Não é por falta de fontes que a Exposição-Feira ficou esquecida. É porque se fazem demasiados doutoramentos e mestrados e trabalhinhos escolares sobre temas ociosos; é porque não se investigou nem investiga a documentação que por aí existe. Não investigaram os doutores catedráticos e por isso não têm "moral" ou autoridade para fazer investigar os estudantes - aliás, como poderiam eles avaliar a investigação sobre temas e tempos que ignoram?
A Exposição-Feira não consta da história dos tempos imperiais de Salazar. Certamente as autoridades de Lisboa não apreciaram a iniciativa do governador coronel António Lopes Mateus (1935-1939), um ministro da Ditadura, nem a pressão reivindicativa dos colonos, ou angolanos (tout court, de origem europeia e ± miscigenados). Certamente não se apreciou uma Exposição que não seguia o modelo arcaizante e africanista de Galvão (1934 e 1940), nem o modelo moderno nacional-cosmopolita do SPN de Ferro (1937, 1939, 1940, etc). Certamente a II Guerra veio alterar as expectativas abertas pelo Plano de Fomento de 1936-38. Certamente a Exposição teve uma escala de ambição e um espaço desmesurado para o pequeno número de visitantes possíveis. Mas a razão da ignorância não está aí. Não se encontrou informação porque não se procurou.
Existe o Álbum Comemorativo enviado pelo Governo-Geral (algumas bibliotecas universitárias livraram-se do volume: conheço 2 casos, um deles é meu, outro foi para a Biblioteca de Artes).
Existem algumas páginas no 2º volume do Álbum "Alguns aspectos da viagem presidencial às colónias de S. Tomé e Príncipe e Angola", Agência Geral das Colónias, Vol. II, 1939, 206 pags. (Ver http://memoria-africa.ua.pt )
Existem páginas e páginas de discursos e reportagem no "Boletim Geral das Colónias" [Números especiais dedicados à viagem de S. Ex.ª o Presidente da República a S. Tomé e Príncipe e a Angola (I e II)] Agência Geral das Colónias, Vol. XIV - 162 Dezembro 1938 (págs 380-391) e Vol. XV - 163, Janeiro 1939, 680 e 628 pags. Ver http://memoria-africa.ua.pt
Existe um anexo fotográfico na revista "O Mundo Português" (sem informação escrita...), de Dezembro 1938, cujas fotos foram reproduzidas na revista "Arquitectura Portuguesa e Cerâmica e Construção (reunidas)" também de Dezembro de 1938 (Ver outras-fotos).
Existe a reportagem do "Diário de Lisboa" (de Rogério Perez, enviado especial) e outra anterior à inauguração, de 28 de Julho (ver Diário de Lisboa , acedido por via digital na Fundação Mário Soares)
Existe o "Diário de Luanda" na BN, microfilmado, e certamente muito mais...
O episódio interessou a alguns por via da arquitectura (foi divulgado primeiro por José Manuel Fernandes), por via do design e da fotografia. O resto (o contexto político-económico, a situação histórica) continua por estudar, e ainda há algumas testemunhas presenciais...
Um dos tópicos a considerar é a diversidade das fotos (da Exposição e em geral da visita de Carmona) divulgadas pela revista "O Mundo Português" e as que se incluíram pouco depois nos álbuns do SPN e do Governo Geral de Angola. As primeiras são formais, oficiais, protocolares (de um protocolo obviamente conservador ou fascista - a saudação fascista está muito presente) - e hostis quanto à grandiosidade (absurda?) da Exposição; as segundas podem ser informais, movimentadas e espontâneas (o "flagrante instantâneo"), e o álbum angolano é moderno no gosto e eficaz na informação/propaganda sobre a arquitectura e o design, para além de ser talvez insólito (e fantasmagórico, às vezes) quanto aos espaços vazios e aos personagens negros.
Sem comentários:
Enviar um comentário