A notícia publicad no blog do Sérgio Gomes:
Artephotographica.blogspot.pt
O ciclo de cinema do festival Futuro Próximo, na Gulbenkian, em Lisboa, programou para o dia 25 de Junho, às 22h, o filme Sem Flash - Homenagem a Ricardo Rangel (1924-2009), de Bruno Z'Graggen e Angelo Sansone.
Homenagem a Ricardo Rangel
(1924–2009), o retrato cinematográfico sob a forma de documentário
realizado pelo curador de exposições Bruno Z‘Graggen, com direção de
fotografia do produtor de vídeo Angelo Sansone (ambos de Zurique),
assume-se como um condigno ensaio sobre a obra do grande fotógrafo
moçambicano Ricardo Rangel.
Ricardo Rangel é considerado o
decano da fotografia moçambicana e um dos mais destacados
fotojornalistas africanos da segunda metade do século XX. As suas
afinidades situam-se numa fotografia de documentário, na tradição dos
fotógrafos da Magnum. Assumiu uma atitude crítica perante o regime
colonial português, o que lhe trouxe conflitos com a censura e penas de
prisão. Após a independência (1975), a sua contribuição foi importante
na construção do novo estado socialista, sem que tenha perdido a
distância face ao poder. Através da sua actuação orientadora como
jornalista e como professor no Centro de Formação Fotográfica (CFF),
Rangel marcou a seguinte geração de jovens fotógrafos e lançou de forma
determinante os fundamentos para uma tradição de fotografia em
Moçambique.
É extraordinário o legado de Ricardo
Rangel. A sua obra como fotojornalista, fotógrafo independente e
director do CFF abrange um período de criação de mais de 50 anos. A sua
acção ajudou a moldar profundamente a imprensa em Moçambique como
fotógrafo, editor de fotografia e cofundador de novos jornais ou
revistas, empenhando-se em promover a fotografia. A sua obra-prima Pão nosso de cada noite (Our Nightly Bread, 1959–1975)
trouxe-lhe o reconhecimento internacional a partir de meados dos anos
90, graças ao seu aparecimento em exposições e publicações. É uma obra
que retrata de forma impressionante a intensa vida noturna de Lourenço
Marques (Maputo). No início dos anos 80, tinha criado o CFF, assumindo
as suas rédeas de 1983 até à sua morte. Este centro – com escola,
serviço de documentação, estúdio e laboratório – é único no continente
africano e o seu arquivo constitui uma memória visual de grande
importância no país.
O filme mostra imagens de Ricardo Rangel em 2003, captadas em Maputo por ocasião da inauguração da exposição Iluminando Vidas.
Ricardo Rangel & the Next Generation (cujos curadores foram Bruno
Z‘Graggen e Grant Lee Neuenburg). Rangel fala energicamente das suas
origens, das suas experiências como fotojornalista no período colonial,
do seu amor pelo jazz e recorda cenários de Pão nosso de cada noite daquela
época. Além disso, conduz o realizador por dentro do CFF e permite
obter uma esclarecedora perspectiva das diversas áreas de actuação do
centro de fotografia. Vê-se também as suas fotografias e ouve-se música
de jazz.
Estas imagens são intercaladas com
passagens mais longas de entrevistas com Alexandre Pomar (1947, Lisboa) e
Sérgio Santimano (1956, Lourenço Marques/Maputo), realizadas em 2011.
Pomar é um crítico de arte e jornalista português de grande renome e
vive em Lisboa. Santimano, "aluno" de Rangel, é actualmente o fotógrafo
moçambicano mais bem-sucedido internacionalmente e reside em Uppsala, na
Suécia. Ambos recordam intensamente encontros pessoais com Ricardo
Rangel e, do respectivo ponto de vista, explicam a importância do
trabalho e da influência de Rangel, a receção da sua obra, abordando
também a pessoa. Em complemento, ouvimos igualmente as palavras de Kok
Nam (1939, Lourenço Marques/Maputo - 2012) - a par de Rangel, o mais
importante fotógrafo do país e seu companheiro de viagem - e de Luís
Carlos Patraquim (1953, Lourenço Marques/Maputo), poeta e jornalista.
O resultado é um denso retrato
cinematográfico que nos aproxima de um fotógrafo fora do comum e de uma
personalidade carismática: um homem absolutamente apaixonado pela
fotografia e pelo jazz, com alegria de viver e sentido de humor,
voluntarioso e incorruptível, com uma enorme capacidade criadora e um
olhar sensível sobre os seres humanos em situações de vida difíceis.
Texto: Espaço Gesto
Sem comentários:
Enviar um comentário