Fotografias de José Cabral e Luís Basto
(e duas pequenas homenagens a Rogério Pereira e Moira Forjaz)
No Centro Intercultura Cidade: http://interculturacidade.wordpress.com
Entre o pioneiro Ricardo Rangel e os novos fotógrafos que têm passado pelo BES Photo e o Próximo Futuro da Gulbenkian – Mário Macilau, Mauro Pinto e Filipe Branquinho –, existem as obras dos que se distanciaram daquilo a que se pode chamar a escola moçambicana de fotografia, a tradição fotojornalística e humanista, que conta, aliás, com um número extenso de bons autores. José Cabral (n. 1952, Maputo) é o homem da ruptura, que veio trazer ao colectivo da fotografia de Moçambique a necessidade do discurso pessoal, fundado num conhecimento alargado da fotografia internacional e na abertura a interesses culturais amplos, para além do quadro nacional e africano.
A referência autobiográfica presente nas suas últimas três exposições (“As Linhas da Minha Mão”, 2006 Maputo, 3º Photofesta; “Anjos Urbanos / Urban Angels”, 2009, P4 Photography, Lisboa, e Maputo; “Espelhos Quebrados”, 2012, Maputo) é uma contribuição corajosa para pôr em evidência o papel e o lugar de quem observa, e que assim, ao expor também a sua história própria, intervém lucidamente como artista nos acontecimentos do presente de um país em mudança. Durante e depois da dinâmica colectiva, com as suas vicissitudes imprevistas, e também terríveis, era tempo de cada um se interrogar a si mesmo e ao possível sentido do percurso comum. Vêem-se agora em “De Maputo” obras escolhidas dessas três exposições: a antologia pessoal, as crianças (os filhos de Cabral e os dos outros, com uma óbvia diferenciação de cor de pele e de meios sociais) e por fim os quase auto-retratos que sinalizam um itinerário de vida e de cumplicidades (agora sob o título geral "De Perto").
José Cabral é hoje a referência cultural e o mestre indisciplinado dos jovens fotógrafos, com uma extensa obra realizada desde que em 1975 começou a trabalhar como fotógrafo no Instituto Nacional de Cinema, a que se seguiram alguns poucos anos de repórter fotográfico de agência, depois no Notícias e no Domingo, com Rangel em 1981-82, mais tarde professor no Centro de Formação Fotográfica, de 1986 a 1990. Em 1996 publicou o primeiro livro A Guerra da Água, edição da Ébano Multimédia associada ao filme de Licínio de Azevedo com o mesmo nome (a cores, com problemas de impressão). Tem tentado viver como fotógrafo em Maputo, o que é bem difícil.
Luís Basto (n. 1969, Maputo) é igualmente um autodidacta (tal como Cabral aprendeu a fotografia em casa com um pai fotógrafo amador), e tem um trabalho próprio e reconhecido, que esteve presente em colectivas internacionais como “Africa Remix” (2004) e “Snap Judgments – new positions in contemporary african photography” (2006) de Orkui Enwezor, aqui como único representante de Moçambique. Ao mesmo tempo que tem construído um grande banco de imagens documentais do país (www.mozambiquephotos.com), é um fotógrafo da cidade e da capacidade de sobreviver que aí se refugia: "Os anos vazios passaram; com eles o destino de uma geração que deveria combater pelas razões de outros homens. Muitos nascidos na paz não têm memória das vidas fragmentadas que inundavam a cidade como almas penadas. Donde viemos e onde estamos agora enquadra-se menos no tempo que nas dimensões de espaço da cidade. Estamos nas janelas, atrás das portas, cidadãos reflectidos em todas as nossas contradições." – Berry Bickle, em Luís Basto fotógrafo, 2004, Éditions de l’Oeil, Montreuil. Para esta exposição enviou uma série intitulada "Espaços Iluminados".
Recuando no tempo, a exposição inclui presenças simbólicas de dois autores que, de modos diferentes, trouxeram a experiência adquirida na Rodésia e na África do Sul para desenvolver em Maputo percursos originais e afirmativos nos anos posteriores à independência, ambos mais tarde interrompidos.
Rogério Pereira foi um fotógrafo e fotojornalista com itinerário na África do Sul (1968-1977), em Moçambique (1973-1979) e em Portugal (1979-1987), que se destacou com uma produção politicamente empenhada e inquieta, de grande exigência formal. Nasceu em 1942 em Lisboa, foi aos sete anos para Moçambique, e morreu de cancro em Setúbal em 1987 com 45 anos. Em 1973 expôs no Núcleo de Arte com Ricardo Rangel e Basil Breakey. Em 1981 mostrou o seu trabalho na Fundação Gulbenkian (“Momentos”). Em 1990 foi-lhe dedicada uma retrospectiva em duas partes na Associação Moçambicana de Fotografia com a colaboração de Ricardo Rangel, Kok Nam e José Pinto de Sá, que escreveu o texto do catálogo. Uma outra retrospectiva integrou o 1.º Photofesta, em 2002, com o título “Verdade”.
Moira Forjaz é a autora de Muipiti, Ilha de Moçambique (com texto de Amélia Muge, Imprensa Nacional, 1983 – editado sem a sua supervisão). Nasceu no Zimbabwe em 1942; visitou Lourenço Marques desde 1961; com formação em Graphic Arts na Johannesburg School of Arts and Design, trabalhou como fotojornalista na África Austral desde 1964, e viveu em Maputo entre 1975 e 1988; participou na formação da Associação Moçambicana de Fotografia em 1981 e realizou dois filmes nesse mesmo ano. Outras publicações: Ruth First, Black Gold: The Mozambican Miner, Proletarian and Peasant, St. Martin’s Press, New York / Harvester Press, Brighton, 1983 (fotografias), e Images of a Revolution: Mural Art in Mozambique, Zimbabwe Publishing House, Harare, 1983 (Albie Sacks, texto; Moira Forjaz e Susan Meiselas, fotografias). Voltou a expôr em 2009, “Kukumbula (Memórias) 1976 – 1986”, Espaço de Kulungwana, Maputo, e prepara actualmente um livro sobre a sua obra.
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http://issuu.com/p4live/docs/2009_05_05a.org/ (Urban Angels)
mais informação sobre a fotografia em Moçambique em http://www.mozambiquehistory.net/fotografia.html( Mozambican Photography and Photographers 1960s to 1990s - alguns documentos e links)
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Produção d'A Pequena Galeria/Alexandre Pomar, agora no Centro Intercultura Cidade
A organização da exposição teve a colaboração de Filipe Branquinho em Maputo e em Lisboa.
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