MÊS DA FOTOGRAFIA LISBOA (um mês em 1993)
Quando se anuncia a edição (anual) do PhotoEspaña que em 2007 é comemorativa do 10º aniversário e quando o LisboaPhoto (bienal) se interrompeu ao cabo de duas edições, é oportuno recordar que o Mês da Fotografia de 1993 (onde é que isso já vai...), que aconteceu em Lisboa e sob a direcção de Sergio Tréfaut, também ficara sem a anunciada continuidade (em 1995). Estamos sempre a começar... mal (à atenção de António Costa!).
Em 1995, assinalou-se assim a inconstância dos (i)responsáveis:
Tribuna - EXPRESSO/Cartaz de 03 Junho 1995
"Lx 95"
EM 1993 as Festas de Lisboa foram também o Mês da Fotografia.
No
respectivo catálogo, que foi impresso na Suíça, o vereador Vítor Costa,
do Pelouro do Turismo, afirmava então que «numa perspectiva de
diversificação e inovação, as Festas procuram lançar um acontecimento
que se pretende venha a realizar-se no futuro com uma periodicidade
bienal». Palavra de vereador.
Em 1995 não há Mês da Fotografia, tal
como já se deixara cair em 1994 o programa de «Arte Pública». Era uma
iniciativa polémica com grande visibilidade que tornava patente a
dificuldade camarária de estabelecer com a arte — a intervenção dos
artistas no espaço público, a escultura urbana e a decoração — uma
relação que não fosse apenas efémera e instrumental.
A perspectiva da continuidade, que poderia consolidar este período das celebrações tradicionais dos Santos Populares numa dimensão inovadora de festival urbano de base social alargada, articulando diferentes modos de viver a cidade e a cultura (não apenas como estratégia de «animação»), foi sendo sacrificada à falta de memória que convém a cada circunstância. Afinal, 1993 era ano de eleições; em 1995 está-se apenas a meio do mandato. E foi por acaso — a vida cultural portuguesa vive de acasos e de boas vontades — que surgiu o programa da Associação Saldanha, «Mistérios de Lisboa, Monumental 95», a assegurar a necessária marca cosmopolita das Festas e a possibilidade de se enunciar outra nova «perspectiva de diversificação e inovação». Com a retórica sempre fácil dos políticos, Vítor Costa pode dizer dos festejos de 95 que «este programa procura compatibilizar o carácter efémero que caracteriza a Festa, momento de excepção por excelência, e a indispensável continuidade cultural»...
Sabe-se que na sua primeira e única edição o Mês da Fotografia surgiu
marcado por um gigantismo de programação que veio a resultar em
diversos incumprimentos de calendário e também em custos globais que
excederam muito as previsões iniciais.
No entanto, o programa
idealizado por Sérgio Tréfaut confirmou a eficácia da fotografia como
terreno de cruzamento de inúmeros interesses, movimentou um público
muito significativo e articulou à volta de um mesmo projecto uma rede de
agentes que iam dos equipamentos estatais às galerias de arte privadas.
Foi capaz de inaugurar o CCB com uma grande exposição de Sebastião
Salgado e apresentou retrospectivas com uma qualidade pouco habitual
entre nós, como as de Robert Doisneau e Tony Ray-Jones no Convento do
Beato.
No final de 1994, o mesmo comissário apresentou à CML um novo
projecto de programação, possivelmente com níveis de ambição e custos
também excessivos para o orçamento municipal. Mas, em vez de negociar
esse programa ou de impor outro modelo de organização, Vítor Costa optou
por esquecer o que tinha escrito em 1993: «Estou certo de que o sucesso
deste primeiro Mês da Fotografia criará as condições necessárias para a
sua consagração.»
A questão da fotografia, porém, é apenas um sintoma muito particular
numa gestão camarária em que o preço da balcanização é demasiado
gritante. As «novas Festas» pretendem revestir-se de uma componente
cultural, mas a sua organização depende exclusivamente do Pelouro do
Turismo; com o Pelouro da Cultura a jogar noutro campeonato (qual?), o
S. Luiz e o Maria Matos acolhem espectáculos diversos e abrem-se as
portas do Teatro Taborda restaurado, mas as galerias da Câmara (o
Palácio Galveias, a Mitra, a Sala do Risco...) e a Videoteca, a Casa
Fernando Pessoa, etc, estão alheadas da programação, mesmo quando se
encontrem em actividade.
Se é absurdo que as Festas de Lisboa não
possam voltar, depois da experiência feliz da «capital cultural», a
envolver em projectos comuns as instituições do poder central sediadas
na cidade, ultrapassando-se a guerrilha entre Governo e oposição que a
política partidária impõe, numa lógica primária de instrumentalização do
aparelho de Estado, muito mais grave é a transferência para o interior
de um mesmo executivo municipal dos mesmos jogos de pequena política.
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