segunda-feira, 26 de agosto de 2013

domingo, 25 de agosto de 2013

Sines, IMPROVISOs - 2

 É uma exposição para esmiuçar, para rever e revisitar, tb através dos catálogos anteriores do JMR: 
a sequência quase ao centro na foto 2 de Sines (série de 6 quadrados a preto e branco) 
esteve representada em "Ofertório" 1998 por uma imagem isolada: 
Amsterdam 1986 (prata, 38x38cm) - pág. 44, secção Retratos e Auto-retratos. A cara do autor sobrepõe-se a um manequim sem rosto, numa filiação surrealista

Na "Antologia Experimental" de 2008 (Évora, Palácio da Inquisição, prod. Fundação Eugénio de Almeida, comis. Rui Oliveira, cat. esgotado), a série que era então de 5 fotos chamou-se Espelho/Mirror - Amsterdam 1986, em provas digitais 50x50cm:


Em Ankara 2009 (a tiragem de 750 cat. ainda não esgotou) eram também 5 provas, mas agora em Sines são seis como se vê acima...

Não se diz, mas alguns sabem e descobre-se numa observação cuidada, que se trata de um auto-retrato; o espelho que apareceu depois no título (antes Amsterdam 1986) é enquadrado por uma moldura sobreposta (o pai era um artista na realização de soberbos espelhos biselados, de grande tradição alentejana, e não só), e é a mão do fotógrafo que segura o disparador que se vê emoldurada - no 4º episódio da série o rosto passou a estar dentro da moldura. As cordas que noutros casos evocam martírios aqui lembram-me coisa de barcos, o que a parede (própria de algumas naturezas-mortas barrocas) inferior ainda mais acentua. Posso estar a ser sugestionado por saber que em certa fase da vida (Paris ou Amsterdão?) o Zé vivia num barco, mas não importa. Trata-se de um sequência fotográfica performativa e a observação deve ser tb movimentada.


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No Expresso / Actual de 24 de Agosto, Jorge Calado escreveu sobre a exp. e Cristina Margato entrevistou o artista, que foi capa da edição, com um auto-retrato original especial para a ocasião


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E em Sines, além da exp. do CAS (até 29 Set.) deve ver-se a do CCEN (até 28 Set.): 
a fotografia passa o Verão em Sines!






SINES, os IMPROVISOS do José M. Rodrigues - 1

1
No Centro de Arte de Sines, "sala" 03 (Foto JMR)


2

Sala 04 (Foto JMR) e, à direita, a rampa para a série dos Borgia/los Borja, exposta pela 1ª vez em Gandia (Valencia), 2010. No ângulo superior direito, a revisitação/recriação do retrato do filho Manuel (1996-2008):
Aqui numa imagem aproximada (Foto JMR): Sem título 1996/2008
No catálogo de Ankara 2009, "Experimental Anthology", ainda disponível, encontra-se reproduzid reproduzido com o título Garvão 1996/2008, digital print, 220x112 cm:

página do catálogo (nº31)


E é esta a versão de 1996 exposta na retrospectiva de 1998 "Ofertório", Culturgest/CGD (comis. Jorge Calado), nº 50 do cat.: Garvão 1996, halogenetos de prta 37x45,5cm. (Tudo se transforma, enquanto outros se repetem).





sábado, 17 de agosto de 2013

Alguém ensaia


  • Não, a ideia de que a fotografia é o retrato fiel de um parcela do mundo não é um equívoco que a acompanha (à fotografia) desde o início. O Hippolyte Bayard (um dos inventores - porquê a data de 1826 quando há várias outras?) tratou de o demonstrar logo em 1840, um ano depois da comunicação oficial.
    Não, a questão da reprodutibilidade não pesava como uma espécie de mácula na aura artística da fotografia no momento da sua invenção. Que raio de ideia!! Foi mesmo o contrário que aconteceu. 1º, a invenção não pode ser pensada como um momento. 2º, e mais importante, a invenção da fotografia insere-se na história das invenções de formas de reprodutibilidade, na sequência da procura dos processos de registo, gravação e edição, multiplicação (a estampa gravada, a miniatura, etc). A história da aura é um confusa especulação tardia. A cópia foi um meio corrente e apreciado de fruição e posse da arte. As diferentes técnicas da gravura visam a produção de múltiplos. O Benjamim não é tão fácil como parece...

    A mácula, se existia para alguns, era a substituição da mão pelo automatismo da máquina. Mas para outros esse era o grande mérito da coisa. O olhar auxiliado pela máquina óptica vem de muito longe, mas melhor ainda seria poder fixar e conservar esse olhar mecânico, essa visão efémera sustentada pela invenção de um instrumento que colmatasse a fragilidade da mão. (ver a especulação de Hockney e seguir a inteligência do seu olhar treinado de pintor.)


    Não, a idolatria das imagens não é um conceito antigo e central na cultura do cristianismo. A aceitabilidade das imagens e o culto que lhes é prestado como representação-substituição das entidades divinas ( o que não é o mm que "idolatria") foi uma questão diversas vezes considerada pela igreja católica ( por exemplo na Contra-Reforma - porque a proibição reformista das imagens também faz parte plenamente da cultura do cristianismo, no caso dos protestantes). Mas nunca foi aceite o "conceito" de idolatria - convém distinguir conceito e prática social. Ou seja, mesmo os idólatras não aceitam para si próprios o conceito de idolatria.



  • (Há aqui problemas conceptuais  com o conceito de conceito, e uma confusão entre idolatria e iconofilia, o amor ou gosto pelas imagens. Em tempos em que a iconofobia passou das austeridades iconoclastas para o estilo dito conceptual-minimalista corrente a desorientação aumenta.


  • A questão não ficou "resolvida" no Concílio de Trento, mas legislada. A vontade da interdição das imagens ( figuras, paisagens e coisas ) levou do simbolismo ao abstraccionismo.  A recuperação delas pela Pop, quando o abstraccionismo era uma arma da guerra fria,  foi logo combatida pelo conceptual-minimalismo, até hoje. Ler de Alain Besançon, L'Interdition des Images, a história toda desde a antiguidade.)

    Não, não é frequente designar a fotografia ficcional como "artística" (para iludir a questão da imitação da realidade). A fotografia artística com ou sem aspas tanto se quis ficcional desde o seu início (o teatro fotográfico, por exemplo, ficcionava - imitava realidades construídas) como quis fixar a realidade de muitos diversos modos, recriando-a, "imitando-a", sublinhando-a (por ex. conjugando diversos negativos), recriando-a, sublimando-a. As missões heliográficas que captavam a realidade fotografável do mundo queriam-se artísticas.