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25 de Julho 18:00 Inauguração da exposição
26 de Julho Apresentação de filmes e livros sobre a fotografia em Moçambique
José Cabral. Maputo 1989
Entre o pioneiro Ricardo Rangel e os novos fotógrafos que têm passado
pelo BES Photo e o Próximo Futuro da Gulbenkian – Mário Macilau,
Mauro Pinto e
Filipe Branquinho
–, existem as obras dos que se distanciaram daquilo a que se pode
chamar a escola moçambicana de fotografia, a tradição fotojornalística e
humanista, que conta, aliás, com um número extenso de bons autores.
José Cabral (n. 1952, Maputo) é o homem da ruptura, que veio trazer ao
colectivo da fotografia de Moçambique a necessidade do discurso pessoal,
fundado num conhecimento alargado da fotografia internacional e na
abertura a interesses culturais amplos, para além do quadro nacional e
africano.
A referência autobiográfica presente nas suas últimas três exposições
(“As Linhas da Minha Mão”, 2006 Maputo, 3º Photofesta; “Anjos Urbanos /
Urban Angels”, 2009, P4 Photography, Lisboa, e Maputo; “Espelhos
Quebrados”, 2012, Maputo) é uma contribuição corajosa para pôr em
evidência o papel e o lugar de quem observa, e que assim, ao expor
também a sua história própria, intervém lucidamente como artista nos
acontecimentos do presente de um país em mudança. Durante e depois da
dinâmica colectiva, com as suas vicissitudes imprevistas, e também
terríveis, era tempo de cada um se interrogar a si mesmo e ao possível
sentido do percurso comum. Vêem-se agora em “De Maputo” obras escolhidas
dessas três exposições: a antologia pessoal, as crianças (os filhos de
Cabral e os dos outros, com uma óbvia diferenciação de cor de pele e de
meios sociais) e por fim os quase auto-retratos que sinalizam percursos
de vida e relações (agora sob o título geral “De Perto”).
José Cabral é hoje a referência cultural e o mestre indisciplinado
dos jovens fotógrafos, com uma extensa obra realizada desde que em 1975
começou a trabalhar como fotógrafo no Instituto Nacional de Cinema, a
que se seguiram alguns poucos anos de repórter fotográfico de agência,
depois no
Notícias e no
Domingo, com Rangel em
1981-82, mais tarde professor no Centro de Formação Fotográfica, de 1986
a 1990. Em 1996 publicou o primeiro livro
A Guerra da Água,
edição da Ébano Multimédia associada ao filme de Licínio de Azevedo com
o mesmo nome (a cores, com problemas de impressão). Tem tentado viver
como fotógrafo em Maputo, o que é bem difícil.
Luís Basto, Cadeira II, Maputo, 2013
Luís Basto (n. 1969, Maputo) é igualmente um autodidacta, com um
discurso próprio e reconhecido, que esteve presente em colectivas
internacionais como “Africa Remix” (2004) e “Snap Judgments – new
positions in contemporary african photography” (2006) de Orkui Enwezor,
aqui como único representante de Moçambique. Ao mesmo tempo que tem
construído um grande banco de imagens documentais do país (
www.mozambiquephotos.com), é
um fotógrafo da cidade e da capacidade de sobreviver que aí se refugia:
“Os anos vazios passaram; com eles o destino de uma geração que deveria
combater pelas razões de outros homens. Muitos nascidos na paz não têm
memória das vidas fragmentadas que inundavam a cidade como almas
penadas. Donde viemos e onde estamos agora enquadra-se menos no tempo
que nas dimensões de espaço da cidade. Estamos nas janelas, atrás das
portas, cidadãos reflectidos em todas as nossas contradições.” – Berry
Bickle e Luís Basto, em
Luís Basto fotógrafo, 2004, Éditions de l’Oeil, Montreuil.
Recuando no tempo, a exposição inclui presenças simbólicas de dois
autores que, de modos diferentes, trouxeram a experiência adquirida na
Rodésia e na África do Sul para desenvolver em Maputo percursos
originais e afirmativos nos anos posteriores à independência, ambos mais
tarde interrompidos.
Rogério Pereira foi um fotógrafo e fotojornalista com itinerário na
África do Sul (1968-1977), em Moçambique (1973-1979) e em Portugal
(1979-1987), que se destacou com uma produção politicamente empenhada e
inquieta, de grande exigência formal. Nasceu em 1942 em Lisboa, foi aos
sete anos para Moçambique, e morreu de cancro em Setúbal em 1987 com 45
anos. Em 1973 expôs no Núcleo de Arte com Ricardo Rangel e Basil
Breakey. Em 1981 mostrou o seu trabalho na Fundação Gulbenkian
(“Momentos”). Em 1990 foi-lhe dedicada uma retrospectiva em duas partes
na Associação Moçambicana de Fotografia com a colaboração de Ricardo
Rangel, Kok Nam e José Pinto de Sá, que escreveu o texto do catálogo.
Uma outra retrospectiva integrou o 1.º Photofesta, em 2002, com o título
“Verdade”.
Moira Forjaz é a autora de
Muipiti, Ilha de Moçambique
(com texto de Amélia Muge, Imprensa Nacional, 1983 – editado sem a sua
supervisão). Nasceu no Zimbabwe em 1942; visitou Lourenço Marques desde
1961; com formação em Graphic Arts na Johannesburg School of Arts and
Design, trabalhou como fotojornalista na África Austral desde 1964, e
viveu em Maputo entre 1975 e 1988; participou na formação da Associação
Moçambicana de Fotografia em 1981 e realizou dois filmes nesse mesmo
ano. Outras publicações: Ruth First,
Black Gold: The Mozambican Miner, Proletarian and Peasant, St. Martin’s Press, New York / Harvester Press, Brighton, 1983 (fotografias), e
Images of a Revolution: Mural Art in Mozambique,
Zimbabwe Publishing House, Harare, 1983 (Albie Sacks, texto; Moira
Forjaz e Susan Meiselas, fotografias). Voltou a expôr em 2009,
“Kukumbula (Memórias) 1976 – 1986”, Espaço de Kulungwana, Maputo, e
prepara actualmente um livro sobre a sua obra.
A organização da exposição teve a colaboração de Filipe Branquinho em Maputo e em Lisboa.