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sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Entrevista de Eduardo Batarda (1998): «Custa-me deitar fora o pouco que sei»

 

Batarda_capa

Foi uma das poucas capas do Cartaz do Expresso dedicada a uma exposição: a 14 de Março de 1998, por ocasião da retrospectiva no CAM. Sempre achei que raramente se justificava uma tal escolha, mesmo que as outras secções procurassem promover "obras primas" todos os meses.

 

«Custa-me deitar fora o pouco que sei»

Expresso Cartaz, 14 de Março de 1998
Na capa: Eduardo Batarda, Obras (in)completas

CAM, 3 de março a 10 de maio de 1998

Comissário (e texto do catálogo): Alexandre Melo

pp. 18/20: entrevista: «Custa-me deitar fora o pouco que sei» + «A pintura não é programável» (e também o texto crítico de José Luís Porfírio: “O olhar devorador”, esquecido na bibliografia do catálogo editado por Serralves em 2012)

Com uma entrada comum: "O percurso vertiginoso de uma obra que desde os primeiros trabalhos, nos anos 60, ocupa uma posição destacada e sempre polémica no panorama nacional. Eduardo Batarda, a pintura e a palavra"

A entrevista não vem incluída na Bibliografia passiva ("Publicações periódicas e monográficas"), pp. 357-359 do catálogo, mas aparece referida  numa "Bibliografia - selecção" que antecede a "Lista de Obras", nas pp. 329-330. Não se percebe o critério, mas adiante.



BATARDA faz a primeira retrospectiva com 33 anos de pintura, à beira de fazer 55 de idade. Na década anterior fez exposições quase anuais e esteve no centro das atenções de quem produzia ou acompanhava a mudança do panorama das artes, ou, melhor, era um eixo maior das transformações que pareciam suceder-se.
Depois, em torno da exposição de 1992 <Galeria 111>, fez-se um estranho silêncio e os poderes emergentes prescindiram da sua obra nos eventos com que se celebraram. O intervalo até à retrospectiva só tornou mais esmagador o trabalho que agora se mostra com a coerência e originalidade da sua inteira continuidade.
Sempre o considerei um dos três ou quatro artistas mais significativos, na conveniente destrinça entre excepções e praticantes regulares ou agentes hábeis. A obra não é amável nem facilita o seu êxito pelas regras dos circuitos dominantes e a entrevista demonstra que a palavra - abreviada para o lugar disponível - também é sempre demasiado informada, reflectida, sibilina e inoportuna. A retrospectiva, que alguns consideram «excessiva», aí está. Batarda fornece algumas pistas para quem a quiser ver.

Estão na moda as antologias em vez das retrospectivas, e a montagem carregada da exposição infringiria o bom gosto das instalações feitas nos museus.
E.B. - Nunca ninguém me disse que era suposto ser outra coisa que não uma retrospectiva e 33 anos de trabalho não pode ser pouca coisa. Apareceram muitos trabalhos, que podem dar uma ideia razoável do que foi a minha produção, mas também faltam alguns outros e não é porque tenha tentado escamoteá-los. Eu julgava que uma retrospectiva é não esconder coisas. O CAM não pode inventar mais espaço e, portanto, a minha retrospectiva, feita com o que apareceu e que tinha, em princípio, de ir para a parede, tem falta de espaço, o que não é assacável a ninguém. Mas eu não funciono só por reflexos condicionados e pelo que vejo serem as normas de certos museus: não se trata de ver os espaços entre e de os comentar em termos de fica bem ou fica mal. Não partilho o entendimento de toda e qualquer exposição como instalação, nem pretendi aplicar outras regras que não sejam a hipótese de olhar para os quadros um a um; os trabalhos sobre papel, pressupõem uma relação de continuidade de leitura, de páginas e de texto, com o espectador à distância de dois palmos, e não exigem os tais espaços de parede. Vi com algum gozo a possibilidade de a montagem ser interpretada como contestação - contestação inofensiva, a não ser para mim, mas paciência... Pode ser um pouco fora de moda, mas eu continuaria a perguntar: a pintura, o trabalho, vale alguma coisa, serviu para alguma coisa?

Há, desde as primeiras obras, linhas de continuidade que atravessam as diferentes fases. A presença da palavra, por exemplo...
- Como qualquer outra pessoa, estou constantemente a reciclar o que me entra cá por cima e essa reciclagem não pode excluir aquilo que fiz: há coisas que são autocitacionais, depois há outras que penso serem ideossincráticas, que não posso evitar. Suponho que os factores mais contínuos são os de autonegação, auto-ironia, autocontestação, ou seja, de qualquer coisa encontrar sempre o seu outro lado, a sua ironia ou caricatura, mesmo a caricatura da caricatura, que é como quem diz: um lado absolutamente insincero no qual eu sou completamente sincero. Desde a adolescência, não se tratava já, entre amigos, de falar sinceramente, mas de ter consciência que estávamos sempre a citar alguma coisa ou alguém, ou a caricaturar as hipóteses possíveis em relação a cada situação.

O que significa fazer arte sobre a arte, o que é, aliás, próprio da produção artística, pelo menos nos últimos séculos.
- Não diria que a minha arte é sobre a arte: é sobre a minha (arte), inevitavelmente, e muitas vezes sobre generalidades da arte. Estava mesmo a falar sobre a possibilidade da sinceridade, e por tabela da sinceridade em arte, o que desde o princípio tinha a ver com a negação da grandiloquência, da pesporrência ou do «interessanting» artístico, que já era, à partida, uma coisa aviada. Quanto à arte sobre a arte, é evidentemente uma coisa que anda a girar há séculos e suponho que o séc. XX não é o mais educado, nem o mais sofisticado ou o mais complexo.

No seu trabalho existe também a relação com as conjunturas. Começou no ambiente Pop e nos finais de 60 a sua produção figurativa estava já em oposição ao clima conceptual-minimal.
- Põe-se o problema do fazer a seguir, ou do fazer antes, ou do fazer ao mesmo tempo, ou do comentário. Tudo isso é verdade ao mesmo tempo. Há coisas em que qualquer pessoa - e porque não eu? - se antecipa, nem que seja um décimo de segundo; há coisas em que estamos sempre a seguir e há coisas em que julgamos antecipar-nos e estamos apenas a pensar que inventámos a pólvora. Quanto às aguarelas, convém lembrar os "Great Moments in Conceptual Projects" (nº 50), que era sobre papel e sobre o papel do papel. Era óbvio que eu estava ao contrário e era tudo tão ao contrário que parecia um programa. Mas a arte conceptual é uma arte de papel, vive de documentos e memórias de papel, e é também com isso que eu brinco, no papel milimétrico desenhado por mim...

É uma das situações em que o seu trabalho está contra ou à margem...
- Francamente não sei. Toda a gente se sente original e inventor, e muita gente se sente à margem, o que é uma situação curiosa, hoje em dia, já que a instituição, o «stablishment», o circuito, o «art world», etc., coordena as actuações de uma quantidade de pessoas que, ao ouvi-las, gostariam de continuar a fazer-se passar por marginais, quando são de facto a instituição. O estatuto de marginalidade, de contra, de subversão, é hoje muito difícil de analisar, e seria apressado demais defini-lo num sistema de convergência ou conflito de interesses em que a pose de marginal se faz confundir com o conformismo mais radical. A actuação das pessoas em termos de reflexos condicionados está patente em todas as exposições, em termos do que se faz e não se faz, nos preceitos habitualmente aplicados às exposições, etc.

Nos anos 70 atravessou a vaga de rejeição da pintura e em finais de 80, outro aparente fim da pintura, está presente nos seus quadros uma ideia da morte que tanto é a morte física como a morte da pintura, ou da arte.
- Maria vai com as outras, ou não. Há coisas que estão sempre presentes e a que não se foge, uma delas é a morte. Outra é a de que a morte é mais comum como tema a partir de uma certa idade. Outra coisa ainda é que a morte foi diferente nos anos 80: o tema da morte, a morte das pessoas e a de artistas, esteve sempre presente e veio a par com o tema da morte da arte. Chame-lhe folclore, mas é um facto. Se me põem a funcionar apenas como mais um dos que usou, explorou e abusou do tema da morte - da pintura e da arte, da crise da sida, etc. - é evidente... sou capaz de ter caído nesse oportunismo, mas há coisas que nos preocupam mesmo e a que, por muito que a pose seja de cinismo, não conseguimos fugir. Muitos quadros têm o tema da morte, a ideia de terminal, e a ideia do trocadilho (por muito mau gosto...) não foi só minha. Suponho que os clichés à volta da morte e da arte podem também andar à volta do cliché principal, que é saber se existe alguma coisa para além de..., isto é, existe pintura depois da pintura? Para além disso, não posso negar que a depressão, a ausência, o não aparecer, o fugir a aparecer têm a ver com o medo, e o medo com o medo da morte - tudo isso estava muito ligado, nas peças dos anos 80-90. Eu não tenho grandes esperanças no regresso da pintura. Repare que, desde as primeiras coisas, há uma dúvida muitíssimo forte, senão mesmo uma certeza, sobre a incapacidade, a inoperância e o não-valor da pintura e da arte...

As aguarelas, que parecem histórias e acontecimentos da actualidade, já eram um exercício irónico sobre a impossibilidade da arte mudar o mundo.
- Mas não sobre a impossibilidade de eu os absorver e os comentar. Intervir é uma coisa, intervir mudando o mundo é outra. Falar deles, poder exercitar sobre eles aquilo que serão as minhas capacidades, é um assunto completamente diferente: é a possibilidade de que um, ou uma, entre alguns entendidos ou amigos, me possa entender num exercício gratuito de - como se diz nas escolas - complexidade gradualmente aumentada. A ideia talvez seja essa: um exercício individual de educação, de aprendizagem, de estudo e de superação. O que está dito está dito, mas isto, que é a mesma coisa, que parece a mesma coisa, por que é que não é a mesma coisa? Um homem chamado Weininger Otto W., 1880 -1903, que De Chirico citou, disse que o único crime é a repetição. A questão é essa: a repetição e a mudança, o dizer a mesma coisa ou o dizer diferente através daquilo que parece a mesma coisa. Se se puder repetir o mesmo sem ser uma segunda via... possivelmente estamos a dizer outra coisa.

As aguarelas dão passagem a um mais evidente tratamento de questões formais. As mesmas formas elípticas são sucessivamente coisas diferentes: a incerteza de um gesto, as águas do Monet, vórtices e abismos...
- ... ou pias baptismais, ou bandejas, com a cabeça de São João... Aquilo que eu, em última análise ou último destino, quero dizer, francamente não sei. Sei que as aguarelas começaram por ser muito mais obviamente inocentes, mais perto de um jogo improvisativo, de um surrealismo de carregar pela boca, mais ou menos bem dispostas, como quando se faz uma ilustração, para passarem a ser mais ambiciosas e informadas, o que tem a ver com o meu processo de educação e com estar em Londres, mas não concordo que tenham ganho só em proficiência técnica. Primeiro eram mais próximas de um «bluff» sobre arte, com o estudo e a perda de algumas inocências passam de uma forma mais autêntica a ser comentários sobre arte. As formas que se vão aproximando das elipses nas últimas aguarelas e as tais elipses nos primeiros acrílicos dos anos 80 têm a ver com outra coisa, se calhar muito saloia. São uma espécie de demonstração de conhecimentos. Se havia alguma ambição de comentário estético e sociológico sobre o mundo das artes, havia também a necessidade de comprovar o meu conhecimento, daí que usasse de forma muito visível as analogias formais e as alusões, literárias ou não, a coisas de iconografia. A elipse, que tinha a ver com o jogo e o trajecto, com o jogo da glória e o mapa do tesouro, depois com as iconografias altas e baixas, era o uso multiforme do mesmo objecto: o que servia para um halo ou para a luz ao fundo do túnel é também bandeja, sinal da desorientação, turbilhão ou pedrada no charco - literalmente: quantas vezes as minhas primeiras exposições foram comentadas como pedradas no charco -, é símbolo de luz, e é sempre a mesma coisa....

É uma abordagem mais formalista, a exploração de tópicos formais?
- É mostrar a versatilidade da minha interpretação, pretensiosamente: vejam como eu sei todas as conotações desta forma tão simples - e se calhar não sei, ou só sei 0,001 por cento... -, vejam como eu me esforço por saber o máximo, vejam como este tipo que sabe tanto, aparentando que não sabe nada, faz sabatinas sobre elipses, sobre estrelas, caneluras, colunas, fustes, sobre impressionismo, em quadros que transportam imagens de tanques ou barcos blindados armados com canhões sem recuo, sobrepostos ao punhal de um chinês, com o cabo, além, agarrado na mão, mais um tripé com alguma coisa e a estrela internacional...

Mas estes quadros supõem a decifração e o reconhecimento por parte do espectador?
- Suponho que tudo é reconhecível, está lá tudo e está muito à vista. A única coisa que eu peço às pessoas é aquilo que elas só dão se quiserem, tempo: dê-me dois minutos do seu tempo...

As palavras pintadas e títulos são uma ajuda ao observador?
- Às vezes são imediatamente descritivas, às vezes são metafóricas, ou são títulos encontrados na véspera da exposição, a situação varia muitíssimo. Mas são sempre ajudas, mesmo quando são absurdas ou quando são manifestamente a etiqueta para uma figuração que não está lá. Alguém pode procurar o que está e o que não está, com tempo, dois minutos, vá lá, dez minutos... A pintura é para olhar, depois é para falar, antes disso é para escrever. Parece uma máxima, mas foi dito por acaso.

Na última exposição, a cabeça, que era também urna, carlinga, etc., parecia remeter para a ideia ou o projecto do retrato.
- Sempre apareceram cabeças, já nas aguarelas, sobrepostas a uma quantidade de outras coisas, e nos primeiros acrílicos, a cabeça de cão. Qualquer pessoa que faça quadros parte de um capital de conhecimentos, conhece o Géricault, o Alien, o filme, as cabeças pré-colombianas, com aquele «mosaico» de jade. Aqui ("Morto em 1998, 2") há relações com um batráquio, com desenhos do Alfred Kubin, com a decomposição das superfícies do Klint: é uma cabeça e o dispositivo é parecido com o de duas salas antes, é um capitel, mas é também a luz... mas talvez convenha não emprestar à coisa tanto símbolo. A cabeça, elmo, urna, ou armadura de sado-masoquistas, gaiola de torturas, carlinga, são herdeiros das histórias dos capitéis, das colunas, que já eram os cubismos e as cabeças de cão, etc., mas há quem só veja em tudo a Vieira da Silva. Eu faço isto com a educação que tenho, não sou culto nem deixo de ser, faço o que posso, mas custa-me muito deitar fora as poucas coisas que sei.

A cabeça é também o retrato como género da tradição da pintura? Os romanos são pintura de história, o «grande género»?
- O título «Candieiros, Cubismos, Cães e Colunas» exposição de 1982 espelhava já isso: é sobre os géneros, e daí ter metido os cubismos como se fosse um objecto, tanto como um candieiro ou uma coluna, ou tão reconhecível como um cão, sabendo que as imagens de uns e outros se interpenetravam ou, quase sistematicamente, eram a mesma imagem podendo ser interpretada como uma coisa à cubista, que era um cão mas era uma coluna, etc., etc. Portanto, o reconhecimento dos géneros, dos estilos, das histórias, das formas recorrentes está também aqui. Verifico, identifico, registo e confirmo: estes tipos existem. Se a pergunta é se eu algum dia seria capaz de vir a fazer um retrato, suponho que não; hoje em dia, há alguns retratistas admissíveis no largo espectro da arte contemporânea, mas são muito poucos. Os romanos são uma alusão à pintura de história, à história, à treta... é um contar coisas.

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«A pintura não é programável»

FRAGMENTOS de declarações de Eduardo Batarda, à passagem pelas suas obras mais recentes:
«Depois de um certo sucesso de esperanças da exposição de 1992 e de um longo processo de depressão, que tem a ver com o conhecimento de que o meu trabalho não é aprovado, estimado, apreciado - e quando isso acontece é muitas vezes por equívoco, ou equivocamente por gente equívoca -, a parte bem disposta do trabalho para o Metropolitano permitiu-me sair de uma coisa um bocado tumba, que foram os meus pouquíssimos trabalhos de 94-95. Eram já coisas mesmo pretas, invisíveis, carregadas de verniz, sem sinais, em que tudo era tapado, tapado e tapado.

Volto a pintar no fim de 96. Muito prosaicamente, percebi que não tinha nada a perder. Despreocupei-me, incorporei uma certa descontracção, que foi renovada talvez pelos desenhos do Metropolitano. A pintura que eu faço agora também é improvisada, e é improgramável porque eu não consigo programá-la, ou seja, a pintura não é um processo susceptível de grandes planeamentos estratégicos. Por muito que eu quisesse, não seria capaz de programar a pintura para fazer uma exposição cujo processo de lançamento ou cujo êxito pudessem ser previsíveis, e ter logo a segunda e a terceira exposições programadas. Sobretudo, fazendo coincidir isso com um esvaziamento das coisas que eu posso pôr em cada quadro, incluindo o divertimento. Tomara eu, gostava muito, até podia mandar fazer os quadros a assistentes. Mas não percebo o que ganhava com isso.

Não me importo de ter géneros, entre aspas, ainda mais divergentes ou ainda mais desconchavados do que em exposições anteriores. Desde os romanos aos trabalhos autoderrogativos, às radiografias, mapas de batalhas, quadros letristas, etc., mas isto não são só reciclagens de coisas anteriores. É evidente que são e não são. A primeira coisa que eu fiz já reciclava coisas, e também já tinha feito romanos - basta ver o Longinus lá em cima, com o saio de centurião que aparece aqui.

Mas os hábitos invisuais estão fortemente enraizados, e há quem os interprete como regressos irremediáveis, dizendo que nada disto inventa seja o que for. O Doctor B ou o No Name Boys seriam ampliações de coisas anteriores, aquela espécie de estrada de montanha [Talvez Sim (Straight & Narrow)] seria um tema que vem dos anos 80 - se calhar confundem-na com as elipses -, os romanos são as aguarelas dos anos 70 outra vez, o Nothing Really e Début du Siècle são iguais aos dos princípios dos anos 80, com a coluna ao centro. Seriam a mesma coisa antes de eu os pintar com aquele branco translúcido e depois os transformar, por cima do branco translúcido, em coisas monocromáticas. O que eu digo é exactamente isso: muitos dos quadros anteriores tiveram aquele aspecto, mais ou menos acabado, com imagens mais ou menos definidas, e eram depois encobertos, e o preto e as cores escuras iam buscar, reinventar ou descobrir, fazer o mapa, com exclusões ou com novas descobertas, do que estava por baixo. Só o facto de eu não encobrir isto - lá porque eram as coisas que estavam por baixo e eram eventualmente semelhantes a coisas que eu fazia (mas eu fazia-as como parte do trabalho...) -, se agora não cubro de branco e o trabalho não continua a ser depois reencoberto, então é porque isto é diferente... Estes [(Nunca Fui) Art. Pop, 1 e 2] são simples, porque são feitos com as letras do título, são trabalhos letristas...»

Capa do catálogo e design gráfico de Beatriz Gentil (a Batika)

Catálogo: Eduardo Batarda, "Revista" / 
Martim Avilez, "Pintar em Portugal, Anos 60, Eduardo Batarda"; 
A.M. "Algumas hipóteses especulativas"
Antologia de textos de E.B. 159-175; de textos sobre E.B.
E.B. "Aguns textos "Sempre Fixe", 11/1974 a 08Ω÷1975. p. 203 a 242.



terça-feira, 25 de março de 2008

2008, Entrevistado por Sandra Vieira Jürgens na Artecapital

Na entrevista que publicamos este mês, Alexandre Pomar, importante crítico de arte, fala-nos sobre si e sobre o contexto que o rodeia: a actividade jornalística, a imprensa, a política cultural, o contexto museológico, os seus artistas de referência e a actual conjectura nacional. Quando questionado sobre a intervenção dos agentes do meio artístico, Pomar acedeu ainda a expressar comentários às assumidas compatibilidades e incompatibilidades que pautam as suas relações.

Durante muitos anos foi crítico de arte do semanário Expresso. Que balanço faz desse período de actividade?

Comecei por escrever alguma crítica de arte no Diário de Notícias e foi a partir daí que fui convidado a ir para o Expresso. Lembro-me sempre que o que desencadeou a passagem foi uma sequência de quatro artigos sobre a exposição Anos 40 dirigida pelo José-Augusto França, onde tomei uma posição de grande divergência quanto a diversos aspectos históricos, e o Cesariny, num inquérito, declarou que eram um bom ponto de partida para um esclarecimento. Além de achar que tive razão, a aposta no debate compensou, porque foi por isso que me convidaram a ir para o Expresso. Continuei a pensar que era assim que valia a pena escrever, com independência e frontalidade de opinião. Fui para o Expresso como coordenador da área da cultura e restava-me pouco tempo para escrever mais do que notas do roteiro. Durante cerca de dez anos fui tentando acumular as duas tarefas, mas depois nunca deixei de ser jornalista além de ser crítico de arte. Acho que essa situação me permitiu ter uma posição particular e às vezes mais confortável.

Em que sentido?

Permitiu-me manter uma maior independência profissional e pessoal face ao chamado meio da arte, e, de vez em quando, afastar-me do comentário crítico sobre as exposições, que pode ser uma rotina penosa, para me ocupar mais de questões de política cultural ou de acontecimentos culturais em geral. Por vezes, o panorama era ou é tão medíocre que se torna vantajoso não ter a obrigação de escrever sobre tudo e assim poder escapar a demasiadas zangas e cumplicidades. Como a minha posição era a de coordenador, e como havia vários colaboradores, tinha a hipótese de passar algum tempo a escrever menos sobre exposições e mais sobre política cultural. Essa alternância era vantajosa ao equilíbrio pessoal e evitava um desgaste demasiado rápido.

Como definiria a actividade de um crítico de arte?

Há diferentes itinerários e as definições variam. Penso que fiz um trabalho atípico e provavelmente fui o último que na área das artes plásticas trabalhou num jornal como crítico e como jornalista com contrato. Hoje isso terminou. Passou a existir um regime só de colaboradores, certamente com uma rotação mais rápida de pessoas, e nesse sentido a minha actividade não é exemplar nem típica. Aliás, fui parar à cultura e à crítica por acidente, a minha área de trabalho era a política e as minhas intenções eram políticas. Não foi uma escolha deliberada. Fui para esta área de castigo, e depois não me senti mal. Quando fiz tentativas de regressar à política foi já na proximidade da acção partidária, porque a independência do jornalista não significa neutralidade ou perda de direitos. É algo que se constrói e é reconhecida, ou não é.
Penso que a crítica na imprensa é um género jornalístico e existem apenas diferenças de dimensão, de fôlego, conforme os suportes e as ambições. Quando se escreve para um diário, um semanário, uma revista, mesmo para uma publicação especializada, é evidente que a certa altura se pode entrar no domínio do ensaio, eventualmente do ensaio dito universitário. As fronteiras são fluidas, não há esferas estanques e sempre foi possível circular entre elas, mas as exigências de legibilidade e rigor são as mesmas das outras áreas do jornalismo. A especialização não quer dizer obscuridade ou autismo, e escreve-se para o público que lê e não só para a bibliografia dos artistas. Aquilo que dá hoje uma razoável ilegibilidade aos textos críticos publicados na imprensa é que eles são directamente transportados de outras instâncias, sem atenção ao lugar onde se escreve: são textos próprios do trabalho universitário, à maneira do pequeno paper, ou seguem o modelo do texto para catálogo, não fazendo diferenças entre as várias funções. A crítica jornalística, incluindo a das revistas tidas por especializadas, e uma revista de arte continua a ser uma publicação jornalística, tem a responsabilidade de dirigir-se a um público, deve comunicar. Mas é difícil gerir hoje esse papel porque também é muito difícil definir o lugar profissional a partir do qual se escreve: tem de se responder a múltiplas encomendas e de satisfazer diversos clientes que têm naturalmente exigências diferentes. Há dificuldades na compatibilização dos papéis.

Quais são essas dificuldades e em que medida se pode falar de uma mudança na evolução do trabalho do crítico nas últimas décadas?

Está-se sempre em mudança e o contexto é hoje completamente diferente do que era há vinte, trinta anos, sobretudo porque se tornou muito significativo no plano económico. É um sector que teve um crescimento exponencial associado a uma grande visibilidade e competitividade em termos económicos, de política cultural, de afirmação das cidades e fluxos turísticos, etc. Factores que inevitavelmente determinam aquilo que se escreve, e por isso as informações sobre as preços dos leilões ocupam muito mais espaço que o debate, ou a análise das obras. O espaço da crítica reduziu-se, também por culpa dos críticos, por nossa culpa, e o que agora se lhes pede é que promovam acontecimentos e vedetas, em conformidade com aquela mudança de contexto. De qualquer modo, é também um contexto em que a competição entre os que escrevem sobre arte é muito grande. Há um crescimento exponencial dos candidatos ao exercício da crítica, mas as possibilidades de profissionalização são diminutas, o que leva a que tenham de se movimentar simultaneamente nos vários lados desta área e percam uma das condições necessárias ao exercício da crítica enquanto género jornalístico: a independência, ou seja, um olhar de certo modo distanciado, a partir do qual é possível criticar de uma forma sempre subjectiva mas não arbitrária, porque se trata de escolher e avaliar, e depois de partilhar e confrontar opiniões, gostos, ideias. Se alguém escreve simultaneamente textos críticos para jornal, prefácios para catálogos, press-releases, eventualmente anónimos, se é consultor de galerias, às claras ou ocultamente, se é comissário ou candidato a tal, se orienta colecções privadas, não pode construir sobre a gestão desses múltiplos interesses um perfil profissional assente numa imagem de autonomia, isenção ou independência crítica.
Decorre daí, segundo parece, a fuga para uma definição de crítica enquanto mediação neutral entre os artistas e o público, repetindo o que o artista ou alguém por ele diz das intenções das obras, para as explicar aos leitores, o que não penso ser o que se exige da crítica jornalística. O exercício público do comentário situa-se no plano da interpretação mas também da avaliação de importância e de qualidade - há depois uma exigência de coerência das opiniões ao longo do tempo. O comentário é crítico, no sentido mais corrente, como é o do analista político, de economia ou de desporto. Ninguém remete a escrita sobre economia apenas para um papel de mediação pedagógica, justificando os impostos decididos por sucessivos ministros, para atender às limitações de conhecimento dos cidadãos. Ou seja, não é a lógica da explicação ou a intermediação escolar que consolida uma relação empenhada e forte com a escrita.

Depreendo das suas palavras que entende a crítica de arte como uma actividade singular, que não deverá extravasar nem para as áreas do comissariado, nem para a de programação…

Não é isso. Acho que se podem acumular actividades, mas é preciso construir e manter um lugar de credibilidade pessoal. Aliás, comecei por dizer que hoje ninguém pode ser crítico de arte na imprensa a tempo inteiro. É-se simultaneamente professor, conservador de museu ou comissário de exposições, as pessoas têm de se multiplicar por várias actividades a par da colaboração nos jornais. Não há impedimentos neste tipo de actividade, mas há situações em que os compromissos se tornam demasiado visíveis, com efeitos na descredibilização do discurso. Mas, hoje, o que me parece mais grave, e não digo dramático nem fatal porque estas coisas vão mudando, e antes já eram dramáticas por outras razões, a situação nunca é pior hoje do que era antes - enfim, aquilo que hoje é flagrante é uma situação de descredibilização dos vários agentes, não apenas do discurso crítico em concreto mas da gestão de grande parte daquilo que se propõe sucessivamente como arte com importância, e que circula num ambiente muito marcado por outros discursos que rejeitam a relevância desse tipo de objectos. É uma ecologia com demasiados iniciados e desconfiados. Os discursos que põem em causa a arte contemporânea enquanto género específico, e não como arte do presente, têm hoje uma credibilidade intelectual, teórica, muito grande, e não podem ser de modo nenhum identificados com a direita nem com a esquerda, ou só com posições conservadores. Grande parte dos que se pronunciaram sobre arte contemporânea, desde um Castoriadis a um Baudrillard, de um Harold Rosenberg ao Robert Hughes ou ao Yves Michaux, são autores de primeiro plano, cujo discurso tem que ser enfrentado, e não é. As questões do descrédito do discurso crítico sobre arte e também de certas programações institucionais têm de ser discutida. Quando as pessoas não se revêem em opções argumentadas retiram-se. Claro que há muita gente a passear nos museus e nos centros comerciais, porque o tempo do lazer cresceu, mas o que importa é a qualidade da recepção.

Como é que definiria a ética do crítico no mundo da arte?

Não me interessam as generalizações. Não tentaria definir o que é arte, que é um debate interminável e não tem interesse em termos práticos, porque a arte e a crítica vão acontecendo sem definições, tal como não estou interessado em fazer qualquer regulamento sobre a ética do crítico. As situações são diferentes, os perfis são diversos, e enfrentam-se na praça pública.

Qual considera ser o papel da crítica de arte na conjectura contemporânea? A crítica de arte tem uma função social? Que visibilidade e impacto tem a sua actividade? A crítica gera debate, afecta o mercado, faz ruído?

Há duas respostas paralelas. Por um lado, nunca houve tanta gente a fazer crítica ou escrever sobre arte nas suas diversas modalidades, desde o texto jornalístico ao ensaio universitário, ou ao texto para as galerias, o prefácio e o press release, o manual escolar ou o roteiro turístico. Este sector profissional cresceu exponencialmente, tal como cresceu o número de artistas e o espaço público dedicado às artes. Simultaneamente, parece ser consensual que os textos críticos não são para ler e que as revistas de arte são só para se saber sobre quem se escreve, para ver as fotos e folhear a publicidade. Os textos críticos que se publicam hoje nos jornais são pouco legíveis e pouco respeitados. Não digo respeitáveis, disse pouco respeitados.

Há quem lamente a falta de critérios por parte dos críticos na avaliação das obras de arte. Está de acordo com essa opinião?

O panorama actual é extremamente diversificado, existem várias realidades ao mesmo tempo. Desde que a modernidade já não é uma sucessão rápida de movimentos, sobre a oposição entre vanguardas e gosto maioritário, o mainstream oficializado caracteriza-se por um pluralismo totalmente abrangente, que inclui quer as sobrevivências ou continuidades neovanguardistas, quer propostas que seriam antes vistas como o kitsch mais comercial. Uma exposição que está agora no MoMA de Nova Iorque, chamada Multiplex, é um bom exemplo de que vale tudo, de como tudo coexiste e se encontra no mesmo plano, numa banalização das diferenças que torna muito difícil a recepção crítica dos objectos e uma avaliação da sua qualidade. O próprio título sugere a lógica do supermercado. Ao mesmo tempo, acho que assistimos a uma revisão acelerada das histórias estabelecidas, valorizando episódios ou artistas ocultados, graças a novas investigações e também à necessidade de mais valores no mercado. Em termos pessoais interessa-me tanto a aparição de novos artistas e os novos fenómenos como a descoberta de acontecimentos anteriores que tínhamos esquecido ou que não tínhamos chegado a conhecer, que foram importantes no seu tempo e hoje continuam a ser.
O panorama actual não é de modo nenhum feito apenas de novidades, e da apresentação de obras facilmente mediatizáveis; está a decorrer simultaneamente uma revisão profunda do que foi a construção da memória da arte do século XX, e dos finais do XIX, desde o entendimento da modernidade como sucessão de vanguardas e do paradigma do modernismo como percurso formalista que depois se converteu num essencialismo fechado sobre si mesmo, a arte sobre arte, desde a rejeição do temas à indiferença Pop pelos conteúdos, ou ao chamado regresso ao real com o carácter inócuo da arte de museu. Essa é apenas uma interpretação do século XX, tão precária como foi o academismo oficial do século XIX, e que está a ser confrontada pela permanente reconsideração de artistas que contrariam esse percurso, que submeteu o moderno ao modernismo e depois o dissolveu no ecletismo pós-moderno.
Pessoalmente interessam-me tanto as aparições como as continuidades de carreira e interessa-me entender que a maneira como hoje valorizamos certos fenómenos não corresponde em nada à importância efectiva que tiveram no seu tempo. O Duchamp dos ready-mades é uma construção dos anos 50-60, já paralela ao Étant Donnés que é o seu contrário; antes era como se não tivessem existido porque não estavam nos livros que se estudavam e não eram uma referência influente. A primeira grande exposição de Picasso em Paris foi em 1919, já quando estava associado aos Ballets Russes, num contexto mundano que lhe deu imensa projecção, e que era também o do chamado regresso à ordem. Antes disso, os grandes espanhóis conhecidos em Paris, fora dos círculos da vanguarda e da boémia, eram o Anglada Camarasa, que foi professor do Amadeo, o Sorolla e o Zuloaga, antes o Dário de Regoyos. Eram grandes pintores modernos, não académicos, com obras melhores e piores, como sempre, e é extremamente interessante rever essa história. Isso importa-me tanto como o que é nosso contemporâneo.

Acha que a maneira de ler as obras de arte se modificou? Falou de paradigmas. Qual foi o paradigma com que mais se identificou em termos da sua actividade?

Eu tenho vindo a coleccionar paradigmas e exemplos de como se usou com extrema ligeireza as marcações de rupturas e mudanças de paradigmas. Para além de se tratar de discursos textuais, de interpretações e não de factos, grande parte dessa lógica é falsíssima. Assisto com distância, por exemplo, ao facto de se ter construído o Museu de Serralves sobre o modelo Circa 68, uma mudança de paradigma que teria ocorrido em torno de 1968 e cuja validade se prolongaria até hoje, passados quarenta anos. Aliás, a tal exposição Multiplex diz a mesma coisa com um sentido político oposto, querendo ser um panorama de continuidades desde 1970. Seria o mais longo dos paradigmas, apesar de tudo ter mudando profundamente.
Tinha já havido uma mudança decisiva nos anos 50, em parte por efeito da Guerra Fria, que provocou a quase ocultação dos realismos e a suposta vitória da abstracção e da pureza formalista – é uma batalha que durou toda a década de 50, também em Portugal. Dou um exemplo. Gosto de edições antigas, de época, e tenho um livrinho do Alfred Barr, do MoMA, chamado What Is Modern Painting?, que teve a primeira edição em 1943 e foi depois revisto em 46 e em 53, com uma última edição de 59. É muito curioso ver como a mudança da situação política, desde a aliança com Estaline contra o nazismo à divisão dos dois blocos pela Cortina de Ferro, se vai reflectir na invenção de uma oposição ideológica entre figuração e abstracção, trocando a defesa inicial dos anteriores realismos com intervenção social, vindos já do México e da Grande Depressão, pelas ideias de forma pura e de autonomia da arte, que se instala nessa década como diferença entre o «mundo livre» e os regimes totalitários. Há outros dois livros exemplares: o de Georges Bataille sobre Manet, de 1955, que continua a ser lido como uma bíblia, identificando o começo da modernidade com a suposta destruição do tema, com uma ideia de pureza importada da música, a pintura sobre a pintura, etc. Como se Manet não pintasse a vida moderna. No fim da década aparece a síntese do Herbert Read. Logo na introdução avisa os leitores que vão ficar admirados por não falar do Rousseau, do muralismo mexicano, do Balthus, do Spencer e do Hopper, decretando que não fazem parte da história do estilo da arte moderna. Por acaso nem chega a citar a Frida Kahlo, que os modernistas não levavam a sério, mas que chega ao fim do século no CCB e na Tate Modern. Essa luta contra o tema e contra a imagem trava-se nos anos 50, e logo com a Pop as coisas mudam. Não há um novo paradigma em 68, há diferentes lutas sociais que envolvem os artistas e que têm os seus ecos e vestígios. Por outro lado, acontece que quando chegamos ao final do século XX, os grandes artistas mais reconhecidos são aqueles que o Herbert Read citava apenas como antecedentes do expressionismo abstracto e os que ele se permitiria colocar de fora do moderno. Isto é, o Balthus, o Bacon, o Lucien Freud ou a Paula Rego, que já não é do tempo dele. Ou seja, considerando o que se afirmou nos anos 50, e depois o que se tentou destruir nos anos 60/70 – por exemplo, a tradição da pintura substituída pelos novos media –, pode ver-se que a herança do século é completamente outra. Posso falar das minhas escolhas de grandes artistas, onde incluo o Balthus, Freud, Hockney, o Kitaj e o Arikha, ou o Frank Stella maximalista, muitos outros, mas não funciono a partir de paradigmas. Cito percursos excepcionais que sobreviveram a uma segunda metade do século que tentou afirmar paradigmas que negavam a respectiva importância. O que é significativo é que Serralves precisa de expor a Paula Rego, embora seja uma absoluta demolição da lógica Circa 68, porque o museu precisa de público, de visibilidade e respeitabilidade social. A pintura recente de Paula Rego é o regresso à história, ao literário, à perspectiva, à figura no seu espaço social, ao desenho diante do modelo, o retorno ao sentido, à imagem crítica e ao significado da arte, tudo o que uma estranha aliança com o esquerdismo quis eliminar. Acho que para além do que hoje se vende mais ou menos caro, do que os museus expõem mais ou menos, há outras coisas que estão a acontecer, mais poderosas. Eventualmente algumas não são muito mediáticas, mas outras atraem com razão grandes públicos.

Fez uma extrapolação para a história da arte portuguesa e referiu a obra de Paula Rego. Que outros percursos destacaria entre os criadores portugueses?

Não queria destacar nomes, até porque tenho visto demasiados percursos que não se consolidam depois das promessas de partida. O meio é muito adverso, o país é pequeno e não há museus. Há um circuito contemporâneo mas muito pouca história e poucos modernos para ver. Não é por acaso que o Pompidou não se separa em duas instituições, com uma parte moderna e outra contemporânea. Não é por acaso que a Tate Modern não afastou o moderno do contemporâneo, optando pela existência de duas instituições paralelas. Só o confronto permanente com o museu, com o Manet, o Bonnard, o Picasso, e não apenas fotografias e fotocópias de capítulos, consolida uma aprendizagem e uma vitalidade que aqui não podemos ter. Acho que é muito difícil sobreviver como artista interessante em Portugal, e mais ainda porque há certas facilidades que dificultam a solidez do trabalho. A entrada maciça de artistas no ensino universitário é uma coisa que não consagra mas destrói carreiras, tal como a administração do presente pelos museus que existem, e também a dinâmica coleccionista que aposta em especial em jovens artistas, nas emergências a baixo preço, e que não favorece ou acompanha as maturidades, se a elas se pode chegar aqui. As características actuais do mercado de arte são muito gravosas para a consolidação das carreiras.

Falou do Museu de Serralves. Que ideia tem sobre o que deve ser um museu? Deverão ter uma linha de actuação e de programação muito definida ou deverão estar abertos a várias possibilidades?

Julgo que os museus têm de ser instituições abertas a vários discursos, o que não significa pluralismo sem princípios. Por exemplo, Serralves (e tenho admiração pelo João Fernandes) segue uma linha de programação muito definida que decorre da defesa do tal paradigma, com um esquerdismo já sem sentido e que por isso é sustentado por tantos mecenas. Circa 68 representa as revoltas de uma época passada, corresponde a ilusões revolucionárias e a derrotas que tiveram um forte sentido social e político; a gestão desses restos pelo museu é, em termos artísticos, algo que importa discutir. O que me interessava ver nas instituições portuguesas eram artistas que considero importantes e que representam outras práticas. Só para dar alguns exemplos americanos: Fairfield Porter, que o John Ashbery dizia ser talvez o mais importante norte-americano do século XX, mas ninguém saberá quem é; a Alice Neel, que retratou inúmeras figuras da cultura da segunda metade do século e nunca aqui se viu certamente. A certa altura até cheguei a desafiar um museu para uma exposição só com artistas à margem da cartilha minimal-conceptual. O Wayne Thiebaud, um dos maiores paisagistas contemporâneos, de São Francisco; o Richard Diebenkorn que já foi possível ver em Madrid; o Robert Colescott, um velho negro figurativo que representou os Estados Unidos em Veneza em 1997, mas que ninguém conhece, e eu também não; o Leon Golub, que é mais reproduzido; o Rackstrom Downes, outro homem das paisagens. Em parte não são vistos porque é difícil reunir obras, que foram absorvidas pelo mercado privado, e os museus preferem organizar exposições rodando as suas colecções e descobrindo fundos de atelier de artistas mais ou menos marginais que pouco ou nunca chegaram ao mercado. Morre alguém que nunca ninguém soube quem era e faz-se uma gestão de espólios, que passa por Serralves e outros museus idênticos, desde o croata Dimitrije Mangelos à brasileira Lucia Nogueira, artistas que deixam obras baratas para o mercado museológico. Esse é um outro mercado muito activo hoje e com regras próprias. Acho que há uma política sistemática de ocultações e o que nos é mostrado são em muitos casos obras muito pouco relevantes.

Os artistas que referiu são maioritariamente americanos? Isso deve-se a alguma razão específica?

Não, e também posso dizer o nome de alguns grandes artistas dinamarqueses (risos). Em Copenhaga, por acaso, tive a oportunidade de ver o Hammershoi, uma das figuras mais notáveis da viragem do século XIX para o XX, que já conhecera em Paris e veio em 2007 a Barcelona. Mas também descobri o L. A. Ring, que foi um magnífico pintor local, e acrescento a muito jovem Kathrine Aertebjerg, que não deve ainda andar pelas revistas. Acho que em Portugal vivemos sob o domínio de um discurso sobre arte que é escolar e completamente provinciano, apesar da presunção cosmopolita das idas a Kassel e à Frieze. Noutros lugares o panorama é mais aberto e mais rico que a redução à lógica das vedetas das instituições e das notícias sobre leilões. Para lá do êxito de um Jeff Koons ou de um Damien Hirst, que hoje fazem a cúpula do sistema – a cúpula do mainstream na dupla vertente dos museus e do grande mercado –, é preciso e possível encontrar alternativas mais interessantes.

Que opinião tem sobre a crescente importância das casas leiloeiras e sobre a concorrência que fazem às galerias no plano da comercialização de obras de arte contemporânea?

As artes plásticas sempre estiveram associadas ao mercado. A ligação ao grande capital não é novidade, mas o facto deste sector ser recomendado como área de investimento mudou a mediatização dos objectos de arte, que tendem a ser vistos, em primeiro lugar, como aplicações de capital. Isso tem vindo a alterar o entendimento do coleccionismo, porque se até hoje, em geral, se comprou por gosto, agora é recomendável coleccionar como investimento e também para aceder a círculos de convívio elegante que se movem em torno da arte contemporânea. Quem colecciona por paixão não se identifica com esta espuma mundana e retira-se, ou passa a ter medo de ter opinião, ou de ser considerado pateta. Como as galerias são vistas como plataformas do mercado de investimento, têm hoje menos público realmente interessado em exposições. Mas existem também lados positivos desta situação. Este é um sector que em termos profissionais absorve muito mais gente, quando as actividades produtivas desertaram, as siderurgias e as minas fecharam. A engenharia social de Bruxelas encaminha um número crescente de estudantes para a área das artes, o que faz com que as escolas tenham de absorver imensa gente com incertas aptidões, que não serão artista mas se intitulam criadores. Daí decorre, aliás, a rejeição das ideias de talento e de qualidade, e o facto de haver novas regras para a crítica.

Acha que os museus irão ter cada vez mais dificuldades financeiras nas suas políticas de aquisição pelo facto do coleccionismo privado ser mais forte?

Os museus têm-se defendido do crescimento dos custos das obras, pela entrada de imensos investidores no mercado, procurando áreas que ainda permanecem por algum tempo no exterior dessa atenção especulativa. Essa foi a fórmula que Vicente Todolí ofereceu a Serralves, com coisas que na altura eram baratas. Hoje já não são, e esse modelo já tinha sido o do IVAM de Valência, construído pelo Tomás Llorens e pelo Todolí com base na subvalorização dos documentos construtivistas e dadás, na linha da fotomontagem do Josep Renau, um valenciano. Serralves procurou um nicho para se afirmar como museu internacional, mas já não há artistas nem nichos de mercado desconhecidos… e, se o são, logo na semana seguinte deixam de ser. O número de museus também tem vindo a aumentar – não tanto em Portugal porque os recursos são menores –, dado que se lhes atribui um papel na recuperação do tecido urbano e na competição entre cidade. As opções estéticas de programação passam agora pela necessidade de preencher grandes espaços com obras menos apetecíveis no mercado de investimento, com instalações, projecções e obras efémeras, encomendadas para um espaço e um momento, e para desfazer depois. Correspondem às cenografias festivas que os artistas faziam nos palácios. Duvido é que essa dinâmica paralela ao grande mercado e mais acessível seja sustentável, porque o público não é tolo e percebe que as coisas interessantes não podem ser vistas porque estão nas colecções privadas.

Qual é a sua grande referência em termos de instituições museológicas?

A resposta é complicada porque os museus são interessantes durante algum tempo e depois vergam-se às regras do marketing financeiro ou político. A pressão é para que cumpram outro tipo de papéis, para serem menos o lugar onde se coleccionam e conservam obras, e mais espaços de animação, ou laboratórios de criação de novidades mais baratas... Os museus estão hoje a concorrer entre si segundo o papel que lhes é atribuído pela nova economia da cultura e pelas políticas urbanas, e imitam-se uns aos outros. Porque é que me pede o nome de um museu? Não viajo o suficiente para saber se as referências que conheci continuam a ser grandes. Posso dizer-lhe que em Bilbau me interessa menos o Guggenheim do que o Museu de Belas Artes, onde pude ver uma grande instalação do Anthony Caro, o Juízo Final, e o Orazio Gentileschi, em simultâneo, em 2000. Durante algum tempo, o IVAM também foi um museu muito interessante, para ficar pela península. Mas o que me dá mais gozo é ter visto o Guttuso em Bagheria, ao lado de Palermo, o Fahlstrom em Lucca, o Soutine em Ceret, o Regoyos em Santillana del Mar.

Acha que as instituições portuguesas estão a desenvolver um bom trabalho? Como é que o avalia? Acha que estamos a viver um bom momento em termos da oferta e da programação realizada pelas grandes instituições do país?

Não. Mas a situação tem mudado. Fui uma das pessoas que defendeu a instalação da Colecção Berardo no Centro Cultural de Belém. Aí parece haver condições para alterar a relação com a arte moderna e contemporânea, e gosto de ver o museu cheio de gente. Esse facto é por si só positivo, e o dinamismo de Serralves também tem qualidades. Mas, em geral, acho que se tem assistido ao enquistar de museus e instituições congéneres em situações que dependem só dos humores e dos interesses dos respectivos directores. Os museus não têm conselhos de patronos, nem tutelas políticas com vozes audíveis, nem administrações com energia - excepto em Serralves, de novo, e às vezes em excesso. Podemos assistir à transformação do Museu do Chiado e ao regresso ao nome antigo com diferentes propósitos só por vontade de um director, sem que nada fosse politicamente pensado e enunciado - foi-se escorregando entre vazios de poder. Ou podemos assistir a situações de penosa sobrevivência de outras instituições onde existe uma situação não de autonomia mas de autismo. Julgo que há uma situação frustrante, com várias instituições a concorrer no mesmo segmento da arte contemporânea. É como se este universo não fosse estrategicamente pensado; deixa-se correr, porque não há opiniões credíveis nesta área, e diminuem-se os recursos.

E como encara a política estatal ao nível da área cultural?

Nesta área dos museus a política estatal tem feito parcerias com terceiros, que de algum modo se tornam exemplares, como Serralves ou o CCB, enquanto condena à quase paralisia a sua estrutura própria. É uma situação que não pode prolongar-se porque atingiu o limiar mais baixo, mas duvido que haja neste momento condições económicas e tempo para revisão imediata. Até há pouco tempo as prioridades eram uma delegação do Hermitage e a instalação do Museu da Língua onde era o Museu de Arte Popular, e não existia nenhuma reflexão conhecida dos poderes políticos sobre este sector. Há apenas uma gestão de interesses particulares. Pode-se ser conselheiro cultural do primeiro-ministro e comissário da Fundação Ellipse, que começou por ser um fundo de investimento e será uma colecção privada. Pode-se dirigir o Museu do Chiado e ser comprador para a mesma Ellipse, preenchendo o Museu do Chiado com exposições e obras que chegam por essa via, seguramente em condições mais favoráveis por passarem pelo museu. Tudo isso conta para a falta de credibilidade do sector, que é às vezes falta de dignidade e de respeito pelo chamado público.

Se fosse ministro da cultura qual era a medida mais urgente que tomava?

Estou optimista com a mensagem do actual ministro quando diz que é preciso fazer mais e melhor com menos. Antes dos meios importam as opções. Existem situações graves quanto à sobrevivência de museus e do património, e há questões concretas do funcionamento do aparelho público da cultura que importa considerar, mesmo se já se avançou com o emagrecimento dos institutos deixados pelo ministro Carrilho. Ao contrário do que as pessoas tendem a pensar, ainda há meios desperdiçados, e luxos ou inutilidades que ganharíamos em cortar. Corremos antes o risco de ter a maior estrutura do mundo dedicada à arte contemporânea, que seria o CCB sob a direcção de Delfim Sardo; temos ainda o maior edifício do mundo consagrado à fotografia, a Cadeia da Relação, confundindo o uso do património com o apoio aos fotógrafos. É um absurdo caríssimo e nada operacional com que é urgente acabar.

Que tipo de relações manteve com os agentes do meio artístico? Muitos não simpatizavam com o que escrevia?

Acho óptimo que haja alguns, ou mesmo muitos, que não simpatizem com o que defendo, e que se saiba porquê. Fui escrevendo aquilo que ia sendo possível escrever a partir de uma posição que associava o jornalismo profissional com a crítica, em função das minhas convicções, dos gostos e das leituras, que obviamente são diferentes dos de outros. As relações foram de independência face às encomendas. Devo ter escrito um ou dois textos para galerias, escrevi dois textos para retrospectivas institucionais, fui comissariando algumas coisas muito pequenas, em salões discretos, mas pude ter um hobby ou actividade paralela num espaço privado e familiar, às vezes com algum fôlego, já que fiz dois volumes de um catálogo raisonné e organizei ou apoiei algumas exposições. Mas efectivamente tive e tenho más relações com algumas pessoas… Já agora posso dizer um disparate: um dos factos de que me orgulho foi o Vicente Todolí apontar as duas coisas de que não tinha gostado em Portugal, a chuva do Porto e eu. Numa última entrevista de despedida, ao Óscar Faria, no Público, um dos mais influentes directores de museus do mundo... não é o ponto culminante da carreira, mas até podia ser (risos).

Sente isso como um elogio?

É um reconhecimento. Posso lamentar não me entender com mais gente, para ter mais companhia, mas acho que a diversidade de opiniões e a confrontação de ideias, e até de pessoas, são coisas que fazem falta num contexto demasiado morno, muito centralizado e imóvel. As pessoas não podem entender este universo de segredos, onde os mais anónimos vão trocando de posições, num campo que devia ser o da polémica argumentada. Usamos demasiadas meias tintas, toleramos situações inaceitáveis durante tempo de mais.

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