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quarta-feira, 1 de outubro de 2025

José Veloso de Castro, major; Fotógrafo de Angola 1904-1914 (II)


 É, sem dúvida, um grande fotógrafo, com uma prática diversificada, em cenas de acção e guerra, na observação de nativos e retratos, lugares e cenas de trabalho, com um notável sentido da composição e enquadramento no espaço natural, com um forte interesse sociológico que parece respeitador dos seus modelos, e um gosto pelo auto-rertrato que o identifica como fotógrafo consciente. 

Um grande fotógrafo de ou em Angola, fotógrafo militar e colonial, antes de Elmano Cunha e Costa (1935-1939). Foi editor de séries de postais, revistas e livros, mas certamente não expôs em vida.

Curadoria: Carlos Pedro Reigadas. Impressões de Roberto Santandreu (colaboração da Galeria Arte Periférica)

Tenente Veloso de Castro - 1910
Combate no reconhecimento a Macuvi - 1907


Na Sala Vasco da Gama,  a branco e preto

 
Legenda (?): "Mulheres do Lubango". 1910

Na legenda (?): 'Prisioneiros de guerra' - 1907

Congo - Ribeira do Bende - 1914

 "Actual rei do Congo" - 1914


https://www.belasartes.ulisboa.pt/jose-veloso-de-castro-a-revelacao-de-um-artista/

terça-feira, 30 de setembro de 2025

José Veloso de Castro, major; Fotógrafo de Angola 1904-1914

 O Pedro Reigadas dá a conhecer um grande fotógrafo no Museu Militar: “José Veloso de Castro. A Revelação de um Artista” até 31 de dezembro.

Com muito boas impressões feitas pelo Roberto Santandreu, dimensão de 46x61cm.

As fotografias não eram desconhecidas na área da história militar e colonial (foi também editor de séries de postais), mas surge agora como um excelente fotógrafo, um artista, de facto.
120 fotos são apresentadas no Museu, distribuídas ao longo de 29 (?!) salas do Palácio/Museu e são uma oportunidade para (voltar a) visitá-lo.



Sem querer exagerar, arrisco que por vezes me faz lembrar o Sebastião Salgado.

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

ISTO NÃO É / ISTO NÃO ERA UMA EXPOSIÇÃO
LEMBRANÇA de MAGRITTE no MNE e CIACJ: Um labirinto de lençóis e uma mesa-serpente de fotocópias

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Primitivismo e primarismo, um catálogo ilustrado

 

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Houve tempos, já democráticos (ou tempos anteriores...), em que a investigação sobre relações ultramarinas e coloniais (não é o mesmo) se processava sem que o "primitivismo" ideológico (ou primarismo, o que não é o mesmo) tingisse a exploração e a exposição dos respectivos resultados. A informação internacional, designadamente francesa, podia sustentar referências e conhecimentos. Recuou-se... a partir da FCT e dos institutos universitários. Acabámos ao nível do Bloco, tal como aconteceu com a exp. ainda presente no Museu de Etnologia, "Desconstruir o colonialismo...", com direcção de Isabel Castro Henriques, autora importante num penoso fim de carreira.

Escreve-se logo a abrir o texto de apresentação: "A colonização e os fascismos, e o desenvolvimento da cultura e do consumo de massas no seio do mal-estar da Europa, impulsionaram o fascínio e a fetichização em torno de culturas que foram consideradas «remotas», «primordiais», «primitivas», «ingénuas», «arcaicas», «selvagens», «primevas», entre outras designações."
Há por aí uma grande amálgama de tempos e factores (colonização, fascismos, cultura e consumo de massas, mal estar da Europa - e acontece que "fascínio" e "fetichização em torno" são pistas inseguras de análise.

Desconsiderar o iluminismo e as ciências antropológicas, no seu crescimento sucessivo; a dinâmica complexa das explorações, aventuras e ocupações de terreno, e das deportações, emigrações e colonatos; em Portugal, o republicanismo e o progressismo colonialistas à volta da Seara Nova, mesmo que ainda talvez acriticamente racistas; bem como as contradições internas do colonialismo e entre políticos de Lisboa e colonos, são tropelias chocantes que têm aqui curso académico, escolar e museográfico.
 
É certo que a específica perspectiva de trabalho é a valorização artística do "primitivo", o "primitivismo" moderno, que alimenta uma sequência de rupturas (o cubismo, o expressionismo, o dadaísmo, a antropofagia brasileira, etc), mas isso não justifica que se misturem e se recortem e censurem realidades históricas de contexto.
Não quis ir a Guimarães, à exposição, para não conflituar com duas comissárias que me são simpáticas (já tinha ido a Braga ver uma muito irregular exposição universitária sobre a Lunda e o Museu do Dundo, que teve outra origem e ficou bem sem catálogo...), mas digo agora que o catálogo, que finalmente folheei e logo fui comprar pelo discurso visual (textos sintéticos, graficamente atraente, impr. Maiadouro, 38€, 408 pags, tiragem não indicada), é um repositório muito vasto de imagens (ilustrações, capas e cromos) relativas à exploração ultramarina e colonial que vale a pena percorrer, com o devido alerta quanto à cegueira académica e  aos desvios facciosos.


"Problemas do primitivismo - a partir de Portugal", Mariana Pinto dos Santos e Marta Mestre (editoras), ed. Centro Internacional de Artes José de Guimarães / A Oficina CIPRL e Documenta. Nov. 2024.


Retomo na íntegra o parágrafo inicial: "Pode considerar-se que aquilo que ficou conhecido como «primitivismo» tem uma longa história <estendendo para trás o conceito com o anacronismo necessário>, mas foi no fim do século XIX e princípio do século XX que se expressou de forma inequívoca. A colonização e os fascismos, e o desenvolvimento da cultura e do consumo de massas no seio do mal-estar da Europa, impulsionaram o fascínio e a fetichização em torno de culturas que foram consideradas «remotas», «primordiais», «primitivas», «ingénuas», «arcaicas», «selvagens», «primevas», entre outras designações. A apreciação e valorização por artistas, intelectuais e marchands de objectos vindos de territórios não europeus, na maioria colonizados, mas também vindos de contextos locais, como a arte popular, a par do desenvolvimento exponencial das técnicas de reprodução de imagens, fizeram irradiar a estética primitivista na cultura visual da modernidade no Ocidente." <aliás, fizeram a modernidade anti-académica do séc XX>
 
Por exemplo, há pequenos reparos que apontam ocultações, censuras: chateia-me que a propósito de Cruzeiro Seixas, que viveu em Angola entre 1954 e 1964, que "participou activamente no espaço cultural luandense" e nomeadamente colaborou com o "Museu de Angola", não se refira o patrocínio e o apoio público do industrial e coleccionador-patrono Manuel Vinhas ("A Cuca é da UPA, a Nocal é de Portugal", dizia-se). Eram conhecidas e estão editadas as suas críticas mais ou menos explícitas da política colonial, de exigências desenvolvimentistas (pp. 300-305 capítulo "Mar Português", texto de Marta Mestre 303). Mecenas de Luís Pacheco e tantos outros, os seus discursos, as duas exposições de arte moderna que patrocinou em Luanda, o livro final "Profissão Exilado" mereciam presença.
 
Outro exemplo: nas páginas dedicadas a José de Guimarães (artesanato coleccionado, fotografias, pintura), referem-se "os anos que viveu em Angola" mas omite-se que estava em Angola como militar, engenheiro militar, durante a guerra colonial (pps. 148-153, capítulo "Ingénuo"; e 286-287, "no contexto da guerra colonial” - não é uma acusação). Já Cruzeiro Seixas viera embora no início da guerra... J.G. é um caso significativo de duplo profissional, sempre militar de carreira (de nome José Maria Fernandes Marques) e artista independente, que frequentou meios da Oposição e veio a trabalhar na NATO na Bélgica (nada contra a NATO...), o que permitiu reforçar a sua circulação internacional. Reformou-se como coronel.

Foto Mario Bastos IMG_0007 macondes 1 9M

FOTO: O Salazar maconde revisto por Pancho Guedes; e na mesma vitrine o cipaio (policia nativo), interrogatório na esquadra (cena de polícia) e vários animais. Foto Mário Bastos/CML. (ver pags 150-159 do catálogo "As Áfricas e Pancho Guedes". Fotos José Manuel Costa Alves.) Aqui págs 162-163 cat. Problemas...
) 

A versatilidade da orgulhosa população maconde, que resistiu à invasão alemã da 1ª Guerra, encabeçou a resistência anti-colonial e em parte se instalou perto de Maputo, sustentando o regime e mantendo tradições iniciáticas, tem como especialidade própria a prática da escultura, em aldeias de artesãos que cumprem encomendas, antes ao gosto colonial e depois ao gosto moderno.

Um dos testes que tenho usado para aferir a qualidade e seriedade das investigações ultramarinas é a presença de Pavia, Manuel Ribeiro de Pavia, ilustrador de Castro Soromenho - e este como escritor colonial e 1º escritor angolano.
 
 

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De CASTRO SOROMENHO  - A MARAVILHOSA VIAGEM DOS EXPLORADORES PORTUGUESES Lisboa. 1946-8, Empresa Nacional de Publicidade.

 

E também o fotógrafo Elmano da Cunha e Costa, advogado, autor de um metódico levantamento de tipos e costumes em Angola, protegido e colaborador de Henrique Galvão, expositor no SNI e hostilizado por Salazar.

E o antropólogo Carlos Estermann, (1889–1976), missionário espiritano que esteve 50 anos baseado no Sul de Angola (1926–1976), com uma grande produção científica

E a Exposição Angola 1938 que recebeu e intimidou Carmona à chegada a Luanda, imposta e produzida exclusivamente por forças locais. E o sempre ignorado Plano de Fomento então aprovado à força mas que ficou incumprido no tempo da 2ª Guerra.

 

Tudo foi mais rico e complexo do que querem fazer parecer.

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Nas fotos: Tudo* o que eu não li (às vezes consultei) - e uma oportunidade para pôr ordem nas estantes. (*Aliás, é só uma parte)

 

 

duas notas bibligráficas que aqui se sinalizam:

Sobre a produção fotográfica de um etnógrafo missionário de origem alemã: Estermann.

http://www.hisfotant.org/pt/on-the-photographic-production-of-a-german-origin-missionary-ethnographer/

 

MANUEL RODRIGUES VAZ, "Pintura colonial e Salões de Arte em Luanda. Do naturalismo paradisíaco à modernidade", Conferência na Universidade Nova, em Lisboa, a 17 de Maio de 2017.:

http://novaserie.revista.triplov.com/numero_65/manuel_rodrigues_vaz/index.html

sábado, 17 de novembro de 2018