sábado, 5 de abril de 2014

Luanda 1938, Sérgio Gomes, Público




Luanda 1938, um olhar desconhecido

É um objecto gráfico imponente e que dificilmente passa despercebido. Mas o certo é que passou. A historiografia recente ignorou tanto a realização da feira como o Álbum Comemorativo que dela surgiu.

A longa sequência de mais de cem fotografias começa com uma imagem óbvia nas inaugurações: uma cerimónia de corta-fita, onde o general Oscar Carmona, de farda alva, se destaca com a tesoura na mão. E a fita cai. Mas a partir daqui pouco parece encaixar muito bem no Álbum Comemorativo da Exposição-Feira de Angola, certame que se realizou em 1938, em Luanda. Como aliás toda história (ou a falta dela) desta obra esquecida e muito pouco estudada, que é um dos mais surpreendentes e notáveis fotolivros realizados em Portugal na primeira metade do século XX.

Pela mão do galerista Alexandre Pomar, que expõe na Pequena Galeria até 19 de Abril, em Lisboa, páginas deste livro publicado pelo Governo Geral de Angola, é possível apreciar várias sequências fotográficas da obra, clichés creditados a C. Duarte, mas que, segundo Pomar, serão da autoria de Firmino Marques da Costa (1911-1992), repórter fotográfico do Diário de Notícias durante 50 anos (A. Sena) e, em acumulação, do Diário Popular, membro da Missão Cinegráfica que acompanhou a visita de Carmona às colónias e a quem se atribui a autoria principal de cinco outros álbuns fotográficos que resultaram desse périplo presidencial (que duraria entre 1938 e 1939).

1938 os indígenas em recinto separado





"Os indígenas, em recinto separado apresentar-se-ão em seus característicos bailados e cantares, o que é, como se sabe, espectáculo de maior interesse, muito particularmente para os forasteiros", idem

O álbum não documenta o recinto separado onde se apresentam os indígenas, nem a actuação da orquestra do Teatro Variedades, de Lisboa, contratada especialmente para a Exposição, tal como um excelente grupo de bailarinas, da Metrópole, que actuará em recinto especialmente construído para este fim.
Existiu um aldeia indígena, como sucedera no Porto em 1934?

Na PLANTA GERAL publicada no Catálogo Oficial aparece assinalado à esquerda o "Acampamento indígena", distanciado da grelha dos pavilhões e próximo dos " Serviços Militares ", bem como do "Restaurante-dancing". Também está assinalado um pequeno "Acampamento de Escoteiros "



GUIA DA EXPOSIÇÃO e os indígenas em duas versões


Um relato refere: "É maior e + imponente do que a Exp. Colonial do Porto (1934), embora não possua tx o seu encanto por lhe faltar a moldura do arvoredo frondoso e a nota pitoresca das aldeias indígenas..." Diário da Manhã, citado em tx sem título do director adjunto da Exp., p. 19, in CATÁLOGO GERAL OFICIAL (S.G.L.).


Mas refere o Diário de Lisboa: de 31 de Agosto: "No sopé da fortaleza, extremo da Exposição, está uma aldeia indígena, com suas palhotas e usos e costumes da vida dos negros em comum."


Há um recinto separado
Outro doc.: "Os indígenas, em recinto separado apresentar-se-ão em seus característicos bailados e cantares, o que é, como se sabe, espectáculo de maior interesse, muito principalmente para os forasteiros." in Guia da Exposição-Feira (ed. Agência Técnica de Publicidade) disponível na S.G.L. - "esta publicação é considerada oficial pela Direcção da Exp.-Feira de Angola").

("de maior interesse" - tal não se diria oficialmente noutros territórios coloniais como a Rodésia nos princípio dos 960 - não se reconhece o interesse pela cultura ou arte dos indígenas, que são referidos cp,p selvagens -, e é essa diferença que importa investigar...)

(O 'recinto separado' será o "Acampamento Indígena" que figura no mapa) VER MAPA e FOTO ABAIXO

tal como actuou "um excelente grupo de bailarinas, da Metrópole, em recinto especialmente construído para esse fim". Guia cit. (este será o restaurante-dancing?)

Também deu uma série de representações, no Nacional Cine-Teatro, "a brilhante companhia dirigida pela eminente actriz Maria Matos" e no Restaurante-Dancing tocou a orquestra do Teatro Variedades, de Lisboa, contratada, como o grupo de bailarinas, especialmente para a Exposição." GUIA

Convém investigar estas matérias sensíveis sem a demagogia "pós-colonial" do costume...



1938 entre 1934 e 1940: um gráfico e um mapa antagónicos

Uma exposição africana, entre exposições eurocêntricas.
Todas elas colonialistas, mas a de 38 é mais uma exp. colonial que colonialista, digamos, colonial-africanista.

O africanista mor do regime, Hemberto Galvão, é eurocêntrico, os organizadores da Exposição-Feira Angola 1938 são africanos (são brancos residentes ou nascidos na colónia, e outros que se reconhecem como africanos e/ou se identificam com as aspirações dos velhos colonos)

1

2

3

1 -"Portugal não é um país pequeno" Escala [ca. 1:13000000]. - Lisboa : Secretariado da Propaganda Nacional. - 1 map. : color. ; 55x38 cm. - No canto inf. direito contém: "Superfícies do Império Colonial Português comparadas com as dos principais países da Europa http://purl.pt/ BND
3 - postal ilustrado SPN 1934
1 e 3 retirados de http://doportoenaoso.blogspot.pt  ( 25 de Fevereiro de 2014 acedido a 29 Março 2014)
Ver tb https://ressabiator.wordpress.com

2 - Álbum comemorativo da Exposição-Feira Angola 1938. (A ideia de Angola como capital do Império? Portugal é um país entre outros (a Espanha não está, já por causa da Guerra Civil? ou não estava antes?) França, Holanda... Índia Inglesa, União Sul Africana, Congo Belda (do rei dos belgas), A E F (África Equatorial Francesa)

O mapa 1/3 teve grande longevidade em Portugal. Que aceitação ou influência teve o gráfico 2 em Angola?

terça-feira, 1 de abril de 2014

O álbum de 1938 já referido em 1999


duas páginas de 1999



José Manuel Fernandes, in "Arquitectura e Urbanismo no Espaço Ultramarino Português",  História da Expansão Portuguesa (coord. Bethencourt e Chaudhuri), Círculo de Leitores, Lisboa, 1997-1999, vol. 5,  pp.375-376.

(O livro foi depois reeditado pela ed. Temas e Debates, em 2000, com o mesmo formato.)

Antes de referir em 2002 o Álbum no livro Geração Africana, Arquitectura e Cidades em Angola e
Moçambique, 1925-1975, Horizonte, que citei na 'folha de sala', o José Manuel Fernandes revelou a sua existência e importância nessa publicação. Mas a abordagem da Exposição-Feira por via da arquitectura não se repercutiu nos estudos gerais do mm volume.

Mais tarde foi possível identificar os pavilhões projectados por João Eugénio de Morim (pavilhão de Benguela, "de arrojada torre prismática facetada" JMF) e situar a intervenção de Fernando Batalha, autor apenas do Pavilhão Principal ou de Honra - ver foto acima.

Vasco Regaleira projecto o Pavilhão do Banco de Angola (então BNU - a ver)

Não é a estátua de Salazar que se vê no salão principal do Pavilhão de Honra (embora pareça, de facto), mas a de um navegador a identificar. O ditador aparece apenas, pelo que se pode averiguar no álbum, numa muito pequena fotografia, na também pequena e única sala de teor afirmadamente político.



Outras notas: os pavilhões não são todos de gosto Art déco, como o pp JMF dirá adiante; e o monumento é da autoria de J.E. de Morim (?).

O JMF destaca o Pavilhão das Informações, "de elegante lettering modernista na fachada envidraçada";
o de Benguela, "de arrojada torre prismática facetada" (Morim);
o posto emissor do Rádio Club de Angola, "de estética quase construtivista";
pavilhão do Bié, excepção revivalista ao gosto Art déco dominante;
o pav. dos caminhos de ferro de Benguela, "de fachada decorativa", apresentava a maqueta projectada por Cassiano Branco





diario de lisboa II








...esforço, não diremos inútil, mas ingrato, não compensador do trabalho que deu e dinheiro que custou, porque custou muito dinheiro

à exp foi dado tal carácter de seriedade que excluiu diversões, à excepção do grande restaurante... contratada a Orquestra Vitória, do Arcádia, e a gentil bailarina Lucy Snow, com o seu colega Charles e um grupo de 'girls'

...infelizmente excessivo


pavilhões colossais, audazes, rompendo o espaço com as agulhas e cúpulas modernistas


No sopé da fortaleza, extremo da Exposição, está uma aldeia indígena, com suas palhotas e usos e costumes da vida dos negros em comum.

(cf. Diário da Manhã)





segunda-feira, 31 de março de 2014

1938 Diario de Lisboa Julho, 28

Diário de Lisboa 28 Julho

                  

o jovem artista Vasco Vieira da Costa que tem a seu cargo a elaboração de mapas e gráficos
J. Morim (João Eugénio de )
grandioso padrão do renascimento económico e social de Angola
um espaço de diversões no recinto, com 12 barracas para um grande arraial
A maioria dos pavilhões, que jovens artistas projectaram, pertence à escola moderna
logo à entrada da exp. destaca-se o estilo cubista