A ler:
1. a fotografia feita em África, sobre África e os seus habitantes (os indígenas, as tribos, as suas culturas) é sempre "PROPAGANDA COLONIAL? Não será nunca divulgação, informação, etnografia? O artigo vai dizendo que sim, que é fotografia etnográfica, que se trata de levantamento etnofotográfico, mas é sempre preciso prestar vassalagem à rotina ideológica e chamar-lhe propaganda, e apontar "o gosto pelo pitoresco e pelo exótico". De imagens não se sabe falar, repete-se o formulário tido por anticolonial.
2. Elmano Cunha e Costa, advogado e fotógrafo, é uma figura central e não uma sombra ou agente de Galvão.
http://journals.openedition.org/cp/1966
"Fotografia e propaganda colonial. Notas sobre uma união de interesses na primeira década do Estado Novo"
Photography and colonial propaganda. Notes on an interests union in Estado Novo first decade 
Teresa Matos Pereira
As 
ligações entre o discurso da propaganda colonial e o discurso 
fotográfico contribuíram para criar, nos primeiros anos do Estado Novo, 
uma imagem dos territórios africanos sob domínio colonial (incluindo a 
terra, os seus habitantes e respetivas culturas) que permaneceu muito 
após o final do regime e do processo de descolonização. Neste texto são 
delineados os princípios em que assenta este feixe de ligações, a partir
 de duas publicações que têm Henrique Galvão como figura central: a 
revista Portugal Colonial e o álbum Outras Terras, Outras Gentes.
3. Rondas de África
51A 
iconografia referente ao território angolano, especialmente no que toca 
às sociedades autóctones, foi ampliada, na década de 30, pelo 
levantamento etnofotográfico de Elmano Cunha e Costa, entre 1935 e 1938,
 que forneceu um conjunto alargado de imagens que iriam povoar diversas 
publicações, de entre as quais a reedição do relato de viagem de 
Henrique Galvão, Outras Terras, Outras Gentes, transformado em álbum profusamente ilustrado.
52 Entre
 1935 e 1938, o advogado Elmano Cunha e Costa (1892-1955), juntamente 
(?) com o padre espiritano Carlos Eastermann (1896-1976), empreende um 
levantamento etnofotográfico de grande parte do território angolano, com
 especial destaque para o centro e sul (ver Castelo & Mateus, 2014).
 A sua atenção recairá não só na catalogação de ‘tipos étnicos’, mas 
também em todos os aspetos ‘típicos’ que pontuam as vivências 
quotidianas – o espaço doméstico, a paisagem, os adornos, os penteados, 
as atividades económicas e os usos e costumes –, impregnados de um gosto
 pelo pitoresco e pelo exótico das “várias dezenas de tribos indígenas 
que povoam a grande colónia de Angola, cuja área territorial é catorze 
vezes e meio superior à da Mãe-Pátria” (Cunha e Costa, 1946).
- 1 A edição consultada foi a da Imprensa do Jornal de Notícias em virtude de esta incluir um grande número de fotografias da autoria de Elmano Cunha e Costa e e reprodução gráficas e pictóricas realizadas por diversos artistas.
 
53 Estes
 levantamentos fotográficos forneceram um manancial inesgotável de 
imagens e representações que irão povoar o imaginário português acerca 
de África em geral, e particularmente de Angola, na medida em que as 
imagens foram utilizadas até à exaustão em publicações periódicas, 
ensaios etnográficos, álbuns (de entre os quais se destacam as 
coletâneas Outras Terras, Outras Gentes1 e a Ronda de África,
 da autoria de Henrique Galvão, na década de 40), cartazes, postais e 
foram integradas nas exposições coloniais e outros eventos de especial 
relevo em termos da propaganda política. Para além desta multiplicidade 
de caminhos propostos pela fotografia etnográfica, ela assumir-se-á 
ainda como uma importante referência visual para alguns pintores e 
ilustradores que recorrerão frequentemente aos registos fotográficos 
como base do trabalho.
54 O 
levantamento fotográfico de Elmano Cunha e Costa conheceu, na verdade, 
uma larga divulgação em diversos suportes, a começar pelo conjunto de 
exposições realizadas e organizadas pelo SPN/SNI a partir de 1938. Na 
exposição realizada em 1946, no estúdio do SNI, intitulada Exposição de 
Etnografia Angolana, as 500 fotografias exibidas, que abrangiam 
paisagem, sociedades e cultura, eram acompanhadas de uma carta 
etnográfica com distribuição das “tribos” por territórios demarcados, 
ostentando as “actuais denominações”, numa passagem da nota de imprensa,
 avançada pelo Diário de Notícias, que repete o texto do catálogo da exposição.
55 Acompanhado
 da sua “inseparável Rolleiflex”, Cunha e Costa refere as motivações 
deste levantamento, que visava, em primeiro lugar, a satisfação pessoal 
de “realizar um documentário que não fizera ainda” e, em segundo lugar, a
 reunião de um conjunto de “materiais para base de estudos científicos 
que aos mestres compete fazer” (Cunha e Costa, 1946). O fotógrafo 
sublinha a importância documental da fotografia de campo, servindo de 
suporte à investigação científica – realizada sob a orientação de 
etnógrafos como o padre Estermann –, mas igualmente inscrita num plano 
da propaganda colonial , e integrada numa economia da imagem mais ampla 
como afirmará de seguida:
A ocupação científica das Colónias portuguesas é uma realidade que só os ignorantes desconhecem. (...)
56 "Creio
 poder afirmar que a imagem fotográfica é prestimosa, e que os 
documentários deste género são indispensáveis, quer para a sempre útil 
divulgação e propaganda, quer para a utilização em conferências, 
palestras (…) quer para a ilustração de livros, quer finalmente para 
alicerce de trabalhos em profundidade (Cunha e Costa, 1946).
57**  Na 
verdade <!!!>, longe de se assumir como documento etnográfico, de valor 
cientificamente reconhecido, a coleção de Cunha e Costa assume uma 
função essencialmente propagandística (Castelo & Mateus, 2014), que 
corresponde a um “natural entusiasmo pelo exótico” (Anónimo, 
1951) por parte da sociedade da metrópole. Não é assim de estranhar que 
as suas fotografias tenham integrado uma “microfísica do poder” – termo 
utilizado por Michel Foucault, sendo usado por Terry Smith no contexto 
do discurso da propaganda colonial (Smith, 1998: 483) –, através de uma 
economia visual que compreende a produção, a circulação, o colecionismo e
 as múltiplas apropriações e as reciclagens. 
(...)
** Aqui temos a cambalhota académica em total evidência, a reverência da moda ideológica actual à tutela dita "anti-colonial": o que era levantamento etnofotográfico, como atrás se disse, passa a essencialmente propagandístico. Antes qualificara-se o que é interesse pelo diferente, trabalho documental e suporte para a investigação como "gosto pelo pitoresco e pelo exótico". é a universidade no seu pior...
** Aqui temos a cambalhota académica em total evidência, a reverência da moda ideológica actual à tutela dita "anti-colonial": o que era levantamento etnofotográfico, como atrás se disse, passa a essencialmente propagandístico. Antes qualificara-se o que é interesse pelo diferente, trabalho documental e suporte para a investigação como "gosto pelo pitoresco e pelo exótico". é a universidade no seu pior...
Bibliografia específica 
Castelo, C. & Mateus, C. (2014). 
“Etnografia Angolana” (1935-1939): histórias da coleção fotográfica de 
Elmano Cunha e Costa. In: Vicente, F. (org.) O Império da Visão. Fotografia no contexto colonial português (1860-1960). Lisboa: Edições 70: 85-106.
Cunha e Costa, E. (1946). Catálogo da Exposição de Etnografia Angolana (Prefácio). Lisboa: Agência Geral das Colónias.
Galvão, H. (1931). Portugal Colonial. Uma apresentação. Portugal Colonial. Revista de Propaganda e Expansão Colonial, 1(I), março: 1-2.
Galvão, H. (1934). A Função Colonial de Portugal. Razão de Ser da Nacionalidade. s/l: Edições da 1ª Exposição Colonial Portuguesa.
Galvão, H. (1936). O Império. Lisboa: Edições SPN.l
Galvão, H. (1944). Outras Terras, Outras Gentes (vol.I). Porto: Imprensa do Jornal de Notícias.
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