terça-feira, 2 de janeiro de 2018

"Fotografia e propaganda colonial" (...)

 A ler:  

1. a fotografia feita em África, sobre África e os seus habitantes (os indígenas, as tribos, as suas culturas) é sempre "PROPAGANDA COLONIAL? Não será nunca divulgação, informação, etnografia? O artigo vai dizendo que sim, que é fotografia etnográfica, que se trata de levantamento etnofotográfico, mas é sempre preciso prestar vassalagem à rotina ideológica e chamar-lhe propaganda, e apontar "o gosto pelo pitoresco e pelo exótico". De imagens não se sabe falar, repete-se o formulário tido por anticolonial.

2. Elmano Cunha e Costa, advogado e fotógrafo, é uma figura central e não uma sombra ou agente de Galvão.

http://journals.openedition.org/cp/1966

"Fotografia e propaganda colonial. Notas sobre uma união de interesses na primeira década do Estado Novo"

Photography and colonial propaganda. Notes on an interests union in Estado Novo first decade
Teresa Matos Pereira
As ligações entre o discurso da propaganda colonial e o discurso fotográfico contribuíram para criar, nos primeiros anos do Estado Novo, uma imagem dos territórios africanos sob domínio colonial (incluindo a terra, os seus habitantes e respetivas culturas) que permaneceu muito após o final do regime e do processo de descolonização. Neste texto são delineados os princípios em que assenta este feixe de ligações, a partir de duas publicações que têm Henrique Galvão como figura central: a revista Portugal Colonial e o álbum Outras Terras, Outras Gentes.
Propaganda colonial, fotografia, “colonialismo visual”

3. Rondas de África

51A iconografia referente ao território angolano, especialmente no que toca às sociedades autóctones, foi ampliada, na década de 30, pelo levantamento etnofotográfico de Elmano Cunha e Costa, entre 1935 e 1938, que forneceu um conjunto alargado de imagens que iriam povoar diversas publicações, de entre as quais a reedição do relato de viagem de Henrique Galvão, Outras Terras, Outras Gentes, transformado em álbum profusamente ilustrado.
52 Entre 1935 e 1938, o advogado Elmano Cunha e Costa (1892-1955), juntamente (?) com o padre espiritano Carlos Eastermann (1896-1976), empreende um levantamento etnofotográfico de grande parte do território angolano, com especial destaque para o centro e sul (ver Castelo & Mateus, 2014). A sua atenção recairá não só na catalogação de ‘tipos étnicos’, mas também em todos os aspetos ‘típicos’ que pontuam as vivências quotidianas – o espaço doméstico, a paisagem, os adornos, os penteados, as atividades económicas e os usos e costumes –, impregnados de um gosto pelo pitoresco e pelo exótico das “várias dezenas de tribos indígenas que povoam a grande colónia de Angola, cuja área territorial é catorze vezes e meio superior à da Mãe-Pátria” (Cunha e Costa, 1946).
  • 1 A edição consultada foi a da Imprensa do Jornal de Notícias em virtude de esta incluir um grande número de fotografias da autoria de Elmano Cunha e Costa e e reprodução gráficas e pictóricas realizadas por diversos artistas.
53 Estes levantamentos fotográficos forneceram um manancial inesgotável de imagens e representações que irão povoar o imaginário português acerca de África em geral, e particularmente de Angola, na medida em que as imagens foram utilizadas até à exaustão em publicações periódicas, ensaios etnográficos, álbuns (de entre os quais se destacam as coletâneas Outras Terras, Outras Gentes1 e a Ronda de África, da autoria de Henrique Galvão, na década de 40), cartazes, postais e foram integradas nas exposições coloniais e outros eventos de especial relevo em termos da propaganda política. Para além desta multiplicidade de caminhos propostos pela fotografia etnográfica, ela assumir-se-á ainda como uma importante referência visual para alguns pintores e ilustradores que recorrerão frequentemente aos registos fotográficos como base do trabalho.

54 O levantamento fotográfico de Elmano Cunha e Costa conheceu, na verdade, uma larga divulgação em diversos suportes, a começar pelo conjunto de exposições realizadas e organizadas pelo SPN/SNI a partir de 1938. Na exposição realizada em 1946, no estúdio do SNI, intitulada Exposição de Etnografia Angolana, as 500 fotografias exibidas, que abrangiam paisagem, sociedades e cultura, eram acompanhadas de uma carta etnográfica com distribuição das “tribos” por territórios demarcados, ostentando as “actuais denominações”, numa passagem da nota de imprensa, avançada pelo Diário de Notícias, que repete o texto do catálogo da exposição.

55 Acompanhado da sua “inseparável Rolleiflex”, Cunha e Costa refere as motivações deste levantamento, que visava, em primeiro lugar, a satisfação pessoal de “realizar um documentário que não fizera ainda” e, em segundo lugar, a reunião de um conjunto de “materiais para base de estudos científicos que aos mestres compete fazer” (Cunha e Costa, 1946). O fotógrafo sublinha a importância documental da fotografia de campo, servindo de suporte à investigação científica – realizada sob a orientação de etnógrafos como o padre Estermann –, mas igualmente inscrita num plano da propaganda colonial , e integrada numa economia da imagem mais ampla como afirmará de seguida:
A ocupação científica das Colónias portuguesas é uma realidade que só os ignorantes desconhecem. (...)
56 "Creio poder afirmar que a imagem fotográfica é prestimosa, e que os documentários deste género são indispensáveis, quer para a sempre útil divulgação e propaganda, quer para a utilização em conferências, palestras (…) quer para a ilustração de livros, quer finalmente para alicerce de trabalhos em profundidade (Cunha e Costa, 1946).
57**  Na verdade <!!!>, longe de se assumir como documento etnográfico, de valor cientificamente reconhecido, a coleção de Cunha e Costa assume uma função essencialmente propagandística (Castelo & Mateus, 2014), que corresponde a um “natural entusiasmo pelo exótico (Anónimo, 1951) por parte da sociedade da metrópole. Não é assim de estranhar que as suas fotografias tenham integrado uma “microfísica do poder” – termo utilizado por Michel Foucault, sendo usado por Terry Smith no contexto do discurso da propaganda colonial (Smith, 1998: 483) –, através de uma economia visual que compreende a produção, a circulação, o colecionismo e as múltiplas apropriações e as reciclagens. 
(...)

** Aqui temos a cambalhota académica  em total evidência, a reverência da moda ideológica actual à tutela dita "anti-colonial": o que era levantamento etnofotográfico, como atrás se disse, passa a essencialmente propagandístico. Antes qualificara-se o que é interesse pelo diferente, trabalho documental e suporte para a investigação como "gosto pelo pitoresco e pelo exótico". é a universidade no seu pior...

Bibliografia específica
Castelo, C. & Mateus, C. (2014). “Etnografia Angolana” (1935-1939): histórias da coleção fotográfica de Elmano Cunha e Costa. In: Vicente, F. (org.) O Império da Visão. Fotografia no contexto colonial português (1860-1960). Lisboa: Edições 70: 85-106.

Cunha e Costa, E. (1946). Catálogo da Exposição de Etnografia Angolana (Prefácio). Lisboa: Agência Geral das Colónias.

Galvão, H. (1931). Portugal Colonial. Uma apresentação. Portugal Colonial. Revista de Propaganda e Expansão Colonial, 1(I), março: 1-2.
Galvão, H. (1934). A Função Colonial de Portugal. Razão de Ser da Nacionalidade. s/l: Edições da 1ª Exposição Colonial Portuguesa.
Galvão, H. (1936). O Império. Lisboa: Edições SPN.l
Galvão, H. (1944). Outras Terras, Outras Gentes (vol.I). Porto: Imprensa do Jornal de Notícias.

FOTOGRAFIA (e Informação) e PROPAGANDA no Estado Novo Português

uma edição importante?:

Trata-se de fotografia e só às vezes de fotógrafos (Maria Lamas fica por entender; descortinar o Elmano Cunha e Costa não é fácil...). 

Propaganda é um termo de uso questionável, porque até 1940-45, II Guerra, ainda não se distinguia de Informação - daí a passagem de SPN a SNI, que não é cosmética. Daí a SPP - Sociedade Propaganda de Portugal (essa entidade fantasma) que incluía a Propaganda-Informação e a vertente da "Arte Fotográfica". O título "Fotografia, Informação e Propaganda" seria mais correcto (mas há ainda pouca informação...) 

Vol.12 nº 23 | 2017
Fotografia e Propaganda no Estado Novo Português

capa 23

Editores convidados
Filomena Serra, Instituto de História da Arte, IHA, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, FCSH, Universidade Nova de Lisboa
Paula André, DINÂMIA'CET-IUL, ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa
Bruno Marques, Instituto de História da Arte, IHA, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, FCSH, Universidade Nova de Lisboa

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

MARIA LAMAS FOTÓGRAFA






 Em 1947, quando Maria Lamas dá início às suas viagens pelo país para a publicação de 'As Mulheres do Meu País', tem 53 anos, e fora até há pouco directora de 'Modas e Bordados', jornalista e romancista. "Resolvi arranjar uma máquina e ser eu, também, fotógrafa", lê-se numa notícia publicada no boletim 'Ler - informação bibliográfica', Publicações Europa-América (Maio-Junho 1948, pág. 10).
"A obtenção de fotografias, confessa, foi uma das maiores dificuldades que encontrou, pois queria-as ‘verdadeiras, expressivas, com valor documental e inéditas’. Acabará por assumir-se como repórter fotográfica, num trabalho pioneiro" – 'O Primeiro de Janeiro', Porto, 28 de Abril de 1948 (entrevista na pág. "Das artes e das letras").
Os seus inúmeros retratos de mulheres devem ser vistos como uma grande aventura fotográfica, com um sentido de documentário social, de denúncia e de esperança ou optimismo que tem de ser associado ao neo-realismo, como uma contribuição muitíssimo original (o neo-realismo nunca teve fronteiras conceptuais fechadas e pode/deve ser identificado como tal, ou como aproximação a, sem que os autores dele se reclamem).
Herdeiras de uma prática fotojornalística recorrente - o retrato individual que acompanha as notícias - , as fotos de ML têm uma verdade e uma energia contagiantes, que desde logo decorrem e comungam da situação concreta do inquérito e do voluntarismo da autora. Toda a ambição esteticista ou artística está ausente: são documento e testemunho, tanto das mulheres encontradas no terreno como na atitude da autora. Nunca foram expostas até aos anos 2000 (e seguramente não foram pensados como objecto de exposição, ou colecção, ou edição autónoma), e nem mesmo foram incluídos ou referenciados, ao que julgo, nas exposições documentais tardias sobre Maria Lamas.
Não referidos por António Sena na sua história, permaneceram como material não visto, não reconhecido, não valorizado, ignorado pelo neo-realismo oficial (o das EGAP de 1946 a 1950...) e também, naturalmente, pelos meios da "arte fotográfica", em que também o neo-realismo penetrou (Lyon de Castro, Cabrita e outros). Não um não-dito da fotografia portuguesa, que por vezes continua a incomodar quem se rege por etiquetas e não por dados visíveis.
São na maior parte das vezes retratos individuais e também de grupo. Retratos directos e frontais realizados nos locais de trabalho, como que interrompendo momentaneamente a faina. Noutros casos são mesmo momentos ou situações de trabalho que se ilustram, procurando registar a dureza do esforço físico. Totalmente despidas de efeitos de luz e sombra, feitas sob o sol directo e cru, as imagens prescindem também de toda a anedota ou nota de mistério, à beira de uma impressão de banalidade que se desmente na cumplicidade dos olhares trocados, na firmeza, confiança ou dignidade dos rostos, na eficácia documental das roupas, utensílios e outros objectos visíveis, numa objectividade enxuta e tocante. A banalidade, o banal (a suspensão da arte), é um tema essencial da prática e da teoria fotográficas, que se manifestara uma década antes durante a "polémica do flagrante" e foi tendo sucessivos afloramentos (Walker Evans, a Pop, etc)
Cada fotografia é acompanhada por várias linhas de texto que ultrapassam a condição de simples legendas para fornecer informações complementares e comentar o contexto económico e social de cada situação.
Realizadas por um fotógrafo-não-fotógrafo (nem profissional, nem "amador", no sentido habitual de aficionado da arte fotográfica), que apenas por necessidade recorreu por algum tempo a um "caixote Kodak", estas fotografias suplantam o interesse das restantes imagens do livro, assinadas por um heteróclito grupo de outros autores. Essa outra muito vasta antologia fotográfica documental que ML escolhe e inclui no seu livro comprovam a forte relação com o medium (com o acesso a importantes acervos e o relacionamento com fotógrafos, ou seja, uma cultura fotográfica assinalável) para além da produção própria.
No seu recente livro (Maria Lamas, Mulher de Causas - biografia breve, ed. Município de Torres Vedras, 2017) e nos comentários que deixou escritos numa nota abaixo, José Gabriel Pereira Bastos acrescenta informações essenciais para se perceber o contexto ideológico e político, profissional e pessoal, da obra de M.L.



































Dois, três pontos: 
1. os pintores e os teóricos do NR não reconheceram a fotografia senão como documento para artistas ou informação (mesmo que vários deles fotografassem: Lima de Freitas, Cipriano Dourado e outros - ver "Ciclo do arroz"). Colocando a prioridade no 'neo' (realismo) e logo na fuga ao naturalismo, entendem a 'deformação' como índice do moderno - a fotografia não deforma, copia. 
2. o NR plástico que se inicia em 1945, com pioneirismo em relação à França ou à Inglaterra (que estavam mais ocupados com a Guerra e a reconstrução), depende em especial da informação norte-americana que é amplamente distribuída durante a 2ª Guerra (Biblioteca americana, Academia de Belas Artes, etc), com foco nos realistas americanos de direita e de esquerda (Benton e Ben Shan), mexicanos e brasileiros: todos eles são à época a nova arte própria da América, antes de se afirmar Pollock e o expressionismo abstracto. Não há lugar para falar em realismo socialista de imposição soviética antes de c. 1948, ou mm 1952, e aí começa a divisão no campo NR e afins, que é até essas datas um espaço pluralista e livre. 
3. Até c. 1952 e à querela dos intelectuais, e o 'desvio de esquerda', não se pode atribuir à linha do PC a condução da criação intelectual e artística; as estruturas são frágeis e as figuras que se destacam como criadores, mesmo entrando no PC, têm mais importância que os controleiros e que uma direcção fraca e distante. É necessário não ver Stalin por toda a parte antes de se extremar a Guerra Fria. 
4. O destino soviético de M. Lamas, por um lado, e as afinidades titistas de Adelino Lyon de Castro (com Piteira Santos, a Ler, Mário Soares, etc), para mais morto por doença muito cedo (1953), devem ter inviabilizado ou pelo menos demorado o reconhecimento das suas contribuições fotográficas durante décadas. Para além do que deriva da escassa cultura visual reinante, como se observa neste "caso" Lamas levantado por uma experiêrcia ensaística do Manuel Villaverde Cabral.

Adenda
É um artigo de Manuel Villaverde Cabral publicado no Vol.12 nº 23 | 2017 de Comunicação Pública
"Fotografia e Propaganda no Estado Novo Português", com o título
"Texto e imagem fotográfica no primeiro contra-discurso durante o Estado Novo: «As mulheres do meu país» de Maria Lamas" 
que justifica o regresso à obra fotográfica de M.L.

Depois de apontar textos antigos no blog Typepad e em especial "O neo-realismo na fotografia portuguesa, 1945 – 1963"
publicado em INDUSTRIALIZAÇÃO EM PORTUGAL NO SÉCULO XX. O CASO DO BARREIRO, Actas do Colóquio Internacional Centenário da CUF do Barreiro, 1908-2008, Universidade Autrónoma de Lisboa, 2010. Pp. 423-442.
(colóquio que teve lugar no Auditório Municipal Augusto Cabrita, Barreiro, 8-10 de Outubro de 2008. Painel 4 - Do Realismo ao Neo-realismo: imagens do trabalho e do operário na arte portuguesa)
https://www.academia.edu/525938/O_neo-realismo_na_fotografia_portuguesa_1945_1963

...passei a referir-me ao texto do MVC, recém-chegado tarde e descuidadamente a assuntos de fotografia:
1

  " "convém clarificar nesta secção inicial que não se pode falar d’As Mulheres do meu País como um foto-livro. Com efeito, no período do Estado Novo (1934-1974), há apenas um foto-livro propriamente dito, a saber, Lisboa: Cidade Triste e Alegre dos arquitectos Costa Martins e Victor Palla (1959)"
O MVC vem destacar a importância do livro de ML, redescoberto a partir de 2002 graças à notável reedição da Caminho dirigida por José António Flores, onde o facsimili se recortou para incluir a reprodução das fotos originais da Maria Lamas. (Com uma 2ª ed. logo em 2003 que acabou em parte laminada pela Leya.) António Sena na sua história ignorou (ou ocultou) a obra e a autora, fotógrafa de um livro só. 
Mas MVC engana-se ao identificar apenas um "foto-livro propriamente dito" no período do Estado Novo (1934-1974, se é que o E.N. veio até esta data). Eu alargaria o conceito de foto-livro para incluir "As Mulheres..." porque a presença da fotografia é essencial à reportagem-ensaio, que é também um ensaio fotográfico - mas não se percebe como MVC esquece ou ignora os foto-livros do regime, os de Artur Pastor e alguns outros."

O MVC quereria referir-se ao único foto-livro contra o regime... (como lembrou o Zé Neves e o MVC agradeceu:"Obviamentre, obrigado Zé!" 
Mas qualificar de livro "contra o regime" o de Palla e Costa Martins é redutor para a obra e para o regime...
 
A nota acima motivou uma resposta de Filomena Serra (directora da publicação e esposa do publicado) que tenta iludir a falta de razão:
 
(3 Dez) "Nao é a primeira vez que Alexandre Pomar se esconde por detrás das três letras MVC evitando colocar o nome por extenso para assim passar despercebido por ele e dizer mal enviesando o que Manuel Villaverde Cabral escreve e fá-lo com todo o à vontade e desfaçatez aqui no seu cantinho. De facto Manuel Villaverde Cabral usa pouco o Facebook e tenho evitado dizer-lhe o que AP escreve por aqui apunhalando pelas costas. Manuel Villaverde Cabral conheceu Maria Lamas muito bem e foi aliás a primeira pessoa que ele viu em Paris quando lá chegou como exilado. Leia bem o texto que em caso nenhum desmerece Maria Lamas, bem pelo contrário. O texto exprime uma profunda admiracao pela mulher e pela fotógrafa. Sim são fotografias "caseiras" e nada desmerecedoras. Nao percebeu? Tem a certeza que leu bem ou tresleu? O fotógrafo Luiz Carvalho compreendeu muito bem. AP deita areia para os olhos de quem provavelmente nao leu. AP é historiador? AP é sociólogo? NÃO! Já alguma vez escreveu mais de 6 páginas sobre Maria Lamas? Que eu saiba Não! Mas continua a espalhar a verborreia neo neo neo que utilizava no jornal Expresso, e agora já bastante enferrujada. Resta-me dizer como co-editora que o artigo de Manuel Villaverde Cabral foi sujeito tal como todos os outros textos a dois peer review anónimos na área da história da fotografia."

2. 

Voltei assim ao assunto:
" Ainda Maria Lamas fotógrafa, em resposta breve a Filomena Serra que veio defender em comentários pouco visíveis o historiador Manuel Villaverde Cabral enquanto observador de fotografia, servindo-se de uma opinião de Luiz Carvalho.
As fotos "parecem feitas por uma principiante", escreve MVC, enquanto LC intitula "as fotos caseiras de ML" uma confusa nota onde se baralha: "É evidente que é um olhar nada treinado, sem técnica nem intenção narrativa. São testemunhos frontais, simples e daí a sua coerência ao ter criado um discurso visual que ultrapassou as suas intenções iniciais." - o que quer isto dizer?  
E que vale a qualificação atribuída por LC a ML face aos comissariados de Jorge Calado? Para não referir o que fui escrevendo sobre ML e que foi fazendo o seu curso... (não tenho presente o que terá escrito Emilía Tavares sobre ML). Se não ignora as exposições e os textos ( esta não é uma área de competência de MVC) impunha-se contra-argumentar. LC é um esforçado divulgador e um bom fotógrafo dado a ressentimentos (nem todos podem ser os melhores). 
ML é uma grande descoberta como fotógrafa : é preciso vê-la com disponibilidade e boa fé, admitindo que há artistas expontâneos, e inesperados, desconhecidos, sem fugir à surpresa e sem precisar de embrulhar as imagens (e a cegueira propria) em enredos ideológicos improdutivos. António Sena tb não a viu - ficam em boa companhia, mas errados: perdem uma pequena obra e um caso de excepção da fotografia portuguesa.
MVC conheceu bem ML ao tempo em que as suas fotografias não se valorizavam nem compreendiam. Posso dizer que conheci bem MVC e que com ele e outros fiz política em 74-75, depois de o admirar nos tempos do exílio, do esquerdismo e da investigação. Depois o mundo deu muita volta. MVC, como eu disse, tem as suas áreas de competência, tb na do comentário político actual, que às vezes partilho. Apesar de ter sido crítico de cinema, a fotografia é uma área em que vê pouco e mal. Insuficiência ou ausência de pesquisa, desde logo quanto à foruna crítica recente de LM; errada desvalorização da qualidade fotográfica da pequena obra de ML (que vale o esforçado LC face aos comissariados de Jorge Calado? - se não os ignora devia discuti-los). Investigar e argumentar são a chave operacional da questão. Gostaria de ter. continuado a ser amigo, cúmplice, camarada, visita de casa de MVC, se julga adequado pôr a divergência em termos pessoais.
Outros artigos da revista (importante por trazer atenção a uma área desabitada) merecem uma abordagem criticamente negativa, por exemplo sobre “propaganda colonial”.

3.
Desde 2009, pelo menos, Maria Lamas é reconhecida como uma grande fotógrafa, mesmo que de uma obra só e por um breve tempo - sem formação na área e sem ter feito exposições (a fotografia tem destes "acidentes", o que a torna ainda + interessante). O artigo de MVC ignora-o e, aliás, não chega a entender ML como fotógrafa - as fotos "parecem feitas por uma principiante", diz, e refere depois um olhar "tecnicamente principiante mas solidário com as personagens do seu livro", o que já é uma pista para entender esta obra - obra-prima de uma fotógrafa ingénua (?, mas com grande experiência da fotografia) ou outsider, tão melhor que tantos profissionais e amadores.

Para além de outros escritos dispersos, por duas vezes Jorge Calado levou ML a grandes exposições internacionais: expôs sete provas de época e uma prova moderna na mostra "Au Féminin", em Paris, no Centro Cultural da Gulbenkian, onde foi a artista mais representada (2009, há catálogo, esg.) e apresentou-a numa representação ibérica de apenas 10 fotógrafos na "Dubai Photo Exhibition 2016".

Basta uma pesquisa na internet para descobrir a fotógrafa Maria Lamas e, se MVC não a fez, devia ter pedido ajuda ou devia alguma comissão de avaliação científica da revista mandar o artigo para trás. MVC tem as suas áreas de competência, até como comentador político, mas neste caso a ousadia de falar do que não conhece e mal investigou não lhe correu bem. Tomemos o caso como exemplo, entre muitos outros, da descuidada compartimentação académica de saberes e da ignorância universitária. (4) 30 dez.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Espólio de José Redinha

https://leonorfigueiredo.files.wordpress.com/2012/05/caju_jose-redinha1.pdf


Espólio de José Redinha

Artigo de Leonor Figueiredo publicado na revista Caju em 20 de Janeiro de 2012

José Redinha por descobrir
Em Portugal existem muitos pedaços da História de Angola, heranças do tempo colonial. O espólio do antropólogo e etnólogo José Redinha (1905-1983), recheado de documentos e manuscritos inéditos, é um desses casos. Está inacessível ao público.

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Década de 30 (Exposições 1931, 1934, 1836, 1940)

The Global 1930s: The International Decade

Front Cover
Taylor & Francis, Jul 4, 2017236 pages
Decentering the traditional narrative of American breadlines, Soviet show trials and German fascists, The Global 1930s takes a truly international approach to exploring this turbulent decade. Though nationalism was prevalent throughout this period, Matera and Kent contend that the 1930s are better characterized by the development of internationalist impulses and transnational connections, and this volume illlustrates how the familiar events of this decade shaped and were shaped by a much wider global context.
Thematically organized, this book is divided into four main parts, covering the evolving concept and trappings of modernism, growing political and cultural internationalism, the global economic crisis and challenges to liberalism.
Chapters discuss topics such as the rivalry between imperial powers, colonial migration and race relations, rising anti-colonial sentiments, feminism and gender dynamics around the world, the Great Depression and its far-reaching repercussions, the spread of both communist and fascist political ideologies and the descent once more into global warfare.
This book deftly interrogates the western-focused historical tropes of the interwar years, emphasizing the importance and interconnectedness of events in Asia, Africa and Latin America. Wide-ranging and comprehensive, it is essential and fascinating reading for all students of the international history of the 1930s.

Johannesburg 1936







quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Exposição Colonial de 1934, Porto

http://doportoenaoso.blogspot.pt/2014/02/o-porto-dos-anos-30a-exposicao-colonial.html

A mais extensa documentação iconográfica sobre a ECP 1934, reunida por Ricardo Figueiredo no seu blog "do Porto e não só..."


http://doportoenaoso.blogspot.pt/2014/02/o-porto-dos-anos-30a-exposicao-colonial.html

domingo, 11 de dezembro de 2016

2016, Polémica

 A história inovadora

´Transcrevo do Facebook (de 10 de Dez.) para não perder mais tempo. Com um ou outro acrescento pontual.

1- Já leram a promoção que um conhecido semanário (o Expresso) faz hoje de um des/conhecido historiador de arte (o BPA, catedrático)? É informação? É crítica? É recado? É bairrismo? É publicidade? É uma vergonha. Rais partam o semanário que desce, desce, desce... Fiquei espantado qd vi a revista de um amigo. Como não acreditei, vim a casa digitalizar para guardar as provas do delito (do Valdemar Cruz, um topa a tudo sem competência para se ocupar do tema, mesmo como jornalista generalista).

2- Devo dizer que comecei a ficar incomodado qd recebi um mail assim: "Conversa Pública e Lançamento do Livro
Com <...o autor> (Professor Catedrático na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto) e João Ribas (Diretor Adjunto do Museu de Arte Contemporânea de Serralves)

Com esta obra luxuosa, repleta de belíssimas imagens (mais de 500), <o autor> apresenta-nos uma visão profundamente original e inovadora da História da Arte portuguesa no último século.
Rompendo com muitas das ideias cristalizadas no tempo sobre artistas inigualáveis como Amadeo de Souza-Cardoso, e revelando a genialidade de nomes quase esquecidos, o mais importante crítico de arte da atualidade oferece-nos uma panorâmica, excecionalmente rica e solidamente fundamentada, da receção nacional aos movimentos artísticos do século XX e dos seus protagonistas.
Esta será, daqui em diante, ‘a’ História da Arte portuguesa contemporânea, referência incontornável para artistas, colecionadores, estudantes e amantes de arte.

" 'É com este alfobre de ideias, de conhecimentos enciclopédicos, de finura de observação, de alta cultura não só artística como também filosófica e literária, através de uma escrita sempre elaborada e original, rica de semelhanças e diferenças, que o leitor fica – com as imagens ao lado – habilitado a escolher de entre o ‘museu imaginário’ concebido <pelo autor> as obras que mais gostaria de levar para casa a fim de as colocar no pequeno museu da sua imaginação.' - do prefácio de Manuel Villaverde. " [Mas foi mesmo o MVC que escreveu esta prosa digna de um qq serôdio académico? Não é o Manel que eu conheci.]

Enviado pelo autor do livro, este escrito promocional está também e ainda na Agenda de Serralves: http://www.serralves.pt/pt/actividades/historia-portuguesa-do-sec-xx-uma-historia-critica/ Já tinha esquecido a coisa qd sábado deparei com a Revista do Expresso. Anote-se para a História que alinham nas sessões, no Porto, o João Ribas, o António Guerreiro e o Manuel Villaverde Cabral, e em Lisboa Margarida Acciaiuoli, o mesmo Manel e o José Bragança de Miranda, numa "conversa aberta" moderada por Margarida Brito Alves e Filomena Serra.

3- Pergunta o escriba (V.C.) para entrar na matéria: "Pode um artista integrado na lógica fascista ser em simultâneo um modernista?" (e se dissermos que a "lógica fascista" é em si mesmo modernista? - o perguntador perderá o pé?)

"Há um modernismo fora de Lisboa, porque o regime proibia as manifestações modernistas. Sobretudo a partir de 1931, procura arregimentar os artistas." Vem entre aspas, deve ser do catedrático.
'O regime' já proibia antes de 1931? Já procurava arregimentar os artistas? Mas 'o regime' existia antes de 1931? Ferro antes de Ferro?

'O regime' fazia as suas Exposições de Arte Moderna, no SPN/SNI, por onde passavam os modernos / 'modernistas' existentes, contemporâneos mais ou menos coevos das modernidades moderadas dos anos 30 com curso dominante em todo o mundo, nessa década de reafirmações realistas em diferentes formações nacionais (ver "Années 30 en Europe - Le Temps Menaçant", MAM Ville de Paris 1997) e incluindo surrealistas como Pedro, Dacosta e Cândido (eram do "contramovimento" segundo MVCabral), e até futuros neo-realistas, mas diz-se que "proibia as manifestações modernistas" (as exposições, entenda-se).

"Não se pode dizer que aquele grupo dos neomodernistas lisboetas são pintores modernistas, porque vendiam todos para o regime". Temos aqui um 'must' entre as muitas pérolas. Eram modernos porque expunham no Salão de Arte Moderna e porque se contrapunham aos "botas de elástico" da SNBA (a Sociedade à antiga), como se devia saber, e também eram 'neomodernistas' mas não, nunca modernistas. Vá-se lá entender o que por aí se escreve, inovando, polemicando, contextualizando, e com muitas ilustrações para fazer um coffee table book a dar-se ares de hiustória crítica.
Estranho era o Botas ('o regime') ter comprado a todos - ele saberia? Assinava os cheques sem ver? O Ferro enganava-o? Temos por aí uma nova pista para abordar o fascismo nacional.

Os artistas que trabalharam para António Ferro "não são modernistas, e esta é a primeira grande dissensão relativamente ao critério de França". Etc, por aí fora, sem se perceber se o jornalista percebe o que escreve e o que cita.

Modernismo é uma palavra de uso difícil e variado, que quer dizer coisas diversas, episodicamente, em países e tempos diferentes. Modernista, em princípio, era alguém ou algum movimento que se reclamava como moderno, como do seu tempo, portanto inovador, em geral definindo-se numa "vanguarda", numa corrente, tendência ou estilo que se opunha a outros, anteriores ou diversos. Hoje já não há modernistas, o que torna mais complexo um uso útil do termo: ou é uma categoria precisa na história ou é uma sucessão ± vaga de movimentos e/ou vanguardas que têm só em comum o facto de se substituíram e/ou sobreporem desde meados do séc. XIX aos academismos e salonismos (aos gostos dos Salons) dominantes. Para muitos ficou entendido como modernismo a sua versão tardia e última, formalista à Greenberg. Mas modernismo pode ser também um não-conceito vazio, um saco de gatos, uma rasteira aos incautos, um factor de intermináveis confusões.

ADENDA

Recordo que, entre outros quiproquos, no Expresso e fora, escrevi em 1994 uma crítica sobre a 1ª versão desta mesma história nacional: EXPRESSO Actual, 12 Fevereiro, pp. 15 e 16, sob o delicado título "Borrar a pintura". O sr respondeu na edição de dia 26 (texto não transcrito no local abaixo referido) e eu respondi-lhe na mesma data ("Ponto final"): os interessados podem ler em http://alexandrepomar.typepad.com/alexandre_pomar/2010/01/pol%C3%A9mica-em-1994.html