quarta-feira, 14 de maio de 2025

2025, When We See us, KOYO KOUOH, Bruxelas, Bozar

 14-05



Koyo Kouoh e When We See Us em Bruxelas
WHEN WE SEE US - Quando nos vemos - , a grande exposição que encerra a carreira de KOYO KOUOH (morreu antes de anunciar a sua Bienal de Veneza de 2026), vista no Bozar de Bruxelas, vinda da Cidade do Cabo (2022-23) e de Basileia (2024). Em Outubro segue para Estocolmo, até 2026.

15-05
CITAÇÕES
‘When I think of When We See Us, I see… black joy. The political power of black happiness. I see black emancipation and the victory over oppression.’ Koyo Kouoh
“When We See Us” turns the spotlight on everyday life and the “power of joy,” dismantling stereotypical depictions of racism, violence, or crisis. The exhibition is designed to offer viewers a fresh perspective that is celebratory, vibrant, and dignified. “We need talk much more about ourselves in ways that uplift our spirits,” the curators say.
You rarely see such a large number of people laughing while walking through an exhibition. Joy is infectious.
the focus would be on everyday things that bring joy: cooking, eating, drinking, talking, making music, dancing, having sex, celebrating, enjoying one’s body and that of others, or just doing nothing. ‘Refusing the gaze’: this is how Koyo Kouoh describes it.
Above all the legacy with which other continents have saddled Africa, the consequences of slavery, apartheid and colonialism. Koyo Kouoh has found that these dead-end streets are ineffective when it comes to self-representation. Joy is the most effective weapon when it comes to breaking the spell of the outsider’s gaze. ‘Black Art Matters!’ is proudly displayed on Koyo Kouoh’s t-shirt.



Com todas as dúvidas* e todos as reservas** que me sugere a exposição When We See Us / Quando Nos Vemos de KOYO KOUOH e Tandazani Dhlakama, vista no Bozar, Bruxelas, é uma poderosa alternativa a um panorama das artes que cada vez mais é muitíssimo desinteressante e penoso (felizmente já não tenho obrigação de o seguir - ficam outros para dizerem que é tudo bom): a arte sobre arte e a arte contra a arte (a tradição da anti-arte), o autismo, a auto-complacência e a idiotia, o vazio de sentido e de significado, a produção para os museus e para as reservas dos colecionadores ( e os museus são um mercado cúmplice, dependente das leiloeiras e galerias).

A arte dita africana, pan-africana ou black é hoje um grande mercado especializado, um nicho também mercantil onde se batem records (dos 30 mil aos 10 milhões num mesmo ano), e onde se pode ser tb medíocre e oportunista. Em Portugal mostra-se mais o oportunismo neo-pós-colonial, muito entrincheirado nas FBA’s.

Foto: 3 BOZAR_WhenWeSeeUs_photo-credit-We-Document-Art_13




Já agora, Charles White, Bridge Party, 1938.
(When We See Us, Bozar, Bruxelas)
l'artiste américain Charles White (1918 Chicago/1979) dépeint avec dérision une scène avec trois lemmes jouant une partie de bridge (Bridge Party, 1938). Elles se moquent de la taille des sandwichs servis, si petits qu'il faut une loupe pour les voir. White a enseigné à l'Otis Art Institute à Los Angeles dans les années 1970. Professeur dévoué et très engagé, il laisse derrière lui un héritage majeur. Tout au long de sa carrière, il a utilisé l'art comme un moyen de lutter contre la suprématie et l'oppression blanches, représentant la culture et les luttes afro-américaines et rendant leur pouvoir et dignité aux figures noires.
American artist Charles White portrays with mockery a scene of three women playing at a Bridge Party (1938). They poke fun at the size of the sandwiches served, as they are so small, you need a magnifying glass to see them. White taught at the Otis Art Institute in Los Angeles in the 1970s. A brilliant and dedicated teacher, he left a profound legacy. Throughout his career, he was committed to using art as a means to fight white supremacy and oppression, portraying African-American culture and struggles with a representational rigour that imbues Black figures with power and dignity.
Charles White (1918 Chicago/1979) is an acclaimed painter and muralist whose experience with the Works Progress Administration public projects enforced his desire to use art as a tool to educate about and promote African American contributions to culture and politics. His portraits are known for their representations of human dignity and the strength of working class communities. As with other works by White, The Bridge Party employs a dramatic perspective and tight composition grouping the figures as if contained by the support itself, with a rich palette of warm hues and exaggerated features. White is able to draw out characteristics, expressions and styles of dress that offer an honest yet poetic narrative whose clues portray the realistic human relationships and situations of the time.

domingo, 11 de maio de 2025

2025, Paris Noir, Beaubourg

05/11/2025

domingo, 15 de setembro de 2024

Ana Mata, 2024, Galeria 111

 Ana Mata na 111, Audácia

domingo, 23 de junho de 2024

Nathanaelle Herbelin, 2024, Orsay

 06/23/2024

Nathanaëlle Herbelin, Orsay, 2024

O título da exp ÊTRE ICI EST UNE SPLENDEUR é também o de uma biografia de Paula Modersoh-Becker da autoria de Marie Darrieussecq, Folio 2016, publicada por ocasião da sua 1ª retrospectiva em Paris, MAMVP, de que a romancista foi co-comissária - é uma explícita memória e homenagem de Nathanaëlle Herbelin a uma pintora de breve e fulgurante carreira - Dresde 1876-1907, morta aos 31 anos depois de um parto -, a primeira mulher a pintar um auto-retrato nu, até então quase desconhecida em França, sem uma única obra nos seus museus sempre xenófobos. E é por sua vez uma citação tomada ao seu amigo Rilke, “Elegias de Duino”.


                                        Etre ici est une splendeur 2022 huile sur toile 131 × 140 cm

 




Trata-se de uma referência e homenagem essenciais, tal como a ligação a Bonnard, Vuillard e Vallotton que a acompanham na exp. de Orsay, lado a lado, apontando gostos e dívidas, lições. A ponte que assim se estabelece leva-nos a uma revisão da arte do séc. XX, povoando-o de grandes pintores figurativos que pontuam uma história alternativa também modernista (recomendo “The world new made. Figurative Painting in the Twentieth Century” do pintor e ensaista Timothy Hyman, 2016, Thames & Hudson).

Para mim, a marginalização dessa linhagem justifica-me a exclusão simétrica da teleologia modernista-formalista, ou pelo menos um reequilibro de histórias, incluindo desvalorizações e recusas, e apoia a preferência afirmada por essa continuidade figurativa sempre individualmente inventada que atravessa o século XX, em muitos casos ocultada (exemplo: "Art since 1900", Phaidon). Admirar alguns artistas leva-me a ignorar, ou a depreciar, outros, faço escolhas, por gosto e por atitude face à proliferação de insignificâncias escolares displicentes. Não cabe tudo, não preciso de muito, só o melhor - o resto tem direito a existir, obviamente.

Hoje, a figuração, seja intimista, alegórica, narrativa ou inclassificável, volta a dominar o panorama internacional, à margem de correntes ou estilos colectivos, ora excelente ora não e em excesso.

A Nathanaëlle Herbelin é um caso recente, discreto e maior. A exp. em Orsay é um acontecimento - nascida em Israel, judia como Arikha, vive em Paris desde 2011, com fortes vínculos hebraicos. Por sinal passou por Lisboa em 2022 numa residência na galerie AZD, que desconheço ainda. Encontrei-a como uma surpresa, ignorava-a, quando preparava uma visita a Paris para acompanhar a presença da Mónica Machado numa exp. da colecção Treger Saint Silvestre "L'Esprit Singulier", até14 agosto na Halle Saint Pierre (https://www.tregersaintsilvestre.com/artists/monica-machado/ - mas ela não é uma escultora outsider...) 

 





Não valorizo a relação desta pintura com a fotografia ("resposta" ao Óscar Faria), ou só na medida em que esta nos acompanha como representação-visão actual, registo, memória, referência. “Tento evitar o efeito fotográfico. Pelo contrário, interesso-me cada vez mais pela pintura anterior à chegada da ‘câmara escura’, antes de Vermeer, a da Idade Média, por exemplo”, entrevista na sua única monografia até à data, Editions Dilecta 2023*.  É a relação com outros pintores que aqui persigo, como o também israelita e parisiense Avigdor Arikha (pintor de realidades observadas em geral domésticas, retratos e auto-retratos), mas não o encontrei referido nos muitos comentários sobre a pintura de NH que o exemplar folheto-catálogo do Museu inclui. Como a declarada Paula M. Becker, com  a qual muito se identifica, em especial nas maternidades. A Alice Neel, silenciada e recentemente redescoberta. Para além dos Nabis que aprendeu e dos retratos de Fayoum  e de Munch, indica-os a ambos, de Matisse, Hockney e muitos outros. É uma pintura próxima, directa, íntima e instintiva mas calculada, e também culta, franca e sofisticada.

 

 


 

“Je m’intéresse au contraire de plus en plus à la peinture avant l'arrivée de la camera obscura, donc bien avant Vermeer, celle du Moyen Age par exemple. Pourtant, il y a des peintres - comme Frans Hals, par exemple, ou François Boisrond* dont les personnages sourient au peintre comme devant un appareil photo - que j'admire et qui s'inspirent de la photographie. Je pense simplement que c'est un médium qui fige un mouvement, un moment: la photographie fige le temps. La peinture, elle - et elle est la seule à pouvoir le faire -, est un espace qui est en dehors du temps, qui peut l'ignorer. Je ne veux pas peindre à la manière de la photographie car je veux parvenir à contenir du temps, peu importe lequel, pas le figer; comme chez Giotto. le regarde d'ailleurs beaucoup ses œuvres pour cette raison. De plus en plus, j'accueille des personnes à l'atelier pour les peindre et c'est aujourd'hui cela qui m'intéresse le plus. 'ai l'impression que c'est ici qu'émerge le lien entre hospitalité et peinture: inviter une personne dans mon espace non pas pour « l'enregistrer » dans la toile mais plutôt pour partager une expérience temporelle et émotionnelle. Je pense que ce qui m'aide à ne pas avoir une esthétique «photographique», en particulier quand je m'inspire de photos que j'ai prises pour peindre - quand je ne peux pas avoir le modèle devant moi par exemple -, c'est le rapport à l'histoire de l'art. On reconnaît bien dans mes tableaux les références, les hommages même, aux bains de Pierre Bonnard, aux étreintes d'Edvard Munch ou aux portraits du Fayoum. Ce dialogue permanent avec la peinture est un jeu infini, bien plus intéressant pour moi que de peindre simplement d'après mes photos, que j'utilise d'ailleurs surtout comme des repères anatomiques ou techniques dans un contexte bien plus riche qu’elles.” * p. 101.

 



 

** o François Boisrond citado por NH, ex-Figuração Livre: http://www.francoisboisrond.com/peintures/

* Outro pintor que cita na entrevista: Tal R: "aprecio o trabalho de André Derain ou celui de Tal R qui osen montrer leurs experimentations les plus radicales", p. 96. https://www.artnet.com/artists/tal-r/




 

 

 

domingo, 16 de junho de 2024

Eugénia Mussa, 2024, Monitor

 06/16/2024

Eugénia Mussa 2024, Monitor Gallery

https://www.monitoronline.org/eugeniamussa-releasethechicken/




 

“Venham daí as críticas” desafiou a Eugénia Mussa. Sim, alguém que arrisque a crítica - mas, sem rede (?!), não é fácil enfrentar essa subtil e sábia facilidade aparente, e para mais cada pintura foge para o seu lugar singular que lhe coube na montagem. Não há rede, para além da que formam, talvez, mas já à distância, outras pinturas suas que antes vimos, sempre em seguro crescendo. Sem um formulário alheio e colectivo, sem um código oferecido ou previsível, secretas mas explícitas, enfrentamos cada pintura (diferentes também nos formatos, nos suportes e nos materiais) como um acontecimento a explorar sem mapa ou agenda.
Esta pintura "diz", mostra, mas não saberemos o que ela narra. “Release the chicken!” / Soltem as galinhas!, o título, é um desafio - não perguntarei o que significa (Soltar a franga vem no dicionário - fui depois ajudado). São espaços onde acontecem "coisas", onde acontecem imagens com títulos mais ou menos precisos e descritivos (Eden, Floresta Vermelha/The Red Forest, Familia de Patos/Duck Family, etc) que reflectem o que vemos sem "explicar" o que vemos - são uma discreta chave para seguirmos por aí a percorrê-los.
Agora E.M. afasta-se da referência fotográfica que se reconhecia em pinturas anteriores como aparente transcrição de apropriações fotográficas, em versões irónicas de consumos vários, para tornar mais enigmática a desconhecida origem de cada obra - donde vêm estas imagens de imaginação, e que importa a dúvida? Que vemos nestas imagens? - e aqui não há que fugir ao que se nos oferece. Não se trata de reconhecimento de imagens prévias, mas de surpreender a sua invenção, são paisagens, e de percorrer espaços povoados com figuras onde a matéria do óleo, preciosa e rude, leve ou densa, se dá a ver em diferentes superfícies e respectivas preparações sobre tela, cartão, esmalte - quase sempre de pequeno formato, o que as torna mais íntimas, mais cúmplices. A cores, sempre intensas, fluidas ou firmes, são cores imaginadas.




São lugares (Eden, Floresta Vermelha, Palmeiras/Palm Trees), que não pretendem ser “vistas” e descrições, e são presenças. E são acções, episódios surpreendidos, suspensos, onde se partilham o enigma e o humor (Família de patos, A Carruagem/The Carriage, Mar alto/Open Water), também paisagens diversas de uma geografia (e um tempo) a adivinhar: o mapa e a cronologia não têm guia. Num caso único a artista actualiza - ilumina com uma luz de incêndio - a visão da Descoberta da América pelo pintor e viajante alemão J.M. Rugendas, Inspired by the painting ‘Discovery of America’ (de 1820-29, séculos depois, séculos antes; é uma pintura colonial e E.M. vem de Maputo...) Não está longe a cor onírica da Floresta Vermelha e de Welcome.
As exposições de pintura, ou fotografia, são em geral a sequência de uma obra única, através de variações, continuidades, sucedâneos, que nas melhores hipóteses se vêem como um filme, um romance, uma série. Aqui, na diversidade dos lugares singulares de cada quadro, de cada paisagem e de cada episódio, penso num livro de contos ou short stories. Tudo recomeça página a página, invenção a invenção, surpresa a surpresa, sem que se disperse ou confunda o mundo original que aqui se mostra.

Galeria Monitor / Monitor Art Gallery, Rua da Páscoa 91 - Rua do Sol ao Rato 41. Até dia 22 junho


 

Floresta de vermelhos, e o chão também, mais do que castanho, mar amarelo/verde, céu roxo/violeta. Percorre-se um quadro, mesmo que seja de pequeno formato. A contemplação é activa e pode ser interminável. Interroga-se um quadro. A imagem, a superfície pictórica, material, e o título também, quando existe, já passado o século dos “sem título”. Interpreta-se, mesmo que a procura de sentidos e as pistas interrogadas não devam substituir-se à presença imediata da obra, à sua intensidade visível fulgurante, imagem e matéria. Há que suster as elucubrações. 
The Red Forest lembra-me Friedrich, um pequeno vulto solitário na paisagem, diante e dentro da paisagem, visto certamente de costas, numa mancha única e pouco definida, diante do mar e do céu. Friedrich, mas hoje não precisamos de chamar Metafísica ao que é pensar a vida, a existência, a identidade própria. (Há sobre a linha do mar (linha do horizonte, chão do palco) uma sombra sugerida, talvez outro vulto à distância que pode ser um desdobramento do primeiro vulto, que assim se observa a si mesmo, ou se vê como um espelho, ou com quem pode estabelecer um diálogo ou só a respectiva promessa. Não sabemos).
O vulto (quase quase) central assenta num rochedo que o mar amarelo-verde contorna, como a foz de um rio, num amarelo solar, uma fenda de lava, que rasga até aos bordos o espaço inferior do quadro. A certa altura lembrei-me da pequena sereia de Copenhaga, a partir de um conto de H.C. Anderson - é também uma figura meditativa, feminina essa, e por aí o conto e o escritor prestam-se a leituras psicológicas que aqui podem ser dispensadas. Fui sondar as mulheres solitárias de Vilhelm Hammershøi, outro dinamarquês, mas são quase sempre interiores, presentes de pé e de costas - não é o caso.
A floresta é vermelha e este é o nome (procuro no Google*) da floresta contaminada de Chernobyl - não será por acaso, é uma referência possível para esta floresta irrealista, incendiada mas não queimada, de facto vibrante e onde permanecem pequenas manchas vivas de verde, iluminada a fogo, como será (adiante, depois do pequeno vermelho Welcome na passagem entre espaços da galeria) a pintura relativa à Descoberta da América a partir de Rugendas. Por aí, lembrando Chernobyl, esta é uma pintura de actualidade, de intervenção, de alerta, não romântica.
Mas a floresta que rodeia o mar/rio e a pequena personagem fecha-se no topo, envolve o espaço aberto e este vê-se como um céu e ao mesmo tempo como espaço de teatro, um palco, um pano de cena. Estamos diante do palco, espectadores num teatro à italiana, dentro da paisagem, ou vemos diante de nós, ao contrário, desde o fundo central, de uma galeria “abstracta”, a cena aberta, o espectáculo, sugeridos. E a cortina (e/ou céu) quase roxa é uma superfície animada, que vibra e ondula, preenchida pela pincelada visível, por escorridos, empastados, transparências, vestígios de formas. Parede e horizonte. Estamos como espectadores dos dois lados da cena-paisagem desenhada pela cor. Vemos e viajamos. O pequeno formato, o bastante, íntimo, o óleo brusco e leve à superfície da tela.
The Red Forest 2024 óleo / tela 41 x 33 cm
* que já ajudou a pensar o título “Release the chicken!” (Soltem as galinhas - Soltar a franga...)


 

 

domingo, 31 de dezembro de 2023

2923, Hervé di Rosa, Arquipélago, MAAT, Amor Veneris, Marta Crawford, Palácio Anjos

 

01/28/2024

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

JOÃO FRANCISCO 2023: "Trégua..." Sovereign art prize

 



"Sem título - entre os destroços - tréguas de 12 a 15"
Tinta acrílica sobre papel 140 x 100 cm The sovereign portuguese art prize

A guerra do Médio Oriente comentada pelo João Francisco.

The sovereign portuguese art prize , em exposição na SNBA.