quarta-feira, 10 de julho de 2013

Grupo d'Évora no Público (8 de Maio)

por Sérgio Gomes, do Público (#2, Revista,  8 de Maio, pág. 36-39) 

http://artephotographica.blogspot.pt


A Pequena Galeria juntou o Grupo d"Évora, fotógrafos que estavam juntos sem o saber

Damos o primeiro passo e, sem aviso prévio, encontramos logo o riso e a chalaça visual (António Carrapato). Damos outro passo e somos invadidos pelo cheiro a sacristia, cercam-nos os santos, bamboleiam os altares a cair de podre (Pedro Lobo). Um passo para a direita e vemo-nos ao espelho através de um patchwork de retratos pouco vistos no álbum de família da cultura portuguesa (João Cutileiro). Outro passo mais para a esquerda e somos armadilhados pelo jogo sedutor das imagens duplas (José M. Rodrigues). Já no fim, ao quinto passo, voltamos ao início, à fotografia alegre e divertida (Carrapato) e também aos tons de roxo, ao odor a cera e... ao Senhor dos Passos (Lobo).

Mas isto é um grupo? É - o Grupo d"Évora que, sem saber, já existia. Quem os juntou foi Alexandre Pomar para a terceira exposição na Pequena Galeria, em Lisboa, que pretende tão simplesmente reunir fotógrafos que gravitam em torno daquela cidade alentejana mas que têm um olhar muito para lá da geografia. "A ideia foi dar a conhecer um núcleo de fotógrafos de carreira excepcional que não tinha uma dinâmica de grupo. Acontece que Évora já teve uma grande dinâmica de grupos de artistas e por isso achei interessante juntá-los pegando num título que já vem de trás", explica Pomar.

A mescla de estilos, formatos e famílias fotográficas de Grupo d"Évora (até 11 de Maio) é grande, diversidade que o comissário transformou num desafio de montagem nas paredes altas da Pequena Galeria que tem um espaço expositivo que se percorre em breves cinco passos (mais coisa menos coisa). Alexandre Pomar vê esta limitação como uma mais-valia, já que implica mostras com trabalhos de dimensões reduzidas, o que, em regra, também faz baixar os preços (aqui começam nos 100 euros). Pedro Lobo costuma expor o seu trabalho em grandes formatos, mas para esta exposição foi obrigado a repensar as imagens da série In Nomine Fidei, trabalho sobre a decrepitude de espaços e objectos religiosos que o levou a procurar molduras antigas que ditaram novos reenquadramentos (cada trabalho é por isso um objecto único).

Tentando contrariar uma tendência de "usa e deita fora" de muitas galerias que trabalham na área da fotografia de novos autores, Pomar sublinha a importância de mostrar o trabalho menos conhecido de nomes já firmados. Como o de João Cutileiro, dono de um acervo de retratos da cena cultural portuguesa pouco vistos em público. Cutileiro (que nem quer ouvir falar em séries numeradas) optou por mostrar impressões a jacto de tinta feitas na sua impressora caseira. José Manuel Rodrigues, por seu lado, revela uma série de fotografias inédita (água, paisagem e auto-retrato), instaladas com papel vegetal por cima, também ele impresso com imagens da sua autoria. De António Carrapato (colaborador do PÚBLICO) mostra-se uma faceta autoral rara em Portugal: a do humor, da fantasia e do divertimento. Porque rir nunca foi tão preciso.

Da série In Nomine Fidei
© Pedro Lobo

Évora, 2010
© António Carrapato

Gérard Castello Lopes, 1962, Praia da Salema - Algarve
© João Cutileiro

Viana do Alentejo, 2-17-2012, 1h31
© José M. Rodrigues

domingo, 7 de julho de 2013

APomarGaleria: A seguir SINES

APomarGaleria: A seguir SINES: 12 de Julho, inauguração às 21h, Centro Cultural Emmerico Nunes Também com David Infante (col. Galeria Módulo) 12390948  ...

A seguir SINES

12 de Julho, inauguração às 21h, Centro Cultural Emmerico Nunes


Quatro fotógrafos com carreiras diferentemente extensas e reconhecidas que foram associados para a exposição sob uma designação já usada com frequência por artistas nascidos ou a trabalhar em Évora. Ou seja, o Grupo não existia nem passou a existir, e vários dos fotógrafos nem se conheciam pessoalmente. 
Há outros fotógrafos activos e reconhecidos em Évora, mas a escolha foi esta:
Com o escultor João Cutileiro, também fotógrafo desde os anos 50 (expôs fotografias pela 1ª vez em 1961, publicou em 1971 fotos de 1959 e 1963 - Cutileiro fotógrafo ); o "consagrado" José M. Rodrigues, Prémio Pessoa; o brasileiro de longa obra e itinerância Pedro Lobo e o fotojornalista António Carrapato, 

e agora também
com David Infante (col. Galeria Módulo)

12390948

 

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 Évora, Palácio da Galeria, 17 de Maio a 8 de Junho: "4 em Évora" 

ver: 4 em Évora / Grupo de Évora // “ÉVORA GROUP” / “4 IN ÉVORA”

 




 

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A Pequena Galeria, Lisboa ( 26 de Abril a 11 de Maio )





A Pequena Galeria



Fotos de José Cabral, PG Junho 2013



em "DE MAPUTO", A Pequena Galeria, 26 Junho - 14 Julho 2013


1 e 2  Iluminando Vidas (recusadas - impossíveis de expor em Bamako, 2003) // 3 e 4, provas de As Linhas da Minha Mão 2006 Ilha de Moçambique) / 5 e 6, provas de Anjos Urbanos (P4 Lisboa 2009 - cat.: http://issuu.com/p4live...)


1 e 2 As Linhas da Minha Mão, 2006 ; foto 1 exp. em Salão # 1 (inauguração) P.G. Março 2013 // 2 exposto em Anjos Urbanos 2009 // 3 a 6, provas de Anjos Urbanos // 3 tb exposto em Espelhos Quebrados 2012 / 4 tb reprod. em Iluminando Vidas
1 prova de As Linhas da Minha Mão, 2006 e foto tb exp. em Anjos Urbanos 2009 // 2 a 6 provas exp. em Anjos Urbanos

"De Perto" - fotos expostas em Espelhos Quebrados, Maputo 2012 (1 a 6) - legendas abaixo
"De Perto" - fotos expostas em Espelhos Quebrados, Maputo 2012 (1 a 4)



www.flickr.com






sábado, 6 de julho de 2013

JOSÉ CABRAL, Urban Angels / Anjos Urbanos 2009

Outras Fotos / Other Photos








Sena da Silva

À esq. fotografia de Sena da Silva: Elevador, Lisboa, 1956/57 (impressão de António Paixão), prova de época, nº 36 do catálogo "Uma Retrospectiva", Fundação de Serralves / Fotoporto; comissariado de Anrónio Sena / ether.
A direita, fotografia atribuída a Sena da Silva na exp. "Uma antologia fotográfica", apresentada pela CML na Cordoaria, comissariada por Sérgio Mah.

É injustificado o uso do negativo integral, o quadrado próprio da Rollei, no caso de um fotógrafo que usou regularmente os reenquadramentos, e assim se transforma a excelente imagem da esq. numa fotografia banal, ao alcance de qualquer turista preguiçoso e descuidado. Conhecendo-se uma prova de época deixada pelo autor e exposta em vida, a opção é ignorante, além de preguiçosa e descuidada. O autor interpretou o seu negativo, criou uma fotografia. Uma reimpressão integral do negativo é também uma interpretação, mas errada, é o falsear de uma fotografia - é a produção de um falso. Este é um caso de polícia. Os exemplos idênticos sucedem-se no caso de várias fotografias de referência de Sena da Silva, e as outras fotos (num total de 200!) são em geral anódinas ou meras curiosidades que atentam contra a importância da obra do autor.
A exposição deve ser encerrada e o comissário pelo menos despedido, se nenhuma entidade responsável o quiser ou puder acusar de atentado aos direitos de autor.
Sena da Silva maltratado numa exposição de restos : versão extensa com mais exemplos comparativos entre as fotografias de Sena da Silva e as novas versões falseadas.
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O Luiz Carvalho escreveu na sua página do fb sobre o que escrevi sobre o Sena da Silva. É um curioso contributo para a história da cultura fotográfica actual (com memórias dos anos 80/90.) Transcrevo:
"Discordo completamente com* o Alexandre Pomar.
A exposição do Sena da Silva que o Sérgio Mah editou é de uma notável qualidade de edição e produção. Não s
ão fotografias de época, são fotografias recuperadas e muito bem impressas, cuidadosamente impressas.
Tenho alguma autoridade para o dizer, mais certamente do que o Alexandre POmar que fez uma vida a escrever sobre artistas plásticos alternativos e que muito recentemente descobriu as maravilhas da fotografia.
As discussões que tivemos, nos anos 80-90, no sótão do Expresso entre ele, o Rui Ochoa, o António Pedro Ferreira e eu, terminavam aos berros porque o Alexandre Pomar, que prezo e por quem tenho amizade, mostrava sempre falar de fotografia com critérios diferentes da linguagem fotográfica. Sempre olhou para a fotografia como se fosse uma montagem de um desses artistecos pós-modernos.
A imagem original em causa é muito melhor, tem espaço à direita que lhe dá profundidade e põe a dialogar espaços diferentes, e valoriza a perspectiva. A imagem original não respira, está truncada, embora evidencie as verticais que transformam a cena numa jaula.
Mesmo que se possa discutir a apresentação do enquadramento original numa prova que o autor cropou, acho que o critério de respeitar o formato original, quadrado, 6x6, da Rolleiflex, acaba por valorizar tudo o que Sena da Silva viu.
Agora é natural que algumas vozes se levantem contra esta exposição.
O filho António Sena da Silva, que nos anos oitenta se quis afirmar como o mentor da fotografia portuguesa, outro artista plástico que apanhou a Leica do pai e começou a fotografar, sem talento nenhum, um fotógrafo falhado que Alexandre POmar promoveu no Expresso** como "crítico fotográfico", o que só dá vontade rir, deve estar incomodado com a excelente exposição.
ASSilva foi nos últimos anos indiferente à obra do pai e este espólio pertence à viúva, a sua ( dele Sena da Silva) segunda mulher.
Os lobbies agitam-se.
Parabéns ao Sérgio Mah, uma pessoa séria e de grande talento. Este sim um bom mentor da fotografia.
Todos a ver a exposição.
Vai haver uma edição especial do FOTOGRAFIA TOTAL sobre SEna da Silva."
* Deveria ser Discordo de...
** No Expresso também "promovi" Pedro Miguel Frade e Jorge Calado, na área da crítica de Fotografia. Sobre o fotógrafo em causa, o texto dereferência continua a ser" Sena da Silva: viagem ao passado", de Jorge Calado, Expresso/Revista de 23/Maio/1987, pág. 56R.
Comentário agradecido:

Passando sobre os comentários anedóticos (" Sempre olhou/ei para a fotografia como se fosse uma montagem de um desses artistecos pós-modernos"), o que importa é a apreciação das duas imagens reproduzidas : a obra de Sena e a variação sobre ela que o comissário se autorizou fazer, reinterpretando o negativo de outro modo - o que tem a ver com a apreciação formal e estética e também com a consideração da legitimidade ou não do uso arbitrário de um negativo por outrem que não o autor, em especial quando se conhece a intenção e a obra original desse autor/artista, quer numa prova de época quer numa reprodução tipográfica. Ou seja, sobre a obra de Sena e a atribuição da mesma autoria a uma outra e diferente obra, o que entra no domínio da produção de falsos.
"A imagem original em causa é muito melhor, tem espaço à direita que lhe dá profundidade e põe a dialogar espaços diferentes, e valoriza a perspectiva. A imagem original não respira, está truncada, embora evidencie as verticais que transformam a cena numa jaula."
L.C. chama certamente por lapso "obra original" à impressão recente (póstuma) quando a obra de Sena da Silva, a obra autêntica e original, a única legítima, é aquela de que ele orientou a produção no laboratório de António Paixão. É revelador de um entendimento particular (que se diria pré-moderno, ou naif, ingénuo) a preferência pela versão póstuma que "valoriza a perspectiva" (porquê o valor perspectiva se há outros valores escolhidos, no caso a quase frontalidade de parte do elevador?), com a mulher à janela e a sequência tripla das três janelas das casas, por onde se distrai o olhar e dilui o ritmo das janelas do elevador: com o quarto degrau que constitui o passeio oblíquo, desagrega-se a tensão geométrica e formal encontrada no elevador "cropado". Note-se tambéma importância atribuída à "respiração", o uso da palavra "truncada" e o comentário final que poderia abrir uma porta (uma janela, no caso) para o entendimento da obra em causa: "as verticais que transformam a cena numa jaula". Mas o L.C. é que é professor e crítico, e conhece os "critérios da linguagem fotográfica", os autênticos.
Além de tudo o resto, que tem a ver com o excercício do olhar e com o bom senso, o culto ingenuamente devocional "à Cartier-Bresson" do negativo integral não se aplica aqui, como em geral acontece quanto aos utilizadores da Rollei: o quadrado é para recortar num segundo reenquadramento tão legítimo ou mais do que o primeiro, a fotografia é feita no laboratório e em especial no ampliador (e como é do saber corrente o negativo é uma partitura a interpretar - por exemplo, uma obra para violino passada para piano chama-se uma transcrição).