em 2012
alguns tópicos ou pistas (in progress)
1. José dos Santos Rufino
Álbuns Fotográficos e Descritivos da Colónia de Moçambique, publicados por José dos Santos Rufino, em 1929. Colecção de 10 álbuns dedicados a regiões e aspectos da Colónia de Moçambique. Edição impressa na África do Sul na casa representante da firma alemã de artes gráficas, Broschek & Co.
José dos Santos Rufino, comerciante estabelecido na papelaria e livraria «A Portuguêsa» na Rua Consiglieri Pedroso da baixa de Lourenço Marques, foi o editor do mais extenso levantamento fotográfico realizado na colónia (até aos anos 40?, ou também depois deles?). Dezenas de postais e, sobretudo, os 10 álbuns descritivos editados em 1929, atestam a sua actividade de editor fotográfico, que assegurou em Moçambique um alargado contacto com a documentação visual, certamente com consequências. Santos Rufino agradece no 1º álbum a colaboração de H. Graumann e I. Piedade Pó enquanto «fotógrafos amadores», o que não deve significar que reivindique a sua autoria pessoal como fotógrafo profissional, ao contrário do que se afirma no blog Companhia de Moçambique. Terá sido um recolector de fotografias, terá encomendado levantamentos, terá fotografado? Sem ter sido um pioneiro, terá generalizado a presença do registo fotográfico a um nível raro, que se mantém como uma referência quase mítica.
Raças, Usos e Costumes Indígenas. E alguns exemplares da Fauna Moçambicana. Volume X dos Álbuns Fotográficos e Descritivos da Colónia de Moçambique.
José dos Santos Rufino. Broscheck & Co, Hamburgo (todos os albuns estão reproduzidos em Memória de África )
2. Sebastião Langa
(Manjacase, 1920). Em 1939, era porteiro do estúdio Foto Lusitana; depois de 1946, funcionário público (no Instituto de Investigação Científica) e fotógrafo comercial. Com uma carreira paralela à de Ricardo Rangel, como este sublinhou em 2002.
Sebastião Langa: retratos de uma vida, ed. Arquivo Histórico de Moçambique. Ver BIArquivo - Boletim Informativo do Arquivo Histórico de Moçambique, Ano 2, No 4 (Março 2002)
O 1º Photofesta, em 2002, prestou homenagem a Sebastião Langa incluindo a exp. referida no seu programa (pp. 8-9). Outras homenagens foram então prestadas a Rogério e a Daniel Maquinasse.
3. Carlos Alberto Vieira e Ricardo Rangel
fotojornalistas desde os anos 40/50.
Ricardo Rangel (1924-2009, L.M./Maputo), em 1952 foi o 1º repórter não branco a trabalhar para a imprensa moçambicana, no Notícias da Tarde, depois ter trabalhado como impressor em vários estúdios. No Notícias, em 1956; de 1960 a 64, fotógrafo chefe em A Tribuna; em 1970 foi co-fundador da revista Tempo. Ver Iluminando vidas
4. Amadores fotográficos
O Núcleo de Arte contou com uma Tertúlia ou secção fotográfica desde os anos 50 (Miguel Rebelo Júnior, fotógrafo chefe do Instituto de Investigação Científica, representava-a na respectiva direcção em 1954).
A Associação dos Velhos Colonos teve também uma Secção de Arte Fotográfica.
1º Salão Internacional de Arte Fotográfica de Moçambique, 1954.
Na publicação MOÇAMBIQUE a Preto e Branco, ed. CODAM Sarl, de 1972 (ver adiante), participam vários amadores activos desde os anos ’50.
5. anos ‘60
Pancho Guedes
Pancho Guedes fez fotografia mas não é nem se intitula fotógrafo. É arquitecto, pintor e escultor. No entanto, é muito grande a sua presença fotográfica impressa no início dos anos 60. Também neste domínio tem uma intervenção irreverente e influente. O seu acervo fotográfico e a documentação fotográfica das suas viagens e dos seus interesses é muito vasto, sem que a sua autoria pessoal seja em muitos casos segura (inclui trabalhos de colaboradores, amigos e familiares, sem que PG quisesse ou pudesse, em 2010, distinguir sempre as autorias.)
Em cima, 1ª pág. de “Les Mapogga”, in Aujourd’hui: Art et Architecture, nº 37, 1962, Juin 1962. Reportagem fotográfica do autor / Fotos de A. d’Alpoim Guedes (Pancho Guedes) e Pedro Guedes.
À esq. pormenor (foto)gráfico do manifesto “A cidade doente, várias receitas para a curar.
O mal do caniço e o manual do vogal sem mestre”, dupla página em A Tribuna, 9-6-1963
1ª página do artigo que Architecture d’Aujourd’hui, 1962, Juin-Juillet, dedica ao arq. P.G.
Em baixo, Malangatana na casa de P.G., 1961?
6. Moira Forjaz
Moira Forjaz trabalhou como foto-jornalista na África do Sul (e Swazilândia), desde 1964, onde foi discípula e colaboradora de mestres como Jurgen Schadeberg, Sam Haskins ( foi modelo numa fotografia de Cowboy Kate, de 1964 ) e David Goldblatt. Fez deslocações a Moçambique desde cerca de 1960, em contacto com Julian Beinart, Pancho Guedes, Malangatana. Trabalhou como free-lance, com colaborações com a Magnum. Depois de 1975 trabalhou em Moçambique, também como documentarista. Em 1981 foi um dos fundadores da Associação Moçambicana de Fotografia; sete fotografias suas estão publicadas em "Moçambique, A Terra e os Homens", primeira exposição da AIM (de que resultou o pelo álbum publicado em 1984, impresso em Roma).
7. Rogério
Rogério ou Rogério Pereira: 1942, Lisboa - 1987, Setúbal?. Fotografou desde 1966, em Lourenço Marques. Trabalhou no Sunday Times, Johannesburg, 1968. Colaboração na revista Drum (1969, 1973). Presente em exposições colectivas em Johannesburg e Cape Town desde 1969 e 1972 (refere "Images of Man", promovida pelo "International Fund for concerned photography"). São informações extraídas do seu catálogo da FCG (ver II parte).
Frequentou os meios do jazz com Ricardo Rangel e certamente facilitou a relação deste com outros fotógrafos sul-africanos.
#
Luís Carlos Patraquim, artigo publicado em Lusografias, nº1, Jul, Ago, Set 2005, ed. Instituto Piaget
“OBJECTIVA 2002”
“com a fotografia não nos é possível continuar a pensar
a imagem separada do acto que a faz ser.”
Phillipe Dubois, “O Acto Fotográfico”
"A fotografia em Moçambique é uma prática - e uma Arte - em rotação de olhares no Tempo. Dos postais de Rufino, no princípio do século XX, à obra de Ricardo Rangel - que a moçambicaniza; do acervo minocioso do repórter andarilho e de regime(s) que foi Carlos Alberto ao trabalho multímodo de uma geração posterior começada em Kok Nan e com nomes como os de Daniel Maquinasse, Naíta Ussene, José Cabral, Sérgio Santimano - tantos outros - numerosos são os “actos” e os territórios do olhar.
Da curiosidade “tout court” à preocupação antropologista, por vezes com laivos de arrogante eurocentrismo, do registo poético à “rotina” da cobertura jornalística em situações políticas diferenciadas, da preocupação em fixar sinais de um fazer épico à mais ingénua das tarefas de propaganda ou de um denso bailado de desejo para a descoberta erótica das gentes e dos lugares, tudo aconteceu...
Um outro rumo vem assumindo agora toda uma nova geração, ultrapassado o quadro unívoco de uma procura de identidade moçambicana cujas referências, no pós-independência, foram marcadas por uma intensa e extensa ideologização político-partidária.
E assim se vem aluarando, não uma mimésis ou uma desconstrução, mas a procura de um rosto onde se reveja, lhe possa dar nome e a nós também, que nos indagamos e “vemos” nesse trabalho.
A África está a braços com os efeitos perversos da globalização, para não falar das sucessivas tragédias e decepções da sua história pós-colonial, descentrada e à procura da sua identidade, como escreveu o poeta sul-africano Breiten Breitenbach. E se nos perguntarmos para que serve a fotografia quando falta a mandioca e as guerras intestinas ameaçam a própria sobrevivência dos Estados, quiçá só encontraremos resposta se a situarmos num território poético da mais intensa ritualização. Contra a era do vazio emerge a religação do homem com o lugar, seus símbolos, suas ontológicas acontecências, seus mitos.
Apetece afirmar que é à procura destes instantes, desta imagem primordial de que a fotografia não será nunca senão uma aproximação ou um reflexo, um fugaz ponto luminoso plasmado em sombras, que se inscreve cada vez mais o trabalho multímodo da maioria dos fotógrafos moçambicanos. Ao contrário de Narciso.
Ricardo Rangel “registou” em leitura que se pode aproximar de alguns versos de Craveirinha, as contradições e o maniqueísmo da sociedade colonial e subiu em metafórico voo lírico no cúmplice abraço às prostitutas da portuária Rua Araújo da antiga Lourenço Marques, como se nelas procurasse a Mãe-África. Carlos Alberto deixa-nos um olhar sobre a “gesta industriosa” do Moçambique colonial. A aposta de Kok Nan “reduz”, no bom sentido, a épica guerrilheira à sua vera dimensão humana, em epistolário secreto com a obra do fotografo-guerrilheiro Daniel Maquinasse. Naíta vai em viagem, como todos eles, aliás, à procura dos muitos nomes de que é feita - à falta de melhor termo - a moçambicanidade. Tal como José Cabral – referência obrigatória, João Costa (Funcho), Valente e a redescoberta da Ilha Doirada, tantos mais, cuja não inclusão de nome aqui, não significa desmerecimento mas impossibilidade de listagem.
Porque há uma escola moçambicana de fotografia. E outros, da mais “desvairada” origem, devotados ao mistério do Ser que Moçambique, lugar múltiplo, oferece. Georgios Theodossiadis e os pescadores da Costa do Sol, nos arredores de Maputo; José Henriques da Silva, na década de 50, fixando os Macuas; Joana Pereira Leite em amorosa e pendular viagem; Henrique Dinis da Gama num registo singular de rugosas e (in)decifráveis) materialidades; o Rui Knopfli da “Ilha de Próspero”, incontroverso poeta e fotógrafo moçambicano, cidadão de excêntrica condição “extra-territorial” já analizada por um George Steiner; Moira Forjaz deambulando entre Muipiti e Ressano Garcia.
Porque é a enfeitiçar a luz que desde há muito vêm andarilhando os fotógrafos moçambicanos, assumindo-a como uma gnose inaugural, transfigurando os nomes e as coisas, fazendo muitas imagens e, por dentro delas, a ontogénese de Moçambique."
1. José dos Santos Rufino
Álbuns Fotográficos e Descritivos da Colónia de Moçambique, publicados por José dos Santos Rufino, em 1929. Colecção de 10 álbuns dedicados a regiões e aspectos da Colónia de Moçambique. Edição impressa na África do Sul na casa representante da firma alemã de artes gráficas, Broschek & Co.
José dos Santos Rufino, comerciante estabelecido na papelaria e livraria «A Portuguêsa» na Rua Consiglieri Pedroso da baixa de Lourenço Marques, foi o editor do mais extenso levantamento fotográfico realizado na colónia (até aos anos 40?, ou também depois deles?). Dezenas de postais e, sobretudo, os 10 álbuns descritivos editados em 1929, atestam a sua actividade de editor fotográfico, que assegurou em Moçambique um alargado contacto com a documentação visual, certamente com consequências. Santos Rufino agradece no 1º álbum a colaboração de H. Graumann e I. Piedade Pó enquanto «fotógrafos amadores», o que não deve significar que reivindique a sua autoria pessoal como fotógrafo profissional, ao contrário do que se afirma no blog Companhia de Moçambique. Terá sido um recolector de fotografias, terá encomendado levantamentos, terá fotografado? Sem ter sido um pioneiro, terá generalizado a presença do registo fotográfico a um nível raro, que se mantém como uma referência quase mítica.
Raças, Usos e Costumes Indígenas. E alguns exemplares da Fauna Moçambicana. Volume X dos Álbuns Fotográficos e Descritivos da Colónia de Moçambique.
José dos Santos Rufino. Broscheck & Co, Hamburgo (todos os albuns estão reproduzidos em Memória de África )
2. Sebastião Langa
(Manjacase, 1920). Em 1939, era porteiro do estúdio Foto Lusitana; depois de 1946, funcionário público (no Instituto de Investigação Científica) e fotógrafo comercial. Com uma carreira paralela à de Ricardo Rangel, como este sublinhou em 2002.
Sebastião Langa: retratos de uma vida, ed. Arquivo Histórico de Moçambique. Ver BIArquivo - Boletim Informativo do Arquivo Histórico de Moçambique, Ano 2, No 4 (Março 2002)
O
Arquivo Histórico de Moçambique organizou uma exposição fotográfica
“Sebastião Langa – retratos de uma vida”, que decorreu entre 8 e 17 de
Março, na sala de exposições da Associação Moçambicana de Fotografia. Aos
80 anos, lúcidos e atentos, Sebastião Langa, é um dos pioneiros de
fotografia moçambicana. Sem as motivações políticas e sociais do seu
colega Ricardo Rangel, Langa dá-nos a imagem da vivência e dos hábitos
do grupo africano urbanizado, residindo ao redor da capital moçambicana.
*
Conheci o Sebastião Langa nos meados dos anos 40, trabalhando, cada um
de nós, para os vários estúdios de fotografia comercial que existiam
espalhados pela então cidade de Lourenço Marques.
Depois
cada um seguiu o seu caminho. Sebastião a certa altura fixou-se no
departamento de fotografia no Instituto de Investigação Científica, que
era chefiada pelo técnico e fotógrafo português Rebelo Júnior**.
Eu segui o fotojornalismo. Bem, não estou aqui a falar de mim. O que eu
posso dizer da sua obra é que estas imagens fazem-nos reviver uma
época, um certo tipo de homem na existência cotidiana de uma certa
sociedade durante o domínio colonial.
Por
outras palavras, eu quero dizer que Sebastião Langa transmite-nos nas
suas fotografias simples, mas bem ilustrativas, o ambiente urbano
colonial num espaço também compartilhado com os colonos. Podemos dizer
que estamos diante de uma exposição que na sua diversidade temática,
abre-nos uma janela para uma olhada na importância e significado da
função social da fotografia.
Por
este pequeno “museu” de cem fotografias, podemos advinhar o espaço em
que Sebastião Langa se movia. Desde fotografias de casamentos e
baptizados, celebrações familiares de aniversários e algumas cenas
rurais ou ainda retratando também acontecimentos em que os dignatários
coloniais apareciam na sua missão de senhores ou padrinhos.
Quero
aqui lembrar que no passado era prática comum dos fotógrafos ocidentais
virem a África à procura de imagens exóticas ou imagens de gente
estranha, de corpos semi-nus, tatuados ou pintados. Esses fotógrafos
diante de um corpo pintado ou tatuado procuravam captar o que lhe
parecia pitoresco ou insólito. A maior parte deles desconheciam que cada
tatuagem ou traço pintado representava sinais de dignidade e
significado cultural bem definido. Sebastião Langa, fotógrafo africano, e
como tal, nos seus retratos procurou e conseguiu de uma maneira natural
conferir dignidade aos seus irmãos. Algumas das suas fotografias
impressionam pelo testemunho que caracterizou a vontade de uma faixa da
sociedade colonial que procurava viver com a dignidade que lhe era
permitida.
* Extracto da intervenção de Ricardo Rangel
** Miguel Rebelo Júnior, também "salonista" e membro da direcção do Núcleo de Arte
O 1º Photofesta, em 2002, prestou homenagem a Sebastião Langa incluindo a exp. referida no seu programa (pp. 8-9). Outras homenagens foram então prestadas a Rogério e a Daniel Maquinasse.
3. Carlos Alberto Vieira e Ricardo Rangel
fotojornalistas desde os anos 40/50.
Carlos Alberto Vieira nasceu
em João Belo, actual cidade do Xai Xai, capital da província de Gaza;
mas foi em Lourenço Marques, hoje Maputo, que viveu os primeiros anos da
sua vida. Na década de 30, o seu pai emigrou para Portugal, fixando
residência na cidade do Porto. É nesta cidade que Carlos Alberto faz a
escolaridade, nomeadamente o terceiro ano do curso industrial. Aos 12
anos Carlos Alberto constrói a sua primeira máquina fotográfica. Em
1945, já fotógrafo, decide regressar a Moçambique, e ingressa de
imediato nos quadros do jornal Diário de Notícias como
fotojornalista. Em poucos anos foi nomeado chefe da secção fotográfica,
mais tarde torna-se accionista do jornal, acabando, no entanto, a sua
carreira profissional como editor fotográfico. Fotojornalista que
durante mais de cinquenta anos palmilhou Moçambique. Fotografou de tudo.
Desde o sofisticado empreendimento comercial a projectos de natureza
sócio-económica, passando pelas cidades, vilas e aldeias. Fotografou a
fauna e a flora. E fotografou também as guerras que assolaram
Moçambique. Samora Moisés Machel, enquanto presidente da RPM, escolheu
muitas vezes Carlos Alberto para seu retratista. Carlos Alberto Vieira
morreu em 1995, em Maputo.
Ricardo Rangel (1924-2009, L.M./Maputo), em 1952 foi o 1º repórter não branco a trabalhar para a imprensa moçambicana, no Notícias da Tarde, depois ter trabalhado como impressor em vários estúdios. No Notícias, em 1956; de 1960 a 64, fotógrafo chefe em A Tribuna; em 1970 foi co-fundador da revista Tempo. Ver Iluminando vidas
4. Amadores fotográficos
O Núcleo de Arte contou com uma Tertúlia ou secção fotográfica desde os anos 50 (Miguel Rebelo Júnior, fotógrafo chefe do Instituto de Investigação Científica, representava-a na respectiva direcção em 1954).
A Associação dos Velhos Colonos teve também uma Secção de Arte Fotográfica.
1º Salão Internacional de Arte Fotográfica de Moçambique, 1954.
Na publicação MOÇAMBIQUE a Preto e Branco, ed. CODAM Sarl, de 1972 (ver adiante), participam vários amadores activos desde os anos ’50.
5. anos ‘60
Pancho Guedes
Pancho Guedes fez fotografia mas não é nem se intitula fotógrafo. É arquitecto, pintor e escultor. No entanto, é muito grande a sua presença fotográfica impressa no início dos anos 60. Também neste domínio tem uma intervenção irreverente e influente. O seu acervo fotográfico e a documentação fotográfica das suas viagens e dos seus interesses é muito vasto, sem que a sua autoria pessoal seja em muitos casos segura (inclui trabalhos de colaboradores, amigos e familiares, sem que PG quisesse ou pudesse, em 2010, distinguir sempre as autorias.)
Em cima, 1ª pág. de “Les Mapogga”, in Aujourd’hui: Art et Architecture, nº 37, 1962, Juin 1962. Reportagem fotográfica do autor / Fotos de A. d’Alpoim Guedes (Pancho Guedes) e Pedro Guedes.
À esq. pormenor (foto)gráfico do manifesto “A cidade doente, várias receitas para a curar.
O mal do caniço e o manual do vogal sem mestre”, dupla página em A Tribuna, 9-6-1963
1ª página do artigo que Architecture d’Aujourd’hui, 1962, Juin-Juillet, dedica ao arq. P.G.
Em baixo, Malangatana na casa de P.G., 1961?
6. Moira Forjaz
Moira Forjaz trabalhou como foto-jornalista na África do Sul (e Swazilândia), desde 1964, onde foi discípula e colaboradora de mestres como Jurgen Schadeberg, Sam Haskins ( foi modelo numa fotografia de Cowboy Kate, de 1964 ) e David Goldblatt. Fez deslocações a Moçambique desde cerca de 1960, em contacto com Julian Beinart, Pancho Guedes, Malangatana. Trabalhou como free-lance, com colaborações com a Magnum. Depois de 1975 trabalhou em Moçambique, também como documentarista. Em 1981 foi um dos fundadores da Associação Moçambicana de Fotografia; sete fotografias suas estão publicadas em "Moçambique, A Terra e os Homens", primeira exposição da AIM (de que resultou o pelo álbum publicado em 1984, impresso em Roma).
7. Rogério
Rogério ou Rogério Pereira: 1942, Lisboa - 1987, Setúbal?. Fotografou desde 1966, em Lourenço Marques. Trabalhou no Sunday Times, Johannesburg, 1968. Colaboração na revista Drum (1969, 1973). Presente em exposições colectivas em Johannesburg e Cape Town desde 1969 e 1972 (refere "Images of Man", promovida pelo "International Fund for concerned photography"). São informações extraídas do seu catálogo da FCG (ver II parte).
Frequentou os meios do jazz com Ricardo Rangel e certamente facilitou a relação deste com outros fotógrafos sul-africanos.
#
Luís Carlos Patraquim, artigo publicado em Lusografias, nº1, Jul, Ago, Set 2005, ed. Instituto Piaget
“OBJECTIVA 2002”
“com a fotografia não nos é possível continuar a pensar
a imagem separada do acto que a faz ser.”
Phillipe Dubois, “O Acto Fotográfico”
"A fotografia em Moçambique é uma prática - e uma Arte - em rotação de olhares no Tempo. Dos postais de Rufino, no princípio do século XX, à obra de Ricardo Rangel - que a moçambicaniza; do acervo minocioso do repórter andarilho e de regime(s) que foi Carlos Alberto ao trabalho multímodo de uma geração posterior começada em Kok Nan e com nomes como os de Daniel Maquinasse, Naíta Ussene, José Cabral, Sérgio Santimano - tantos outros - numerosos são os “actos” e os territórios do olhar.
Da curiosidade “tout court” à preocupação antropologista, por vezes com laivos de arrogante eurocentrismo, do registo poético à “rotina” da cobertura jornalística em situações políticas diferenciadas, da preocupação em fixar sinais de um fazer épico à mais ingénua das tarefas de propaganda ou de um denso bailado de desejo para a descoberta erótica das gentes e dos lugares, tudo aconteceu...
Um outro rumo vem assumindo agora toda uma nova geração, ultrapassado o quadro unívoco de uma procura de identidade moçambicana cujas referências, no pós-independência, foram marcadas por uma intensa e extensa ideologização político-partidária.
E assim se vem aluarando, não uma mimésis ou uma desconstrução, mas a procura de um rosto onde se reveja, lhe possa dar nome e a nós também, que nos indagamos e “vemos” nesse trabalho.
A África está a braços com os efeitos perversos da globalização, para não falar das sucessivas tragédias e decepções da sua história pós-colonial, descentrada e à procura da sua identidade, como escreveu o poeta sul-africano Breiten Breitenbach. E se nos perguntarmos para que serve a fotografia quando falta a mandioca e as guerras intestinas ameaçam a própria sobrevivência dos Estados, quiçá só encontraremos resposta se a situarmos num território poético da mais intensa ritualização. Contra a era do vazio emerge a religação do homem com o lugar, seus símbolos, suas ontológicas acontecências, seus mitos.
Apetece afirmar que é à procura destes instantes, desta imagem primordial de que a fotografia não será nunca senão uma aproximação ou um reflexo, um fugaz ponto luminoso plasmado em sombras, que se inscreve cada vez mais o trabalho multímodo da maioria dos fotógrafos moçambicanos. Ao contrário de Narciso.
Ricardo Rangel “registou” em leitura que se pode aproximar de alguns versos de Craveirinha, as contradições e o maniqueísmo da sociedade colonial e subiu em metafórico voo lírico no cúmplice abraço às prostitutas da portuária Rua Araújo da antiga Lourenço Marques, como se nelas procurasse a Mãe-África. Carlos Alberto deixa-nos um olhar sobre a “gesta industriosa” do Moçambique colonial. A aposta de Kok Nan “reduz”, no bom sentido, a épica guerrilheira à sua vera dimensão humana, em epistolário secreto com a obra do fotografo-guerrilheiro Daniel Maquinasse. Naíta vai em viagem, como todos eles, aliás, à procura dos muitos nomes de que é feita - à falta de melhor termo - a moçambicanidade. Tal como José Cabral – referência obrigatória, João Costa (Funcho), Valente e a redescoberta da Ilha Doirada, tantos mais, cuja não inclusão de nome aqui, não significa desmerecimento mas impossibilidade de listagem.
Porque há uma escola moçambicana de fotografia. E outros, da mais “desvairada” origem, devotados ao mistério do Ser que Moçambique, lugar múltiplo, oferece. Georgios Theodossiadis e os pescadores da Costa do Sol, nos arredores de Maputo; José Henriques da Silva, na década de 50, fixando os Macuas; Joana Pereira Leite em amorosa e pendular viagem; Henrique Dinis da Gama num registo singular de rugosas e (in)decifráveis) materialidades; o Rui Knopfli da “Ilha de Próspero”, incontroverso poeta e fotógrafo moçambicano, cidadão de excêntrica condição “extra-territorial” já analizada por um George Steiner; Moira Forjaz deambulando entre Muipiti e Ressano Garcia.
Porque é a enfeitiçar a luz que desde há muito vêm andarilhando os fotógrafos moçambicanos, assumindo-a como uma gnose inaugural, transfigurando os nomes e as coisas, fazendo muitas imagens e, por dentro delas, a ontogénese de Moçambique."
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