Mostrar mensagens com a etiqueta Moçambique. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Moçambique. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Quatro fotógrafos de Moçambique no Paris Photo / Quatre photographes du Mozambique - Ricardo Rangel, José Cabral, Mauro Pinto, Filipe Branquinho

Ricardo Rangel foi o pioneiro da fotografia de Moçambique e o mestre reconhecido de várias gerações de fotógrafos. A sua longa carreira (1924, Lourenço Marques - 2009, Maputo) impôs-se desde os anos 1950 na imprensa colonial, onde foi o primeiro fotojornalista não branco, e conheceu uma dinâmica sempre ascendente, apesar da sua orientação política contrária ao regime.
Mestiço, de ascendência grega, africana e chinesa, dotado de uma personalidade forte e brilhante profissional, beneficiou da transigência táctica do poder colonial que desejava acolher elites locais alternativas à pressão dos extremistas brancos e às ambições dos nacionalistas negros. A repressão política poupou-o e a censura nunca o silenciou, mesmo se algum trabalho terá desaparecido. Foi depois uma figura de referência no Moçambique independente (pós-1975). Atravessou o socialismo, a guerra civil e a normalização política, sempre como uma voz independente, crítica da imprensa oficial e desde 1981 à frente do Centro de Formação Fotográfica, que dirigiu até à sua morte.

A afirmação internacional de Rangel começou em 1994, logo no primeiro tempo da descoberta da fotografia feita por africanos - Moçambique foi então um país em foco. Nesse ano a cooperação francesa editou um primeiro livro, «Ricardo Rangel, Photographe do Mozambique» (Éd. Findakly, Paris), que o mostrava como crítico da sociedade colonial, autor de imagens emblemáticas sobre a diferenciação racial e social, repórter atento aos bairros negros e também aos brancos pobres. E logo nos 1ºs Encontros de Bamako, no mesmo ano, a outra vertente mais oculta da sua obra, dedicada às mulheres dos bares do porto de Lourenço Marques, nos anos 60/70, com uma notória cumplicidade sensual, foi apresentada pela Revue Noire. A série «Notre pain de chaque jour, les nuits de la Rue Araújo» foi depois consagrada por Enwezor Okwui na exposição «In/sight. African Photographers, 1940 to the Present» (Guggenheim Museum, 1998), e veio a ser publicada em livro em 2005: «Pão Nosso de Cada Noite» / "Our Nightly Bread» (ed. bilingue, Marimbique, Maputo).

José Cabral é o outro pioneiro da fotografia moçambicana, situado entre a dinâmica colectiva do fotojornalismo inspirado por Rangel e a nova geração de fotógrafos-artistas que tem alcançado circulação internacional, de que fazem parte Mauro Pinto e Filipe Branquinho. Mas Cabral foi um mestre diferente - irreverente, individualista, indisciplinado.
Com uma obra original desde que em 1975 trabalhou como fotógrafo no Instituto Nacional de Cinema, a que se seguiram alguns poucos anos como reporter fotográfico, realizou encomendas documentais e foi professor influente no Centro de Formação Fotográfica, de 1986 a 1990. É um artista das margens, por vezes revoltado e irascível, o que as suas fotografias não deixam adivinhar, na serenidade dos seus itinerários por Moçambique e na ternura com que olha as pessoas dos seus inúmeros retratos. E é o homem da ruptura, que veio trazer ao colectivo da fotografia de Moçambique a necessidade do discurso pessoal, fundado no conhecimento da fotografia internacional, nas viagens e emainteresses culturais alargados.

A diferença da sua obra foi sendo sublinhada pela referência autobiográfica presente em grandes exposições construídas como antologias pessoais: «As Linhas da Minha Mão", 2006, Maputo (com homenagem a Robert Frank no título); "Urban Angels / Anjos Urbanos", 2009, Lisboa e Maputo (as crianças, os seus filhos e os dos outros); "Espelhos Quebrados", 2012, Maputo (auto-retratos que sinalizam percursos de vida e de criação).  Foi uma contribuição corajosa para pôr em evidência o papel e o lugar de quem vê e fotografa, como artista que intervém no presente de um país em mudança.
A actualidade de Cabral não foi a guerra civil, a violência urbana ou a miséria quotidiana - é sempre a da vida comum e é de um olhar mais profundo e definitivo que se trata, à distância de muita fotografia africana que balança entre a vitimização e o exotismo. Não há lugar na sua obra para retóricas fotográficas formalistas e o discurso pessoal nunca é indiferente à realidade do país - é um acto interveniente, lúcido e livre. Uma antologia do seu trabalho foi publicada em 2018 no livro «Moçambique» (ed. XYZ Books, Lisboa, e Kulungwana, Maputo).

Mauro Pinto e Filipe Branquinho são dois jovens fotógrafos com ampla circulação internacional, ancorados na realidade de Moçambique e renovando projectos documentais.
O primeiro, Mauro Pinto (n. 1974, Maputo), estudou em Johannesburg e desde 2000 que participa em exposições colectivas e festivais em Moçambique, Angola, África do Sul, Brasil, França, Noruega, Ilha da Reunião e Portugal - onde venceu o Prémio BES Photo 2012, com a série «Dá Licença» / «Excuse Me», realizada no bairro popular de Mafalala em Maputo. O seu trabalho combina projectos de longo fôlego de índole documental e imagens isoladas e sintéticas onde se concentram situações algo enigmáticas, efeitos de contraste e surpresa que desafiam a atenção do espectador, e em que o humor está também muito presente. É uma via para questionar com grande eficácia visual a prática da criação visual - o que é a arte e o testemunho, a comunicação e a informação. Uma série recente mostrou máscaras de folhas e penas do Burkina Faso sob o título «Ç’est pas facile»

Filipe Branquinho (n. 1977, Maputo) tem formação em arquitectura e segue uma dupla carreira de fotógrafo e ilustrador. Num projecto agora em curso, intitulado “Lipiko”, em que utiliza máscaras mapiko de tradição maconde, associa desenho e fotografia com um forte sentido de sátira para propor a reflexão sobre aspectos e valores da actualidade nacional. Nas séries anteriores têm-se sucedido projectos fotográficos que propõem a leitura da realidade actual de Moçambique, em geral sobre a identidade urbana, as pessoas e o seu espaço na cidade, entre memórias e o presente, a actualidade nacional e a tradição: "Ocupações" (retratos de habitantes anónimos nos seus lugares de trabalho ou de vida - PHOTOQUAI 2013 e Revue Camera, Paris, nº 2, 2013); «Showtime», 2013 (retratos de mulheres num regresso à Rua Araújo que evocava Rangel e Cabral); «Interior Lanscapes» (arquitecturas de Maputo e a reutilização de velhos espaços do tempo colonial - Prémio POPCAP 15 de Fotografia Africana); «Gurué 15° 28‘ S 36° 59’ E“ (as imensas paisagens do chá na Zambézia). É um trabalho com evidente coerência temática e sempre sem concessões à facilidade ou ao exotismo

Moçambique é um país de muitos notáveis fotógrafos e outros nomes se têm afirmado ao longo do tempo, com especial destaque para Kok Nam (1939-2012, parceiro de Rangel), Moira Forjaz (vinda do Zimbabwe), Sérgio Santimano, João Costa (Funcho), Luís Basto, Mário Macilau. Mas é também um país pobre com escasso mercado interno, distante e isolado pela língua, fechado sobre a doçura do seu quotidiano e a beleza natural, que tem permanecido quase alheio aos trânsitos artísticos internacionais. Quatro fotógrafos - Rangel, Cabral, Pinto e Branquinho -, abrem aqui as fronteiras de Maputo.

Alexandre Pomar

 

Quatre photographes du Mozambique


Ricardo Rangel a été le pionnier de la photographie au Mozambique et le maître reconnu de plusieurs générations de photographes. Fort de sa longue carrière (1924, Lourenço Marques - 2009, Maputo), il a su s’imposer dans la presse coloniale depuis la fin des années 1950, où il fut le premier photojournaliste non-blanc. Il a connu une évolution croissante malgré son orientation politique contre le régime.
Métis, d'ascendance grecque, africaine et chinoise, doté d'une forte et brillante personnalité professionnelle, il a bénéficié du compromis tactique du pouvoir colonial souhaitant accueillir les élites locales, alternatives à la pression des extrémistes blancs et aux ambitions des nationalistes noirs. Il a échappé à la répression politique sans jamais être réduit au silence par la censure, même si certains de ses travaux auraient disparu. Il fut un personnage de référence au Mozambique indépendant (après 1975). Il a traversé le socialisme, la guerre civile et la normalisation politique, toujours en tant que voix indépendante, critique de la presse officielle et depuis 1981 à la tête du centre de formation photographique (Centro de Formação Fotográfica) qu'il a dirigé jusqu'à sa mort.

L’internationalisation de Rangel a commencé en 1994, lors de la première découverte de la photographie faite par des africains. Le Mozambique était alors au centre des attentions. La coopération française publia cette année-là un premier livre, "Ricardo Rangel, photographe du Mozambique" (Ed Findakly, Paris), qui le décrivait comme le critique de la société coloniale, auteur d'images emblématiques sur la différenciation raciale et sociale, reporter à l’écoute des noirs et aussi des blancs pauvres. Dès les premières Rencontres de Bamako (Encontros de Bamako), la même année, l'autre face plus cachée de son travail, dédiée aux femmes des bars du port de Lourenço Marques, dans les années 60/70, avec une complicité sensuelle notoire, a été présentée par la Revue Noire. La série de photos intitulée "Notre pain de chaque jour, les nuits de la Rue Araújo" a ensuite été consacrée par Enwezor Okwui lors de l'exposition "In/sight. African Photographers, 1940 to the Present" (Guggenheim Museum, 1998) et également publiée dans un livre en 2005 : " Pão Nosso de Cada Noite" / "Our Nightly Bread " (ed. bilingue, Marimbique, Maputo).

José Cabral est l’autre pionnier de la photographie mozambicaine, situé entre la dynamique collective du photojournalisme inspirée par Rangel et la nouvelle génération d’artistes photographes qui ont atteint un rayonnement international, comme Mauro Pinto et Filipe Branquinho. Mais José Cabral était un maître différent - irrévérencieux, individualiste, indiscipliné. Photographe depuis 1975 à l'Institut national du film (Instituto Nacional de Cinema), puis photoreporter pendant quelques années, il a également réalisé des documentaires et fut enseignant au centre de formation photographique (Centro de Formação Fotográfica) de 1986 à 1990. José Cabral est un artiste en marge, parfois en colère et irascible, ce que ses photographies, dans la sérénité de ses voyages au Mozambique et dans la tendresse avec laquelle il regarde les personnages de ses nombreux portraits, ne laissent d’ailleurs pas deviner. Il est l'homme de la rupture, qui est venu apporter au collectif de la photographie du Mozambique la nécessité d'un discours personnel, fondé sur la connaissance de la photographie internationale, les voyages et les intérêts culturels.

La différence de son travail a été soulignée par la référence autobiographique présente dans de grandes expositions construites comme des anthologies personnelles : "As Linhas da Minha Mão", 2006, Maputo (avec un hommage à Robert Frank dans le titre) ; "Urban Angels / Anjos Urbanos", 2009, Lisbonne et Maputo (avec ses propres enfants) ; "Espelhos Quebrados", 2012, Maputo (autoportraits représentant des parcours de vie et de création). Un travail courageux pour souligner le rôle et la place de celui qui voit et photographie, en tant qu’artiste intervenant dans le présent d’un pays en mutation.
Les sujets choisis par José Cabral n’étaient pas la guerre civile, ni la violence urbaine ou la misère quotidienne, mais plus la vie quotidienne avec un regard plus profond sur les choses, à la différence de beaucoup de photographies africaines qui oscillent entre victimisation et exotisme. Son travail lucide et libre, basé sur la réalité du pays ne laissait pas de place à la rhétorique photographique formaliste. Une anthologie de ses travaux a été publiée en 2018 dans le livre "Moçambique" (éd. XYZ Books, Lisbonne et Kulungwana, Maputo).

Mauro Pinto et Filipe Branquinho sont deux jeunes photographes de portée internationale, ancrés dans la réalité du Mozambique et renouvelant des projets documentaires. Le premier, Mauro Pinto (né en 1974 à Maputo), a étudié à Johannesburg et participe depuis 2000 à des expositions collectives et à des festivals au Mozambique, en Angola, en Afrique du Sud, au Brésil, en France, en Norvège, à la Réunion et au Portugal, où il a remporté le prix BES Photo 2012, avec sa série de photos "Dá Licença" / "Excuse Me", réalisée dans le quartier populaire de Mafalala à Maputo. Son travail associe des projets de longue haleine de type documentaire à des images isolées concentrant des situations quelque peu déroutantes, des effets de contraste et de surprise qui défient l'attention du spectateur et dans lesquels l'humour est également très présent. Une manière efficace pour Mauro Pinto de remettre en question la pratique de la création visuelle : qu'est-ce que l'art et le témoignage, la communication et l'information… Une série de photos récente a montré des masques de feuilles et de plumes du Burkina Faso intitulée "Ç’est pas facile".

Filipe Branquinho (né en 1977 à Maputo) est diplômé en architecture et poursuit une double carrière de photographe et illustrateur. Dans un projet en cours intitulé "Lipiko", dans lequel il utilise des masques en mapiko de tradition Maconde, il associe le dessin et la photographie à un fort sentiment de satire pour proposer une réflexion sur les aspects et les valeurs de la société. Dans ses projets photographiques précédents, il a proposé une lecture de la réalité actuelle du Mozambique, autour de l'identité urbaine, des habitants et de leur espace dans la ville, entre la mémoire et le présent, l'actualité nationale et les traditions : "Ocupações" (portraits d'habitants anonymes sur leurs lieux de travail ou de vie - PHOTOQUAI 2013 et Revue Camera, Paris, n°2, 2013) ; "Showtime", 2013 (portraits de femmes lors d'un retour à la Rua Araújo évoquant Rangel et Cabral) ; "Interior Lanscapes" (architecture de Maputo et réutilisation d'anciens espaces de l'époque coloniale - Prix POPCAP 15 de la photographie africaine) ; "Gurué 15 ° 28 'S 36 ° 59' E" (les immenses paysages de thé en Zambézie). Un travail construit autour d’une thématique cohérente et évidente, qui ne cède pas à la facilité ou à l'exotisme.

Le Mozambique est un pays de nombreux photographes notables et d'autres noms se sont affirmés au fil du temps, avec un accent particulier sur Kok Nam (1939-2012, partenaire de Rangel), Moira Forjaz (originaire du Zimbabwe), Sérgio Santimano, João Costa (Funcho), Luís Basto, Mário Macilau. Mais c’est aussi un pays pauvre avec un marché intérieur rare, distant et isolé par la langue, fermé sur la douceur de sa vie quotidienne et la beauté de sa nature, sans grand lien avec les transits artistiques internationaux. Quatre photographes - Rangel, Cabral, Pinto et Branquinho - ouvrent ici les frontières de Maputo.

Informação da Galeria MAGNIN-A





terça-feira, 28 de junho de 2016

Moçambique depois de 1981

CRONOLOGIA

1981 - «Moçambique, a Terra e os Homens», 1º Salão Nacional de Arte Fotográfica, Maputo (Concelho Municipal, 3 Fev.), na origem da Associação Moçambicana de Fotografia - AMF - por empenho de Samora Machel, no contexto da guerra civil (1976 - 1992). Moçambique, a Terra e os Homens, ed. AMF, 1982, Maputo, printed Edicomp, Roma,1984.; Introdução de José Luís Cabaço, ministro da Informação - port., fr, ing, it. Com Ricardo Rangel (capa), Kok Nam, Carlos Alberto (Vieira), Daniel Maquinasse, Danilo Guimarães, João Manuel Costa (Funcho), Jorge Almeida, José Soares, Luis Bernardo Honwana, Luis Souto, Martinho Fernando, Moira Forjaz, Naita Ussene, entre 41 autores.

1981 - Rogério, Momentos, exposição na Fundação C. Gulbenkian, Junho / Julho, Lisboa. Catálogo com textos do autor.

1983 - Moira Forjaz, Muipiti, Ilha de Moçambique, textos de Amélia Muge, Luís Filipe Pereira e da autora, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, por ocasião da visita de Samora Machel a Portugal. Moira Forjaz & Susan Maiselas (photographs by), text by Albie Sachs, Images of a revolution: mural art in Mozambique, Harare, 1983  / Imagens de uma Revolução, ed. Frelimo - 4º Congresso 1984 (imp. Minerva Central). Ruth First (pictures by Moira Forjaz), Black Gold: The Mozambican Miner, Proletarian and Peasant, St. Martin's Press, New York - Harvester Press, Brighton.

1983 Criação do Centro de Formação Fotográfica (CFF), Maputo, com apoio da cooperação italiana.  A partir de 2001, Centro de Documentação e Formação (CDFF). Direcção de Ricardo Rangel até 2009. 

1990 - Karingana ua Karingana, Il Mozambico contemporaneo visto dai suoi fotografi, a cura di Gin Angri, introduzione di Mia Couto. Ed. Coop, Associazione Nazionale Cooperative di Consumatori, Milano. Ed. bilingue, it. & port, textos de Mia Couto e Gin Angri (Catalogo della Mostra, Palazzo d'Accursio, Bologna). Com Ricardo Rangel, Kok Nam, Alfredo Mueche, Alfredo Paco, Fernando Martinho, Joel Chiziane, Jorge Almeida, José Cabral (capa), Luís Souto, Naita Ussene, Rui Assubuji, Sérgio Santimano. fotógrafos do Instituto de Comunicação Social (ICS), da Agência de Informação Moçambicana (AIM), da cooperativa fotográfica Alpha e também dos professores e ex-alunos do Centro de Formação Fotográfica,.
A guerra civil, a reconstrução o país

1992 - Uma vida a reportar a vida, pref. de Leite de Vasconcelos, ed. ENACOMO, Empresa Nacional do Comércio, Maputo. Com R. Rangel, K. Nam, J. Cabral, N. Ussene, Martinho Fernando…

1993  - Moçambique, Cinco Olhares: António Valente, Joel Chiziane, José Cabral, Kok Nam, Naita Ussene, produção CIDAC, exp. no Forum Picoas, Lisboa , 23 Abril – 2 Maio. Cat. com texto de Mia Couto.

1993 - Africa, Africa, editors Olaf Gerlach Hansen and Vibeke Rosttup Bøyesen, ed. Images of Africa, Denmark, 80 pág. "Is the first joint presentation of so many African photographers". De Moçambique: José Cabral, Martinho Fernando, Naita Ussene. 

1994 - Ricardo Rangel, Fotógrafo de Moçambique / Photographe du Mozambique, Coédition Editions Findakly, Paris/Centre Culturel Franco-Mozambicain, Maputo. français/portugais. tx de Zé Craveirinha, Mia Couto. Retrato por Rogério.

1994 - Revue Noire, nº 15, «Moçambique / Photographies», dir. Jean Loup Pivin, Paris, déc. 94 – jan. fev. 95. Moçambique: textos de Simon Njami, Aida Gomes da Silva, etc. Fotografias de Ale Júnior (capa), Alfredo Paco, José Cabral, Kok Nam, Naita Ussene, Rui Assubuji, Sérgio Santimano. 2. In "Une nouvelle photographie», Jean Loup Pivin. Com Rangel, Ale Junior, Assubuji. Santimano.

1994 - Rencontres de la Photographie Africaine de Bamako, Mali, org. Fondation Afrique en Créations, 5 - 11 Déc. Ricardo Rangel apresentado por «Revue Noire» ("Notre pain de chaque jour, les nuits de la Rue Araújo", 1960)

1996 -  In/sight. African Photographers, 1940 to the Present, dir. Enwezor Okwui, Guggenheim Museum, Nova Iorque, itinerante. Com Ricardo Rangel («Our Nightly Bread»).

1996 - Língua Franca, 16ºs Encontros de Fotografia de Coimbra, exp. colectiva e cat. c/ apresentação de M.C. Serén (edições em 1996 e 1998). Com Sérgio Santimano («Luisa Macuácua», 1992-95). 

1996 - 2es Rencontres de la Photographie Africaine de Bamako, Mali, org. Afrique en Creations. 9-15 Dezembro. Ricardo Rangel in «Regards Croisées» com Yves Pitchen, John Liebenberg, Pierrot Men); «Collectif Mozambique» (?) na secção Photo-reportage.

1997 - Maputo - Desenrascar a vida - Fotografias, Selecção, organização e textos de Nelson Saúte. Ed. Ndjira / Comissão Nacional para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses. Tipografia Lousanense. Lisboa. Cronologia elaborada por António Sopa (1500-1976). Fotos Centro de Formação Fotográfica, de Rangel, José Cabral, Rui Assubuji, Martinho Fernando, Naita Ussene, Alfredo Mueche, Carlos Cardoso, Gin Angri, Lise Lotte, etc 

1998 - L’Afrique par Elle-même, Maison Européenne de la Photographie, Paris, Juin-Aout (it. São Paulo,  Cape Town, Berlin, Londres: Africa by Africa: A Photographic View, 1999; Smithsonian, Washington, Nova Iorque; Anthologie de la Photographie Africaine et de l'Océan Indien, sous la direction de Pascal Martin Saint Leon, N'Goné Fall, Jean Loup Pivin. Éditions Revue Noir, Paris. Editions française, anglaise et portugaise (Brasil).

1998 - 3e Rencontres de la Photographie Africaine, Bamako: «Ja Taa» / "Prendre Image", cat. ed. Actes Sud. Sergio Santimano, «Cabo Delgado - Une histoire photographique de l’Afrique». »L'Afrique par elle-même" (extraits).

1998 - José Henriques e Silva, Pescadores Macua, Baía de Nacala, Moçambique, 1957-1973, Exp. Arquivo Fotográfico de Lisboa; ed. Câmara Municipal de Lisboa e Comissão dos Descobrimentos, Lisboa.

2001 - IVs Rencontres de la Photographie Africaine, Bamako: R. Rangel (expo. monographique); R. Assubuji, Luis Basto, S. Santimano, «Memoires intimes d’un nouveau millénaire» (expo. internationale).

2002 - Iluminando Vidas - Ricardo Rangel and Mozambican Photography / …e a Fotografia Moçambicana, dir. Bruno Z’Graggen e Grant Lee Neuenburg. Exp. Biene, Suíça; AMF, Maputo e Bamako, 2003; Culturgest, Porto, 2004; Joannesburg e Cape Town (Iluminando Vidas .Fotografia Moçambicana 1950-2001. Ricardo Rangel & the Next Generation), 2005.  Cat. ed. Christoph Merian Verlag, 2002,  two versions: English/Portuguese (softcover) / German/French . Tx. B. Z’Graggen, Allen Porter, Simon Njami,  António Sopa, Calane da Silva. Com Rangel, K. Nam, Joel Chiziane, João Costa (Funcho), R. Assubuji, A. Paco, Luís Basto, N. Ussene, Alfredo Muache, M. Fernando, Ferhat Vali Momade, Albino Mahumana, J. Cabral, Alexandre Fenías, S. Santinano.

2002 - PhotoFesta, Primeiros Encontros Internacionais de Fotografia, prod. AMF, comissários Rui Assubuji e Sérgio Santimano. Homenagem a Daniel Maquinasse; exp. Rogério («Verdade»), Sebastião Langa, Luís Abelard; Bamako 2001, etc. / PhotoFesta 2004, IIºs Encontros: Kok Nam («Grande angular da amizade»); João Costa («Cheiro a Independência»); colect. CFF - «Modos de Ver»; colectiva «Saudade de l’Espoir» (Ilha da Reunião, 2003) / PhotoFesta 2006 IIIºs Encontros: José Cabral («As linhas da minha mão»); S. Santimano («Terra Incógnita»); Mauro Pinto e Albino Mahumana («Ver Matola»)

2003 - Vs Rencontres de la Photographie Africaine, Bamako. Moçambique: «Iluminando Vidas»; Rui Soeiro (exp. international - «Rites sacrés / Rites profanes»); Mauro Pinto, «Ports d’Afrique»

2004 - Africa Remix, Contemporary art of a continent, dir. Simon Njami, Dusseldorf; Hayward Gallery, London;  Centre Pompidou, Paris, 2005; Tokyo, Stockholm, 2006; Johannesburg, 2007. Exp. col. e cat. Com R. Assubuji, Luís Basto, S. Santimano.

2005 - VIs Rencontres de la Photographie Africaine, Bamako, "Un autre monde»: Moçambique: Abilio Macuvele, Acamo Maquinasse, Rui Assubuji, Tomas Cumbana.

2006 - Snap Judgments: New Positions in Contemporary African Photography, dir. Enwezor Okwui, ICP International Center of Photograpy, Nova Iorque; Miami; Stedlijk Museum, Amsterdão, 2088: Luís Basto.

2006 - Sérgio Santimano, Terra Incógnita (Niassa), M'siro (ed. do autor), Uppsala, Suécia / VII Rencontres de la Photographie Africaine, Bamako, 2007.

2006 - «Réplica e Rebeldia, Artistas de Angola, Brasil, Cabo Verde e Moçambique», dir. António Pinto Ribeiro, prod. Instituto Camões. Maputo, Luanda, Salvador da Baí­a, Rio de Janeiro, Brasí­lia e Praia. Com R. Rangel, Alexandre Santos, L. Basto, T. Cumbana, Mauro Pinto. Cat. Port.-Ing.

2010 - «Ocupações Temporárias», prod. Elisa Santos, Maputo: com Mauro Pinto (e Filipe Branquinho, documentação), catálogo em DVD; 2011, com Filipe Branquinho e Camila de Sousa; 2013 «Ocupações Temporárias – Documentos», Fund. Gulbenkian, Lisboa. Coord. Elisa Santos e António Pinto Ribeiro. Camila de Sousa, F. Branquinho, Mauro Pinto.

2011 - IXs Rencontres de la Photographie Africaine, Bamako. Expo. Pan-Africaine. Mário Macilau (The Zionists / Maziones).

2011 - BES PHOTO, CCB - Museu Berardo, Lisboa, e Pinacoteca, S. Paulo, Mário Macilau; 2012, idem, Mauro Pinto, «Dá licença!» (premiado);  2013, Lisboa e  Instituto Tomie Ohtake, S. Paulo, Filipe Branquinho, «Showtime»; 2016, Novo Banco Photo 2016, Lisboa: Félix Mula, «Idas e Voltas».

2011 - Mauro Pinto, Influx Contemporary Gallery, «Maputo - Luanda - Lubumbashi» / Gal. Bozart, Lisboa / Gal. 111, Lisboa 2014.

2012 - Mário Macilau, Gal. Influx Contemporary, Lisboa, «Taking Place» / Gal Belo-Galsterer, Lisboa «Tempo», 2013 / Galeria Belo-Galsterer «Moments of Transition», 2014

2013 Filipe Branquinho, «Occupations, portfolio, Revue Caméra, dir. Brigitte Ollier, nº 2, Avril-Juin, Paris / Galeries Photo FNAC Montparnasse, Paris / Galeria Bozart, Lisboa / Regarde-moi, Photoquai, exp. col., Musée du Quai Branly, Paris / Jack Bell Gallery, Londres «Showtime».

2013 Present Tense, Photography from Southern Africa, exp. col. e cat. port., tx fr., ing.; org. António Pinto Ribeiro, «Próximo Futuro», Fund. Gulbenkian, Lisboa, Porto e Paris. Mauro Pinto e Filipe Branquinho («Chapa 100»)

2013 - De Maputo, José Cabral e Luís Basto, com homenagens a Moira Forjaz e Rogério. Org. Alexandre Pomar, A Pequena Galeria, Lisboa. 

2015 - Filipe Branquinho, Paisagens Interiores / Interior Lanscapes, org. Alexandra Pinho, Instituto Camões, Maputo / Gal. Av. da Índia, EGEAC, Lisboa, 2016. Exp. e Cat. / Rencontres de Bamako, Expo. Pan-Africaine «Telling Time», 2015, exp. col.
















segunda-feira, 27 de junho de 2016

Fotografia em Moçambique, história antiga

O que faz a importância excepcional da fotografia de Moçambique, se valorizarmos não a actual concorrência internacional no mercado dos festivais e instituições mas a continuidade e pluralidade criativa de várias gerações de fotógrafos? De facto, essa continuidade - pouco sustentada externamente, embora divulgada - só parece ter paralelo na fotografia da África do Sul, que obviamente está um patamar acima, porque é um imenso país com uma imensa história. Como se devem ponderar as variáveis que fazem a diferença da fotografia de Moçambique? Atravessam-na duas marcas constantes, a insistência no documentário social, renovando os seus caminhos, e a recusa (ou incapacidade) do exotismo, que ocupa muito do panorama africano e africanista.
A fotografia moderna de Moçambique começou pela década de 60 com dois fotojornalistas mestiços de longas carreiras, ambas iniciadas na imprensa colonial: Ricardo Rangel (1924, Lourenço Marques - 2009, Maputo) e Kok Nam (1939, LM - 2012, Maputo). Fica datada uma clara ruptura com o tempo anterior com a publicação do semanário ilustrado «Tempo», a partir de 20 de Setembro de 1970, onde Rangel publicava os «editoriais» fotográficos («Objectiva R.R.») e as reportagens da vida dos bairros negros, com a cumplicidade do jornalista e poeta José Craveirinha. Antes, houve alguma actividade do Núcleo de Arte e salões de amadores. E, muito mais atrás, os dez «Álbuns Fotográficos e Descritivos da Colónia de Moçambique» editados por José dos Santos Rufino (1929, impressos por Broschek & Co., Hamburgo), que continuaram sempre presentes. 

Tem de sublinhar-se a personalidade forte de Ricardo Rangel e a capacidade de se afirmar como profissional brilhante e fotógrafo insubmisso numa carreira sempre ascendente na imprensa colonial. Foi também activista do Jazz, a música dos negros que muito se cruzou com a fotografia. E certamente reconhece-se a transigência táctica do poder colonial perante o fotojornalista mestiço (de ascendência grega) e oposicionista, a favor da aparição de elites intermédias entre as veleidades dos extremistas brancos e as ambições dos nacionalistas negros, como quem divide para reinar e aposta em vários tabuleiros. Entrou como aprendiz num laboratório fotográfico, nos anos 40, tornou-se um impressor reconhecido e foi o primeiro fotojornalista "de cor" na imprensa branca - desde o «Notícias da Tarde», em 1952, no «Notícias», em 1956, e chegando a chefe em «A Tribuna», 1960-64; depois na Beira, 1964, no «Notícias da Beira» e no «Diário de Moçambique» e na revista "Voz Africana", estes dois publicações da Diocese da Beira, presidida por D. Sebastião Soares de Resende. De novo no «Notícias» 66-70 e a seguir o «Tempo», de que foi um dos fundadores. Após a independência, foi fotógrafo-chefe no «Notícias» em 1977, director do semanário «Domingo», 1981, etc. Foi também o pilar da criação em 1983, com apoio da cooperação italiana, do Centro de Formação Fotográfica (Centro de Documentação e Formação - a partir de 2001), que continuava a dirigir aos 85 anos.
A repressão política poupou-o (foi preso a distribuir panfletos nos anos 40, como conta no filme de Licínio de Azevedo «Ferro em Brasa», de 2006), e a censura nunca o silenciou, mesmo se algum do seu trabalho terá desaparecido. Depois, atravessou a revolução socialista e a guerra civil e a normalização relativa, dita social-democrata, também como figura independente e como formador de fotógrafos. Foi eleito para a Assembleia Municipal de Maputo (1998-2003) pela lista de cidadãos Juntos pela Cidade, e criticou a nova imprensa oficial em "Foto-jornalismo ou foto-confusionismo" (2002, ed. da Universidade Eduardo Mondlane), manifesto muito ilustrado contra o mau uso da fotografia e da legendagem (foto-aberrantismo, copulismo, ilogismo, ilusionismo, etc) no principal diário de Maputo, o «Notícias».) Travou sempre a mesma luta em diferentes condições políticas, com habilidade e firmeza.

Em 1994, a cooperação francesa editou um primeiro livro, «Ricardo Rangel, Photographe do Mozambique / Fotógrafo de Moçambique» (Éditions Findakly, Paris), que o mostrava como fotógrafo crítico da sociedade colonial, autor de imagens emblemáticas sobre a diferenciação racial e social, incluíndo os brancos pobres. E logo nos 1ºs Encontros de Bamako, no mesmo ano, a sua obra começou a ser divulgada com a série «Notre pain de chaque jour, les nuits de la Rue Araújo (1960)», apresentada pela «Revue Noire», que então publicava um número monográfico sobre Moçambique (nº 15, Décembre). Note-se que a «descoberta» de Moçambique acontece quando surgiam os primeiros panoramas da fotografia africana - «As (suas) fotos envelhecem como as de Doisneau ou de Strand alguns decénios mais cedo; ou seja, pouco ou nada, só o cenário é marcado pela história», escrevia Jean Loup Pivin na «Revue», em «Une nouvelle Photographie - L’ombre et le noir»).

Enwezor Okwui consagrou-o como um dos grandes fotógrafos africanos em 1996 na exposição e no livro «In/sight. African Photographers, 1940 to the Present» (Guggenheim Museum, Nova Iorque). Também aí era a longa série das fotografias dos bares e das mulheres da Rua Araújo ( "Our Nightly Bread» ), que lhe assegurava a maior notoriedade. Iniciara-a ainda nos anos 60 com a aparição das películas mais sensíveis, e continuou, com uma notória cumplicidade hedonista, até que a governo da Frelimo deteve a «última prostituta» - é essa foto que está na origem do filme «Virgem Margarida», também de Licínio de Azevedo, 2013. O álbum «Pão Nosso de Cada Noite», bilingue, só foi editado em 2005 (ed. Marimbique, Maputo, impresso em Santo Tirso). Rangel compareceu também em «The Short Century - Independence and Liberation Movements in Africa 1945-1994», organizada por Okwui Enwesor, em 2001 (Museum Villa Stuck, Munich; depois, Berlim, Chicago, Nova Iorque). Um último livro: «Ricardo Rangel, Insubmisso e Generoso», vários autores, org. Nelson Saúte, série Kulungwana, ed. Marimbique, Maputo 2014 (imp. Norprint, Santo Tirso).


É indispensável juntar a Rangel o nome de Kok Nam, outro fotojornalista notável e de carreira corajosa e muito longa. Começou a trabalhar nos anos 50 no laboratório e casa de produtos fotográficos Focus, onde já estivera Ricardo Rangel como impressor. Em 1966 passa como repórter fotográfico para o "Diário de Moçambique" - na delegação em Lourenço Marquese depois na sede na Beira. Em 1969 e 70 trabalha no "Notícias" de Lourenço Marques e no vespertino "Notícias da Tarde", sob a chefia de Rangel. Acompanhou a a criação  da revista "Tempo", onde continuou depois da independência e onde em 1990 era chefe de redacção. Foi entretanto um grande repórter das destruições e da fome ao tempo da guerra civil, também capaz de devolver a dimensão humana aos combatentes da Frelimo, forçado a manter-se na rectaguarda por precaução política, em contraposição e diálogo com o fotografo-guerrilheiro Daniel Maquinasse, que viria a morrer com Samora Machel em 1986. 
Repórter do tempo colonial e da «revolução popular», são particularmente relevantes as fotografias de grupos e os retratos, deixando um espólio imenso ainda a desbravar, de que dá conta o livro «Kok Nam. Preto no Branco», vários autores, org. Nelson Saúte, série Kulungwana, ed. Marimbique, Maputo, 2014 (imp. Norprint).
Depois da aprovação da primeira Constituição multipartidária do país, em 1990, e da Lei da Imprensa, em Agosto de 1991, fundou com outros jornalistas, vindos quase todos dos quadros da Agência de Informação de Moçambique (AIM), da revista «Tempo» e do semanário «Domingo», o primeiro orgão de comunicação independente do controlo estatal e governamental, o projecto Mediacoop (1992). Ao «MediaFax», marco na mudança pluralista da imprensa moçambicana, sucedeu o semanário «Savana» em 1994, de que foi director até à morte. 

Outras datas, outros nomes

Em 1972 Rui Knopfi (1932, Inhambane - 1997, Lisboa ) publicou um álbum de poemas e fotografias sobre a Ilha de Moçambique: «A Ilha de Próspero», Edição Minerva Central, Lourenço Marques. Era um «roteiro privado» e também patrimonial, publicação pioneira, sem continuidade.
Do mesmo ano é «Moçambique a Preto e Branco», com Rangel, Kok Nam, Rui Knopfi e outros, amadores salonistas, edição natalícia da CODAM, empresa portuária de Lourenço Marques, com organização não creditada de José Luís Cabaço, que viria a ser ministro da Informação da República Popular.
Em 1973 aconteceu a primeira exposição de Rangel, Rogério e Basil Breakey, fotógrafo de Cape Town, realizada no Núcleo de Arte (e parece que também na Beira). É o jazz que os liga e deverá ter sido Rogério a fazer Rangel passar da página impressa à parede. Expõem de novo em 1975, na Casa Amarela, com mais nomes: Rangel, Kok Nam, B. Breakey, Peter Sinclair e outros (sic - Informação do catálogo de Rogério, F. Gulbenkian, 1981.

Rogério ou Rogério Pereira (1942, Lisboa - 1987, Setúbal) é uma figura mais meteórica, um artista inconformado e informado, que terá sido especialmente influente graças à circulação pela África do Sul. Fez a transição do tempo colonial para o pós-independência, foi professor de fotografia durante dois anos em Maputo, mas regressou a Portugal em 1979, inadaptado em todos os regimes.

Fotografou desde 1966, em Lourenço Marques, trabalhou no «Sunday Times» de Johannesburg, em 1968; teve colaboração publicada na revista «Drum» (1969, 1973). Participou em exposições colectivas em Johannesburg e Cape Town desde 1969 (refere "Images of Man", promovida pelo "International Fund for Concerned Photography"). São informações extraídas do catálogo de uma mostra desgarrada (descontextualizada) que realizou na Fundação Gulbenkian. («Momentos», 1981), mal recebida por António Sena mas saudada na revista «Nova Imagem» de Pedro Foyos (importante portfolio no nº 1, Julho de 1980, com entrevista de Victor Dimas, «‘O fotografo tem de estar dentro da razão’»). Estava-se diante de um fotógrafo radical, revoltado, com imagens de uma grande veemência crítica, indisciplinadas, sintonizadas com rupturas dos anos 60/70. Fotografias vibrantes, duras, «tremidas», sub-expostas, inquietas.

O espólio regressou a Maputo e é conservado pela sua família africana. Em 1990 foi-lhe dedicada uma retrospectiva em duas partes na Associação Moçambicana de Fotografia, com a colaboração de Rangel, Kok Nam e José Pinto de Sá, que escreveu o texto do catálogo. Em 2002, a 1ª edição do PhotoFesta, Encontros Internacionais de Fotografia de Maputo, dedicou-lhe uma exposição antológica com o título “Verdade”. Em 2013 n’A Pequena Galeria recordei-o com duas magníficas fotos esquecidas na Colecção Gulbenkian numa mostra de grupo («De Maputo», com José Cabral e Luís Basto, também com Moira Forjaz).

Bem relacionado com jornalistas-escritores como Luís Bernardo Honwana e Craveirinha, e em geral com o meio das artes, Pancho Guedes (Amâncio de Alpoim Miranda Guedes, 1925, Lisboa - 2015, África do Sul), formado em Joanesburgo, fez desde o início dos anos 60, pelo menos, um uso funcional e eficaz da fotografia, sem que a tenha valorizada como objecto de arte e exposição. Arquitecto, pintor e escultor, fotografou sempre muito, e tudo, coligindo retratos e informação documental; é relevante a sua presença fotográfica impressa, com o respectivo design gráfico: manifesto “A cidade doente, várias receitas para a curar. O mal do caniço e o manual do vogal sem mestre”, dupla página em «A Tribuna», 9-6-1963; artigos ilustrados em «Aujourd’hui: Art et Architecture», nº 37, 1962, Paris, sobre os «Mapogga» (agora, Ndebele), e «Architecture d’Aujourd’hui», 1962, Juin-Juillet, sobre a sua arquitectura. Moira Forjaz frequentara a casa-atelier da rua de Nevala desde 1961, ao tempo das pontes estabelecidas com o Ibadam Club e a revista «Black Orpheus», de Ulli Beier, na Nigéria.
Viria a ser descoberto como fotógrafo, nas suas mais tardias fotografias de viagem, a partir da África do Sul e de Lisboa, em «Pancho Guedes nunca foi ao Japão», edição de José Luís Tavares, Lucio Magri e João Faria, ESAD, Matosinhos, 2015.


À margem desta narrativa ficou José Henriques da Silva (1919, Lisboa - 1983, Lisboa; em Nampula desde 1956). Engenheiro civil, fotógrafo activo entre 1957 e 1973, com um uso caloroso e intimista (relacional - fez em especial retratos) das imagens, junto das populações negras locais, mas sem expressão pública. Viu-se no Ar.Co, em 1983, uma selecção organizada por Joana Pereira Leite, a que se seguiu em 1998 a edição de «Pescadores Macua. Moçambique, Baía de Nacala 1957-1973», com impressões de Michel Waldmann e grafismo de Victor Palla. Ed. Câmara Municipal de Lisboa e Comissão dos Descobrimentos, Lisboa. Com exposição no Arquivo Fotográfico de Lisboa, e também em Moçambique.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Moçambique 40 anos 4 fotógrafos. Leiria

6 Junho - 22 de Agosto

M/i/mo - Museu da Imagem em Movimento, em Leiria

  Sala 1_5922M/i/mo - Museu da Imagem em Movimento, Leiria link

1. Uma história breve (e recente) da fotografia em Moçambique em 4 vitrinas

Livros 1 _5895
Ricardo Rangel: "R.R. Photographe du Mozambique", Paris 1994.  "Pão nosso de cada noite", Marimbique, Maputo 2004 e "R.R. Insubmisso e Generoso", Marimbique 2014.
Rogério (Rogério Pereira, Lisboa 1942-1987),  MOMENTOS, Fundação C. Gulbenkian, Lisboa, 1982.
MOÇAMBIQUE A TERRA E OS HOMENS, Associação Moçambicana de Fotografia, 1984 (capa de R. Rangel)
e dois DVDs: Licínio de Azevedo, FERRO EM BRASA 2006
e "SEM FLASH - Homenagem a Ricardo Rangel (1924-2009)",  de Bruno Z'Graggen; Angelo Sansone, 2012

4 fotógrafos de Moçambique

Moçambique, 40 anos - 4 fotógrafos
Moira Forjaz - José Cabral - Luis Basto - Filipe Branquinho

No Mimo - Museu da Imagem em Movimento, 
A fotografia em Moçambique, somando os caminhos do fotojornalismo, da documentação e da afirmação artística, constitui uma das dimensões mais reconhecidas da produção e da identidade cultural do país. Para isso contribuiu em especial a figura e a obra de Ricardo Rangel (1924-2009), fotógrafo de imprensa influente desde os anos 60, que se impôs no tempo colonial e exerceu uma eficaz acção formativa depois da independência. Apesar das dificuldade criadas pela longa guerra civil e pela debilidade económica do país, até tempos recentes, Moçambique tem conhecido condições para a prática e a divulgação da fotografia que constituem um caso singular no panorama africano, comprovado por toda uma galeria de autores relevantes e uma assinalável continuidade criativa.

Para apresentar a importância da fotografia moçambicana, optou-se nesta exposição por reunir um conjunto alargado de obras de quatro fotógrafos com lugares destacados e também diferenciados ao longo do tempo, em vez de se procurar reunir uma antologia interessada na enumeração exaustiva dos muitos nomes dessa mesma história. A mostra conta com obras expostas desde 2009 em várias iniciativas e com outras escolhidas para este novo projecto, cuja oportunidade se sublinha na ocasião em que se celebram os 40 anos da independência de Moçambique.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Moira Forjaz, Muipiti e outras datas

quarta-feira, 26 de junho de 2013

“From Maputo” / “De Maputo” . 2013

at A Pequena Galeria (The Little Gallery), Lisbon. 26.06 - 14.07.2013

Photographs by José Cabral and Luís Basto, with Moira Forjaz and Rogério (two small tributes)


In the space between pioneer photographer Ricardo Rangel and the new photographers who have taken part in BES Photo and Gulbenkian’s Next Future – Mário Macilau, Mauro Pinto and Filipe Branquinho –, there are the works of those who differed from what we might refer to as the Mozambican school of photography, the photojournalistic and humanist tradition, which, incidentally, has quite a few good authors in its ranks. 

JOSÉ CABRAL (b. 1952, Maputo) is the man behind the rupture, having instilled the desire for a personal discourse in Mozambique’s photography collective, a discourse based upon a wide knowledge of international photography and in broad cultural interests, going beyond the national and African framework.

The autobiographical reference in his last three exhibitions – “As Linhas da Minha Mão” (The Lines of My Hand), 2006 Maputo, Photofesta; “Anjos Urbanos / Urban Angels”, 2009 at P4 Photography, Lisbon - http://2009/05/condicao-humana.html - and Maputo, “Espelhos Quebrados” (Broken Mirrors), 2012, Maputo – is a courageous contribution to bringing to light the role and place of the beholder, and in doing so, in exposing his own history as well, is a lucid artistic intervention in the present events of a rapidly changing country. Both during and after the collective dynamic, with its unforeseen and often terrible setbacks, it was time for each artist to question himself, as well as the sense of a common path.

In “De Maputo” there are works of those three exhibitions on display: personal anthology, children (Cabral’s and the other people’s, with an obvious differentiation in skin colour and social means) and the near self-portraits signalling courses of life and relationships.

José Cabral: Kok Nam and Lisdália, Maputo, 1988.

José Cabral: Inhambane, 1995

José Cabral is now the cultural reference and the unruly master of young photographers, with an extensive body of work dating back to 1975, when he began working as a photographer at the Instituto Nacional de Cinema (National Film Institute), followed by few years as an agency photojournalist, a newspaper photographer for Notícias e and Domingo, with Rangel, in 1981-82, and, later, a professor at the Centro de Formação Fotográfica (Centre for Photographic Education), between 1986 and 1990. In 1996 he published his first book, Guerra da Água (Water War), on Ébano Multimédia, in association with a Licínio de Azevedo film of the same name (in colour, with printing problems). He has tried to get by as a photographer in Maputo, which is no easy feat.

LUÍS BASTO (b. 1969, Maputo) is also a self-taught photographer, with a unique and recognizable language, present in international collective shows such as “Africa Remix” (2004) and Okwui Enwezor’s “Snap Judgments – new positions in contemporary African photography” (2006), in which he was Mozambique’s sole representative. 

While building a large database of documentary footage of the country www.mozambiquephotos/Portfolio.html Luís Basto has also been a photographer of the city and the of the ability to survive that lies therein: “The mpty years are decades gone; with them the fate of a generation who had to fight war for other men’s reasons. Many born into peace have no memory of the fragmented lives that flooded the city as wandering souls. Where we came from and where we are now is framed not as much by time as by the dimensions of city space. We are in the windows, behind the doors, reflected citizens in all our contradictions.” – Berry Bickle, in Luís Basto fotógrafo / photographer, Éditions de l’Oeil, Montreuil, 2004, http://www.editionsdeloeil.com/index.

Luís Basto: Passionate body / Corpo apaixonado, Bairro da Liberdade, Maputo, 2008

Going back in time, the exhibition includes two works by two authors who, in different ways, brought experience back from Rhodesia and South Africa to Maputo so as to develop original and independent careers in the years after independence, which they later interrupted.

ROGÉRIO (Pereira) was a photographer and photojournalist working in South Africa (1968-1977), Mozambique (1973-1979) and Portugal (1979-1987), whose formally demanding, politically committed and restless production stood out. Born in Lisbon in 1942, he was seven years old when he moved to Mozambique, and 45 when he died of cancer in Setúbal, Portugal, in 1987. In 1973 he exhibited at the Núcleo de Arte (Center for Art) Ricardo Rangel and Basil Breakey. In 1981 he showed his work at the Gulbenkian Foundation (“Momentos”). 
In 1990 he was honoured with a retrospective show in two parts at the Associação Moçambicana de Fotografia (Mozambican Association of Photography), in collaboration with Ricardo Rangel, Kok Nam and José Pinto de Sá, who wrote the accompanying text. “Verdade” (Truth), another retrospective of his work, was part of the first edition of Photofesta, in 2002. 

Rogério Pereira: S/ Título, s/ data. (Col. Centro de Arte Moderna, FCG). 

MOIRA FORJAZ is the author of Muipiti, Ilha de Moçambique (Muipiti, Island of Mozambique) – text by Amélia Muge, Imprensa Nacional, 1983, published without her supervision). Born in Zimbabwe in 1942, she visited Lourenço Marques / Maputo regularly since 1961. Holding a degree in Graphic Arts from the Johannesburg School of Arts and Design, Moira Forjaz worked as a photojournalist in Southern Africa since 1964, and lived in Maputo between 1975 and 1988. She helped create the Associação Moçambicana de Fotografia (Mozambican Photography Association), in 1981, and directed two films in that same year. 

Other publications: Ruth First, Black Gold: The Mozambican Miner, Proletarian and Peasant, St. Martin's Press, New York / Harvester Press, Brighton, 1983 (photographs) and Images of a Revolution: Mural Art in Mozambique, Zimbabwe Publishing House, Harare, 1983 (Albie Sacks, text, Moira Forjaz, Susan Meiselas, photographs). Moira Forjaz went back to showing her work in 2009, “Kukumbula (Memórias) 1976 – 1986”, Espaço de Kulunguana, Maputo. (http://2009/03/depoisdemuitipi.html)

Moira Forjaz: Moamba, Sul de Moçambique, c. 1962

#

This exhibition was organized with Filipe Branquinho (http://filipebranquinho2013/04.html, http://www.magnin-a.com/artiste.php?id_artiste=45), with the complicity of Janice Lemos and Uno Pereira, in Maputo and Cape Town, as well as Isabel Carlos and Leonor Nazaré (at the Modern Art Centre of the Calouste Gulbenkian Foundation (http://rogeriona-colecao-do-cam.html), who made it possible for Rogério Pereira to be represented. Malenga and Mauro Pinto (http://www.magnin-a.com ) also assisted in the assembling. “De Maputo” is dedicated to Elisa Santos, who has been revealing the new “Ocupantes” to us ("Ocupações Temporárias", ocupacoestemporarias.blogspot.pt/2010/03.html.com Maputo 2010/2013, Lisboa 2013, and to Elísio Macamo, the sociologist who teaches us how to think, from Mozambique via Basel.


(translation by Francisca Cortesão)


PHOTOS

José Cabral: Kok Nam and Lisdália, Maputo, 1988.

José Cabral: Inhambane, 1995

Luís Basto: Passionate body / Corpo apaixonado, Bairro da Liberdade, Maputo, 2008

Rogério Pereira: S/ Título, s/ data. (Col. Centro de Arte Moderna, FCG). 

Moira Forjaz: Moamba (?), Sul de Moçambique,1962?

© os autores / Janice Lemos, Maputo - Cortesia CAM-FCG

terça-feira, 19 de junho de 2012

Fotografia em Moçambique, antes de 1970

em 2012