apontamentos
domingo, 17 de agosto de 2025
Augusto Alves da Silva : Apontamentos
quinta-feira, 7 de agosto de 2025
1944 (cronologia) FERROS, "PINTURA", CAFÉ e TABERNA, os retratos
Por ocasião da exp no Atelier-Museu ("Neorrealismos ou a politização da arte em Júlio Pomar") pode tentar fazer-se uma cronologia comentada, a acompanhar a sequência das obras e das datas.
1. FERROS, 1944 (col. CAM - FCG)
Em 1944 Pomar inscreve-se na Escola de Belas Artes do Porto, depois de ter frequentado a Escola de Lisboa desde 1942, com 16 anos, e antes a António Arroio. Já em 1942 participara numa mostra com colegas vindos da António Arroio (Fernando Azevedo, Vespeira, Pedro Oom) num quarto/atelier na Rua das Flores: essa primeira mostra fora notada no meio artístico do Chiado e na Imprensa (a revista 'Panorama' reproduz-lhe "Pintura" ou "Saltimbanco", uma obra perdida, e é relevante a atenção concedida a um muito jovem artista - Almada Negreiro compra o quadrinho e promove a sua apresentação na 7ª Exposição de Arte Moderna do SNI. Uma muito pequena pintura sobre madeira agora exposta "Sem Título [Rapaz]" pode ser dessa data.
No Porto Pomar integra-se rapidamente no grupo de estudantes (e alguns professores) que expõem com o nome de Independentes desde 1943, do qual se destacam Fernando Lanhas, com quem estabelece uma duradoura cumplicidade, e também Júlio Resende, Nadir Afonso, Amândio Silva, Victor Palla, igualmente ido de Lisboa. Expõe na 3ª Independente, no Coliseu.
Em FERROS nota-se o interesse por Léger ou a sua influência, confirmados por anotações desenhadas num pequeno álbum que se conservou. Terá chegado ao CAM por via de Manuel Filipe, sobre quem publicou uma entrevista no ano seguinte ("Arte") onde surgiu a primeira menção do neo-realismo. Foi exposto em 1945, na Exposição Independente vinda ao IST.
A GUERRA (nº 18) ficou com Fernando Lanhas, e Mário Dionísio referiu-se em 1945 na Seara Nova a outra pintura anterior de tema próximo que lhe pertenceu (título desconhecido, óleo sobre cartão, 46x39cm, CR. nº 9, aqui atribuído a 1942 e à exp. da Rua das Flores, o que parece incerto): "apontamento onde se vê um homem brutalizado pelo peso dum capacete e duma cartucheira, um vago arame farpado, uma forca, uma figura estranha que atravessa o campo (a morte? a humanidade chicoteada e desiludida, mas nem por isso capaz de parar?)" - reed. em M.D., "Entre palavras e cores", 2009.
Em FERROS encontram-se os planos recortados de cor lisa que caracterizam a produção desse ano, numa configuração que seria depressa abandonada.
De 1942 era o SALTIMBANCOS (Pintura) que veio do atelier da rua das Flores, passou pelo Salão do SNI e desapareceu. Conhece-se a reprodução no Panorama e um desenho preparatório, um estudo.
1942, em Panorama, Revista Portuguesa de Arte e Turismo, n.º 13, Fevereiro 1943
Na PINTURA (nº 16), que agora é peça maior da col. Rui Victorino, aparece ao centro uma auto-representação de punho erguido entre chaminés de fábricas e um corpo de mulher de pernas para o ar, que se disse premonitório de posteriores cenas eróticas.
Em CAFÉ aparece um retrato de Victor Palla, à esquerda, e outro de José Maria Gomes Pereira, também arquitecto, também transferido de Lisboa e um dos presentes na exp. de 1942
e em baixo um auto-retrato em 1º plano.
segunda-feira, 19 de maio de 2025
2025, Cassi Namoda
Cassi Namoda, Maputo 1988
> Los Angeles e New York
Oil on canvas
Courtesy of Jorge M. Pérez Collection, MiaMI
“Já tivemos muitas exposições que exploraram temas similares com outras linguagens e mediums. Há várias razões para a escolha da pintura. Queríamos mostrar a pintura da diáspora africana. A pintura celebra o corpo humano, nós exploramos o mundo com o nosso corpo. Por outro lado, a pintura é uma linguagem que, quase todos os anos, as pessoas declaram morta, mas por alguma razão continua a ressoar. É uma das formas mais antigas de representação usada pelos seres humanos. Basta pensar na pintura rupestre, nas pinturas realizadas sobre rochas. A pintura é uma das formas mais antigas que os seres humanos usaram para deixar uma marca no mundo. É a mais acessível, tal como a própria figuração que proporciona uma representação mais icónica e elementar da expressão ou do corpo.”
“A exposição não pretende ser representativa ou exaustiva”, recorda a curadora. “Não estão representados todos os países da diáspora africana ou do continente africano, mas quisemos sublinhar aqueles artistas que foram catalisadores nos seus contextos locais, ou colocar, no mesmo espaço, artistas que provavelmente não se conheceram. O que nos interessou foi procurar relações, paralelismos. O Malagantana é um dos melhores artistas vindos de Moçambique e descobrimos que em 1962 participou, ao lado do Kingsley Sambo, na primeira exposição do ICAC – International Congress of African Culture, na Rhodes National Gallery [actualmente, National Galery do Zimbabwe], e foi convidado, uma década depois, a colaborar no Mbari Art Club na Nigéria.” (ERRO 1961 OU 62; LONDRES ICA EM 64 confirmar)
"No coração da Europa, mostra-se um século de pintura figurativa negra"No Kunstmuseum Basel, a exposição When We See Us propõe uma viagem pela alegria e pela sensualidade das diásporas africanas.José Marmeleira em Basileia
quarta-feira, 14 de maio de 2025
2025, When We See Us, Bruxelas - pintores de Moçambique
(1988, Maputo)
"To Live Long Is To See Much (Ritual Bathers III)" 2020
Oil on canvas
Courtesy of Jorge M. Pérez Collection, MiaMI
(1936, Matalana Village, Mozambique-2011, Matosinhos, Portugal)
"O Curandeiro (The Sangoma or the Healer)"
1964
Oil on board
Courtesy of Pedro M. S. Monteiro
(1966, Tete - 1998, Harare, Zimbabwe)
Untitled 1992
Acrylic on paper
Courtesy of Harry Kantor Collection
2025, When We See us, KOYO KOUOH, Bruxelas, Bozar
14-05
Com todas as dúvidas* e todos as reservas** que me sugere a exposição When We See Us / Quando Nos Vemos de KOYO KOUOH e Tandazani Dhlakama, vista no Bozar, Bruxelas, é uma poderosa alternativa a um panorama das artes que cada vez mais é muitíssimo desinteressante e penoso (felizmente já não tenho obrigação de o seguir - ficam outros para dizerem que é tudo bom): a arte sobre arte e a arte contra a arte (a tradição da anti-arte), o autismo, a auto-complacência e a idiotia, o vazio de sentido e de significado, a produção para os museus e para as reservas dos colecionadores ( e os museus são um mercado cúmplice, dependente das leiloeiras e galerias).
domingo, 11 de maio de 2025
2025, Paris Noir, Beaubourg
11/05/2025
PARIS NOIR / WHEN WE SEE US
Hoje, revendo à distância as duas exposições, penso que "PARIS NOIR", a mostra actual no Centro Pompidou, foi concebida em oposição a "WHEN WE SEE US", de Koyo Kouoh, que é de 2022 na Cidade do Cabo - depois levada a Basileia e Bruxelas, a seguir irá a Estocolmo, até 2026 -, subordinando as dinâmicas pan-africanas, autóctones, espontâneas e locais, também crescentemente cosmopolitas e atlânticas, mas sempre observadas a partir de África, à dependência dos centros do Norte e em especial de Paris. A morte de Koyo Kouoh, nas vésperas de dirigir a Bienal de Veneza, torna mais premente essa análise, de que não encontro qualquer precedente.
A de Paris é uma exp. franco-africana sempre interessada em propor como decisivas as referências à "formação artística clássica" e aos "mestres modernos", aos trânsitos por Paris, escolares e políticos. associando "circulações artísticas e lutas anti-coloniais 1950-2000", conforme o subtítulo.
Significativamente, a Cronologia começa pelo G.I.Bill, de 1944, a lei que permitiu aos soldados norte-americanos (os brancos, como Kitaj, judeu, e os "de cor") ficar a estudar na Europa.
O programa de "Paris Noir" segue o calendário que vai da revista 'Presence Africaine' de Alioune Diop em 1947 até à 'Revue Noir' de 1991-2000, a luxuosa publicação da associação Afrique en Créations sustentada pela Cooperação francesa. ("En janvier 1990, le ministère français de la Coopération organise une rencontre entre trois cents créateurs africains et français à Paris afin de mener une réflexion autour de deux thèmes majeurs : le rôle des artistes et des intellectuels dans l’évolution des pays africains et l’importance de la dimension culturelle dans le développement économique et social du continent africain" - Cronologia; em 2000 fundiu-se com a Association Française d'Action Artistique - AFAA).
A "Revue Noire" nasceu na sequência dos "Magiciens de la Terre" de 1989 (Jean-Hubert Martin), em paralelo com a Collection Pigozzi dirigida por André Magnin, desde o mesmo ano (Caacart.com) e associada aos Rencontres de Bamako, a partir de 1994.
A linha "Magiciens...", "Revue Noire" e Pigozzi/Magnin privilegiou, até agora, a divulgação de artistas africanos residentes em África, implantados nas sociedades e nos mercados locais, em geral sem formação académica dita modernista, numa linha que vem da acção de Ulli Beier na Nigéria (o Mbari Club) e da revista "Black Orpheus": é ou era a afirmação da possibilidade de uma arte contemporânea africana para a qual a modernidade, depois da produção tradicional em extinção, depois das independências, não implicava a dependência da tradição vanguardista e escolar europeia, com a sua sucessão de estilos colectivos. Entretanto o grande mercado também passou a percorrer África e as diásporas (emigrações, exílios e formações escolares) abriram novas circulações artísticas: a arte pan-africana ou Black tornou-se um grande nicho especializado do mercado global e um tópico obrigatório das grandes instituições.
A presença da "Revue Noire" no Pompidou é convenientemente discreta, para não sublinhar o seu protagonismo oficial no curso final do período documentado - aliás, o mercado francês perdeu depressa esse protagonismo: uma escultura / espeto que perfura as suas edições, a capa do 1º número dedicado ao senegalês Ousmane Sow (presente no final com uma obra comemorativa de 1989) e uma ampliação da foto emblemática da série Les Fous d'Abidjan de Dorris Haron Kasco, livro de 1994.
Entretanto, é muito notória a ausência de obras da Colecção Pigozzi e da Galeria André Magnin, que estão presentes em Bruxelas, indicando em Paris a divergência (ou conflito) de orientações.
Pascale Marthine Tayou - 1966, Cameroun, vit et travaille à Gand (Belgique) et Yaoundé (Cameroun).
"Fétiche Pascale", 2011
(numéros de Revue noire) Collection Revue noire - JLP - PMSL
Marianne et les révolutionnaires, 1989
Fer, béton, bois, tissus, pigments
Musée du quai Branly - Jacques Chirac
Dorris Haron Kasco , Fous d'Abidjan
2. Édouard Glissant, le Tout-Monde
3. Paris comme école
4. Surréalismes afro-atlantiques
5. Le Saut dans l’abstraction
6. Paris Dakar Lagos
<"La ville nigériane d'Ibadan doit aussi être mentionnée, puisqu'on voit se mettre en place le Mbari Club, un collectif culturel dont le concept est né dans la capitale française et qui développe alors une esthétique radicale d'émancipation, relayée par la revue Black Orpheus", sic> rerere-se assim a revista de Ulli Beier..,.e aqui a manipulação francesa atinge o ponto culminante
7. Solidarités révolutionnaires à Paris
8. Jazz – Free Jazz
9. Retours vers l’Afrique
10. Nouvelles abstractions
11. Affirmations de soI
12. Rites et mémoires de l’esclavage
13. Syncrétismes parisiens
14. Les nouveaux lieux du Paris Noir



























