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terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Associações e salões, profissionais e amadores (ANOS 50)

Da ignorância da história
citação:
"26 Na década de 50, e paralelamente ao trabalho dos profissionais, os amadores de fotografia passaram a ter algum protagonismo impulsionado pela formação dos fotoclubes e pela organização de exposições nacionais e internacionais um pouco por todo o país, numa imagem sem intuitos comerciais mas com preocupações estéticas, frequentemente no âmbito de um registo documental. São disso exemplos a continuidade dos salões internacionais de arte fotográfica, em Lisboa e Porto, organizados desde 1937 pelo Grémio Português de Fotografia, o I Salão Nacional de Arte Fotográfica da Figueira da Foz (1952), o I Salão de Arte Fotográfica de Setúbal (1954), o II Salão de Fotografia da Guarda (1954), o II Salão de Fotografia organizado pela Câmara Municipal de Barcelos (1952), o I Salão Internacional de Arte Fotográfica de S. Paulo de Luanda (1952) e o I Salão de Arte Fotográfica de Braga (1953).

27 Do mesmo modo, também as organizações laborais criaram os seus concursos e exposições de fotografia, de que foram exemplo: o I Salão de Arte Fotográfica (1951) do Grupo Desportivo da CUF (a quinta edição, em 1955, passaria a salão internacional), o II Salão Internacional Interbancário de Arte Fotográfica (1954), organizado pelo Grupo Desportivo do Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa ou, mais tarde o Salão Internacional de Arte Fotográfica da Marinha Mercante, Aeronavegação e Pesca (1956), numa organização do Grupo Cultural e Desportivo da Companhia Colonial de Navegação." 

Israel Guarda e José Oliveira, « A fotografia e os fotógrafos na revista Panorama (1941-1973): 30 anos de propaganda? », Comunicação Pública [Online], Vol.12 nº 23 | 2017, posto online no dia 15 Dezembro 2017, consultado o 11 Janeiro 2018. URL : http://journals.openedition.org/cp/1927

Não, os amadores não passaram a ter "algum protagonismo" na década de 50...
Já tinham protagonismo nos anos 30, e nos 40, sem que amadores e profissionais estabeleçam barreiras relevantes entre si: reúnem-se nas mesmas agremiações e quase todos participam nos mesmos salões. Em muitos casos (Artur Pastor, João Martins, António Paixão) os profissionais da fotografia são também fotógrafos amadores quando participam nos Salões de Arte Fotográfica.

O Grémio Português de Fotografia foi criado em 1931, sucedendo à Sociedade Portuguesa de Photographia; promoveu o seu 1º Salão em 1932, que passou a Internacional em 1937. Era uma secção da Sociedade Propaganda de Portugal, o que define o seu carácter elitista.  Em 1937, o Grémio tinha apenas cem sócios (pagavam 50$ anuais os de Lisboa e 30$ os da província, um preço elevado). Era um número muito baixo de sócios, como a revista Objectiva então assinala, mas só muito mais tarde, no pós-guerra,  aparecem novas associações: o Grupo Câmara em 1949, em Coimbra; o Foto Clube 6 x 6 em 50, Lisboa; a Associação Fotográfica do Porto em 51. Os anos da Guerra e a expansão da fotografia (jornalística e documental ou artística) justificam a multiplicação de fotoclubes nos anos 50; a revista Objectiva e o seu núcleo de animadores tinham falhado em 1937-38 a sua oposição ao Grémio, já no contexto ideológico das comemorações dos centenários.

A lista de salões alinhada acima (locais e "laborais") mostra o crescimento do salonismo ao longo dos anos 50 (a par do associativismo em geral), mas perde o essencial: ignora a actividade expositiva das novas associações surgidas em 1949-51 e não distingue os mais importantes dos salões, os do Barreiro: o 1º Salão de Arte Fotográfica do Jornal do Barreiro, de 1950, que premeia Adelino Lyon de Castro; e em 1951 o Salão já é do Grupo Desportivo da CUF, restrito aos seus associados, sendo o de 1952, 2º Salão, nacional, e o 5º é já internacional, em 1955. Augusto Cabrita afirma-se desde 1950 mas em especial em 1952. E a partir de 1956 também Eduardo Gageiro. 

O que é próprio dos anos 50 é um divórcio definitivo entre amadores-salonistas e amadores que recusam os salões, amadores não associados, independentes desalinhados e elitistas, que vão ser os intérpretes de uma efémera (e em grande parte oculta) renovação fotográfica de sentido não formalista, arredada do culto salonista da Arte Fotográfica. Enquanto noutros países (Espanha, Brasil, etc) as rupturas dos anos 50 nascem nos fotoclubes e contra eles, renovando-os e fracturando-os, em Portugal não parece haver contágio entre praticantes. Depois do solitário e breve Fernando Lemos, 1952, influenciado pela Fotografia Subjectiva de Otto Steinert, uma linha de intervenção marcada pela exposição The Family of Man inclui os isolados Victor Palla e Costa Martins, autores de uma obra só, e os membros de um fotoclube privado com Gérard Castello Lopes, Sena da Silva, Carlos Calvet, Carlos Afonso Dias.

Só recentemente, em especial graças a "Batalha de Sombras", 2009, Vila Franca de Xira (organizada por Emília Tavares) se pôde reconhecer que do lado salonista (Varela Pécurto, Eduardo Harrington Sena, Fernando Taborda) se vivia também uma dinâmica modernizadora, modernista, informada em especial do formalismo norte-americano, apolítica.

(a ausência de acuidade e cultura visual na generalidade dos autores convocados (não li todos), tal como a ausência de um nível mínimo de conhecimento sobre a fotografia e a sua história, são surpreendentes - é o caso das abordagens da fotografia colonial (feita em África) ou da análise da revista Panorama. A Universidade chegou à fotografia mas não aprendeu a ver, limita-se a demarcar um espaço de ignorância impúdica que se diz de investigação. O objecto imagem dissolve-se sob a capa fácil da repetição de banalidades supostamente teóricas sobre a fotografia e da fuga para apreciações ideológicas de um gosto antifascista e anticolonialista primários, vendo "propaganda" por toda a parte, atracção pelo exotismo e outros formulários básicos.) 


 

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

PANORAMA, revista (1941 1949, 1ª série)

Apontamentos de 8 Dez 2013 - com actualizações

... Existe também a luxuosa revista Panorama, Revista Portuguesa de Arte e Turismo, onde a fotografia, na condição de ilustração fotográfica, tem um lugar respeitado e prestigioso, a acompanhar a representação alargada dos artistas modernos oficializados por António Ferro e a presença patrimonial da história da arte e da museologia. "A fase polémica do modernismo já lá vai" escrevia C.Q. (Carlos Queiroz) no nº de Fevereiro de 1944 (nº 19, vol. 4º, edição Secretariado da Propaganda Nacional) na notícia muito ilustrada da 8ª Exposição de Arte Moderna no SPN, onde os surrealistas estão representados por Cândido Costa Pinto, António Dacosta e António Pedro. Logo a seguir, mostravam-se "3 aspectos da casa do pintor António Pedro".

Panorama é essencial para perceber como é complexa e abrangentemente moderna a ordem estabelecida, ou a sua cúpula cultural, ou apenas uma espécie de fachada artística onde se arbitra a moda e o bom gosto num país que escapava às devastações da guerra (e que lucra com ela) - não há vestígios do conflito mundial nem, aliás, de quaisquer outras tensões, nos números de 1944, 45, 46...  Quando se faz referência a "uma hora revolucionária", no nº do Natal de 1944 (nº 22, já editado pelo Secretariado Nacional de Informação e Cultura Popular - S.N.I.C.P.), é para qualificar "esta fase da vida turística em Portugal".

Bernardo Marques (director artístico não creditado), Ofélia Marques, Carlos Botelho, Thomas de Mello (Tom), Estrela Faria, Almada Negreiros são presenças regulares, mas também comparecem Manuel Ribeiro de Pavia (futuro ilustrador de neo-realistas), Eduardo Anahory, Diogo de Macedo (modernista histórico, então director do Museu Nacional de Arte Contemporânea, que então reabre muito remodelado - nº 24 de 1944), Cândido, Dacosta (este no nº especial 25-26 de 1945 sobre touros), Júlio Resende (nº 27, 1946), etc. 

Na fotografia - retratos, monumentos, paisagens, obras de arte, etc - os mais constantes são Mário e Horácio Novais (igualmente os melhores), ao lado de Fernando Vicente, o mesmo Tom, Manfredo (?), João Martins, sempre referidos na página do sumário e junto às imagens (de facto, o reconhecimento da profissão e da fotografia não é um facto recente). Também se publicam Alvão e a Foto Beleza quando necessário, ou um amador como Adriano Lopes Vieira, de Cortes, Leiria, irmão do poeta que também foi um interessante fotógrafo.
No nº 21, Junho de 1944, refere-se a exposição individual de Constantino Varela Cid no Estúdio do SPN, e anunciam-se futuras reproduções que não serão publicadas.

Se o 8º e o 9º Salões de Arte Moderna do SPN/SNI são objecto de várias páginas, o mesmo acontece "A propósito do 9º Salão de Arte Fotográfica" no nº 29, de 1946. O título do breve texto de Américo Nogueira (?) continua na afirmação "A fotografia é uma arte" ... "na medida em que o fotógrafo é artista", defende depois o autor (a acção mecânica não é argumento, porque pode usar-se o melhor equipamento e fazer más fotografias, ou vice-versa). As imagens são de Maria Luisa Viana Jorge, Eduardo Portugal (este um profissional ausente do Salão), Henri Albert (2 de um belga residente em Lisboa), A. Santos André e Álvaro Valente - todas elas fotos directas de paisagem, sóbrias, sem artifícios. Entre esta fotografia artística, em geral de amadores, e a arte dos profissionais da fotografia, que pouco frequentam os salões, existe uma fronteira invisível, e indizível.
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"O 'F-3340'", Maria Luiza Huet Viana Jorge (catálogo do 9º Salão, 1946)

A edição mais surpreendente do Panorama desses anos (a 1ª série vai de 1941 a 1949, até à demissão de Ferro) é talvez a que assinala a morte de Duarte Pacheco, homenageado por Ferro e por Cotinelli Telmo, retratado por Mário Novais, sendo a sua acção documentada por obras de muitos arquitectos e artistas modernos (Pardal Monteiro, Keil do Amaral, Maria Keil, etc.) - é o nº 19, Fev. 1944.

Entretanto, as páginas de publicidade não são menos significativas que as outras, com o seu grafismo  elegante e moderno. Aí se referem (Natal de 1944) outras publicações relevantes do regime como O Mundo Português - Revista Colonial de Arte e Literatura, com páginas de "fotografias de arte, etnografia e iconografia", edição da Agência Geral das Colónias e do S.N.I.C.P., com 130 nºs publicados, então dirigida por Augusto Cunha; ou Atlântico - Revista Luso-brasileira de Cultura e Literatura, 5 nºs publicados, edição S.N.I.C.P. e do Departamento de Imprensa e Propaganda do Brasil. Todas elas têm morada em S. Pedro de Alcântara.

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Adelino Lyon de Castro publicado na Panorama: 1. Uma fotografia de Lyon de Castro tinha sido publicada no nº 39 da revista "Panorama", em 1949 (1ª série). Um "Número dedicado à província", onde Artur Pastor e Tom (Thomaz de Mello) estão muito presentes.. Com uma legenda onde se expressava uma especial deferência.
2. A fotografia de Adelino Lyon de Castro que obteve o 1º Prémio no Salão de Arte Fotográfica Panorama foi reproduzida em "Panorama - Revista portuguesa de Arte e Turismo", II Série, nº 4, 1952; ed. Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo; director Luís Ribeiro Soares. Extra-texto (não paginado).

segunda-feira, 31 de março de 2014

A fotografia em 1938

1938 é uma ano único.

Comecemos pelo Salão (Internacional de Arte Fotográfica), o Salão da Sociedade Nacional de Belas Artes (precisamente em 1938) fotografado pelo Mário Novais que não comparecia a essas festividades (é para já o único ano documentado na BA)
 - como expositor esteve representado no Salão dos Independentes em 1930 e na 1ª Exp. Geral de Artes Plásticas em 1946, que quis reagrupar as presenças desse ano



 Biblioteca de Artes :
2º Salão Internacional de Arte Fotográfica, o VI Nacional, 4 a 18 de Dezembro



organizado pelo Grémio Português de Arte Fotográfica, secção da Sociedade Propaganda de Portugal (Touring Club), Largo do Chiado 12-2º

(A fotografia de Mário Novais passa a publicar-se nos catálogos dos anos seguintes: lado esquerdo, acima, e lado direito, no verso da página - cat. 1941 e 1942-43 ...)


O Dr. Elmano da Cunha e Costa  (residência em Mossamedes, África Ocidental) representa-se com 273 - Um filósofo... de pevides 
e 274 - Sonolência, Bromóleos, mas nenhum deles é reproduzido. 

(o dr. Elmano terá voltado em 1940 e voltou em 1942-43, já como sócio do Grémio e com residência em Lisboa)

Podem ver-se neste ano de 1938, por exemplo,

Frederico Bonacho (outro Filósofo) e

Silva Nogueira, As Pevides (outra coincidência), Br. (figurou com um estudo de nu e + 2 fotos).

Outras presenças: D. Thomáz de Mello (Tom) (Ceifeira, Alentejo; Capucha, Monsanto - nesse ano a "aldeia mais portuguesa"), Salazar Diniz, Henrique Botelho. O povo e as figuras populares abundam, mas não se trata de neo-realismo... O populismo está em todo o lado.

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Acontece que nesse ano Elmano da Cunha e Costa fez a sua 1ª exp. no SPN, como se deu conta na revista "Objectiva". (Virá a fazer + 2 no SNI e será muito publicado sem ser creditado)
Exp. com figuras e paisagens de Angola: 29 são doc. etnológicos
Refere-se um álbum de propaganda de Angola de iniciativa ou com apoio das "entidades oficiais"
Referido como "ilustre artista"

Nº 15, Agosto, pág. 38

Ver no IICT/Arquivo Histórico Ultramarino: 

Âmbito e Conteúdo: Levantamento de grupos étnicos em Angola na década de 30, séc. XX, por Elmano Cunha e Costa para a Agência Geral do Ultramar. Retratos, usos e costumes, feitiçaria, rituais, habitação, arte.

Proveniência: Agência Geral do Ultramar
Dimensão e suporte: 8718 negativos de película em nitrato de celulose, formato 6x6cm.
História custodial: Esta documentação fotográfica foi transferida do Palácio da Cova da Moura para o Arquivo Histórico Ultramarino a 31 de Maio de 1984, por despacho da Direcção-Geral da Reforma Administrativa de 29 de Abril de 1983.
http://actd.iict.pt/collection/actd:AHUECC

(sic)