O olho e o olhar de Mauro Pinto
A
fotografia é uma forma de comunicação, uma linguagem de leitura
universal tendo ao longo do tempo apoiado a nossa memória, quer
individual quer colectiva, assumindo uma importância vital na evolução
das artes e ganhando por mérito próprio um lugar entre elas.
O
trabalho de Mauro Pinto é resultado de uma forte referência da tradição
do fotojornalismo Moçambicano e da sua tradução para uma linguagem
contemporânea, reinventando consigo novos
formalismos e temáticas. Há uma clara dualidade no seu trabalho, entre a
continuidade de nos mostrar os alertas sociais que se apresentam ao seu
redor e o rompimento de uma dialéctica de leitura directa,
experimentando, sem preconceitos, novas soluções estéticas e
conceptualmente mais complexas. O seu trabalho assume uma dicotomia
entre o regional e o global, entre norte e sul, entre a abundância e a
escassez. Mauro Pinto é um fotógrafo comprometido com um olhar de alerta
do seu tempo. Representa a resistência de um contexto periférico e a
coragem da inevitável afirmação de um olhar original em circuitos
regionais e inter-continentais, afirmando-se como um fotógrafo de
contrastes e de forte dinamismo social
tem no seu trabalho uma boa base para o
entendimento de diferenças e semelhanças entre várias culturas. Com
resultados formais mais ou menos complexos o seu espaço como comunicador
de imagens já ultrapassa claramente o retrato do seu meio, estando no
entanto bem evidente ao longo da sua obra, apresentando uma linguagem
universal cada vez mais equilibrada, firme e lúcida.
Mauro
Pinto tem vindo a posicionar-se entre as referências Nacionais no
contexto fotográfico, tendo ainda um largo espaço de evolução, afirma-se
como um dos obreiros da nova fotografia Moçambicana
António Vergílio
Fotografia/Photo: Filipe Branquinho
#
8ª edição do Prémio BESPHOTO.
CCB, 17 Abril a 27 de Maio e Pinacoteca em S. Paulo, 16 de Junho.
foto Mauro Pinto
Dá Licença”
foi, entre Novembro de 2011 e Janeiro de 2012, a minha senha de entrada
para a realização deste projecto fotográfico no Bairro da Mafalala, em
Maputo.O
que desenho nesta proposta não é um mapa, não são somente as
linhas limítrofes da cidade de cimento e da Mafalala, ou a topografia
de tecido urbano com a especulação imobiliária que pulsa. O que
trago para aqui é uma certidão de nascimento narrativa, pessoal e
colectiva. É uma árvore genealógica descrita nestes móveis, nesta luz,
nestas bugigangas, pertencentes a estes negros, mestiços, emigrantes,
imigrados, resistentes.“Dá licença” passa assim a ser uma interjeição afirmativa para iniciar um relato e afirmar uma existência.
Mauro Pinto
Viagem sem inocência
“Porto de Luanda” e “Porto de Maputo” exibem os primeiros
resultados do projecto “Portos de convergência” onde investigo as
relações das culturas da África Austral com o resto do mundo, em
particular com o continente americano e europeu, numa busca do que
será legado o africano em outros continentes.
Historicamente, é no triângulo Africa-América-Europa que se desenham
as principais rotas da migração massiva e bruta feita pelo comércio de
escravos africanos. Para se entender realmente a importância do legado
africano em terras estrangeiras, é necessário retroceder aos pontos
históricos de partida e de chegada das populações oriundas de África: os
portos marítimos.
Esta revisitação de lugares que retoma percursos, refaz rotas de
entrada e saída, numa repetição de trajectos e locais, não tem
qualquer inocência. É antes uma busca activa das marcas dos antepassados
e, simultaneamente, o confronto, e o seu registo, com a continuidade
desta circulação, deste tráfego/tráfico migratório marginal, condenável,
condenado e consentido, que exporta, de forma tão mal acondicionada,
África para o mundo.
Mauro Pinto
Fot António Luís Sousa, 20 Nov. PG