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sábado, 7 de outubro de 2023

APONTAMENTOS AS MULHERES DO MEU PAÍS OUTROS FITÓGRAFOS

 

António Santos de Almeida Júnior - p 421

Alberto Alves, CHAVES 4

Fotografia Alvão - 9, 44, 45, 49, 53, 81, 82, 83, 84, 92, 96, 

(121, 122, 123, 124, 125, 126, 127, 128, 147 - imagens cedidas pelo Instituto do Vinho do Porto), 

132, 138, 139, 142, 143, 145, 150, 330, 386, 389, 390

José Loureiro Botas

335, 340, 343, 345, 352, 359, 360


A. Carneiro [Alberto Carneiro]- 39, 149, 328, 329, 331, 333, 336 (MNAC)

Aureliano Carneiro -11, 50, 52, 56, 57,65, 71, 77, 85,  416 

Adelino Lyon de Castro (1910- 1953)- 353, 358, 360, 392, 393, 395, 410, 412, 414, 420 (10)

1950 (Nov.) - I Salão de Arte Fotográfica do Jornal do Barreiro: foi distinguida com o Grande Prémio, sob o título “Vagabundos”  (Aí expõe também “Rua em festa”, o 1º Prémio de Instantâneo. Nesse mesmo Salão apareceu Augusto Cabrita) 

Demósteles Espanca

Mário  Lyster Franco- 257, 259, 264, 268, 270, 275, 276 

David A. Freitas 

A. Gigante (?) - 15, 69, 70, 76, 104

Júlio Gois - VFX

Álvaro Laborinho (1879-1970)-289, 347,348, 349, 351, 457

Armando Leça- 400, 413, 415, 45

Artur Macedo - 34, 36, 37 - Imagens do filme Serra Brava

Armindo de Matos 206

M(aria) Trindade Mendonça - 310, 312, 314,  317, 317

Artur Pastor - 242, 243, 246, 247, 248, 255, 256, 260, 261, 262, 263, 267, 273, 280, 398, 399, 400, 408, 413, 418, 456 (21)

Vasco Serra Ribeiro (Século) - 222, 225, 277, 279, 283, 285, 286, 287, 288, 417, 423, 428, 432, 433, 434, 435 

Firmino Santos - neporter DP

Júlio Vidal

 Tese M Lamas Maira Saragioto

 +

Ruy Cinatti (1.ª série (36/37) 1948)

domingo, 7 de janeiro de 2018

Cronologia FOTOGRAFIA PORTUGUESA (1916-1965

CRONOLOGIA in progress

apontamentos  - registada a 8 de Dez. 2013 - com Actualizações

Boletim Photographico (1900 - 1914), Arnaldo Fonseca e Júlio Worm editores
Illustração Portuguesa (1903-1924), suplemento semanal de O Século. Joshua Benoliel, Aurélio da Paz dos Reis, António Novaes e Arnaldo Garcez.
Arte Photographica (1915 - 1931) editado por B. dos Santos Leitão

1907, criação da  Sociedade Portuguesa de Photographia (integrada na  Sociedade Propaganda de Portugal)
1910, exposição de “Photographia Artística ” ,  Salão de Illustração Portuguesa

Afonso Lopes Vieira, Anibal Bettencourt, Júlio Worm, Maria Lemos de Magalhães,
Domingos Alvão
San Payo

Visconde de Sacavém,  Photograms of the Year

 1916
Exposição Nacional de Photographia, Dezembro SNBA, org. B. dos Santos Leitão. Com Arnaldo Garcez, Domingos Alvão, Fernando Carneiro Mendes, J. de Almeida Lima, Brum do Canto, Pedro Lima (tx o + intrigante e sugestivo profissional: retrato de Santa Rita > Paris)  (AS 224)

1922
António Ferro dirige a Ilustração Portuguesa

1924
Ilustração Moderna, dir. Marques de Abreu (1879-1958)


1926
(-1938) Ilustração

1927
(- 1933) Magazine Bertrand

1928
(-1935) O Notícias Ilustrado, supl. gráfico do Diário de Noticias. Dir. Leitão de Barros. Imp. rotogravura (mm ano que Vu, 1928-38)

Salazar Dinis, Denis Salgado, Ferreira da Cunha, João Martins, Mário Novais e Horácio Novais,  Judah Benoliel.

1929
I Exposição-Concurso de Fotografias, Março SNBA, org. B. dos Santos Leitão (ver 1916), dir. de Arte Fotográfica. Com João Martins, Silva Nogueira e o pp
Salão Kodak?


1930
I Salão dos Independentes: participação de  Mário Novais e de Branquinho da Fonseca e Edmundo de Bettencourt, escritores da Presença
Presença, Jan. publica Branquinho da Fonseca e Edmundo de Bettencourt

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

FOTOGRAFIA (e Informação) e PROPAGANDA no Estado Novo Português

uma edição importante?:

Trata-se de fotografia e só às vezes de fotógrafos (Maria Lamas fica por entender; descortinar o Elmano Cunha e Costa não é fácil...). 

Propaganda é um termo de uso questionável, porque até 1940-45, II Guerra, ainda não se distinguia de Informação - daí a passagem de SPN a SNI, que não é cosmética. Daí a SPP - Sociedade Propaganda de Portugal (essa entidade fantasma) que incluía a Propaganda-Informação e a vertente da "Arte Fotográfica". O título "Fotografia, Informação e Propaganda" seria mais correcto (mas há ainda pouca informação...) 

Vol.12 nº 23 | 2017
Fotografia e Propaganda no Estado Novo Português

capa 23

Editores convidados
Filomena Serra, Instituto de História da Arte, IHA, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, FCSH, Universidade Nova de Lisboa
Paula André, DINÂMIA'CET-IUL, ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa
Bruno Marques, Instituto de História da Arte, IHA, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, FCSH, Universidade Nova de Lisboa

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

MARIA LAMAS FOTÓGRAFA






 Em 1947, quando Maria Lamas dá início às suas viagens pelo país para a publicação de 'As Mulheres do Meu País', tem 53 anos, e fora até há pouco directora de 'Modas e Bordados', jornalista e romancista. "Resolvi arranjar uma máquina e ser eu, também, fotógrafa", lê-se numa notícia publicada no boletim 'Ler - informação bibliográfica', Publicações Europa-América (Maio-Junho 1948, pág. 10).
"A obtenção de fotografias, confessa, foi uma das maiores dificuldades que encontrou, pois queria-as ‘verdadeiras, expressivas, com valor documental e inéditas’. Acabará por assumir-se como repórter fotográfica, num trabalho pioneiro" – 'O Primeiro de Janeiro', Porto, 28 de Abril de 1948 (entrevista na pág. "Das artes e das letras").
Os seus inúmeros retratos de mulheres devem ser vistos como uma grande aventura fotográfica, com um sentido de documentário social, de denúncia e de esperança ou optimismo que tem de ser associado ao neo-realismo, como uma contribuição muitíssimo original (o neo-realismo nunca teve fronteiras conceptuais fechadas e pode/deve ser identificado como tal, ou como aproximação a, sem que os autores dele se reclamem).
Herdeiras de uma prática fotojornalística recorrente - o retrato individual que acompanha as notícias - , as fotos de ML têm uma verdade e uma energia contagiantes, que desde logo decorrem e comungam da situação concreta do inquérito e do voluntarismo da autora. Toda a ambição esteticista ou artística está ausente: são documento e testemunho, tanto das mulheres encontradas no terreno como na atitude da autora. Nunca foram expostas até aos anos 2000 (e seguramente não foram pensados como objecto de exposição, ou colecção, ou edição autónoma), e nem mesmo foram incluídos ou referenciados, ao que julgo, nas exposições documentais tardias sobre Maria Lamas.
Não referidos por António Sena na sua história, permaneceram como material não visto, não reconhecido, não valorizado, ignorado pelo neo-realismo oficial (o das EGAP de 1946 a 1950...) e também, naturalmente, pelos meios da "arte fotográfica", em que também o neo-realismo penetrou (Lyon de Castro, Cabrita e outros). Não um não-dito da fotografia portuguesa, que por vezes continua a incomodar quem se rege por etiquetas e não por dados visíveis.
São na maior parte das vezes retratos individuais e também de grupo. Retratos directos e frontais realizados nos locais de trabalho, como que interrompendo momentaneamente a faina. Noutros casos são mesmo momentos ou situações de trabalho que se ilustram, procurando registar a dureza do esforço físico. Totalmente despidas de efeitos de luz e sombra, feitas sob o sol directo e cru, as imagens prescindem também de toda a anedota ou nota de mistério, à beira de uma impressão de banalidade que se desmente na cumplicidade dos olhares trocados, na firmeza, confiança ou dignidade dos rostos, na eficácia documental das roupas, utensílios e outros objectos visíveis, numa objectividade enxuta e tocante. A banalidade, o banal (a suspensão da arte), é um tema essencial da prática e da teoria fotográficas, que se manifestara uma década antes durante a "polémica do flagrante" e foi tendo sucessivos afloramentos (Walker Evans, a Pop, etc)
Cada fotografia é acompanhada por várias linhas de texto que ultrapassam a condição de simples legendas para fornecer informações complementares e comentar o contexto económico e social de cada situação.
Realizadas por um fotógrafo-não-fotógrafo (nem profissional, nem "amador", no sentido habitual de aficionado da arte fotográfica), que apenas por necessidade recorreu por algum tempo a um "caixote Kodak", estas fotografias suplantam o interesse das restantes imagens do livro, assinadas por um heteróclito grupo de outros autores. Essa outra muito vasta antologia fotográfica documental que ML escolhe e inclui no seu livro comprovam a forte relação com o medium (com o acesso a importantes acervos e o relacionamento com fotógrafos, ou seja, uma cultura fotográfica assinalável) para além da produção própria.
No seu recente livro (Maria Lamas, Mulher de Causas - biografia breve, ed. Município de Torres Vedras, 2017) e nos comentários que deixou escritos numa nota abaixo, José Gabriel Pereira Bastos acrescenta informações essenciais para se perceber o contexto ideológico e político, profissional e pessoal, da obra de M.L.



































Dois, três pontos: 
1. os pintores e os teóricos do NR não reconheceram a fotografia senão como documento para artistas ou informação (mesmo que vários deles fotografassem: Lima de Freitas, Cipriano Dourado e outros - ver "Ciclo do arroz"). Colocando a prioridade no 'neo' (realismo) e logo na fuga ao naturalismo, entendem a 'deformação' como índice do moderno - a fotografia não deforma, copia. 
2. o NR plástico que se inicia em 1945, com pioneirismo em relação à França ou à Inglaterra (que estavam mais ocupados com a Guerra e a reconstrução), depende em especial da informação norte-americana que é amplamente distribuída durante a 2ª Guerra (Biblioteca americana, Academia de Belas Artes, etc), com foco nos realistas americanos de direita e de esquerda (Benton e Ben Shan), mexicanos e brasileiros: todos eles são à época a nova arte própria da América, antes de se afirmar Pollock e o expressionismo abstracto. Não há lugar para falar em realismo socialista de imposição soviética antes de c. 1948, ou mm 1952, e aí começa a divisão no campo NR e afins, que é até essas datas um espaço pluralista e livre. 
3. Até c. 1952 e à querela dos intelectuais, e o 'desvio de esquerda', não se pode atribuir à linha do PC a condução da criação intelectual e artística; as estruturas são frágeis e as figuras que se destacam como criadores, mesmo entrando no PC, têm mais importância que os controleiros e que uma direcção fraca e distante. É necessário não ver Stalin por toda a parte antes de se extremar a Guerra Fria. 
4. O destino soviético de M. Lamas, por um lado, e as afinidades titistas de Adelino Lyon de Castro (com Piteira Santos, a Ler, Mário Soares, etc), para mais morto por doença muito cedo (1953), devem ter inviabilizado ou pelo menos demorado o reconhecimento das suas contribuições fotográficas durante décadas. Para além do que deriva da escassa cultura visual reinante, como se observa neste "caso" Lamas levantado por uma experiêrcia ensaística do Manuel Villaverde Cabral.

Adenda
É um artigo de Manuel Villaverde Cabral publicado no Vol.12 nº 23 | 2017 de Comunicação Pública
"Fotografia e Propaganda no Estado Novo Português", com o título
"Texto e imagem fotográfica no primeiro contra-discurso durante o Estado Novo: «As mulheres do meu país» de Maria Lamas" 
que justifica o regresso à obra fotográfica de M.L.

Depois de apontar textos antigos no blog Typepad e em especial "O neo-realismo na fotografia portuguesa, 1945 – 1963"
publicado em INDUSTRIALIZAÇÃO EM PORTUGAL NO SÉCULO XX. O CASO DO BARREIRO, Actas do Colóquio Internacional Centenário da CUF do Barreiro, 1908-2008, Universidade Autrónoma de Lisboa, 2010. Pp. 423-442.
(colóquio que teve lugar no Auditório Municipal Augusto Cabrita, Barreiro, 8-10 de Outubro de 2008. Painel 4 - Do Realismo ao Neo-realismo: imagens do trabalho e do operário na arte portuguesa)
https://www.academia.edu/525938/O_neo-realismo_na_fotografia_portuguesa_1945_1963

...passei a referir-me ao texto do MVC, recém-chegado tarde e descuidadamente a assuntos de fotografia:
1

  " "convém clarificar nesta secção inicial que não se pode falar d’As Mulheres do meu País como um foto-livro. Com efeito, no período do Estado Novo (1934-1974), há apenas um foto-livro propriamente dito, a saber, Lisboa: Cidade Triste e Alegre dos arquitectos Costa Martins e Victor Palla (1959)"
O MVC vem destacar a importância do livro de ML, redescoberto a partir de 2002 graças à notável reedição da Caminho dirigida por José António Flores, onde o facsimili se recortou para incluir a reprodução das fotos originais da Maria Lamas. (Com uma 2ª ed. logo em 2003 que acabou em parte laminada pela Leya.) António Sena na sua história ignorou (ou ocultou) a obra e a autora, fotógrafa de um livro só. 
Mas MVC engana-se ao identificar apenas um "foto-livro propriamente dito" no período do Estado Novo (1934-1974, se é que o E.N. veio até esta data). Eu alargaria o conceito de foto-livro para incluir "As Mulheres..." porque a presença da fotografia é essencial à reportagem-ensaio, que é também um ensaio fotográfico - mas não se percebe como MVC esquece ou ignora os foto-livros do regime, os de Artur Pastor e alguns outros."

O MVC quereria referir-se ao único foto-livro contra o regime... (como lembrou o Zé Neves e o MVC agradeceu:"Obviamentre, obrigado Zé!" 
Mas qualificar de livro "contra o regime" o de Palla e Costa Martins é redutor para a obra e para o regime...
 
A nota acima motivou uma resposta de Filomena Serra (directora da publicação e esposa do publicado) que tenta iludir a falta de razão:
 
(3 Dez) "Nao é a primeira vez que Alexandre Pomar se esconde por detrás das três letras MVC evitando colocar o nome por extenso para assim passar despercebido por ele e dizer mal enviesando o que Manuel Villaverde Cabral escreve e fá-lo com todo o à vontade e desfaçatez aqui no seu cantinho. De facto Manuel Villaverde Cabral usa pouco o Facebook e tenho evitado dizer-lhe o que AP escreve por aqui apunhalando pelas costas. Manuel Villaverde Cabral conheceu Maria Lamas muito bem e foi aliás a primeira pessoa que ele viu em Paris quando lá chegou como exilado. Leia bem o texto que em caso nenhum desmerece Maria Lamas, bem pelo contrário. O texto exprime uma profunda admiracao pela mulher e pela fotógrafa. Sim são fotografias "caseiras" e nada desmerecedoras. Nao percebeu? Tem a certeza que leu bem ou tresleu? O fotógrafo Luiz Carvalho compreendeu muito bem. AP deita areia para os olhos de quem provavelmente nao leu. AP é historiador? AP é sociólogo? NÃO! Já alguma vez escreveu mais de 6 páginas sobre Maria Lamas? Que eu saiba Não! Mas continua a espalhar a verborreia neo neo neo que utilizava no jornal Expresso, e agora já bastante enferrujada. Resta-me dizer como co-editora que o artigo de Manuel Villaverde Cabral foi sujeito tal como todos os outros textos a dois peer review anónimos na área da história da fotografia."

2. 

Voltei assim ao assunto:
" Ainda Maria Lamas fotógrafa, em resposta breve a Filomena Serra que veio defender em comentários pouco visíveis o historiador Manuel Villaverde Cabral enquanto observador de fotografia, servindo-se de uma opinião de Luiz Carvalho.
As fotos "parecem feitas por uma principiante", escreve MVC, enquanto LC intitula "as fotos caseiras de ML" uma confusa nota onde se baralha: "É evidente que é um olhar nada treinado, sem técnica nem intenção narrativa. São testemunhos frontais, simples e daí a sua coerência ao ter criado um discurso visual que ultrapassou as suas intenções iniciais." - o que quer isto dizer?  
E que vale a qualificação atribuída por LC a ML face aos comissariados de Jorge Calado? Para não referir o que fui escrevendo sobre ML e que foi fazendo o seu curso... (não tenho presente o que terá escrito Emilía Tavares sobre ML). Se não ignora as exposições e os textos ( esta não é uma área de competência de MVC) impunha-se contra-argumentar. LC é um esforçado divulgador e um bom fotógrafo dado a ressentimentos (nem todos podem ser os melhores). 
ML é uma grande descoberta como fotógrafa : é preciso vê-la com disponibilidade e boa fé, admitindo que há artistas expontâneos, e inesperados, desconhecidos, sem fugir à surpresa e sem precisar de embrulhar as imagens (e a cegueira propria) em enredos ideológicos improdutivos. António Sena tb não a viu - ficam em boa companhia, mas errados: perdem uma pequena obra e um caso de excepção da fotografia portuguesa.
MVC conheceu bem ML ao tempo em que as suas fotografias não se valorizavam nem compreendiam. Posso dizer que conheci bem MVC e que com ele e outros fiz política em 74-75, depois de o admirar nos tempos do exílio, do esquerdismo e da investigação. Depois o mundo deu muita volta. MVC, como eu disse, tem as suas áreas de competência, tb na do comentário político actual, que às vezes partilho. Apesar de ter sido crítico de cinema, a fotografia é uma área em que vê pouco e mal. Insuficiência ou ausência de pesquisa, desde logo quanto à foruna crítica recente de LM; errada desvalorização da qualidade fotográfica da pequena obra de ML (que vale o esforçado LC face aos comissariados de Jorge Calado? - se não os ignora devia discuti-los). Investigar e argumentar são a chave operacional da questão. Gostaria de ter. continuado a ser amigo, cúmplice, camarada, visita de casa de MVC, se julga adequado pôr a divergência em termos pessoais.
Outros artigos da revista (importante por trazer atenção a uma área desabitada) merecem uma abordagem criticamente negativa, por exemplo sobre “propaganda colonial”.

3.
Desde 2009, pelo menos, Maria Lamas é reconhecida como uma grande fotógrafa, mesmo que de uma obra só e por um breve tempo - sem formação na área e sem ter feito exposições (a fotografia tem destes "acidentes", o que a torna ainda + interessante). O artigo de MVC ignora-o e, aliás, não chega a entender ML como fotógrafa - as fotos "parecem feitas por uma principiante", diz, e refere depois um olhar "tecnicamente principiante mas solidário com as personagens do seu livro", o que já é uma pista para entender esta obra - obra-prima de uma fotógrafa ingénua (?, mas com grande experiência da fotografia) ou outsider, tão melhor que tantos profissionais e amadores.

Para além de outros escritos dispersos, por duas vezes Jorge Calado levou ML a grandes exposições internacionais: expôs sete provas de época e uma prova moderna na mostra "Au Féminin", em Paris, no Centro Cultural da Gulbenkian, onde foi a artista mais representada (2009, há catálogo, esg.) e apresentou-a numa representação ibérica de apenas 10 fotógrafos na "Dubai Photo Exhibition 2016".

Basta uma pesquisa na internet para descobrir a fotógrafa Maria Lamas e, se MVC não a fez, devia ter pedido ajuda ou devia alguma comissão de avaliação científica da revista mandar o artigo para trás. MVC tem as suas áreas de competência, até como comentador político, mas neste caso a ousadia de falar do que não conhece e mal investigou não lhe correu bem. Tomemos o caso como exemplo, entre muitos outros, da descuidada compartimentação académica de saberes e da ignorância universitária. (4) 30 dez.

domingo, 8 de dezembro de 2013

MARIA LAMAS, 1948-50: "As Mulheres do Meu País"




Maria Lamas, Jovens trabalhadoras das minas de S. Pedro da Cova (de "As Mulheres do Meu País", pág. 372, 1948-50) © Herdeiros de Maria Lamas, Lisboa / Editorial Caminho

Uma das mais insólitas estranhezas (talvez originalidades) da fotografia portuguesa é o facto da obra fotográfica de Maria Lamas - mesmo que reduzida a um único grande livro editado em 15 fascículos ao longo de menos de dois anos, e nunca exposta no seu tempo - ter permanecido ignorada tantas décadas. É certo que não se tratava de um álbum de ilustrações mas de um longa reportagem, ou inquérito jornalístico muito ilustrado; que as condições editoriais da reprodução fotográfica não eram as melhores da época; que além das muito numerosas imagens da autoria de Maria Lamas ela própria escolheu e fez publicar outras tantas (?) imagens de fotógrafos que eram famosos ou desconhecidos por meados do século XX (esse é outro dos motivos de interesse do livro); que o activismo e o protagonismo político da autora (o exílio e os condicionalismos partidários) se sobrepuseram à apreciação da sua obra de escritora e de ocasional fotógrafa.
Ignorada na história de António Sena (1998), que permanece a única obra de referência, a produção fotográfica de Maria Lamas não costuma ser representada ou mesmo referida nas mostras monográficas que lhe foram dedicadas (Biblioteca Nacional 1993, em especial). Só com a muito cuidada reedição em fac-símile realizada pela ed. Caminho em 2002 (com reprodução das imagens a partir das provas originais, sempre que possível - graças à coordenação gráfica de José António Flores) é que o trabalho fotográfico de Maria Lamas começou a ganhar a atenção que merece. No ano seguinte, Maria Antónia Fiadeiro, numa biografia publicada pela Quetzal, aponta Maria Lamas como uma repórter fotográfica pioneira.


Maria Lamas, Jovem mãe da Castanheira, Serra da Estrela ("As Mulheres do Meu País", pág. 161, 1948-50. tb em "Au Féminin", nº 8 - prova vintage, 8 x 5 cm) © Herdeiros de Maria Lamas, Lisboa / Editorial Caminho

Quando Maria Lamas concebe e produz o livro As Mulheres do Meu País, criando uma estrutura editorial artesanal e familiar para o efeito, tinha já 53-54 anos. A relação com a fotografia seria apenas a de uma jornalista do quadro de O Século (entrou em 1929) com uma longa experiência de direcção de suplementos e revistas, e em especial do semanário feminino Modas e Bordados, entre 1930 e 1947. Nem fotógrafa profissional, nem "amadora" (no sentido habitual de aficionado ou praticante da arte fotográfica), Maria Lamas apenas por necessidade recorreu por algum tempo a um "caixote Kodak" para fazer as imagens que deveriam acompanhar o seu inquérito sobre a vida e o trabalho das mulheres portuguesas. 

Queria-as, às fotografias, "verdadeiras, expressivas, com valor documental e inéditas", conforme diz numa entrevista a O Primeiro de Janeiro (28 de Abril de 1948)"Resolvi arranjar uma máquina e ser eu, também, fotógrafa", disse em Ler - Informação Bibliográfica, Publicações Europa-América (Maio-Junho 1948). 

Um genro que trabalhava para a Kodak ensinou-lhe os rudimentos da fotografia e tratou do material trazido das deslocações pelo país. O espólio conservado pela família compreende os negativos e as provas positivas de que se escolheram as imagens reproduzidas no livro, em contactos e provas de pequeno formato que nunca houve a intenção de expor. Por vezes, revela Jorge Calado, as provas foram reenquadradas para eliminar figuras masculinas ou sujeitas a colagens para os grupos serem apenas femininos.
São circunstâncias que fornecem alguns ensinamentos sobre a realidade ambígua da fotografia e sobre os seus circuitos de reconhecimento e consagração. Por um lado, uma grande aventura fotográfica, que é também um grande obra (única no contexto português do seu tempo), pode surgir no exterior das práticas institucionalmente estabelecidas, à margem da profissão e das suas aptidões funcionais (o fotojornalismo, o retrato, a ilustração documental, reconhecidas ou não como produção artística) e também à margem da intencionalidade artística oposta aos usos funcionais, ou autónoma, que tinha à data os seus códigos associativos e rituais expositivos, identificados como amadores (mas não exclusivos destes, e os dois circuitos não são nunca estanques). Prática isolada e exercício breve no tempo (3 anos), sem aprendizagem, de intenção documental e alheia, pelo que se pode saber, à ambição da arte e dos seus circuitos, certamente sem modelos históricos ou conceptuais, a obra fotográfica de Maria Lamas é fundada num projecto próprio de inquérito e de comunicação, e também numa vontade de activismo cívico.


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Artur Pastor e Maria Lamas


No muito vasto panorama da fotografia portuguesa da 1ª metade do século 20 (e das décadas de 30 e 40 em particular) que é o livro de Maria Lamas As Mulheres do meu País, Artur Pastor é um dos autores com participação relevante. Esta é a minha fotografia preferida.

Pastor-1
pormenor da página 399: Mulher do bairro da Barreta, Olhão...



Pastor2
Pág. 456. "Tipo de mulher doméstica do povo..., Setúbal, num bairro de pescadores".


Artur Pastor, fotógrafo

Pouco a pouco, de vez em quando, há uma parte da história que sai da sombra. Agora, imagens da Nazaré de um dos fotógrafos mais activos nos anos 40/60, como se vê pela biografia editada abaixo.
Artur Pastor é por vezes referido depreciativamente como salonista, mas salonismo, uma forma actual de salonismo, é igualmente o que preenche as colecções julgadas muito cosmopolitas de alguns bancos provincianos ou locais (uma forma actual que virá a ser desvalorizada e esquecida como aconteceu com a produção oficial e mais admirada de outros tempos - em grande parte são também uma espécie de "activos tóxicos" de mercado especulativo). Mas salonismo é uma qualificação errada quando aplicada a Artur Pastor, mesmo que tenha concorrido a diversos salões, que eram o espaço predominante de exposição de fotografias durante grande parte do seu tempo de actividade.

O seu espólio, com dezenas de milhares de fotografias (50 mil espécies, não sei se provas e/ou negativos - e não é indiferente), foi adquirido em 2001 pelo Arquivo Fotográfico da CML, continuando a aguardar divulgação.
Este é o cartaz de uma exposição recém-inaugurada na Nazaré, uma terra com grandes tradições fotográficas, por ocasião da inauguração da respectiva Biblioteca Municipal:
Cartaz_ARTUR_PASTOR_A4 

fotos.sapo.pt


Dados biográficos de Artur Pastor


"Artur Pastor nasce a 1 de Maio de 1922 em Alter do Chão, no Alentejo. Em 1942, fruto da necessidade de documentar a tese de final do curso de regente agrícola, descobre o fascínio da fotografia que o há-de acompanhar até ao seu último sopro de vida a 17 de Setembro de 1999.
Após ter terminado o curso, entrega-se de alma e coração à conquista da sua nova paixão, a fotografia. Em Évora, onde vive na altura, envolve-se em inúmeros projectos fotográficos. A primeira exposição, “Motivos do Sul”, teve lugar em Faro, no ano de 1946, onde apresentou trezentos trabalhos, o que demonstra a pujança com que se lançou no mundo da fotografia. Seguem-se outras exposições em Évora e Setúbal. Paralelamente começa a apresentar trabalhos seus em publicações ilustradas, postais, selos e cartazes. Durante este período inicial da sua vida artística colabora em diversos jornais do Sul do País com artigos de opinião e de cariz literário.
No início dos anos cinquenta vai trabalhar para os serviços do Ministério da Agricultura em Montalegre. Naquela época tenta formar, em Braga, uma associação fotográfica. Em 1953 vem viver para Lisboa. Nesta cidade passa a fazer parte do Foto Clube 6x6.

Pertenceu aos quadros do Estado durante cerca de trinta anos como Engenheiro Técnico Agrário. Ao longo destes anos, foi responsável pela obtenção e organização das mais de 10 000 fotos que compõem a Fototeca da Direcção Geral dos Serviços Agrícolas. Paralelamente, colaborou com outros organismos ligados à agricultura como as Juntas Nacionais do Azeite, do Vinho, das Frutas e a Federação Nacional dos Produtores de Trigo, entre outros. Com uma visão única do mundo agrícola deixou para as gerações posteriores um legado fotográfico de grande valor documental e artístico.
Pelo serviço prestado enquanto fotógrafo do Ministério da Agricultura, foi-lhe atribuído o grau de Oficial da Ordem de Mérito Agrícola e Industrial (Classe do Mérito Agrícola). Registou milhares de fotografias por solicitação dos mais diversos organismos oficiais e grandes empresas, sobretudo no campo da agricultura e turismo.  Colaborou, com centenas de fotografias, em exposições oficiais e feiras, no país e no estrangeiro.

Participou em Salões Nacionais e Internacionais de Fotografia. Nos Salões Nacionais, obteve, com regularidade, os primeiros prémios. Individualmente, realizou 13 exposições fotográficas, com destaque para a que teve lugar no Palácio Foz, em 1970, com 360 trabalhos e no Palácio Galveias, em 1986, com 136 fotografias.
Publicou dois álbuns de grande formato: Nazaré Algarve, sendo da sua autoria os textos, as fotos e a paginação. Ilustrou totalmente, com motivos originais da Nazaré, o álbum de fotografia oferecido à rainha Isabel II, aquando da sua visita a Portugal. Escreveu e ilustrou a separata "A Fotografia e a Agricultura" e forneceu fotografias para o folheto "Alcobaça".
Ilustrou os livros Évora, com textos de Túlio Espanca, As Mulheres do Meu País de Maria Lamas e "A Região a Oeste da Serra dos Candeeiros ".
Em Portugal, colaborou nas publicações Panorama, Mundo Ilustrado, "Agricultura", "Fotografia", "Revista Shell", entre outras, incluindo boletins informativos, almanaques do Alentejo e do Algarve, livros como "Guia de Braga", "Portugal", "Lisboa", "Romantic Portugal", etc., e ainda desdobráveis de turismo, capas de livros e de discos, selos, inúmeros folhetos, agendas, boletins regionais, calendários e cartazes.
Forneceu fotografias para o "National Geographic Magazine" e "Photography Year Book". Foi o autor português que, a convite do editor, escreveu o artigo sobre Portugal, com inclusão apenas de fotos suas, na "The Focal Encyclopedia  of  Photography". Várias revistas e jornais estrangeiros dedicaram artigos relativos ao seu trabalho, tais como a "Art Photography", americana, o jornal "Times" de Londres, ou incluíram diversas fotos, como as revistas "Photography", inglesa, a "Revue Française", as alemãs "Merian" e "Architektur & Wohnen", a "Revue Fatis", o "Photo Guide Magazine", entre outras.

O seu espólio foi adquirido, quase na sua totalidade, em 2001 pelo Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa. Os arquivos fotográficos de Artur Pastor contêm largos milhares de fotografias, centenas das quais com irrecuperável valor histórico, imagens de um país perdido ou alterado, a preto e branco, diapositivos a cores, e em negativos a cores. Para além da cobertura de todas as regiões continentais e insulares do país, constam colecções de várias províncias de Espanha e Itália e das cidades de Paris e Londres.
Deixou preparada a exposição "Uma Visão Histórica e Etnográfica do País", com fotografias de Portugal a preto e branco e a cores, e outras, nomeadamente sobre Lisboa, Porto, Braga, Évora e Sintra.
Fazem parte do seu legado maquetas de livros sobre Portugal e sobre algumas regiões e cidades do nosso país, com fotografia e texto da sua autoria.
Considerado “O Domador da Rolleiflex”, utilizou, ao longo da sua vida, diversas máquinas fotográficas desde a lendária Rolleiflex de película 6x6 até à moderna Nikon de formato de 35mm. Artur Pastor foi um marco importante no panorama artístico português tendo sido carinhosa e justamente apelidado, entre os seus pares, como “ O Poeta da Fotografia”."

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Informação de Artur Pastor (filho)
"O seu espólio encontra-se no Arquivo Fotogáfico da CML. São dezenas de milhares de fotografias que aguardam a sua divulgação. A exposição retrospectiva da obra  fotográfica de Artur Pastor estava pronta a ser exibida nas instalações do Arquivo na Rua da Palma. Com ampliações e textos feitos "apenas" faltou a verba da CML para o catálogo e foi cancelada 15 dias antes."

No site do Arquivo Fotográfico de Lisboa:
Colecção Artur Pastor
Inclui todo o espólio deste fotógrafo no período de 1950 a 1998, de onde se destacam as séries sobre a Nazaré (1950), Algarve (1960), Lisboa, Évora, a recolha do Património construído de todo o país (1980) e a Expo-98. Esta colecção, adquirida em 2001, encontra-se em fase de inventariação.

sábado, 7 de dezembro de 2013

O neo-realismo na fotografia portuguesa, 1945 – 1963