Auto-retratos e retratos de fotógrafos
Podem percorrer-se as duas paredes compactas de fotografias seguindo-lhes os números e o roteiro impresso. Pode deambular-se livremente pela Pequena Galeria apontando reconhecimentos ou preferindo a disponibilidade para os encontros ocasionais. Podem identificar-se figuras com notoriedade pública, nomes conhecidos, ou perseguir afinidades pessoais e gostos próprios, os desconhecidos.
A quantidade (e as qualidades) das fotografias reunidas pelo Guilherme Godinho e a Marta Cruz oferece múltiplas pistas e permite muitos diferentes itinerários. Por exemplo através dos auto-retratos: de Emílio Biel, circa 1895 (que também aparece logo ao lado fotografado por Carlos Relvas, numa prova com o passepartout impresso do autor, apresentada em Paris em 1882), de Fernando Lemos, de José Cabral (por duas vezes, em família, em provas vindas da mostra "Anjos Urbanos" (P4, 2008), e também retratado por Luís Basto, em 2004), de José M. Rodrigues e António Júlio Duarte, de Rita Barros (na foto junta).
E mais de Inês Moura aka Cretina ( http://c-r-e--t--i-n-a.tumblr.com/ ) e da sueca Malin Bergman https://instagram.com/vivaladiva_/ , já com uma outra dinâmica serial e de projecto, encenando o autor como actor, ou como modelo num jogo de construções-ocultações. E entre outros casos ainda a averiguar o Self Portrait de Guilherme Godinho é já outra coisa.
Aos quais - auto-retratos - se podem juntar os retratos de fotógrafos por olhos alheios: Man Ray por Ida Kar, Ricardo Rangel por Sérgio Santimano, no lançamento de Pão Nosso de Cada Noite, em 2005, numa prova pertencente a José Cabral; Manuel Álvarez Bravo por Clara Azevedo (nos Encontros de Coimbra de 1984), Paulo Nozolino por Luís Pereira, de 2012.
fotos de Álvarez Bravo, Vasco Araújo (parte) // Tiago da Cunha Ferreira, Rita Barros, Victor Palla, Ricardo Rangel (1959, Xipamanine 'Blues', cedida por Filipe Banquinho) // do sul-africano Trevor Appleson (col. SRS, recentemente exposto no Chiado 8 - Fidelidade por José M. Rodrigues), Stephen Roach (col. J.M. Rodrigues - é um australiano que em 1981 expôs na Perspektief Galerie, Rotterdam)
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Notáveis e anónimos e outros A propósito do retrato, outra pista de reflexão (depois de se ter passeado pelo tema do auto-retrato e do retrato dos fotógrafos que estão representados na Pequena Galeria: Emílio Biel, Man Ray, Alvarez Bravo, Fernando Lemos, Ricardo Rangel e José Cabral, Paulo Nozolino, José M. Rodrigues, António Júlio Duarte, Rita Barros e também João P. Vale & Nuno A. Ferreira, entre outros), pode equacionar o que distingue a presença de figuras com notoriedade por si mesmo (em geral identificadas nos títulos) em confronto com os rostos e corpos não individualmente identificados ou não reconhecidos.
Na foto junta, encontram-se lado a lado o Salgueiro Maia fotografado por Alfredo Cunha em 1974 (um ícone histórico) e os Índios Krahô de Pedro Lobo, de 1978, bem como os homens tatuados de Marco Castelli & Mattia Micheli (Florença, 2013). De um lado está o encontro ou o reconhecimento de uma identidade conhecida (uma personalidade) e do outro a relação com o anonimato ou a identidade genérica (personagens), o que motiva seguramente diferentes modos de atenção e apreciação.
Aliás, nestes dois últimos casos, o retrato encontra-se com outra prática da documentação (etnológica, sociológica), tratando-se de dar a ver elementos de duas tribos, uma amazónica e outra urbana, comparando-se pela inteligência da montagem o respectivo estatuto documental-e-artístico e as suas respectivas marcas rituais. Noutro caso, o das fotos de Ágata Xavier o retrato é já outra coisa, a relação privada, acessível só a uma rede de proximidades pessoais ou então anónimo/anódino e também por isso mesmo desafiador da atenção.
No capítulo dos "conhecidos" estão presentes Matisse por Cartier-Bresson (1951), John Malkovitch pelo arquitecto catalão Roger Blasco, Niemayer por Gonçalo Cunha de Sá, Álvaro Siza por Fernando Guerra (tantos arquitectos...), Jean Sibelius por Karsh (1954), um retrato de Almada Negreiros de autor desconhecido (1921), mais Isaac Asimov e Iggy Pop por Rita Barros. E talvez outros conhecidos (por outros) que eu-observador não reconheço. Para além da situação do autor que se usa como modelo e que se não identifica ou apresenta como auto-retrato. O espaço é pequeno, mas os tópicos para uma visita atenta são muitos.
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