05/11/2025
PARIS NOIR / WHEN WE SEE US
Hoje, revendo à distância as duas exposições, penso que "PARIS NOIR", a mostra actual no Centro Pompidou, foi concebida em oposição a "WHEN WE SEE US", de Koyo Kouoh, que é de 2022 na Cidade do Cabo - depois levada a Basileia e Bruxelas, a seguir irá a Estocolmo, até 2026 -, subordinando as dinâmicas pan-africanas, autóctones, espontâneas e locais, também crescentemente cosmopolitas e atlânticas, mas sempre observadas a partir de África, à dependência dos centros do Norte e em especial de Paris. A morte de Koyo Kouoh, nas vésperas de dirigir a Bienal de Veneza, torna mais premente essa análise, de que não encontro qualquer precedente.
A de Paris é uma exp. franco-africana sempre interessada em propor como decisivas as referências à "formação artística clássica" e aos "mestres modernos", aos trânsitos por Paris, escolares e políticos. associando "circulações artísticas e lutas anti-coloniais 1950-2000", conforme o subtítulo.
Significativamente, a Cronologia começa pelo G.I.Bill, de 1944, a lei que permitiu aos soldados norte-americanos (os brancos, como Kitaj, judeu, e os "de cor") ficar a estudar na Europa.
O programa de "Paris Noir" segue o calendário que vai da revista 'Presence Africaine' de Alioune Diop em 1947 até à 'Revue Noir' de 1991-2000, a luxuosa publicação da associação Afrique en Créations sustentada pela Cooperação francesa. ("En janvier 1990, le ministère français de la Coopération organise une rencontre entre trois cents créateurs africains et français à Paris afin de mener une réflexion autour de deux thèmes majeurs : le rôle des artistes et des intellectuels dans l’évolution des pays africains et l’importance de la dimension culturelle dans le développement économique et social du continent africain" - Cronologia; em 2000 fundiu-se com a Association Française d'Action Artistique - AFAA).
A "Revue Noire" nasceu na sequência dos "Magiciens de la Terre" de 1989 (Jean-Hubert Martin), em paralelo com a Collection Pigozzi dirigida por André Magnin, desde o mesmo ano (Caacart.com) e associada aos Rencontres de Bamako, a partir de 1994.
A linha "Magiciens...", "Revue Noire" e Pigozzi/Magnin privilegiou, até agora, a divulgação de artistas africanos residentes em África, implantados nas sociedades e nos mercados locais, em geral sem formação académica dita modernista, numa linha que vem da acção de Ulli Beier na Nigéria (o Mbari Club) e da revista "Black Orpheus": é ou era a afirmação da possibilidade de uma arte contemporânea africana para a qual a modernidade, depois da produção tradicional em extinção, depois das independências, não implicava a dependência da tradição vanguardista e escolar europeia, com a sua sucessão de estilos colectivos. Entretanto o grande mercado também passou a percorrer África e as diásporas (emigrações, exílios e formações escolares) abriram novas circulações artísticas: a arte pan-africana ou Black tornou-se um grande nicho especializado do mercado global e um tópico obrigatório das grandes instituições.
A presença da "Revue Noire" no Pompidou é convenientemente discreta, para não sublinhar o seu protagonismo oficial no curso final do período documentado - aliás, o mercado francês perdeu depressa esse protagonismo: uma escultura / espeto que perfura as suas edições, a capa do 1º número dedicado ao senegalês Ousmane Sow (presente no final com uma obra comemorativa de 1989) e uma ampliação da foto emblemática da série Les Fous d'Abidjan de Dorris Haron Kasco, livro de 1994.
Entretanto, é muito notória a ausência de obras da Colecção Pigozzi e da Galeria André Magnin, que estão presentes em Bruxelas, indicando em Paris a divergência (ou conflito) de orientações.
"Fétiche Pascale", 2011
(numéros de Revue noire) Collection Revue noire - JLP - PMSL
Marianne et les révolutionnaires, 1989
Fer, béton, bois, tissus, pigments
Musée du quai Branly - Jacques Chirac
Dorris Haron Kasco
2. Édouard Glissant, le Tout-Monde
3. Paris comme école
4. Surréalismes afro-atlantiques
5. Le Saut dans l’abstraction
6. Paris Dakar Lagos
<"La ville nigériane d'Ibadan doit aussi être mentionnée, puisqu'on voit se mettre en place le Mbari Club, un collectif culturel dont le concept est né dans la capitale française et qui développe alors une esthétique radicale d'émancipation, relayée par la revue Black Orpheus", sic> rerere-se assim a revista de Ulli Beier..,.e aqui a manipulação francesa atinge o ponto culminante
7. Solidarités révolutionnaires à Paris
8. Jazz – Free Jazz
9. Retours vers l’Afrique
10. Nouvelles abstractions
11. Affirmations de soI
12. Rites et mémoires de l’esclavage
13. Syncrétismes parisiens
14. Les nouveaux lieux du Paris Noir