"Trata-se, na realidade, de uma obra feita por um pintor que se serve da máquina fotográfica para inventar imagens e imprimir-lhes um novo valor. A sua fotografia é, por conseguinte, sempre pintura."
A frase é de Margarida Acciaiuoli, professora, historiadora de arte, em António Ferro, A vertigem da Palavra. Retórica, política e propaganda no Estado Novo, Editorial Bizâncio, Lisboa 2013. Lê-se na pág. 176, num subcapítulo intitulado "A fotografia e o cinema".
Além de ser um disparate considerar que a fotografia de F.L. é pintura (e além do mais, sempre...), a afirmação é também um contra-senso incoerente no âmbito do capítulo onde antes se lamenta, quanto aos salões de Arte Fotográfica, "que a fotografia nas suas primeiras mostras (não) fosse perspectivada como tendo uma linguagem própria" (pág. 164). E continua: "O que se apresentava nesses salões resultava de experiências que continuavam a regular-se pelos valores da pintura, dentro de uma estética pictorialista, socorrendo-se de temas e enquadramentos correntes" (correntes?!).
Vale a pena lembrar também, que Fernando Lemos não é propriamente ou principalmente um pintor, é um desenhador, poeta, gráfico ou designer, pintor e fotógrafo, ilustrador , publicitário, etc. O que torna o erro mais crasso. Note-se ainda que é inútil prolongar até 1952 a informação sobre os anos de Ferro, que já deixara em 1949 o SNI.
Sobre a fotografia de Fernando Lemos desenvolveu-se a apreciação errada que a associa directamente ao surrealismo, quando a sua referência principal e mais directa é a Fotografia Subjectiva que no início dos anos 50 era promovida por Otto Steiner. O José Augusto França escreveu isso no início de 1953, mas o seu artigo foi sempre referido sem o título e com uns parágrafos a menos ("Nota sobre 'Fotografia Subjectiva' " - ver ap: fernando-lemos-1952-galeria-de-marco) . Neste caso tratava-se não de erro ou ignorância mas de manipulação e desonestidade intelectual.
segunda-feira, 30 de dezembro de 2013
domingo, 15 de dezembro de 2013
Partidas e chegadas, Lisboa colonial c. 1964
AUTOR DESCONHECIDO, 1964 (provável)
1/6. Chegada e partidas de tropas para Angola, Lisboa, Gares Marítimas
Provas de época, gelatina e prata, 13 x13 cm
Quem será o fotógrafo desconhecido?
Um fotógrafo oficial das Gares Marítimas? - tal como existiria um no Aeroporto de Lisboa (existia pelo menos 1 jornalista residente, o Marques Gastão, que acumulou por muito tempo com a responsabilidade das relações com a Imprensa da administração da Gulbenkian...), e era costume haver nos aeroportos internacionais, quando o trânsito ainda era escasso.
Ou um fotógrafo dos serviços militares ou policiais? Um fotógrafo interessado nas guerras coloniais?
O uso do formato quadrado - em reportagem nos anos 60 - parece-me afastar a hipótese de se tratar de um fotojornalista.
Nem todas as fotografias são feitas nas Gares Marítimas (uma acompanha manifestantes nos Restauradores, certamente contra votações da ONU), e nem todas seguem temas da guerra colonial (uma dela regista a saída de um bacalheiro no Tejo).
Nem todas as fotografias são feitas nas Gares Marítimas (uma acompanha manifestantes nos Restauradores, certamente contra votações da ONU), e nem todas seguem temas da guerra colonial (uma dela regista a saída de um bacalheiro no Tejo).
As fotografias são do acervo de um sócio da Pequena Galeria e aqui reproduzem-se com péssima qualidade.
Muitos fotógrafos desconhecidos (ou anónimos) são óptimos fotógrafos.
E neste caso os documentos históricos são de especial importância.
quarta-feira, 11 de dezembro de 2013
O Jornal do Barreiro e a CUF
Jornal do Barreiro, modernismo em 1954
....uma campanha pela "fotografia pura" na página mensal "Fotografia"
dirigida por Eduardo Harrington Sena no semanário Jornal do Barreiro,
e nas primeiras edições da secção "A FOTOGRAFIA DO MÊS". A página
publicou-se a partir de 26 de Agosto de 1954 e foi interrompida a 18
de Julho de 1957 (...mas E.H.S. ainda viria a ser director do semanário
de 24 de Janeiro de 1963 a 6 de Agosto de 1964).
1

"Réstea", 1952?, de Victor Chagas dos Santos (Eng., Cuf), publicada a 26 de Agosto de 1954, pág. 3.
(...o assunto simples muito bem fotografado: a luz é perfeita...)
as "admissões": 1952, Coimbra, Grupo Câmara; Barreiro, G D da Cuf; Lisboa, IST
1953, Moura e Régua
1954, Porto, IIP; Setúbal.
Essa era a
fotografia moderna, seguindo as lições formalistas vindas ainda da Nova Visão dos
anos 20, que se defendia então no universo das agremiações amadoras e
dos seus concursos. (No final dos anos 30, nas páginas da Objectiva,
tinha havido uma outra fotografia moderna, straight, live e objectiva,
mais ligada à representação dos tipos sociais talvez por via alemã, com
os doutores Lacerda Nobre e Álvaro Colaço).
O sector então mais dinâmico
do salonismo, muito activo nas associações, não era pictorialista, era
modernista e defendia um prudente formalismo modernista. Os textos que
acompanham a "Fotografia do Mês" são particularmente elucidativos sobre
os critérios de apreciação vigentes.
As primeiras "fotografias do mês"
1
"Réstea", 1952?, de Victor Chagas dos Santos (Eng., Cuf), publicada a 26 de Agosto de 1954, pág. 3.
(...o assunto simples muito bem fotografado: a luz é perfeita...)
as "admissões": 1952, Coimbra, Grupo Câmara; Barreiro, G D da Cuf; Lisboa, IST
1953, Moura e Régua
1954, Porto, IIP; Setúbal.
terça-feira, 10 de dezembro de 2013
OBJECTIVA, revista (1937-1945)
(1ª edição 07/15/2008 - em revisão)
"Gigas" (Costa de Caparica), Dr. Álvaro Colaço, nº 7, Dezembro 1937
"Gradando", de A. Lacerda Nobre, nº 1, 15 de Junho de 1937, pág 13
A primeira revista portuguesa
moderna de fotografia (de técnica e arte fotográfica, e, mais
alargadamente, de fotografia e cinema de amadores) terá sido a Objectiva, que começou a publicar-se em 1937 e existiu, com alguma irregularidade, até 1945.
Etiquetas:
1937,
1938,
Álvaro Colaço,
António Lacerda Nobre,
Artur Rodrigues da Fonseca,
Grémio Português de Fotografia,
Objectiva,
Sociedade Propaganda de Portugal
Victor Palla / Costa Martins, 1958, LISBOA
04/01/2010
(2)
A exp. de "Lisboa 'Cidade Triste e Alegre'" apresentou-se assim na Galeria Divulgação, Porto:
(a partir de 2 Dez. 1958) - a foto, do espólio dos arquitectos, foi publicada na pág 281 da História da Imagem Fotográfica em Portugal - 1839-1977, de António Sena, Porto Editora (1998)
e esteve antes na Gal. Diário de Notícias, 21 a 28 de Out. 58,
(foto mostrada na exp. "Lisboa tem histórias", Museu da Cidade, (2010 até 3 Abr.) vendo-se Costa Martins sentado ao centro

São os mesmos painéis "paginados", com uma diferente disposição.
(a partir de 2 Dez. 1958) - a foto, do espólio dos arquitectos, foi publicada na pág 281 da História da Imagem Fotográfica em Portugal - 1839-1977, de António Sena, Porto Editora (1998)
e esteve antes na Gal. Diário de Notícias, 21 a 28 de Out. 58,
(foto mostrada na exp. "Lisboa tem histórias", Museu da Cidade, (2010 até 3 Abr.) vendo-se Costa Martins sentado ao centro
São os mesmos painéis "paginados", com uma diferente disposição.
Quando do lançamento recente da reedição de Lisboa Cidade triste e Alegre (Pierre von Kleist , 2009 ) foram expostos em vitrines alguns documentos certamente inéditos sobre a edição de 1958-59.
Numa carta ao director da página literária do Diário de Notícias (rascunho), V.P. escrevia:
Nos convites da exp. anunciava-se um "conjunto de fotografias extraídas de um livro a publicar" / "de um álbum sobre Lisboa".
E num anúncio então publicado:
"Exposição e livro / Lisboa poema gráfico / um álbum de fotografia e poesia sobre a cidade"
#
No manuscrito de uma entrevista redigida por Victor Palla (com o título "A fotografia: uma arte?"), lia-se
A
oposição à fotografia de exposição que então se via nos salões (e que
hoje se vê por toda a parte com novas características técnicas), levava
V.P. a um excesso de radicalismo que não é alheio ao silêncio em que se
isolou a sua geração de fotógrafos modernos. A extensa informação que
demonstram no Ìndice do seu livro justificaria uma posição mais
equilibrada, apesar de esse ser o tom da contraposição francesa entre a
fotografia "humanista" e a "fotografia de arte" (ou "de exposição"). *
De facto, V.P. e Costa Martins nunca terão pensado interromper a arquitectura para se dedicar à fotografia, tal como aconteceu com a confortável tertúlia de Sena da Silva, Afonso Dias, Castello Lopes, etc.
Existiu para toda essa geração moderna uma posição de diletantismo cultural e de aristocrática recusa dos canais de exibição da fotografia que eram próprios do tempo, que impediu o surgimento de um processo "reformista" nas associações de amadores e na prática dos profissionais informados correspondente ao que se verificou em Espanha, sob a égida da revista Afal, publicada em Almería. (ver Portugal-e-a-afal )
Ao contrário do que se diz habitualmente, era possível fotografar a cidade (apesar da Pide), era possível expor e publicar, e era possível chegar aos grandes meios de informação. Embora tivessem sobrado fascículos, a iniciativa não foi votada ao fracasso.
#
"A nossa imagem final é a imagem impressa". "Somos artesãos que fornecem às revistas ilustradas a sua matéria prima. E felizmente a velocidade da tomada de vistas afasta-nos de fazer arte"
Cartier Bresson , Photo-France mai 1951 e Images à la sauvette, 1952.
Em 50 Paul Sonthonnax (ex-Photo-Monde): "A fotografia só é arte se se entende esta palavra em sentido lato, que vai da arte do fabricante de tamancos (savetier) à arte médica passando pela arte de fritar batatas."
(in Marie de Thézy, La Photographie humaniste", Contrejour, Paris, 1992)
Numa carta ao director da página literária do Diário de Notícias (rascunho), V.P. escrevia:
trata-se de "não mais um livro documental ou 'folclórico', mas de uma tentativa de retrato plástico usando meios fotográficos"
Nos convites da exp. anunciava-se um "conjunto de fotografias extraídas de um livro a publicar" / "de um álbum sobre Lisboa".
E num anúncio então publicado:
"Exposição e livro / Lisboa poema gráfico / um álbum de fotografia e poesia sobre a cidade"
#
No manuscrito de uma entrevista redigida por Victor Palla (com o título "A fotografia: uma arte?"), lia-se
"estas
fotografias não existem por si, fazem parte dum livro. Considerá-las
isoladamente seria quase tão grave como admirar um a um os
rectangulosinhos da (de?) película duma fita de cinema, ou como ler
isoladamente cada estância dum poema"
De facto, V.P. e Costa Martins nunca terão pensado interromper a arquitectura para se dedicar à fotografia, tal como aconteceu com a confortável tertúlia de Sena da Silva, Afonso Dias, Castello Lopes, etc.
Existiu para toda essa geração moderna uma posição de diletantismo cultural e de aristocrática recusa dos canais de exibição da fotografia que eram próprios do tempo, que impediu o surgimento de um processo "reformista" nas associações de amadores e na prática dos profissionais informados correspondente ao que se verificou em Espanha, sob a égida da revista Afal, publicada em Almería. (ver Portugal-e-a-afal )
Ao contrário do que se diz habitualmente, era possível fotografar a cidade (apesar da Pide), era possível expor e publicar, e era possível chegar aos grandes meios de informação. Embora tivessem sobrado fascículos, a iniciativa não foi votada ao fracasso.
#
"A nossa imagem final é a imagem impressa". "Somos artesãos que fornecem às revistas ilustradas a sua matéria prima. E felizmente a velocidade da tomada de vistas afasta-nos de fazer arte"
Cartier Bresson , Photo-France mai 1951 e Images à la sauvette, 1952.
Em 50 Paul Sonthonnax (ex-Photo-Monde): "A fotografia só é arte se se entende esta palavra em sentido lato, que vai da arte do fabricante de tamancos (savetier) à arte médica passando pela arte de fritar batatas."
(in Marie de Thézy, La Photographie humaniste", Contrejour, Paris, 1992)
segunda-feira, 9 de dezembro de 2013
"HISTÓRIA", espécie de índice cronológico
1931
Fundação do Grémio Português de Fotografia (c/ Álvaro Colaço)
1936
exp. "Uma viagem através de Portugal", org. O Século, 1936 (A.S. pág. 246)
1937
Objectiva nº 1, 15 de Junho de 1937 (o "pequeno formato" - o 24 x 36 mm; foto de A. Lacerda Nobre)
A inauguração da Instanta, "moderna casa de artigos fotográficos", "especialistas do pequeno formato", Agosto
1941-49 - revista Panorama
1945 - fotografia e neo-realismo (supl. Arte, Aragon; António Ramos de Almeida)
1948-50 - Maria Lamas, "As Mulheres do Meu País"
1954-57 - O Jornal do Barreiro e a "Fotografia Pura" dos Salões da CUF e do 6x6
Harrington Sena, a "Fotografia do Mês", o Quadro da Actividade dos Amadores Nacionais (05-05-55)
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