A amálgama realizada por Ângela Ferreira ao juntar imagens documentais filmadas por Margot Dias e as montagens saudosistas do vídeo "Moçambique - Do outro
lado do tempo" (de Luiz Beja - Prod. Beja Filmes, Massamá), projectadas
sem identificação reconhecível, vem agravar a repugnância crescente que
me tem provocado a actuação tida por artística da referida srª.
Parece-me do domínio do abuso de confiança, do desvio delinquente, do
confusionismo ideológico primário a coberto do "pensamento pós-colonial".
Não estando editados os filmes de Margot Dias, tratou-se de uma
utilização autorizada? E por quem? A "obra" de A. F. tem por objecto ou ambição denunciar o colonialismo de Jorge e Margot Dias e também a cumplicidade
entre o Museu Nacional de Etnologia e o antigo Ministério do Ultramar -
tudo com base na indigência analítica, na preguiça metodológica e na
debilidade formal das fotos que mandou fazer, bem como da construção apresentada
como escultura.
Tratar-se-ia,
diz a apresentação no catálogo, de uma "visão perspicaz da vida e da obra dos
antropólogos" Jorge Dias e Margot Dias..., sobre "a agenda política
escondida por trás das investigações do casal Dias e das suas alianças
com o regime salazarista"..., que "faculta ao público a possibilidade de
ler nas entrelinhas". É grave o equívoco em que induz os incautos.
Ora nem se trata do resultado inédito de alguma investigação original, ou do uso de informação desconhecida, nem as afirmações que constituem a denúncia de uma "agenda escondida" são legítimas e correctas.
Há mais alguém (da área da Antropologia, por exemplo) que
se incomode?