quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

O Jornal do Barreiro e a CUF

Jornal do Barreiro, modernismo em 1954


         ....uma campanha pela "fotografia pura" na página mensal "Fotografia" dirigida por Eduardo Harrington Sena no semanário Jornal do Barreiro, e nas primeiras edições da secção "A FOTOGRAFIA DO MÊS". A página publicou-se a partir de 26 de Agosto de 1954 e foi interrompida a 18 de Julho de 1957 (...mas E.H.S. ainda viria a ser director do semanário de 24 de Janeiro de 1963 a 6 de Agosto de 1964).

Essa era a fotografia moderna, seguindo as lições formalistas vindas ainda da Nova Visão dos anos 20, que se defendia então no universo das agremiações amadoras e dos seus concursos. (No final dos anos 30, nas páginas da Objectiva, tinha havido uma outra fotografia moderna, straight, live e objectiva, mais ligada à representação dos tipos sociais talvez por via alemã, com os doutores Lacerda Nobre e Álvaro Colaço). 
O sector então mais dinâmico do salonismo, muito activo nas associações, não era pictorialista, era modernista e defendia um prudente formalismo modernista. Os textos que acompanham a "Fotografia do Mês" são particularmente elucidativos sobre os critérios de apreciação vigentes.

As primeiras "fotografias do mês"

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"Réstea", 1952?, de Victor Chagas dos Santos (Eng., Cuf), publicada a 26 de Agosto de 1954, pág. 3.

(...o assunto simples muito bem fotografado: a luz é perfeita...)
as "admissões": 1952, Coimbra, Grupo Câmara; Barreiro, G D da Cuf; Lisboa, IST
1953, Moura e Régua
1954, Porto, IIP; Setúbal.




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"Sinfonia do Metal", 1952?, de Eduardo Harrington Sena (Agente técnico de engenharia - Cuf). 16 de Setembro de 1954, pág. 3. 

(O autor da nota não é referido, o que permite a Sena elogiar-se mais facilmente a si próprio.)

Das cebolas para as tubagens industrias importa pouco a diferença de "assunto", interessa a luz, a perspectiva, etc. Noutras circunstâncias será uma fotografia industrial que pode simbolizar o desenvolvimento do Barreiro - aqui é uma "fotografia pura".

"Fazer fotografia é 'pintar' com os claros e escuros"


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"Elipse", de Augusto Cabrita, 1953 - Grupo Desportivo da Cuf, Barreiro. 7 de Outubro 1954, pág. 3. Uma "composição arrojada".

(...a importância da luz e da composição. O assunto simples)
1953 Barreiro; Coimbra
1954 Lx, Sindicato Nac. dos Engenheiros Aux.

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"Ponte de Prata", de Fernando Vicente. 4 de Novembro 1954

Fernando Vicente, famoso amador do 6x6 e do Grupo Câmara, entrava já no júri do 2ª Salão. No "quadro das actividades" dos fotógrafos amadores, da iniciativa de Sena e relativo ao 1º ano da página (publ. a 5 Maio 55), estava em 3º lugar.

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Os dois primeiros são os homens fortes da fotografia no Barreiro, dinamizadores da actividade fotográfica do Grupo Desportivo da CUF. Premiados ambos em 1950 no I Salão de Arte Fotográfica do Jornal do Barreiro (o qual teve Adelino Lyon de Castro como titular do Grande Prémio e revelou Augusto Cabrita), vão assumir a direcção da secção de fotografia do GD e a organização dos seus Salões pelo menos desde 1952, no 2º Salão (em 1951 já não é organizado pelo Jornal do Barreiro, e nesse ano o concurso dirige-se a sócios do GD).
Prolongam as sua acção nas páginas do Jornal de Barreiro, um "semanário regionalista" que a partir de meados de 1953 está completamente alinhado com o Regime - mas o 3º aniversário, a 14-5-53,  ainda é celebrado com a projecção de Milagre de Milão, a "obra de um génio"...

São também elementos influentes do Foto Clube 6 x 6, de Lisboa, fundado em 1950 - Sena virá a ser em 1956 o director do respectivo Boletim, de 1956 a 1959?, com Manuel Ruas como editor.

Augusto Cabrita acompanha os dois no júri do 5º Salão de Arte Fotográfica (1º Internacional) e seguintes. Os três - Chagas, Sena e Cabrita - estão entre os mais activos expositores e mais premiados por esses anos, como mostra o mesmo Sena nos quadros de pontuações que publica no Jornal do Barreiro.

No referido quadro, Chagas do Santos era 4ª, Sena era 10º e Augusto Cabrita estava em 26º - Rosa Casaco era o 6º...

2. Jornal do Barreiro, 1954-55


"A FOTOGRAFIA DO MÊS" no Jornal do Barreiro: 
depois de Victor Chagas dos Santos, Harrington Sena, Augusto Cabrita e Fernando Vicente

vão seguir-se Mário Camilo, António Paixão, Rosa Casaco, António Santos d'Almeida Júnior e David d'Almeida Carvalho, de 2 de Dezembro de 1954 a 5 de Maio de 1955. 

A seguir virão ainda  João Martins, dr. Silva Araújo, João da Costa Leite, Artur Pastor, Artur Araújo, Olavo Terroso, Alfredo de Oliveira (Dez. 55), 
e depois, mais irregularmente, Mário Pinto, Varela Pecurto, dr. Gilberto Vasco, Eduardo Luís Gomes, Manuel Correia, a Marquesa de Fronteira, e 
Fernando Taborda (já em Jan. 57), Júlio Dinis (a 18 Abril, o último desse ano), e alguns estrangeiros frequentadores do concurso do Barreiro.


Por essa altura, 1954-55, publicavam-se, além do Boletim do Grupo Câmara, em Coimbra, a Fotografia - "revista mensal ao serviço da arte fotográfica", em Lisboa, de Fevereiro de 1954 a Outubro de 1955 (ano II, nº 10).

Aí, nos sucessivos nºs, os distintos amadores (alguns deles profissionais) escolhem também as suas próprias fotografias preferidas:
Dr. Jorge da Silva Araújo (1)
Varela Pécurto (2)
Adelino Platão Mendes (3)
Fernando Vicente (4)
Rosa Casaco (5, Agosto de 54)
João Martins (6)
Eng. Harrington Sena (7)
Helena Correia de Barros (8)
Dr. Nunes de Almeida (9)
Arnaldo Monteiro Júnior (10)


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"Turbilhão", de Mário Camilo, 1952?. Jornal do Barreiro de 2 Dezembro 1954, pág. 3. (1º Prémio no salão da Cuf em 53, na categoria artística)

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Ecloga, de António Paixão, 1952. 6 Janeiro 1955. Depois da "fotografia pura", um modelo da fotografia pictórica de paisagem


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"Estendal", de Rosa Casaco (o inspector da Pide), 3 Fevereiro de 1955, pág. 3. 
Presente em mais de 150 salões... É "uma obra pictórica de belo efeito" do "amador mais consagrado do nosso país", e mais uma lição de Arte Fotográfica

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"Santa Missão", de António Santos d'Almeida Júnior. 3 de Março 1955, pág 3. O contraste como "o primordial factor de beleza".

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"Dinamismo", de David d'Almeida Carvalho (do Grupo Câmara, Coimbra), 1953. 5 de Maio 1955, pág. 3. Um "exemplo de fotografia dos nossos dias" (dias modernos, claro). Bronze no Barreiro em 54.

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NOTAS:
4 de Novembro 54: artigo de Gisele Freund, "O artista e o artifício", da revista Camara da FIAF. No Salão Ibérico de Igualada (admissões anónimas), 1º prémio de Figura para Santos e Silva, o português dos inícios da Afal.
2 de Dezembro: o 4º Salão Cuf. Rosa Casaco (1º prémio de conjunto), A. Cabrita (prémio de conjunto para sócios)
6 de Janeiro 55: 3ª Exp. Int. Grupo Câmara, desde há 7 anos (1949), crítica, 132 adm. em 682; 31 de 262 port. Polémica. / Photograms of the Year: Cabrita (Pescador), Costa Leite, Taborda, Chagas e Sena. Em 54: publicados Réstea e de Sena: Enfrentando o vento. / 4º Salão Nac. de AF, crítica de Carlos Rosmaninho. Rosa Casaco, Estendal.
3 Fevereiro: III Exp. AF Foto Clube 6 x 6 no SNI. Agostinho Barbieri, outro pide importante, rep. no cat.
7 de Abril: sem foto do mês. O 2º Salão de AF do Porto: Cabrita 1º prémio cat. artística; 2º cat. industrial. Santos e Silva (2º, art.). reabre-se a polémica no Grupo Câmara

Lisb

A 5 de Maio 55, Sena publica o quadro classificativo dos amadores portugueses, construído com um laborioso sistema de pontuação por admissões em salões. Fernando Taborda fica em 1º. Rosa Casaco (6º), E H Sena (10º), Manuel Correia (15º), Carlos Santos e Silva (16º), Augusto Cabrita (26º).
165 têm provas admitidas em salões, sendo 84 de Lisboa e 81 de 33 localidades. Em salões internacionais entraram 95 portugueses. / A 10 de Nov. dir-se-á, citando o Relatório e Contas de 54 do Foto Clube 6 x 6, um pequeno livro, que só essa agremiação enviara 1476 provas a salões. Só 1ºs prémios seriam 5, em Bordéus, Porto Alegre, Roubaix, Santo André e Liubliana.

O Jornal do Barreiro publicita o seu suplemento dedicado ao "passatempo favorito" de muitos leitores.

No mesmo nº a "crítica" do XVIII Salão I. de AF de Portugal, GPF. 960 envios dão 115 provas; 234 autores - 77. A "obra prima de "claro-escuro", a "obra moderna de belo efeito visual", o "retrato de perícia inexcedível", o "documento humano de alto valor emocional". Cabrita expõe "Montra sem vidro" e "Motivo arquitectónico".


1954 Artur Pastor, Foto premiada no 4º salão do Grupo Desportivo da Cuf do Barreiro, em 1954, ao lado de António Paixão, Mário Camilo, Augusto Cabrita e outros.
5 de Setembro de 1955, Vidas difíceis na secção mantida por Eduardo Harrington Sena; é talvez o caso em que o apologista da "fotografia pura" mais elogia o "ambiente extraordinariamente humano" de uma imagem, sobrepondo-o à respectiva "beleza pictórica".




Artur Pastor não figura nos primeiros lugares do quadro classificativo dos amadores fotográficos publicado  a 5 de Maio de 1955.

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