trabalho fora dos círculos do poder ou da imprensa, e também os amadores de Arte Fotográfica, por muito tempo associados da antiga Sociedade de Propaganda de Portugal (1), onde as elites se encontravam sem atritos visíveis com a estratégia do SPN, antecessor do Secretariado Nacional de Informação, SNI.
Esse
casamento da fotografia com o regime, que nunca foi linear nem isento de
tensões internas entre inovação e conservadorismo, ficou depois
sobre-exposto, já no pós-guerra, com o protagonismo de um inspector da
PIDE e artista amador, Rosa Casaco. Foi o autor das imagens da
intimidade ambígua do ditador revelada em 1952 no livro Férias com Salazar
de Christine Garnier (Lisboa, Companhia Nacional Editora), e era por
meados da mesma década o fotógrafo com maior circulação nos salões.