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segunda-feira, 27 de junho de 2016

Fotografia em Moçambique, história antiga

O que faz a importância excepcional da fotografia de Moçambique, se valorizarmos não a actual concorrência internacional no mercado dos festivais e instituições mas a continuidade e pluralidade criativa de várias gerações de fotógrafos? De facto, essa continuidade - pouco sustentada externamente, embora divulgada - só parece ter paralelo na fotografia da África do Sul, que obviamente está um patamar acima, porque é um imenso país com uma imensa história. Como se devem ponderar as variáveis que fazem a diferença da fotografia de Moçambique? Atravessam-na duas marcas constantes, a insistência no documentário social, renovando os seus caminhos, e a recusa (ou incapacidade) do exotismo, que ocupa muito do panorama africano e africanista.
A fotografia moderna de Moçambique começou pela década de 60 com dois fotojornalistas mestiços de longas carreiras, ambas iniciadas na imprensa colonial: Ricardo Rangel (1924, Lourenço Marques - 2009, Maputo) e Kok Nam (1939, LM - 2012, Maputo). Fica datada uma clara ruptura com o tempo anterior com a publicação do semanário ilustrado «Tempo», a partir de 20 de Setembro de 1970, onde Rangel publicava os «editoriais» fotográficos («Objectiva R.R.») e as reportagens da vida dos bairros negros, com a cumplicidade do jornalista e poeta José Craveirinha. Antes, houve alguma actividade do Núcleo de Arte e salões de amadores. E, muito mais atrás, os dez «Álbuns Fotográficos e Descritivos da Colónia de Moçambique» editados por José dos Santos Rufino (1929, impressos por Broschek & Co., Hamburgo), que continuaram sempre presentes. 

Tem de sublinhar-se a personalidade forte de Ricardo Rangel e a capacidade de se afirmar como profissional brilhante e fotógrafo insubmisso numa carreira sempre ascendente na imprensa colonial. Foi também activista do Jazz, a música dos negros que muito se cruzou com a fotografia. E certamente reconhece-se a transigência táctica do poder colonial perante o fotojornalista mestiço (de ascendência grega) e oposicionista, a favor da aparição de elites intermédias entre as veleidades dos extremistas brancos e as ambições dos nacionalistas negros, como quem divide para reinar e aposta em vários tabuleiros. Entrou como aprendiz num laboratório fotográfico, nos anos 40, tornou-se um impressor reconhecido e foi o primeiro fotojornalista "de cor" na imprensa branca - desde o «Notícias da Tarde», em 1952, no «Notícias», em 1956, e chegando a chefe em «A Tribuna», 1960-64; depois na Beira, 1964, no «Notícias da Beira» e no «Diário de Moçambique» e na revista "Voz Africana", estes dois publicações da Diocese da Beira, presidida por D. Sebastião Soares de Resende. De novo no «Notícias» 66-70 e a seguir o «Tempo», de que foi um dos fundadores. Após a independência, foi fotógrafo-chefe no «Notícias» em 1977, director do semanário «Domingo», 1981, etc. Foi também o pilar da criação em 1983, com apoio da cooperação italiana, do Centro de Formação Fotográfica (Centro de Documentação e Formação - a partir de 2001), que continuava a dirigir aos 85 anos.
A repressão política poupou-o (foi preso a distribuir panfletos nos anos 40, como conta no filme de Licínio de Azevedo «Ferro em Brasa», de 2006), e a censura nunca o silenciou, mesmo se algum do seu trabalho terá desaparecido. Depois, atravessou a revolução socialista e a guerra civil e a normalização relativa, dita social-democrata, também como figura independente e como formador de fotógrafos. Foi eleito para a Assembleia Municipal de Maputo (1998-2003) pela lista de cidadãos Juntos pela Cidade, e criticou a nova imprensa oficial em "Foto-jornalismo ou foto-confusionismo" (2002, ed. da Universidade Eduardo Mondlane), manifesto muito ilustrado contra o mau uso da fotografia e da legendagem (foto-aberrantismo, copulismo, ilogismo, ilusionismo, etc) no principal diário de Maputo, o «Notícias».) Travou sempre a mesma luta em diferentes condições políticas, com habilidade e firmeza.

Em 1994, a cooperação francesa editou um primeiro livro, «Ricardo Rangel, Photographe do Mozambique / Fotógrafo de Moçambique» (Éditions Findakly, Paris), que o mostrava como fotógrafo crítico da sociedade colonial, autor de imagens emblemáticas sobre a diferenciação racial e social, incluíndo os brancos pobres. E logo nos 1ºs Encontros de Bamako, no mesmo ano, a sua obra começou a ser divulgada com a série «Notre pain de chaque jour, les nuits de la Rue Araújo (1960)», apresentada pela «Revue Noire», que então publicava um número monográfico sobre Moçambique (nº 15, Décembre). Note-se que a «descoberta» de Moçambique acontece quando surgiam os primeiros panoramas da fotografia africana - «As (suas) fotos envelhecem como as de Doisneau ou de Strand alguns decénios mais cedo; ou seja, pouco ou nada, só o cenário é marcado pela história», escrevia Jean Loup Pivin na «Revue», em «Une nouvelle Photographie - L’ombre et le noir»).

Enwezor Okwui consagrou-o como um dos grandes fotógrafos africanos em 1996 na exposição e no livro «In/sight. African Photographers, 1940 to the Present» (Guggenheim Museum, Nova Iorque). Também aí era a longa série das fotografias dos bares e das mulheres da Rua Araújo ( "Our Nightly Bread» ), que lhe assegurava a maior notoriedade. Iniciara-a ainda nos anos 60 com a aparição das películas mais sensíveis, e continuou, com uma notória cumplicidade hedonista, até que a governo da Frelimo deteve a «última prostituta» - é essa foto que está na origem do filme «Virgem Margarida», também de Licínio de Azevedo, 2013. O álbum «Pão Nosso de Cada Noite», bilingue, só foi editado em 2005 (ed. Marimbique, Maputo, impresso em Santo Tirso). Rangel compareceu também em «The Short Century - Independence and Liberation Movements in Africa 1945-1994», organizada por Okwui Enwesor, em 2001 (Museum Villa Stuck, Munich; depois, Berlim, Chicago, Nova Iorque). Um último livro: «Ricardo Rangel, Insubmisso e Generoso», vários autores, org. Nelson Saúte, série Kulungwana, ed. Marimbique, Maputo 2014 (imp. Norprint, Santo Tirso).


É indispensável juntar a Rangel o nome de Kok Nam, outro fotojornalista notável e de carreira corajosa e muito longa. Começou a trabalhar nos anos 50 no laboratório e casa de produtos fotográficos Focus, onde já estivera Ricardo Rangel como impressor. Em 1966 passa como repórter fotográfico para o "Diário de Moçambique" - na delegação em Lourenço Marquese depois na sede na Beira. Em 1969 e 70 trabalha no "Notícias" de Lourenço Marques e no vespertino "Notícias da Tarde", sob a chefia de Rangel. Acompanhou a a criação  da revista "Tempo", onde continuou depois da independência e onde em 1990 era chefe de redacção. Foi entretanto um grande repórter das destruições e da fome ao tempo da guerra civil, também capaz de devolver a dimensão humana aos combatentes da Frelimo, forçado a manter-se na rectaguarda por precaução política, em contraposição e diálogo com o fotografo-guerrilheiro Daniel Maquinasse, que viria a morrer com Samora Machel em 1986. 
Repórter do tempo colonial e da «revolução popular», são particularmente relevantes as fotografias de grupos e os retratos, deixando um espólio imenso ainda a desbravar, de que dá conta o livro «Kok Nam. Preto no Branco», vários autores, org. Nelson Saúte, série Kulungwana, ed. Marimbique, Maputo, 2014 (imp. Norprint).
Depois da aprovação da primeira Constituição multipartidária do país, em 1990, e da Lei da Imprensa, em Agosto de 1991, fundou com outros jornalistas, vindos quase todos dos quadros da Agência de Informação de Moçambique (AIM), da revista «Tempo» e do semanário «Domingo», o primeiro orgão de comunicação independente do controlo estatal e governamental, o projecto Mediacoop (1992). Ao «MediaFax», marco na mudança pluralista da imprensa moçambicana, sucedeu o semanário «Savana» em 1994, de que foi director até à morte. 

Outras datas, outros nomes

Em 1972 Rui Knopfi (1932, Inhambane - 1997, Lisboa ) publicou um álbum de poemas e fotografias sobre a Ilha de Moçambique: «A Ilha de Próspero», Edição Minerva Central, Lourenço Marques. Era um «roteiro privado» e também patrimonial, publicação pioneira, sem continuidade.
Do mesmo ano é «Moçambique a Preto e Branco», com Rangel, Kok Nam, Rui Knopfi e outros, amadores salonistas, edição natalícia da CODAM, empresa portuária de Lourenço Marques, com organização não creditada de José Luís Cabaço, que viria a ser ministro da Informação da República Popular.
Em 1973 aconteceu a primeira exposição de Rangel, Rogério e Basil Breakey, fotógrafo de Cape Town, realizada no Núcleo de Arte (e parece que também na Beira). É o jazz que os liga e deverá ter sido Rogério a fazer Rangel passar da página impressa à parede. Expõem de novo em 1975, na Casa Amarela, com mais nomes: Rangel, Kok Nam, B. Breakey, Peter Sinclair e outros (sic - Informação do catálogo de Rogério, F. Gulbenkian, 1981.

Rogério ou Rogério Pereira (1942, Lisboa - 1987, Setúbal) é uma figura mais meteórica, um artista inconformado e informado, que terá sido especialmente influente graças à circulação pela África do Sul. Fez a transição do tempo colonial para o pós-independência, foi professor de fotografia durante dois anos em Maputo, mas regressou a Portugal em 1979, inadaptado em todos os regimes.

Fotografou desde 1966, em Lourenço Marques, trabalhou no «Sunday Times» de Johannesburg, em 1968; teve colaboração publicada na revista «Drum» (1969, 1973). Participou em exposições colectivas em Johannesburg e Cape Town desde 1969 (refere "Images of Man", promovida pelo "International Fund for Concerned Photography"). São informações extraídas do catálogo de uma mostra desgarrada (descontextualizada) que realizou na Fundação Gulbenkian. («Momentos», 1981), mal recebida por António Sena mas saudada na revista «Nova Imagem» de Pedro Foyos (importante portfolio no nº 1, Julho de 1980, com entrevista de Victor Dimas, «‘O fotografo tem de estar dentro da razão’»). Estava-se diante de um fotógrafo radical, revoltado, com imagens de uma grande veemência crítica, indisciplinadas, sintonizadas com rupturas dos anos 60/70. Fotografias vibrantes, duras, «tremidas», sub-expostas, inquietas.

O espólio regressou a Maputo e é conservado pela sua família africana. Em 1990 foi-lhe dedicada uma retrospectiva em duas partes na Associação Moçambicana de Fotografia, com a colaboração de Rangel, Kok Nam e José Pinto de Sá, que escreveu o texto do catálogo. Em 2002, a 1ª edição do PhotoFesta, Encontros Internacionais de Fotografia de Maputo, dedicou-lhe uma exposição antológica com o título “Verdade”. Em 2013 n’A Pequena Galeria recordei-o com duas magníficas fotos esquecidas na Colecção Gulbenkian numa mostra de grupo («De Maputo», com José Cabral e Luís Basto, também com Moira Forjaz).

Bem relacionado com jornalistas-escritores como Luís Bernardo Honwana e Craveirinha, e em geral com o meio das artes, Pancho Guedes (Amâncio de Alpoim Miranda Guedes, 1925, Lisboa - 2015, África do Sul), formado em Joanesburgo, fez desde o início dos anos 60, pelo menos, um uso funcional e eficaz da fotografia, sem que a tenha valorizada como objecto de arte e exposição. Arquitecto, pintor e escultor, fotografou sempre muito, e tudo, coligindo retratos e informação documental; é relevante a sua presença fotográfica impressa, com o respectivo design gráfico: manifesto “A cidade doente, várias receitas para a curar. O mal do caniço e o manual do vogal sem mestre”, dupla página em «A Tribuna», 9-6-1963; artigos ilustrados em «Aujourd’hui: Art et Architecture», nº 37, 1962, Paris, sobre os «Mapogga» (agora, Ndebele), e «Architecture d’Aujourd’hui», 1962, Juin-Juillet, sobre a sua arquitectura. Moira Forjaz frequentara a casa-atelier da rua de Nevala desde 1961, ao tempo das pontes estabelecidas com o Ibadam Club e a revista «Black Orpheus», de Ulli Beier, na Nigéria.
Viria a ser descoberto como fotógrafo, nas suas mais tardias fotografias de viagem, a partir da África do Sul e de Lisboa, em «Pancho Guedes nunca foi ao Japão», edição de José Luís Tavares, Lucio Magri e João Faria, ESAD, Matosinhos, 2015.


À margem desta narrativa ficou José Henriques da Silva (1919, Lisboa - 1983, Lisboa; em Nampula desde 1956). Engenheiro civil, fotógrafo activo entre 1957 e 1973, com um uso caloroso e intimista (relacional - fez em especial retratos) das imagens, junto das populações negras locais, mas sem expressão pública. Viu-se no Ar.Co, em 1983, uma selecção organizada por Joana Pereira Leite, a que se seguiu em 1998 a edição de «Pescadores Macua. Moçambique, Baía de Nacala 1957-1973», com impressões de Michel Waldmann e grafismo de Victor Palla. Ed. Câmara Municipal de Lisboa e Comissão dos Descobrimentos, Lisboa. Com exposição no Arquivo Fotográfico de Lisboa, e também em Moçambique.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Ricardo Rangel e José Afonso, 1967 - 1969?


pp 16-17.


Nunca tinha reparado que a capa do livro Cantares, de José Afonso, edição das Associações de Estudantes de Lisboa, SCIP - AEIST, sem data (1969, conforme nota abaixo da AJA) tem na capa uma fotografia de Ricardo Rangel, não creditada. 
No interior há mais, alem de fotos não identificadas de Lisboa.

Foi na "loja" da Frenesi - Paulo da Costa Domingos que reencontrei o livro
 e reconheci a imagem da capa.

(A indicação das autorias - com incorrecções quanto às fotos? - estava feita na bibliografia da Associação José Afonso: http://www.aja.pt/bibliografia/ - não havia nada a descobrir...)

Na capa, fotografia do Ricardo Rangel, Moçambique 1924-2009. Publicou-se com o título "Pausa" na edição Moçambique a Preto e Branco, Codam, 1972 - um álbum produzido para ofertas de natal por uma empresa portuária de Lourenço Marques. E antes certamente em jornais e revistas. (ver AP 2011 livros-de-moçambique-depois-de-1972 )

É do RR também a foto da pág. 17 (publicada na mesma edição, como  "Criança",  e depois na capa de um livro da cooperação francesa de 1994, RR Photographe du Mozambique, Éditions Findakly, Paris (bilingue) - aí chamada "Xipamanine blues", 1959, com um enquadramento mais alargado, integral. A anterior "Pausa" reaparece como "Pausa do estivador", Lourenço Marques, 1958, negativo integral ao baixo, e a foto da pág. 15 é "Fogo na cidade do caniço", erradamente datada de 1970. (Uso os títulos portugueses)

José Afonso teria enviado as fotos de L.M. com a Autobiografia e as notas sobre os poemas (?). Terá sido a 1ª vez que se publicaram na "Metrópole" fotos de Rangel. O contacto teria sido feito por Luís Vilas-Boas, graças às ligações do meio do jazz**?

Por outro lado, parece-me ser / é de António Quadros o desenho que aparece no final  (p. 97 n.n.). Virá datado de Paris 59 (?) - Quadros encontra J.A. em Moçambique depois de 1964 - a colaboração entre ambos é conhecida. 

Outras fotografias vêm de África (p. 18, 33, 85) e as restantes terão origem na Editorial das AAEE, certam. posteriores às grandes inundações de Novembro de 1967. Não se justificará atribuí-las a RR, são fotos de Lisboa e não sei se cá teria vindo antes do 1º Festival de Jazz de Cascais, 1971**.

E quem será A.F. que assina o prefácio? (Flávio Henrique Vara, identificado abaixo)
| Cantares José Afonso Lisboa, 1969 (Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico), com 14 fotografias do moçambicano Ricardo Rangel. Prefácio de Flávio Henrique Vara. Inclui «Autobiografia» datada da Beira (1967) e um texto de António Quadros escrito pela mão de José Afonso. Esta publicação lisboeta assume-se explicitamente como desenvolvimento da iniciativa pioneira da Nova Realidade, e contou, como esta, com a colaboração do autor. Para além dos textos (e dos comentários) incluídos nas duas primeiras edições, integra outos textos de José Afonso ou por ele cantados, da autoria de António Quadros, Ferreira Guedes ou Luiz Francisco Rebello (a adaptação das canções de “A excepção e a regra”, de Bertold Brecht) e os respectivos comentários. Inclui também o texto completo de «Vejam bem» e de «Avenida de Angola» (com a excepção do refrão popular) e a terceira versão de «Grândola». O livro coloca os comentários em rodapé, o que facilita a leitura, e assinala explicitamente a autoria dos textos que não foram escritos por José Afonso. - See more at: http://www.aja.pt/bibliografia/#sthash.l7aZI4CF.dpuf

  Cantares José Afonso Lisboa, 1969 (Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico), com 14 fotografias do moçambicano Ricardo Rangel. Prefácio de Flávio Henrique Vara. Inclui «Autobiografia» datada da Beira (1967) e um texto de António Quadros escrito pela mão de José Afonso. Esta publicação lisboeta assume-se explicitamente como desenvolvimento da iniciativa pioneira da Nova Realidade, e contou, como esta, com a colaboração do autor. Para além dos textos (e dos comentários) incluídos nas duas primeiras edições, integra outos textos de José Afonso ou por ele cantados, da autoria de António Quadros, Ferreira Guedes ou Luiz Francisco Rebello (a adaptação das canções de “A excepção e a regra”, de Bertold Brecht) e os respectivos comentários. Inclui também o texto completo de «Vejam bem» e de «Avenida de Angola» (com a excepção do refrão popular) e a terceira versão de «Grândola». O livro coloca os comentários em rodapé, o que facilita a leitura, e assinala explicitamente a autoria dos textos que não foram escritos por José Afonso. - See more at: http://www.aja.pt/bibliografia/#sthash.l7aZI4CF.dpuf

José Afonso Lisboa, 1969 (Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico), com 14 fotografias do moçambicano Ricardo Rangel. 
Prefácio de Flávio Henrique Vara. 
Inclui «Autobiografia» datada da Beira (1967) e um texto de António Quadros escrito pela mão de José Afonso. 
Esta publicação lisboeta assume-se explicitamente como desenvolvimento da iniciativa pioneira da Nova Realidade, e contou, como esta, com a colaboração do autor. Para além dos textos (e dos comentários) incluídos nas duas primeiras edições, integra outos textos de José Afonso ou por ele cantados, da autoria de António Quadros, Ferreira Guedes ou Luiz Francisco Rebello (a adaptação das canções de “A excepção e a regra”, de Bertold Brecht) e os respectivos comentários. Inclui também o texto completo de «Vejam bem» e de «Avenida de Angola» (com a excepção do refrão popular) e a terceira versão de «Grândola». O livro coloca os comentários em rodapé, o que facilita a leitura, e assinala explicitamente a autoria dos textos que não foram escritos por José Afonso. - See more at: http://www.aja.pt/bibliografia/#sthash.l7aZI4CF.dpuf

quarta-feira, 26 de junho de 2013

SEM FLASH, Homenagem a Rangel, estreia em Portugal

A notícia publicad no blog do Sérgio Gomes:
Artephotographica.blogspot.pt
O ciclo de cinema do festival Futuro Próximo, na Gulbenkian, em Lisboa, programou para o dia 25 de Junho, às 22h, o filme Sem Flash - Homenagem a Ricardo Rangel (1924-2009), de Bruno Z'Graggen e Angelo Sansone.


Homenagem a Ricardo Rangel (1924–2009), o retrato cinematográfico sob a forma de documentário realizado pelo curador de exposições Bruno Z‘Graggen, com direção de fotografia do produtor de vídeo Angelo Sansone (ambos de Zurique), assume-se como um condigno ensaio sobre a obra do grande fotógrafo moçambicano Ricardo Rangel.
Ricardo Rangel é considerado o decano da fotografia moçambicana e um dos mais destacados fotojornalistas africanos da segunda metade do século XX. As suas afinidades situam-se numa fotografia de documentário, na tradição dos fotógrafos da Magnum. Assumiu uma atitude crítica perante o regime colonial português, o que lhe trouxe conflitos com a censura e penas de prisão. Após a independência (1975), a sua contribuição foi importante na construção do novo estado socialista, sem que tenha perdido a distância face ao poder. Através da sua actuação orientadora como jornalista e como professor no Centro de Formação Fotográfica (CFF), Rangel marcou a seguinte geração de jovens fotógrafos e lançou de forma determinante os fundamentos para uma tradição de fotografia em Moçambique.
É extraordinário o legado de Ricardo Rangel. A sua obra como fotojornalista, fotógrafo independente e director do CFF abrange um período de criação de mais de 50 anos. A sua acção ajudou a moldar profundamente a imprensa em Moçambique como fotógrafo, editor de fotografia e cofundador de novos jornais ou revistas, empenhando-se em promover a fotografia. A sua obra-prima Pão nosso de cada noite (Our Nightly Bread, 1959–1975) trouxe-lhe o reconhecimento internacional a partir de meados dos anos 90, graças ao seu aparecimento em exposições e publicações. É uma obra que retrata de forma impressionante a intensa vida noturna de Lourenço Marques (Maputo). No início dos anos 80, tinha criado o CFF, assumindo as suas rédeas de 1983 até à sua morte. Este centro – com escola, serviço de documentação, estúdio e laboratório – é único no continente africano e o seu arquivo constitui uma memória visual de grande importância no país.
O filme mostra imagens de Ricardo Rangel em 2003, captadas em Maputo por ocasião da inauguração da exposição Iluminando Vidas. Ricardo Rangel & the Next Generation (cujos curadores foram Bruno Z‘Graggen e Grant Lee Neuenburg). Rangel fala energicamente das suas origens, das suas experiências como fotojornalista no período colonial, do seu amor pelo jazz e recorda cenários de Pão nosso de cada noite daquela época. Além disso, conduz o realizador por dentro do CFF e permite obter uma esclarecedora perspectiva das diversas áreas de actuação do centro de fotografia. Vê-se também as suas fotografias e ouve-se música de jazz.
Estas imagens são intercaladas com passagens mais longas de entrevistas com Alexandre Pomar (1947, Lisboa) e Sérgio Santimano (1956, Lourenço Marques/Maputo), realizadas em 2011. Pomar é um crítico de arte e jornalista português de grande renome e vive em Lisboa. Santimano, "aluno" de Rangel, é actualmente o fotógrafo moçambicano mais bem-sucedido internacionalmente e reside em Uppsala, na Suécia. Ambos recordam intensamente encontros pessoais com Ricardo Rangel e, do respectivo ponto de vista, explicam a importância do trabalho e da influência de Rangel, a receção da sua obra, abordando também a pessoa. Em complemento, ouvimos igualmente as palavras de Kok Nam (1939, Lourenço Marques/Maputo - 2012) - a par de Rangel, o mais importante fotógrafo do país e seu companheiro de viagem - e de Luís Carlos Patraquim (1953, Lourenço Marques/Maputo), poeta e jornalista.
O resultado é um denso retrato cinematográfico que nos aproxima de um fotógrafo fora do comum e de uma personalidade carismática: um homem absolutamente apaixonado pela fotografia e pelo jazz, com alegria de viver e sentido de humor, voluntarioso e incorruptível, com uma enorme capacidade criadora e um olhar sensível sobre os seres humanos em situações de vida difíceis.

Texto: Espaço Gesto

terça-feira, 19 de junho de 2012

Fotografia em Moçambique, antes de 1970

em 2012