terça-feira, 26 de janeiro de 1993

1993, 1994, 1995, 1996, Culturgest, Rui Vilar, Fernando Calhau, Colecção CGD, Egon Schiele

 ARQUIVO EXPRESSO: A CRIAÇÃO DA CULTURGEST em 1993 (há 30 ANOS) - I

A criação da Culturgest em 1993

DOSSIER EXPRESSO 26 Jun.1993, pp. 68-71

1 entrevista de Manuel José Vaz e Fátima Ramos

2. “Cultura sociedade anónima”

3. entrevista  de Rui Vilar

 1.

“Entrar nos circuitos”, entrevista de Manuel José Vaz e Fátima Ramos

 

«A CULTURGEST é uma empresa privada e comercial que assegura a animação dos espaços culturais da nova sede da CGD», diz o seu principal responsável, Manuel José Vaz. A utilização de tais espaços constituía, inicialmente, um projecto interno à CGD, dirigido para os seus empregados e para actividades de representação ligadas à natureza própria de um banco. Foi Rui Vilar, presidente da CGD, quem, entretanto, resolveu «voltar também para o exterior a utilização do edifício, abrindo-o à cidade e procurando assim suavizar o impacto negativo de uma tão grande concentração de serviços» numa única zona da cidade, decidida de acordo com concepções de gestão que hoje já não são pacíficas.
Abrir a fortaleza a diferentes usos, com novas circulações de público e horários mais flutuantes, implicou algumas alterações na obra e a revisão de condições de segurança. Mas reconheceu-se que o gigantismo da sede veio, de facto, alterar as características ambientais de uma área densamente povoada, sujeitando-a, para além de outros efeitos secundários, a uma nova vocação de serviços e ao peso do fluxo regular dos seus milhares de empregados. Toda a zona sofreria rapidamente, sem o projecto de animação cultural, um processo de desertificação no período posterior ao encerramento do banco semelhante ao que ocorre na Baixa pombalina.
Entretanto, se o mecenato cultural se tornou, para a generalidade das grandes empresas, um processo de adquirir um renovado prestígio através da ideia de uma espécie de retorno de benefícios, a animação do edifício, em especial na sua fachada volta ao Arco do Cego, corresponde também a uma contrapartida oferecida aos moradores das áreas limítrofes, depois de anos de perturbação causado pelo mastodôntico estaleiro da Caixa.
Mas as atribuições da Culturgest voltam-se ainda para o aproveitamento de algumas das potencialidades do edifício na perspectiva da sua rentabilização (congressos, reuniões, etc), actuando como «interface» entre o público e os equipamentos que se integram na estrutura da Caixa. É o caso da biblioteca da CGD, que, além da sua componente mais técnica e especializada, dedicada à economia, finanças e direito, desenvolverá uma nova vertente com criação de um Centro de Documentação Europeia, em colaboração com o Centro Jean Monet, com acesso a bases de dados internacionais. Paralelamente, outro polo reunirá documentação especializada no domínio das artes plásticas, em articulação com a própria colecção de arte da Caixa, e também no campo das artes do espectáculo.

EM TERMOS de estrutura interna, a Culturgest é uma empresa muito leve, que conta apenas com o núcleo formado pela administração, um assessor artístico, António Pinto Ribeiro, e um director técnico, Eugénio Sena, mais um secretariado de duas pessoas. Não terá estruturas artísticas residentes e, em termos práticos, irá socorrer-se da contratação temporária de serviços especializados, embora conte com a disponibilidade das equipas técnicas que pertencem aos quadros da própria CGD.
Entretanto, a natureza própria dos seus «serviços» levou a Culturgest a constituir um Conselho Consultivo, que já reuniu no dia 15 para apreciar a programação prevista e os princípios gerais que enformam o seu plano de actividades. Actualmente preenchido por 12 elementos, num total previsto de 15, o Conselho elegeu, nessa primeira reunião, Rui Vilar como seu presidente e Rui Machete (FLAD) e Yvette K. Centeno como vice-presidentes, sendo os restantes titulares Eduardo Lourenço, António Barreto, João Marques Pinto (presidente da Fundação de Serralves), Isabel Silveira Godinho, Ruy Vieira Nery, Gerard Castello Lopes, Paulo Lowndes Marques, José Mariano Gago e Manuel Pinto Barbosa. Sem poderes vinculativos, o Conselho reune duas vezes por ano.

1993 é o ano de abertura da sede da CGD e das actividades culturais da Culturgest, limitado a um trimestre de lançamento. O próximo ano será excessivamente marcado pela dinâmica da capital cultural para se poder considerar exemplar dos propósitos da empresa, justificando-se mesmo alguma preocupação dos seus responsáveis perante os riscos de um previsível excesso de oferta cultural global. É, por isso, só para a temporada de 94/95 que se prevê uma velocidade de cruzeiro e uma exacta caracterização da sua lógica de programação. Entretanto, irá procurar criar um público novo, alargando o público cultural existente, para o que se conta em especial com a população estudantil do eixo Cidade Universitária-Instituto Superior Técnico.
Para o futuro, não se exclui a hipótese de outros espaços culturais, fora de Lisboa, virem a ser incluidos na órbita da Culturgest. Para já, porém, existe uma sede precisa para a sua acção, e uma clara distinção entre os apoios mecenáticos que continuarão a ser da competência da CGD, e são várias vezes superiores ao orçamento da empresa, e o seu próprio plano de actividades. A Culturgest não é uma instituição-mecenas, disponível para distribuir bolsas ou subsidiar projectos alheios.

NÃO É SÓ por se tratar de uma empresa comercial que a Culturgest se quer definir como um projecto original no terreno da cultura. A própria linha de programação adoptada (ver texto de abertura) reveste-se de características inovadoras, e a lógica empresarial que se lhe impõe pretende igualmente reflectir um conhecimento actualizado da realidade internacional das indústrias e dos mercados culturais.
Por um lado, apresenta-se, segundo Fátima Ramos, como «uma empresa privada, que é gerida por princípios estéticos, artísticos e de gosto da sua única responsabilidade». A procura de um perfil próprio entre as instituições culturais passa por um opção resoluta pela actualidade da criação artística e intelectual.
«A área principal de actuação vai basear-se na actualidade e em geral no século XX mas, na medida em que o século XX também já é em grande parte passado, gostávamos de imprimir à nossa programação a perspectiva de um olhar de hoje, e mesmo a marca da leitura que o final do século faz sobre esse passado». Daí até ao projecto de estruturar um programa de reflexão sobre o modo como as artes abordam as angústias do final do século e do milénio vai um pequeno passo que certamente será dado com o «Ciclo Apocalipse».
A programação por ciclos temáticos, e não como soma de acontecimentos desconexos ou avulsos, é, aliás, uma das regras da casa. Inscritos na programação anunciada estão já os ciclos «Multiculturalismo e novas mestiçagens», em colaboração com a Comissão dos Descobrimentos, «Mediterrâneos», «Dança do século XX», «La Liseuse» (leituras públicas). «A interdisciplinaridade, o multiculturalismo e o diálogo entre o 'antigo' e o 'novo'. o reportório e o experimentalismo deverão favorecer tensões criativas que contribuirão para uma programação atraente e coerente» — pode ler-se num documento interno.
Por outro lado, a intervenção cultural da empresa pretende expressamente apoiar os artistas portugueses e favorecer o seu acesso às redes da circulação internacional de exposições e espectáculos. Com a reserva das suas limitadas possibilidades de intervenção: «Não queremos sobrepor-nos nem às outras instituições que já existem ou estão a ser criadas, nem entrar em competição com elas, tal como não pretendemos substituir-nos ao que são as obrigações das instituições estatais em matéria de cultura», dizem os administradores.
No entanto, Manuel José Vaz e Fátima Ramos definem como seus objectivos «tentar impulsionar a criação e fazer a melhor divulgação que pudermos das obras dos criadores portugueses, ao mesmo tempo que se apresentarão produtos estrangeiros de boa qualidade». Para além das fórmulas abstractas, trata-se de valorizar a noção de rede e de a traduzir pela prática constante da co-produção, entrando desde o início nos circuitos internacionais: uma estreia não deve esgortar-se na sua apresentação isolada, deve circular; a vinda de uma exposição ou de um espectáculo a Portugal é mais útil e mais económica se ela (ou ele) percorrer um itinerário de várias cidades — e a intervenção cultural é mais sólida, e menos passiva, se for possível participar desde o início na definição do seu programa; melhor ainda se a encomenda feita lá fora tiver as contrapartidas de um processo de trocas.
Segundo princípios já correntes de gestão cultural, mas que são raros em Portugal, trata-se de pensar a programação, desde o início, de parceria com outras instituições, assegurando uma maior divulgação, diminuindo os custos e estabelecendo mecanismos de circulação capazes de assegurar que a importação de criações estrangeiras possa ter a contrapartida da apresentação de autores portugueses no exterior.
Mas será preciso encontrar parceiros em locais exteriores à sede lisboeta, e a realidade nacional não é imediatamente favorável: por toda a parte espera-se acolher espectáculos oferecidos, limitando os investimento à cedência de uma sala.
«É patente a ausência de um mercado de produção e de distribuição artística em Portugal», lê-se no documento já citado. Aí se adianta que «as razões fundamentais residem na inexistência e ignorância dos mecanismos de produção, ... das regras de comportamento laboral e de mercado entre todos os agentes intervenientes no processo cultural, dos artistas aos programadores, na desorganização e na falta de planeamento de produção e organização de reportórios e criações».

#

2. “Cultura sociedade anónima”

(a Culturgest abre a 10 Out.)

A NOVA sede da Caixa Geral de Depósitos, ao Campo Pequeno, não é só o maior edifício comercial em construção na Europa — é também o lugar de implantação de uma experiência de gestão cultural inédita em Portugal. A CGD, que tem mantido, nos últimos anos, uma larga mas discreta acção de mecenato, vai ter a partir de Outubro a sua própria «fachada cultural», inaugurando no seu faraónico palácio do Campo Pequeno, um centro de espectáculos e exposições com programação regular.
Não se trata de mais uma fundação, embora houvesse neste caso (ao contrário do que sucede em S. Carlos ou no Centro Cultural de Belém) uma rectaguarda financeira sólida assegurada pelo maior banco português. Para gerir aquela programação e os seus espaços próprios, e rentabilizá-los também através da organização de congressos e da venda de serviços, Rui Vilar criou uma empresa, a Culturgest — Gestão de Espaços Culturais, Sociedade Anónima. Os seus capitais pertencem em 90 por cento ao Grupo Caixa (CGD e a sua holding) e os dez por centos restantes são investidos pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento. É uma lógica empresarial, mesmo que inevitavelmente sem resultados lucrativos, que presidirá às suas actividades.
Na respectiva administração encontram-se Manuel José Vaz, engenheiro com uma longa ligação ao S. Carlos (fundador do seu grupo de Amigos e durante três anos membro do conselho de administração, declarando-se, em 1991, indisponível para novo mandato), Fátima Ramos (ex-funcionária superior dos quadros da SEC, vice-comissária geral da Europália 91 e, mais recentemente, chefe de Gabinete de Teresa Gouveia na Secretaria de Estado do Ambiente), e ainda Luís Santos Ferro, em representação da FLAD.

É SÓ A 10 ou 11 de Outubro que se abrirão as portas da CGD/Culturgest, com um concerto inaugural e duas exposições simultâneas: a apresentação das obras de arte da colecção da própria Caixa e da grande mostra de fotografia que comemorou os 50 anos da agência Magnum e se encontra em digressão mundial desde 1989 (passou pela Hayward Gallery de Londres, Folkwang Museum de Essen, Stedelijk Museum de Amsterdão, Pallazo delle Expozioni de Roma, Museo Alinari de Florença, Palais de Tokyo de Paris, e está desde a passada segunda-feira no Centro Reina Sofia de Madrid, para citar apenas alguns pontos da viagem da sua «edição» europeia). As 300 fotografias da Magnum, «In Our Time» no seu título inglês, são uma indicação bastante do «fôlego» imprimido a uma programação que corresponde, de facto, à abertura de um novo polo cultural na capital.

Quanto à colecção de arte, mostrada apenas uma vez, em 1989, em instalações do Ministério das Finanças, ela foi entretanto sujeita ao reexame da sua representatividade, confiado a Fernando Calhau, iniciando-se depois um novo programa de aquisições. A colecção surgirá, portanto, já redefinida e ampliada.
Para Dezembro, continuando no capítulo das exposições, a programação promete uma mostra de 22 jovens artistas portugueses seleccionados por Fernando Pernes, «Imagens dos anos 90», em co-produção com a Fundação de Serralves e com passagem também por Chaves, e «Cem aguarelas de Egon Schiele», mostra com origem na colecção Sabasky, de Nova Iorque, organizada para celebrar o centenário do nascimento do grande pintor vienense (1890-1918).

Depois, anuncia-se um panorama da arte belga, «Resistências poéticas», também em colaboração com Serralves; «Máquinas de Cena», com cenários e adereços do grupo de teatro O Bando; uma mostra subordinada ao tema «Arte e dinheiro», paralela a um colóquio organizado no âmbito de Lisboa 94 e comissariada por Alexandre Melo, e, por fim, «Paraísos e outras histórias», novas séries ainda inéditas de pinturas de Júlio Pomar, também no quadro da programação da Capital Cultural.

A MÚSICA, a dança e o teatro serão outras áreas de programação regular, dispondo a sede da Caixa de um Grande Auditório com 700 lugares, plenamente equipado e com fosso de orquestra para 40 músicos, e de um outro mais pequeno com 150 lugares, vocacionado para conferências e espectáculos de cunho experimental. Entretanto, tal como no capítulo das exposições, também na programação da área dos espectáculos há duas constantes que podem ser sublinhadas: a programação a longo prazo (o que é raríssimo nas instituições nacionais) e a opção pelas co-produções, com abertura às circulações nacionais e internacionais (ver texto ao lado).
Significativamente, o segundo concerto previsto será de jazz, com a Big Band do Hot Club e um solista de renome, ficando assim provada desde logo a intenção de não restringir a agenda musical às áreas eruditas, mesmo que não se preveja a concorrência com os empresários do rock. O jazz, aliás, dará lugar imediatamente a um mini-ciclo dedicado à música americana, das raízes autênticas dos espirituais, do gospel ou do dixieland, aos grandes êxitos de Gershwin, Cole Porter, etc, segundo um programa da responsabilidade de Gary Gibbs, que é o animador cultural da Ópera de Houston. Mas os grandes acontecimentos do próximo ano serão a colaboração com a Capital Cultural num «Ciclo de Integrais» (32 concertos, de Janeiro a Novembro, sucessivamente dedicados aos quartetos e quintetos de Beethoven, Mozart, Bartok ou da Segunda Escola de Viena e ainda a obras solísticas de Schubert, Ravel e Bach) e, por outro lado, a divisão com a Fundação Gulbenkian da responsabilidade pelos Encontros de Música Contemporânea, em Maio.
Outros acontecimentos, reduzindo sempre o calendário aos grandes títulos, serão a apresentação em Maio da ópera Orfeu, de Walter Hus, encenada por Jan Lawers e que fez parte do Festival de Ópera Contemporâna de Antuérpia 93; um recital de obras de Rachmaninov por Sequeira Costa, por ocasião do lançamento de um disco gravado com a Royal Philarmonic Orchestra, patrocinado pela CGD, já em Novembro; e, em Outubro de 94, o acolhimento de um Concurso Internacional de Clarinete organizado pela RDP.

MAS a dança terá também um lugar destacado na programação do primeiro ano da Culturgest, a que não é alheia a presença de António Pinto Ribeiro como assessor artístico. Anuncia-se já a estreia mundial de uma coreografia de Vera Mantero (Sob) que inaugura um ciclo intitulado «Mediterrâneos» e irá depois encerrar a programação de dança de Antuérpia 93, numa co-produção com Tejo Trust e Ferme de Buisson. Depois, num outro ciclo dedicado à Dança do Séc. XX, seguir-se-ão espectáculos de solos em homenagem a Isadora Duncan, por Margarida Bettencourt, Miguel Pereira e Allison Green, sob o título genérico Atiro uma flecha pelo ar; mais tarde, um espectáculo de Meg Stuart, No longer ready made, numa alargada co-produção da Culturgest com os festivais de Klapstuk, Springdance, etc; uma Homenagem aos Ballets Russes, pela Companhia de Angelin Preljocaj; uma nova criação de Joana Providência com uma bailarina de Cabo Verde, a integrar num ciclo denominado «Novas mestiçagens»; Corol.la, de Angels Margarit; e, a encerrar o ano, a comemoração do centenário do nascimento de Martha Graham, ainda em coprodução com Lisboa 94.
Passando ao teatro, que terá menor expressão no primeiro ano devido à longa preparação de que necessita, alinhem-se os espectáculos Songo la Rencontre, de Vincent Mombachaka, com encenação de Richard Demarcy e actores da República Centro-Africana (ciclo «Multiculturalismo»); Miscelânia de Garcia de Resende, a encenar por Rogério de Carvalho e com vídeos de Daniel Blaufuks (em colaboração com a Comissão dos Descobrimentos e no quadro do VI centenário do Infante D. Henrique); um ciclo de três encenações sucessivas da peça de Pirandello Esta Noite Improvisa-se, por Fernando Mora Ramos, Isabel Câmara Pestana e João Brites, em colaboração com Lisboa 94; e ainda «As Novas Marionetas», com o apoio do Théâtre de Marionettes de Paris.
Para além dos «workshops», ateliers de experimentação e colóquios, que acompanharão, por regra, a actividade da Culturgest, deve ainda destacar-se um programa original de leituras em voz alta, com debate final sobre os textos — nomes anunciados desde já são os de José Alberto de Carvalho, Eduardo Prado Coelho, Helena Amaral, Paulo Ferreira de Castro, Isabel Matos Dias, como leitores, e Musil, Joyce, Gertrude Stein, Adorno e Merleau-Ponty. O título geral será «La Liseuse».

3

"Eficácia empresarial", entrevista  de Rui Vilar


Rui Vilar é o mentor do novo projecto cultural da Caixa, mas é ele próprio quem sublinha a independência empresarial e programática dos responsáveis pela Culturgest. As suas respostas a um questionário escrito definem, no seu medido laconismo, o quadro global em que se moverá «este novo tipo de gestão cultural», com a «preocupação de eficácia que é inerente à gestão empresarial».

EXPRESSO — Com a inauguração da nova sede, a CGD vai alterar o modo como anteriormente praticou o mecenato cultural, constituindo-se como um dos polos culturais de Lisboa?
RUI VILAR — Não. A CGD não vai alterar no essencial a sua prática de mecenato cultural. Vai, outrossim, complementá-la com outras actividades artísticas e culturais cuja programação será da exclusiva responsabilidade da Culturgest.
EXP. — A criação da Culturgest é significativa de um projecto de gestão empresarial da cultura?
R.V. — A Culturgest foi criada como empresa com o objectivo principal de gerir de forma eficaz e planeada os recursos físicos disponibilizados pela CGD. Este novo tipo de gestão cultural pretende beneficiar directamente a cidade, a comunidade no seio da qual o Grupo CGD está implantado, os seus clientes e também, e de certo modo, os empregados do Grupo.
EXP. — Qual é o horizonte financeiro e qual a orientação predominante, em termos culturais, que lhe atribui?
R.V. — A programação das actividades culturais e artísticas da Culturgest é da responsabilidade do seu Conselho de Administração. A Culturgest é dotada de um subsídio anual que corresponderá a uma determinada percentagem da previsão de custos globais para cada ano e será medido em função do contributo efectivo para os objectivos previamente definidos. Segundo as linhas programáticas da Culturgest elaboradas pelo Conselho de Administração e já apreciadas pelo seu Conselho Consultivo, no horizonte imediato, a Culturgest orientar-se-á para uma programação que privilegia a interdisciplinaridade, o multiculturalismo, a criação portuguesa contemporânea e a reflexão em torno das ciências humanas.
EXP. — Como entende as responsabilidades sociais das grandes empresas e instituições bancárias no domínio da cultura?
R.V. — As empresas têm hoje a responsabilidade de contribuir para o desenvolvimento, em sentido amplo, das comunidades onde estão inseridas. A preocupação de eficácia que é inerente à gestão empresarial não é contraditória com as actividades culturais: uma sociedade informada e criativa terá mais capacidade de entender e de realizar as transformações necessárias, designadamente no campo económico. Mas, como é também evidente, esta acção das empresas não desresponsabiliza, nem se substitui, ao Estado, aos demais agentes culturais, criadores e público.


1993

26 Jun.  pp. 68-71, “Cultura sociedade anónima” (Culturgest abre a 10 Out). / “Entrar nos circuitos”, entr, c/ Manuel José Vaz e Fátima Ramos / Eficácia empresarial, ent. C/ Rui Vilar  (I)

9 out 93 "A modéstia do gigante" (a colecção de Fernando Calhau) - (II)

Colecção da CGD Arte Moderna em Portugal: "Contemporâneos” - 16 out , 6 e 13 nov. notas

(abertura) exp. Magnum 50 Anos, «Janela aberta» 16 Outubro - notas  23 e 30 out

24 Dez. “Schiele, o maldito”, p. 13

Imagens para os anos 90 (dd Serralves): INAUG. 6 dez. - nota 18 dez.


A COLECÇÃO DE FERNANDO CALHAU: "A modéstia do gigante" (uma colecção de tendência) - II

 CULTURGEST 1994 / 96 - ARTISTAS BELGAS, 

GONZALEZ 

COBRA, 

WESSELMANN

NAM JUNE PAIK

CULTURGEST 1995: MODIGLIANI e ENCONTROS AFRICANOS

sábado, 23 de novembro de 1991

Europália'91, "Portugal 1890-1990", Ether, António Sena, Jorge Calado

"Retrato de grupo"

sábado, 6 de abril de 1991

1991, SEC, Política Cultural, Santana Lopes, Caso a Caso

 "Caso a Caso" (com Inês Pedrosa), a acompanhar uma entrevista com Pedro Santana Lopes, 

EXPRESSO Revista de 6 de Abril 1991, pp. 10, 11, 12, 15, 16, 18.

"Os casos da Cultura são já tantos que a sua inventariação só se pode fazer através de um dicionário". Em pouco mais de um ano de mandato já se podia falar da balbúrdia da SEC. Mas podia falar-se..., dentro de alguns anos iam ser usados, por outros, métodos sujos de silenciamento


ACORDO ORTOGRÁFICO - S.L. assinou-o. (Ver 
CNALP)

ÁGUA - A EPAL costuma cortá-Ia aos Museus, por acumulação de facturas em atraso. A EDP e os TLP também 
fiam: em Janeiro o total das dívidas do IPPC às três 
empresas públicas ultrapassava os 21 mil contos, tendo 
aquelas começado a ser saldadas, segundo o «DN», com 
verbas saídas (ou desviadas?) do Fundo* de Fomento Cultural. (Ver Museus)

ANOS DE PROJECÇÃO - Santana Lopes anunciou que 
os «anos de ouro» já começaram em 1990 e que vão até 
1994, assim calendarizados:
1990. Comemorações dos 150 anos da restauração da inde
pendência (tratou-se de um início simbólico e talvez por 
isso não se deu por nada - mesmo assim, os festejos em 
Vila Viçosa com a respectiva publicidade devem ter orçado 
em 70 mil contos).
1991. Exposição dos «Tesouros da Coroa Portuguesa» (que 
se deverá inaugurar este Verão na Ajuda, mesmo antes de 
seguirem para Bruxelas). Europália*.
1992. Presidência* do Conselho das Comunidades Europeias, no 1º semestre. Programa anual de animação das 
regiões fronteiriças. Exposição de Sevilha. Circa 92, em 
Washington (Ver Painéis).
1993. Supressão das fronteiras.
1994. Lisboa, Capital * Europeia da Cultura.


AQUECIMENTO - Na Biblioteca* Nacional não funciona. O Inverno foi um perigo para os investigadores assíduos.

AUDIOVISUAL, Secretariado Nacional do - As responsabilidades da SEC 
são, nesta área, diminutas. As directivas 
gerais emanam de Bruxelas; por cá, o 
SNA tem a missão de harmonizar os vá
rios sectores do audiovisual, o que foi 
entendido por alguns cineastas como 
uma posível secundarização do cinema 
face à televisão. O coordenador, António Pedro Vasconcelos, depende directamente do ministro adjunto do primeiro ministro e para a 
Juventude, e S.L. explicou que procurava para o IPC um 
presidente que se adaptasse ao estilo de APV. Encontrou-o 
em Manuel Falcão. (Ver Cinema)

AVIÃO - S.L. tem medo de andar de A. Só em circunstâncias excepcionais não se faz substituir, fora de Lisboa, 
pela subsecretária* de Estado.

BAILADO, Companhia Nacional de - Este mês não 
dançou O Lago dos Cisnes, acompanhando as movimentações da Orquestra em defesa de melhores condições sala
riais e de respeito por uma «profissão de desgaste rápido». 
Está integrada na empresa pública Teatro de São Carlos*, 
mas certamente vai deixar de estar, regressando a uma 
anterior situação de autonomia.

BARBIE - Designação dada às assessoras e secretárias do 
gabinete de S.L. Mudam com frequência e parecem ter importante intervenção nos assuntos da SEC, sobrepondo-se 
em muitos casos aos responsáveis pelos Institutos e outros 
serviços. Segundo a oposição interna levará uns dez meses 
a refazer toda a orgânica da SEC.

BELÉM, Centro Cultural de - Para alojar a Presidência* 
da CEE construiu-se um conjunto de equipamentos culturais de que Lisboa tinha absoluta necessidade. O projecto 
foi escolhido por concurso internacional e é de um grande arquitecto italiano (Gregotti, com Manuel Sal
gado) - os que lhe chamam um «mamarracho» mostram a 
leviandade dos ignorantes ou despeitados. O problema não 
está, igualmente, em que o CCB oculte parte de um prolongamento-pastiche oitocentista dos Jerónimos, mas sim em 
saber-se como tudo aquilo vai funcionar, em especial os auditórios, o museu, as áreas de exposições, depois da estadia 
dos burocratas de Bruxelas. E para se inaugurarem as actividades em Janeiro de 92, a direcção devia estar nomeada 
e em funções, já com os seus programas em execução. S.L. 
propõe entregar a gestão do CCB a uma Fundação, que se 
chamaria das Descobertas, e a transferência do Museu dos 
Coches para o novo edifício, depois de se ter antes falado 
em possíveis museus da Ciência, dos Descobrimentos, da 
Modernidade, da Portugalidade, etc ... Entretanto, os custos 
da obra ultrapassaram todas as previsões (eram 6,5 milhões 
de contas, depois 13,5, agora 27 ou 40?) e o Tribunal de 
Contas descobriu irregularidades processuais.

BIBLIOTECA NACIONAL - Esteve em riscos de 
fechar as portas em 1990 por 
falta de verbas. Este ano 
(com um défice de partida de 
220 mil contos), essa ameaça terá sido para já adiada 
graças a um reforço orçamental de 50 mil contos, mas 
há vários serviços que estão 
paralisados. Por exemplo, os 
restauros estão interrompi
dos e 25 por cento do espólio 
está degradado, não poden
do ser cedido para leitura. 
«Deus Nosso Senhor nos 
proteja», comentava S.L. no 
fim de recente visita à instituição, segundo o «Público». Os 
críticos de S.L. pretendem que não é necessária a intervenção divina, bastariam os dinheiros previstos para a 
PIAF*.

CAPITAL EUROPEIA DA CULTURA - Lisboa será 
em 94. O início dos preparativos não podia ser mais polé- 
mico, graças à nomeação de Marcelo Rebelo de Sousa como 
alto-comissário, sem acordo prévio da Câmara Municipal, 
directa interessada na matéria.

CINEMA - A maioria dos realizadores fez grosso barulho 
quando S.L. anunciou que o C. seria integrado na política 
do Audiovisual*. Os protestos transformaram-se em perplexidade com a nomeação de um jornalista especializado em 
música rock para a presidência do IPC. Manuel Falcão foi 
nomeado após ter desancado por escrito, no «Sete», a 
política de C. da SEC. S.L. explicou que naquele texto trans
parecia um homem com ideias e iniciativa, e que o facto de M.F. não ter qualquer relação com o 
sector só lhe garantia independência e 
isenção. Depois dos Estados Gerais do 
Cinema, tudo se acalmou: S.L. jurou 
proteger a arte e desenvolver a indústria, 
e remeteu o IPC às suas funções de pura 
gestão de financiamentos básicos. Cons
tituiu-se um júri, os concursos norma
lizaram-se, e concederam-se incentivos 
ao investimento de capitais privados.

CNALP, Comissão Nacional da Língua Portuguesa - 
Foi criada em 1986 por Cavaco Silva como órgão consultivo 
do Governo para a «salvaguarda da língua portuguesa». 
Dotada de ampla representatividade e presidida por Aguiar 
e Silva, a CNALP tomou uma posição crítica sobre o 
projectado Acordo Ortográfico*. Viu depois extinguir-se o 
seu mandato sem ser reconduzida. A 6/12/90, foi empossada nova CNALP, para semanas depois se perceber que a 
SEC não tencionava ter em conta, nessa matéria, a opinião 
do órgão que ressuscitara.

DEMISSÕES - António Lamas (IPPC), Baquero Moreno 
(Torre do Tombo), José Matoso (IPA) , Maria Alice Beau
mont (MNAA), José Manuel Moser (IPPC), Martim de 
Albuquerque (Torre do Tombo), Ricardo Pais (T.N. 
D.Maria II), Raquel Henriques da Silva (MNAC), Margarida Veiga (IPPC). (Ver Nomeações)

DESCOBRIMENTOS - Vão ser comemorados até ao ano 2000. Mas 1998 
é o «horizonte estratégico», com as candidaturas à fase final do Campeonato 
Mundial de Futebol e à Expo'98. Para já, 
Vasco Graça Moura, ao leme do respec
tivo Comissariado, ruma a Sevilha e prepara o pavilhão português na Exposição 
Universal.

EUROPÁLIA - É um superfesti
val dedicado à cultura portuguesa que 
decorrerá na Bélgica a partir de 17 de 
Setembro e até Dezembro, esperando- 
se que consiga provar aos «europeus» 
que Portugal não é apenas um dos países 
de origem da mão-de-obra barata. Para 
isso haverá um extenso programa de 
exposições históricas e actuais, e inicia
tivas nas áreas do cinema, música, 
dança, teatro, literatura, ciência, etc. com extensões à Holanda e à França. Nalguns casos, como nos campos da 
dança, da fotografia e da edição, a E. conseguiu ter efeitos 
positivos sobre a produção cultural. Outro lucro directo foi 
a oportunidade de restaurar e fotografar parte do património, mantendo-se assim o Instituto José de Figueiredo e o 
Arquivo Português de Fotografia em actividade. Rui Vilar 
comanda as operações e, desta vez, não se esperam grandes 
atrasos na organização. Custará algo mais de um milhão de 
contos.

FIT, Festival Internacional de Teatro - A passa
gem por Portugal dos espe
táculos de Savary, Lyubimov, Bergman e Langhoff 
será a coroa de glória de 
S.L.? A importação de grandes espectáculos estrangeiros é sempre positiva, mas a 
paralisia do Teatro Nacional* ensombra as festividades. Organizado num 
prazo curtíssimo, sem significativo apoio do mecenato, o FIT levará cerca de 
250 mil contos do Fundo* de 
Fomento Cultural. (Ver Tea
tro)

FOTOGRAFIA - Em Janeiro reabriu a Galeria Almada 
Negreiros para expor a colecção da SEC, reunida por Jorge 
Calado em 1989 e 1990 - mas aguarda-se a nomeação de 
um novo comissário para prosseguir a colecção e também 
a entrada da exposição em itinerância. Em Serralves, o 
Fotoporto foi um êxito; em Coimbra, o cancelamento dos 
Encontros de F. foi uma derrota. (Quando reabrirá a citada 
Galeria?)

FUNDO DE FOMENTO CULTURAL - Tem este ano 
2,6 milhões de contos, provindos quase totalmente do jogo 
e destinados a acções e actividades não ordinárias de cada 
organismo da SEC. Também serve, muitas vezes, como 
saco azul para compensar a sub-orçamentação habitual dos 
serviços, mas o Festival* de Teatro, a elevação dos 
subsídios às companhias, as comemorações de Vila Viçosa, 
etc., parecem ter desiquilibrado as respectivas contas, aliás 
sempre muito pouco transparentes.

GREGOS E TROIANOS - Quando iniciou as suas 
funções (a 9 de Janeiro de 1990), S.L. declarou que não 
queria agradar a «gregos e a troianos», numa provável 
referência ao largo consenso que a sua antecessora parecia 
reunir. Segundo os observadores mais pessimistas tem 
conseguido não agradar nem a uns nem a outros.

GREVE - Ver Museus, São Carlos, Bailado. 


IMAGINAÇÃO - Foi anunciada já em 1990 a realização 
de um «Grande Congresso da I.».

INTELECTUAIS - Reúnem em Queluz com Cavaco 
Silva e entregam em Belém baixo-assinados de apoio a 
Mário Soares.

IPLL, Instituto Português do Livro e 
Leitura - O sector foi uma das prioridades mais fortes da política de Teresa 
Gouveia. O presidente do IPLL, José 
Afonso Furtado, é um dos raros resistentes desses tempos; depois de um 
episódio insólito durante a última Feira 
do Livro (do género «a minha barraca é 
melhor que a tua»), a sua demissão 
esteve por um fio. Adoptou então um 
rigoroso «Iow profile», tentando levar a 
bom termo, pelo menos, o programa da rede de leitura 
pública (estão em curso cerca de 70 obras de construção ou 
readaptação e há uma dezena de bibliotecas a inaugurar este 
ano, atingindo-se um terço da cobertura do país) e também 
o das feiras do livro nos Palops.
- A instauração do princípio do preço fixo para o L. foi 
uma das promessas de S.L.

IPPC, Instituto Português do Património Cultural 
- S.L. já se afirmou «fulo com o que se está a passar no 
IPPC», não percebendo «porque é que não funciona» ("Público», 28/Nov./90). Antero Ferreira, o presidente, já 
pediu a demissão duas vezes, a primeira devido às afirma- 
ções acima citadas, a segunda em «protesto contra os 
cortes orçamentais impostos ao organismo pela SEC» 
("EXPRESSO», 5/Jan./91); os vice-presidentes têm sido 
remodelados. (Ver Prodiatec)

MECENATO, Lei do - Aguarda-se a revisão anunciada. 

MNAC, Museu Nacional de Arte Contemporânea - A 
seguir ao incêndio do Chiado, a França propôs oferecer um 
projecto de recuperação-ampliação assinado por um arqui
tecto famoso, Jean-Michel Wilmorte. Depois de gravosas 
negociações de espaços com a ESBAL, e de um alongamen
to infindável de todo o processo (chegou a prever-se a 
exposição da maqueta do estudo prévio, em Paris, em 
Fevereiro de 90... ), a coordenadora do MNAC, Raquel 
Henriques da Silva, foi afastada por se bater (com excesso 
de energia?) pelo aproveitamento desta oportunidade única. 
As obras estão agora inscritas no Prodiatec*.

MUSEUS - Passaram a abrir nos feriados e a fechar à 
semana devido a greves de funcionários que não são pagos.
- S.L. anunciou a criação de um M. do Cinema e um M. 
da Criança.
- Com a criação do Instituto Português dos M. vão sair da 
tutela do IPPC*. Os seus problemas não vão terminar por 
isso: os mais prementes devem-se à insuficiência dos orçamentos, à precaridade dos edifícios, à falta de pessoal 
especializado, à ausência de políticas de aquisições. (Ver 
Água e IPPC)

NACIONAL, Teatro - Em Julho de 90 o director do D.Maria II arrependeu- 
se de ter convidado Filipe Lá Féria a 
passar pelo Rossio; depois, em Novembro, arrependeu-se de partilhar com S.L. 
a direcção do Teatro. Agustina Bessa 
Luís já disse que «teria reagido, de 
certo, como Ricardo Pais» mas 
acrescenta: «Não estamos aqui para 
entrar em litígio» (<<Sábado»). O tempo 
e as verbas da temporada 90-91 esgotam-se com a revista de 
Lá Féria, anunciada agora para 15 de Maio. E nem sequer 
as obras do «foyer», projectadas por Gonçalo Byrne, estão 
concluidas.

NOMEAÇÕES - Algumas N. insólitas ou polémicas: Manuel Falcão para o IPC; Agustina Bessa Luís para o 
Teatro Nacional; Marcelo Rebelo de Sousa para a capital 
cultural; Eduarda Coelho para a vice-presidência do 
IPPC. (Ver Demissões)

OLIVEIRA, Manuel de - É, claramente, o cineasta do regime. S.L. não se 
cansa de repetir que financiará todos os 
projectos de O., porque «ele é o nosso 
realizador mais distinguido». Uma 
atitude contraditória com a política de 
igualdade de oportunidades para todos 
os cineastas que S.L. tem vindo a defender.

ORÇAMENTO - Cresceu alguma coisa este ano, mas 
continua a ser insuficiente. Não é a causa de todos os 
males.

ORQUESTRAS - Não existe «uma 
coisa essencial que é uma política de 
fundo articulada para as orquestras 
em Portugal. E preciso pensar quais 
ou quantas são as orquestras que 
Portugal pode ter nesta fase, o que elas 
significam em termos de custos» - 
disse o director artístico do São Carlos*, 
José Ribeiro da Fonte ("Sete», 7/3/91). 
(Ver Régie)

PAINÉIS de S. Vicente - O «Painel do Infante» vai ou 
não vai a Washington, para integrar a exposição Circa 92, 
que comemorará a chegada de Colombo? Os especialistas dizem que o seu carácter de peça única e não substi
tuível proíbe qualquer deslocação, tratando-se de pintura 
antiga sobre madeira e, para mais, de uma obra emblemática; os comissários políticos, como lhes cabe, dizem o 
que convém que digam. Do mesmo lote de candidatos à 
travessia do Atlântico (é significativo que para a Europália*, por sinal uma exposição portuguesa, o problema 
não se tenha levantado) faziam parte a Custódia de Belém, o Livro das Horas de D. Manuel e as Tentações 
de St. Antão, de Bosch (por acaso, os espanhóis têm uns dez, de menos valor, e não emprestam nenhum).

PATRIMÓNIO - S.L. disse que era uma das suas  prioridades. (Ver IPPC e Prodiatec)

PIAF - No português da SEC quer dizer Portuguese 
lnternational Art Fair: segundo veio anunciado na revista 
«Beaux Arts» de Março realiza-se 
no Porto de 29 de Junho a 3 de 
Julho, mas não é verdade. O que se 
passou foi que S.L. foi à Arco de 
Madrid e ficou entusiasmado: Portugal também deveria ler a sua 
feira de arte; as galerias acharam 
que antes de avançar para tais 
aventuras se deveria definir uma 
política global e coerente de apoio 
às artes plásticas (e, por exemplo, 
apoiar fortemente os artistas que 
conseguem penetrar nos circuitos internacionais). O 
excesso actual de feiras, a crise do mercado da arte e a 
Guerra do Golfo permitiram chegar a um consenso 
provisório: a feira (certamente com outro nome) far-se-á em 
92, em Lisboa.

PORTO - Não tem a Gulbenkian, mas tem Serralves* e 
a Régie*; não tem Cinemateca, mas tem o Fantasporto (é o 
festival de cinema protegido de S.L., mas se tiver de 
abandonar a vocação «fantástica» perderá toda a sua 
importância). Tem também um mini-Centro Cultural na 
Delegação da SEC (por equipar), um Auditório Nacional no 
antigo e degradado cinema Carlos Alberto, o Rivoli 
(comprado pela Câmara). Espera-se uma decisão próxima 
sobre o destino da Cadeia da Relação (mais um Centro 
Cultural?) e a provável compra do Teatro S.João. Edifícios 
não vão faltar; quanto a projectos e a meios para uma 
dinamização efectiva a questão é outra. Mas Manuela de 
Melo, na CMP, prepara algumas iniciativas.

PORTUGUESES AUSENTES - S.L. anunciou em 
tempos a organização de uma Semana dos Artistas P.A., ou 
dos «portugueses universais" para Junho de 1991.

PRESIDÊNCIA DA CEE - O Centro Cultural de Belém* 
estará concluido a tempo? Foi já anunciada a inauguração 
do semestre com um «réveillon» de gala no S. Carlos (com 
orquestra ou música gravada?), a apresentação em Lisboa 
das exposições da Europália* (mas, à falta de coordenação 
entre projectos, as peças pedidas para Bruxelas têm a 
devolução prometida para 31 de Janeiro), e mais um 
calendário-tipo de espectáculos (exemplo: 2ª, Teatro - 
D.Maria II. 3ª, Música/ópera - S.Carlos. 4ª, Bailado - 
S.Carlos. 5ª, Espectáculo equestre - PaI. Queluz; Corrida 
à Portuguesa - Campo Pequeno, etc.) Vai ser uma roda-viva.

PRODlATEC, Programa de Infra-estruturas Turísticas 
e Equipamentos Culturais - 14 milhões de contos serão 
investidos em equipamentos culturais com interesse 
turístico, ao abrigo do P. A lista de edifícios a recuperar, 
beneficiar ou adaptar inclui, entre outros: Mosteiro de 
Alcobaça, MNAC*, Museus Soares dos Reis e Machado de 
Castro, Casa de Serralves*. Cadeia da Relação, Teatro 
S.João, Palácios de Queluz e da Pena, Conventos de 
Cristo e de S.Bento da Vitória, Mosteiro de Tibães. A 
CEE participa neste programa com 60 por cento, através do FEDER, Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.

RÉGIE Cooperativa Sinfonia - Uma orquestra sinfónica 
tem cerca de 90 músicos, custa actualmente perto de 900 mil 
contos por ano e, num país sem «infra-estruturas» musicais, 
constrói-se mediante a importação de músicos estrangeiros, 
em geral dos países do Leste. A Andaluzia, por exemplo, 
estreou duas orquestras sinfónicas em Fevereiro/Março. Em 
Portugal chama-se a isto um luxo faraónico. Por isso a 
Orquestra do Porto só tem 50 músicos - ainda é uma 
orquestra de câmara - e esteve, em 1990, em risco de 
fechar. Possui um bom maestro, Latharn Koeniz, e tem sido 
reconhecida a qualidade das suas actuações, Actualmente procura-se mobilizar os «cooperantes» (autarquias, 
RDP, RTP, CGD) para uma participação mais digna, e a 
nova direcção, chefiada por Luís Barbosa, reorganiza a 
casa.

ROLHA, Lei da - Os responsáveis pelos departamentos 
e serviços (Museus, Palácios, Institutos, etc) dependentes 
do IPPC* foram impedidos de prestar declarações à Imprensa, por despacho de 6/12/90. Porque «se torna imperioso 
evitar o veicular de informações parcelares e desinseridas de um contexto mais vasto e global...» Antes tinha-se 
anunciado a intenção de lhes atribuir uma progressiva 
autonomia administrativa e financeira.

RTP - S.L. considera-se discriminado na Informação 
da RTP. Será em «protesto» contra uma taxa sobre a 
publicidade, destinada ao IPC, que levou também à suspensão do apoio da RTP ao cinema português?

SAGRES - O cancelamento da construção de um monumento projectado para a Ponta de S., depois de aprovado por 
concurso nacional, é um pontos positivos do mandato de 
S.L. (alguns arquitectos discordam).

SERRALVES, Fundação de - 
Para a construção do Museu Na
cional de Arte Moderna (cujo 
projecto foi formalmente encomendado, em Fevereiro, a Alvaro 
Siza) está inscrita no PIDDAC, 
Plano de Investimento da Administração Central, uma verba de 
2,4 milhões de contos, dos quais 
1,9 milhões serão da responsabilidade do Orçamento de Estado, 
graças a um apoio comunitário do FEDER orçado em 1,4 
milhões.

S.CARLOS - Durante muito tempo não se soube quando 
abria a temporada 90/91; depois, a programação foi divulgada e bem acolhida, mas, de facto, nunca se sabe se há 
função e até já se ouviram óperas sem orquestra. É que há 
um processo reivindicativo dos músicos por resolver, inspi
rado no nível salarial fixado para a Orquestra do Porto. S.L. 
já garantiu que os salários da Orquestra do São Carlos serão 
progressivamente nivelados pelos da Régie*, embora neste 
caso se trate de contratos a termo, após provas de concurso. 
Actualmente analisa-se a hipótese de passagem da Orques
tra para a tutela da Régie.

SUBSECRETÁRIA de Estado da Cultura - Natália 
Correia Guedes. Nomeada em 12 de Julho de 1990, foi-lhe 
atribuída competência sobre a Biblioteca Nacional * , o 
Instituto Português de Arquivos e as Delegações Regionais 
da SEC, além do encargo de promover a inventariação do 
património nacional, embora não tenha a tutela do IPPC. 
Costuma substituir S.L. em várias circunstâncias (ver 
Avião). É muito avara em declarações públicas.

TEATRO - É uma das prioridades da política da SEC. Os 
subsídios às companhias profissionais ditas independentes 
subiram em flecha (exemplos do topo da tabela: Novo 
Grupo e TEC passaram de 30 mil contos em 90 para 55 mil 
em 91); as Normas de Apoio à Actividade Teatral foram 
revistas, introduzindo-se a fórmula do contrato bianual e 
impondo intercâmbios entre companhias; algumas salas de 
espectáculos tiveram, têm ou vão ter obras de beneficiação 
(Lethes, em Faro; Circo, em Braga; Garcia de Resende, em 
Evora, etc.). Fala-se em apoio a «novos valores», mas os 
jovens produtores independentes, que pareciam trazer um 
novo fôlego a um panorama estagnado, entraram em crise. 
Comprou-se um Festival* a peso de ouro, mas o Teatro 
Nacional* ficou paralisado e deveria ser ele a «cúpula» do 
sistema. O balanço final é controverso.

TORRE DO TOMBO, Arquivo Nacional da - A José 
Mattoso (no Instituto Português de Arquivos) e a Baquero 
Moreno, sucederam-se no ANTT os directores Martim de 
Albuquerque e, finalmente, Jorge Borges de Macedo. A 
transferência dos velhos volumes fez-se sem acidentes e a 
18 de Setembro os investigadores tiveram acesso ao novo 
edifício, mas em condições de consulta, de espaço e de 
comodidado que têm originado protestos na Imprensa. Pode 
acolher 140 quilómetros de prateleiras e a informatização é 
o objectivo próximo. Por outro lado, o acesso à documentação da história contemporânea é um dos problemas por 
resolver, no quadro mais amplo de uma esperada lei sobre 
o funcionamento dos arquivos.