terça-feira, 16 de setembro de 2025

Augusto Alves da Silva, "Pasage", 1998, ed. Universidade de Salamanca // Imago 98

 



Pasage

Harrogate Lisboa London Lousã Madrid Marbella Paris Pico Tokyo


76 pag., 32 fotografias cor, sem legendas, 24 x 28.5cm


Design e paginação: AAS


1989 Ediciones Universidad de Salamanca / Centro de Fotografia de la Universidade de Salamanca - Colección Campo de Agramante: [CA] | 25 (Com logotipo do Centro Porrtugês de Fotografia / MC no frontispicio)

12€

+ Folha de informação do editor.


a colecção  Campo de Agramante (69 números)

https://eusal.es/eusal/catalog/series/campoagramante/2


https://sac.usal.es/publicaciones/campo-de-agramante/



É o primeiro (e único) livro de AAS independente de uma exposição ou de uma encomenda documental. É o livro ou photobook mais livre, como um objecto autónomo de que é autor por inteiro, incluindo o design e a paginação.

Pasage é um livro de viagens, ou melhor, de passagens, enumerando-se logo na contra-capa e no frontispício os lugares visitados, mas sem identificar as fotografias com os respectivos lugares, percorridos e fotografados ao longo de quatro anos, informação acima, e eventualmente deslocadas de diferentes trabalhos ou projectos. A secção inicial da retrospectiva de Serralves, designada como "Síntese", procede a algo de semelhante, é um trânsito entre trabalhos / obras, desligados das sequências ou das exposições em que antes se mostraram. Também o livro La Gomera, de 2003, embora fotografado numa única ilha das Canárias, percorrendo um só território limitado, é um jogo de passagens, de trânsitos, onde os nexos, os tópicos temáticos possíveis se descobrem, ou não, no percurso do livro, extenso e sem ordem aparente, mas aí ritmados por quase repetições.

Aqui, o jogo entre a capa, apenas o estore descido, e a contra-capa com as referências discretamente escritas, os lugares, aponta para a prioridade das imagens face ao texto, à legenda, à informação escrita.
Seguimos então entre o que vemos (ou não vemos no estore descido que é a capa) e o que não sabemos por que razão o fotógrafo viu, fotografou e editou, num discurso de imagens sem palavras.

A informação editorial acima copiada, que certamente o artista aceitou, com mais ou menos gosto, sugere que "Pasage é uma proposta que gira em torno da ambiguidade do reconhecimento" - poderia dizer-se a ambiguidade do conhecimento; de facto, "o autor joga sobre (com) a dúvida da identificação", antes de ser reconhecimento. 
 Mas não se trata de propor enigmas ou apelar à identificação, o que seria um puzzle redutor, dos lugares de observação, nem de interpretar o que está apenas "escrito" na sequência das imagens, cada uma independente ou autónoma. Trata-se de declarar e expor uma autoria, um eu que vê, e um eu 'voyeur' (como se verá adiante) que reconheceremos como autor. "O livro, a sequência de imagens, é o lugar (el ámbito) onde se produz a modificação do sentido", ou onde ocorre, antes, a produção do sentido - se quisermos procurar e se encontrarmos um eventual sentido. No entanto, talvez não haja um sentido ou um significado - não é disso que se trata.
Propõe-se "a reflexão sobre o papel da fotografia nas situações que regista", como sugere o editor? A "proposta" do autor seria a de "uma reflexão sobre a nossa capacidade de percepção e sobre o uso da fotografia na época da imagem técnica"? São mais que frases feitas?
Julgo que o que se propõe é a observação do que foi observado, escolhido e publicado pelo autor, como uma prática do ver e uma suspensão de sentidos, no que se reconhece como uma vontade de comunicação. Vejam o que eu vi.

Poderia ser street photography, mas Pasage escapa à classificação, a todas as classificações, não é documentário, viagem nem diário.
É o espaço quase sempre urbano que é visto, a rua e edifícios, a arquitectura, com transeuntes em geral em movimento, imprecisos, como os automóveis que circulam desfocados.
As montras, os manequins, femininos sempre, a passagem de modelos (?), o corpo das mulheres (partes dce corpos), até ao show erótico explícito que por sinal se segue ao estore descido, já visto na capa. Mas também uma cabeleira loura de costas e antes a mulher num bar, vista de lado, sem rosto sob o cabelo negro. Visões fugazes.
Os cartazes, a publicidade, as marcas, palavras em geral incompreensíveis, sinais, as imagens dentro da imagem, e sempre imagens de mulheres.
Também o avião em que se viaja, exterior e interior. A margem do mar, depois de um tubarão mergulhado num mar azul.
O azul predominante e as linhas paralelas horizontais que vêm também já da capa, e marcam edifícios e riscam a estrada.
Não se põe a questão do sentido das imagens e da sequência, mas apenas ver, ou seja, a inquietação e o prazer de ver, partilhados.  






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AAS participou com fotografias de Pasage nos Encontros / Enquentros IMAGO 98, com catálogo editado.




quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Se houver 44 €, o catálogo-livro de MIRIAM CAHN no MAAT

 Em havendo € 44 é de trazer.

Não se cumpre a anunciada "responsabilidade cívica" com um catálogo deste preço, não há responsabilidade social, mecenática e/ou fundacional que se comprove. Mas Miriam Cahn em Lisboa, na Central Tejo / MAAT - Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, é um acontecimento sem paralelo. (Havia que trazer a Marlene Dumas... e as duas dominam a situação actual da arte contemporânea)







Excessiva, perturbadora, desafiadora, insólita e única, a pintura de Miriam Cahn, artista suíça n. 1949, é uma experiência vital, da pintora e para o visitante. Não se encerra na denúncia da violência sexual sofrida por mulheres, aparece a violência da guerra, em particular na Ucrânia, o envelhecimento, o parto, nunca ou muito raramente representado, a dor e o medo - e também a afirmação do corpo próprio e alheio. E há tanques e armas, fábricas de meios de morte, aviões, um desenho obsessivo, compulsivo, uma pintura rápida, quase sempre numa sessão única de trabalho, directa, consagrada e à margem.
"O que nos olha", o título, até 27 outubro.
(páginas de um catálogo demasiado caro, também excessivo, torrencial, com obras expostas e outras, que se afasta em demasia do itinerário da exposição para ser um jogo livre com as imagens, de pouco texto, com "conceito" e design Ilhas Studio)

VER
UM CATÁLOGO SEM RESPONSABILIDADE. MIRIAM CAHN NO MAAT.


terça-feira, 9 de setembro de 2025

O ESPÓLIO DO AUGUSTO ALVES DA SILVA

Que vai acontecer ao espólio deixado pelo Augusto Alves da Silva, na sua morte prematura e terrivelmente injusta? É uma interrogação que me assalta sempre e que tenho tentado partilhar com amigos comuns e quem o admirava mais de perto e até ao fim, mesmo quando os contactos se interrompiam. 

Soube que deixou um testamento, o qual será aberto no fim de Setembro, início de outubro. Teremos de aguardar, portanto, para sabermos qual o destino do seu corpo de trabalho que guardava em Tremês, Santarém, na casa que desenhara e fizera construir. Que nunca visitei. Sei também que deixou uma irmã, herdeira. 

Jet e Oli, 2010, prova única, 100x150cm, colecção do autor. Galeria Pente 10, 2011

É pouco o que se encontra em colecções de instituições públicas onde expôs, em quase todas elas, apesar do enorme reconhecimento que gozou desde meados dos anos 1990. E conservam-se as suas obras, em muitas casos, nos médios formatos que se substituíam às grandes e sempre perfeitas provas de exposição. O acervo do seu trabalho, fotografias e vídeos, bem como a respectiva documentação são um património que exige ser salvaguardado e conservado nas melhores condições. 

No vídeo Luz o plano é fixo. Apenas nos ramos m­­ais altos e finos se pode detectar algum pequeno movimento. A imagem escurece lentamente, no final de um dia de Outono. AAS. 2016 Appleton


Não é oportuno especular sobre o que o Augusto pode ter deixado determinado no seu testamento, quando o seu estado de saúde se foi rapidamente deteriorando. Mas importará estar alerta e equacionar hipóteses, que mesmo prematuras poderão prever e acompanhar, defender e acautelar o destino  de uma obra reconhecidamente de primeira importância.

BES Photo 2006

2016 Sem título [Tiro], Pequena Galeria








segunda-feira, 8 de setembro de 2025

A AMEAÇA DO DESIGN. UM CATÀLOGO DO MNE

 Deixam os designers à solta e fazem asneira. Ficam a brincar com coisas sérias, aqui numa publicação académica (e que também é acessível para quem tem o MNE como um pólo precioso na cidade)!

Exemplo: as cores a complicar a página, e o texto não justificado. Passa-se do azul a um ocre algo apagado na capa (aí está bem) e dentro em cada página, sem se saber porquê, a fazer feitios em manchas irregulares, variáveis e arbitrárias. São supostas "modernices" que dificultam a leitura.




Mas muitas vezes os designers gráficos não lêem, não precisam nem gostam de ler... interessa-lhes fazer "arte". A distribuição do texto pelas páginas que a máquina cumpre com a eficácia pedida passa então a dar lugar a efeitos acidentados e inúteis, a preciosismos inúteis.
No caso assinaa o Design Lisa H. Moura (Frau im Monde)




Acontece que é uma edição do Museu de Etnologia assegurada pela nova Museus e Monumentos EPE (a mostrar "imaginação" onde devia haver sentido patrimonial) e pela Imprensa Nacional - Casa da Moeda, que tem ou tinha competências conhecidas.






domingo, 7 de setembro de 2025

UM CATÁLOGO SEM RESPONSABILIDADE. MIRIAM CAHN NO MAAT

 “Cabe a uma instituição como o MAAT, consciente do seu papel numa sociedade em crise, enfrentar as dificuldades da apresentação sem filtros deste discurso, dando conta da sua relevância estética e ética.”

Este "discurso” é o de Miriam Cahn, e é assim referido: “corpos (notoriamente femininos) que nos interpelam sem rodeios, confrontando-nos com a violência a que são sujeitos. Nada do que diga respeito à dimensão sexista dessa violência (patriarcal e militar, económica e geopolítica, religiosa e cultural), à dor física e ao sofrimento emocional que daí resultam nos é escondido - tudo é sobre-exposto (....)”
Aliás, as primeiras linhas do prefácio sem título assinado pelos comissários-directores do Museu, João Pinharanda e Sérgio Mah, anunciavam: “É com enorme convicção e sentido de responsabilidade cívica que o MAAT apresenta...”.
Mas o “sentido da responsabilidade cívica” não se cumpre no catálogo editado, pelo contrário. Paguei por ele 44 euros e penso que há por aqui uma hipócrita contradição: a quem serve um volume assim?
São 352 páginas, um excesso, um luxo, 3 cm de lombada, por € 44, e só 600 exemplares: lá se vai a "responsabilidade cívica". Ficamos com a "elite", para ofertas e representação da empresa (quantos exemplkares seguem para Pequim?). Entre nós muitos catálogos são objectos sem destinatário, sobre-dimensionados, invisíveis, invendáveis-incompráveis.


Há 2 páginas de breves textos da artista, paginados com muita largueza;
4,5 de escrita literária do António Guerreiro;
8 que seriam 4 com um corpo não desmesurado, como uma entrevista em resultado de trocas de emails com os comissários;
4 de referida apresentação a abrir. Sempre em corpos generosos e duplicados pelas traduções também folgadas.
A fechar existe um oportuno texto crítico e biográfico sobre a artista com base num diálogo estabelecido em 2013, que continua actual.
É escasso, e são excessivas as páginas de ilustrações que em inúmeros casos não são de obras expostas, não sendo obras de necessária referência. Certamente livres de direitos de autor, foram ao acervo de imagens e foi um fartar vilanagem - percebe-se o gozo das designers ao percorrerem a crueza, a violência e também o humor, negro ou não, das imagens.
Atenção, não é só a violência sexista que aqui comparece: é também a afronta física e nua do corpo próprio exibido, do envelhecimento, do parto. Não há só vítimas, há desafios. Há denúncias e medos nas séries de armas e carros de combates e nas sugestões de bombas atómicas.






Perdeu-se no itinerário do catálogo o percurso da montagem, sem se ter encontrado outra sequência: por exemplo, os corpos frontais que confrontam brutalmente o espectador à chegada diluem-se lá para o fim. Desarticularam-se as galerias, onde as pinturas se mostram em instalações ou em séries temáticas ou em contrastes incisivos, apesar de se intercalarem "vistas da exposição" entre escolhas arbitrárias, como um puzzle que cresceu sem limites e sem critério. Foto acima e foto abaixo sem razão para tanto, e ampliações aleatórias em dupla página... Na lista de obras final perderam-se as traduções dos títulos que se encontram ao longo do "álbum". Comparando com o catálogo do Palais de Tokyo de 2022 vê-se o luxo dispensável dos grandes formatos das obras/ilustrações em página inteira e dos pormenores ampliados.
Os gráficos são os grandes interessados neste tipo de edições com vocação para concursos de design: neste caso "o conceito e o design gráfico" é das Ilhas Studio, de quem conheço as qualidades e os excessos .

A exposição da Miriam Cahn é das mais importantes que por cá se tem podido ver.

terça-feira, 2 de setembro de 2025

REALISMO IRREALISMO



 A RIBEIRA DO TEJO, 1949 (col. Casa da Achada / Mário Dionísio)


BARRCOS, ERICEIRA 1953 (col. Novo Banco deposito Museu do Neo-Realismo


FERNANDO LANHAS, PÁSSAROS E ROCHEDOS, 1945

A sequência da montagem que aqui me seduz não foi certamente ocasional, por parte dos comissários Afonso Dias Ramos e Mariana Pinto dos Santos, mesmo que ela não procurasse os sentidos que a mim me aparecem e importam. Interessa-me aqui observar a pulsão irrealista, a pista do imaginário, presente nestas obras, sublinhada pela inesperada comparência de Lanhas.
Depois de FERROS, de 1944, que antecede por um ano o neo-realismo e agora se descobre, depois de ter sido visto em Lisboa só em 1945, na Exposição Independente trazida do Porto ao Instituto Superior Técnico, e que manifesta a circulação rápida do início do artista por diferentes pesquisas - aí com a mais que provável aproximação a Léger. Note-se que Pomar deixou a Escola do Porto em 1947 sem ter frequentado nunca uma aula de pintura: estudava, via ilustrações e experimentava.

Depois de FERROS, vemos A RIBEIRA DO TEJO de 1949 (exposto na 4ª EGAP desse ano e oferecido a Mário Dionísio).  É uma pintura singular, que me parece um estudo para tapeçaria ou mural, na sua inesperada acumulação-dispersão, que se dirá decorativa, de figuras em que comparecem varinas e mulheres do mar ao lado de crianças que brincam, ou esperam. São essas as presenças então as mais frequentes no tempo que preparava a primeira mostra individual na SNBA e que sucede à pintura militante da "Resistência" e da "Marcha" de 1946, e também às agrestes representações de mulheres de trabalhos rudes, "Farrapeira", "Carvoeiras" e "Farrapeira", de 47 ou 46-48 (já foi notada a dureza expressiva e material dessas mulheres do Porto), de um primeiro período neo-realista. 
Mas está aí ausente a atracção lírica que consta das maternidades de 1948 ("Os Gémeos" e "Suburbio" I e II da col. Manuel de Brito), dos namorados e rapazes de "Na Estrada de Aveiro", "O Golo"  e "O Carro na Calçada", continuada ainda em importantes pinturas de 1951, como foram "Meninos no Jardim" e "Vendedeiras de Estrelas" (col. Jorge de Brito). Esse esse intervalo entre "fases" será o "desvio" de que se irá auto-criticar em 1953 num novo tempo militante, de 1951 a 1954. 

Na sua composição dispersiva e flamejante A RIBEIRA DO TEJO distingue-se bem dos três quadros de 1950 onde os corpos femininos são imóveis e recortados como esculturas ("MULHERES NA PRAIA", agora exposto, e "Mulheres no Cais") ou como desenho sólido ("Na Cozinha"), todos da 1ª individual, e é curioso observar que os seus primeiros proprietários foram os amigos e camaradas José Fernandes Fafe (agora na col. CAM), Joaquim Namorado e José Dias Coelho, respectivamente - nota sobre a sociologia do mercado. Poucos quadros se pintavam por ano, mas as orientações mudam depressa. É contemporânea da VARINA COMENDO MELANCIA também de 1949, e é uma outra singularidade que aqui se manifesta, ambas excêntricos a possíveis normas realistas.

Em RIBEIRA DO TEJO temos em cima à direita os meninos que brincam e à esquerda estão as varinas de canasta à cabeça, estilizadas. Nenhum espaço definido incluiu as figuras com verosimilhança e geométrica composição. É uma colagem de situações que se dispersam e se imbrincam no espaço plano do quadro sem se fundirem com nenhum "realismo". Não existe aqui figura e fundo, mas motivos e personagens que se acrescentam e sobrepõem, entre fragmentadas zonas/planos de cor lisa e as formas ondulantes abstractas e orgânicas que acentuam o irrealismo da representação. Algo de surrealismo se insinua.


Duas mulheres do mar, ou uma mulher com o bebé à esquerda junto ao barco que tem a data na proa (49) e um corpo agachado no bordo à direita, uma mulher que chora (?). Em cima as aves que voam, abstractas, e no bordo inferior central a gamela de madeira onde se reconhece uma raia de cabeça para baixo - mas ela assemelha-se à metade inferior de um sereia e pinta-se de vermelho, cor insólita.




Recorde-se que a Ribeira era um lugar muito percorrido por Pomar quando evitava (com Vespeira, em especial) as aulas no Convento de São Francisco, que mulheres do mar e peixeiras são motivos repetidos de gravuras dos anos 1956-58, e que pintou um outro "Cais da Ribeira" em 1958, ao que parece do natural, de cavalete às costas, disse (col. Mário Soares).

Ao lado dos Barcos da Ericeira e antes dos Pássaros que rodeiam a montanha de Lanhas, esta pintura ganha um interesse que nunca tinha notado.


Cais da Ribeira, 1958

Não conheço nenhuma referência de Mário Dionísio sobre este quadro, enquanto crítico exigente - e o facto de ser uma troca entre dois amigos e companheiros de militância artística reveste-se de especial significado. De Dionísio recebeu Pomar o "O Músico", 1948, 130x97cm (3ª EGAP), que circulou na família e pertence hoje a José Berardo. É também uma obra heterodoxa, de uma arriscada pesquisa formal.



A SEGUIR, BARCOS


 



segunda-feira, 1 de setembro de 2025

DOÇARIA ERÓTICA

 Faltam 6 dias para a exposição encerrar, incluindo o próximo fim de semana - e já foi prolongada de 10 de agosto para 7 de setembro. Discretamente.



Ainda me avisaram a tempo.

"QUANDO O CORPO SE FAZ DOCE - Erotismo e religiosidade na doçaria" percorre o doçaria conventual e tradicional, a das elites e a popular, os doces de feira, focando as sugestões sexuais que estão presentes nos títulos e nas formas.
Está no Museu de Lisboa, núcleo de Santo António à Sé, e resulta de uma parceria com o Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da U de Coimbra, onde se investigam Culturas da Alimentação e Patrimónios Alimentares. O comissariado e os textos do catálogo são de Paula Barata Dias e Cristina Oliveira Bastos.
O assunto é sério e é jocoso, e apresenta-se bem no formato expositivo e na publicação que fica: design de Joana Cintra Gomes e Leonor Wagner Alvim (esta também do catálogo).

Orelhas de Abade, Pirilau de Santo Ambrósio, Pitos de Santa Luzia, Garganta e Mimos, Maminha, Barriga de Freira (a freira é produtora e objecto de atração e ofeerta sexual), Pão de Corno, Ferramenta de São Gonçalo são algumas das muitas especialidades, onde a imaginação e o humor são abençoados pela igreja e os santos. Junta-se à malandrice o véu da devoção. Os textos exploram as histórias, as origens locais e os mitos, com uma prosa atraente, rápida e bem acessível. Parecem bem informados.





Entretanto é de sublinhar a ineficácia da Agenda Cultural da Câmara (EGEAC/CML) que é um alinhamento o mais confuso possível de lugares e eventos, de critérios insondáveis, de leitura quase impossível e pejada de erros. Cabe tudo, produções e espaços da CML, que deveriam ter prioridade absoluta, e um mar de miudezas que alguns se reservam mensalmente com habilidade e outros dispensam. Na edição de Julho o destaque da exp. arrumava-se na secção Ciência. É arte. Em Agosto não estava indicada.

E há que prestar atenção a outras exposições que se visitarão não por obrigação e com sacrifício - há artes modestas (di Rosa, Hervé), menores e discretas que se descobrem com gosto e proveito, fora dos holofotes da crítica, se ela existe:

1. NO PADRÃO DOS DESCOBRIMENTOS até 30 dez.



E 2 NO GABINETE DE ESTUDOS OLISIPONENSES - PALÁCIO DO BEAU SÉJOUR, até 28 nov. só em dias úteis 11-17h (páginas da Agenda)