sábado, 17 de novembro de 2018

ETHER 3: Uma pequeníssima história de António Sena e algumas objecções

LAPIZ, Ano VIII Número 70 Verano de 1990
Nº especial sobre Portugal, pps 66-71
ANTÓNIO SENA
"Pequeñísima historia de la fotografía en Portugal"

uma cronologia, um ponto da situação, uma história em construção. 
E algumas objecções ou pistas a explorar

Parafraseando o inicio do artigo de António Sena, podemos dizer que somos hoje mais ignorantes sobre a fotografia do que os seus leitores de 1990

"A obra de Benoliel pode entender-se como uma síntese de Atget. Paul Martin e Salomon"

Marques da Costa é também o autor principal do álbum "Exposição-Feira de Angola 1938", editado em Luanda, que ficou por muito tempo desconhecido




Sabe-se hoje que os salões e concursos não eram um pequeno universo claustrofóbico e que a informação internacional chegava e era seguida rapidamente em Portugal (dentro e a partir dos Salões se renovou a fotografia em Espanha e no Brasil). Entre Adelino Lyon de Castro e os defensores da "fotografia pura" circulavam diferentes práticas atentas da fotografia, 
nos modos próprios dos anos 40 e 50. 
E à margem dos Salões fotografou Maria Lamas nos anos de 1948-49

A afirmação de que a reacção do público à edição de Lisboa, 'cidade triste e alegre' "foi, em geral, de repulsa e indiferença" e de que "o livro foi um fracasso editorial" não corresponde à realidade. Duas exposições nas galerias Diário de Notícias e Divulgação (Lisboa e Porto), a publicação em fascículos sustentada por assinaturas (como era uso à época), várias críticas elogiosas na imprensa e, mais tarde, dois programas da RTP (de David Mourão Ferreira) contrariam a tese do fracasso editorial e do esquecimento quase imediato. Não foi um bestseller (e não o seria em parte alguma), mas não se justifica o miserabilismo que se atribui a outros.


Se Victor Palla e Costa Martins, que viviam do seu trabalho esforçado de arquitectos e estavam ligados às Exposições Gerais, puderam expor e publicar, em 1958-59, se o trabalhador gráfico Fernando Lemos pôde expor duas vezes (1952) antes de emigrar em 1953, se João Cutileiro expôs fotografias logo em 1961, por que raio optaram pelo silêncio os fotógrafos "secretos" que se reuniram por algum tempo num Salão privado e de que a Ether veio a expor os inéditos nos anos 80? Por displicência elitista, por diletantismo aristocrático, por comodismo?

Várias chaves essenciais para se entender a fotografia dos anos 40-50 são omitidas: a publicação de As Mulheres do Meu País, de Maria Lamas, em 1948-49, e o activismo documental e crítico de Adelino Lyon de Castro, desde 1946, no quadro salonista, devem justificar a entrada da fotografia na EGAP de 1950 e a premiação deste último no 1º (e único) Salão de Arte Fotográfica do Jornal do Barreiro, onde apareceu Augusto Cabrita.

Escondeu-se a favor de um surrealismo já serôdio a influência da Fotografia Subjectiva divulgada e organizada por Otto Steinert, a partir da Alemanha, e de que Fernando Lemos é um brilhante adepto logo em 1952 (veja-se a "Nota sobre 'Fotografia subjectiva' " de J.A. França, artigo  ignorado e citado sem título, de início de 1953). Victor Palla seguiu a mesma orientação nos inícios da década de 50, como se pôde ver na exposição-leilão de 2008 (P4 Photography).

A acção de divulgador e dirigente foto-clubista levada a cabo por Eduardo Harrington Sena no suplemento do Jornal do Barreiro, no Foto-clube 6x6 e nos Salões do Grupo Desportivo da CUF segue uma orientação formalista com boa informação internacional, onde o apelo à "fotografia pura" nos limiares da abstracção coexiste com o arcaico gosto pictorialista e sentimental. (Como se viu em "Batalha de Sombras", de Emília Tavares, V.F.Xira 2009)

As orientações documentais recuperam logo um maior dinamismo face ao experimentalismo e à artisticidade formalista, a partir de 1954-55,  em sintonia com a mobilização mundial em torno da exposição The Family of Man: a revista "Fotografia", que foi um orgão do salonismo fotográfico, publicava no seu nº 2, de Março de 1954, pp. 30-31, uma extensa notícia-convite à participação assinada por Edward Steichen. ( Family of Man )A mostra não veio, mas os ecos na imprensa internacional chegaram depressa.
Victor Palla muda então de direcção de trabalho e percorre Lisboa com Costa Martins, a fotografia volta à Exposição Geral da SNBA em 1955, os arquitectos, dinamizados pelo também fotógrafo Keil do Amaral, dedicam-se ao Inquérito à Arquitectura Popular, outra grande aventura fotográfica de primeira importância que A.S, aqui não refere.



Na década de 80 foi possível ver exposições tão importantes como as de Robert Frank, Dieter Appelt, Joel Peter Witkin, Brain Griffith e Duane Michals, além das colecções Wagstaff e Nash...
Em meados dos anos 90 começou uma involução que se prolonga até hoje


O nº especial foi coordenado por Bernardo Pinto de Almeida

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