sábado, 29 de novembro de 2008

Nino Viegas, 2008, Arte Periférica: "A nuvem nódoa"

 11/29/2008

Nuno Viegas no CCB

A melhor exposição que se pode visitar no CCB (incluindo o Museu Berardo) é a de Nuno Viegas na galeria Arte Periférica


 


"Pizza aos pombos" e "Corrida com bilhas de gás à velocidade da luz", mais "A bandeira queimada"  "O mar de rosas", em baixo; à direita, "Jangada puxada por balões" -

A fotografia é péssima, mas esta pintura é para ver de perto (a aura, a irreprodutibilidade técnica), com o seu acerto de escalas e a densidade das matérias sobre a tela ou o papel. 


    


Por exemplo, em: acrílico, esmalte sintético, tinta da Índia, cola de madeira, marcador de têmpera e grafite sobre tela (em 80 cm de lado).

Daí o título geral "A nuvem nódoa" -  "A nuvem que surge no céu limpo - a nódoa que vem perturbar a quietude. (...)", assim começa o seu próprio texto do catálogo - falando da mancha, da pasta, da tinta e do fazer do quadro: "espécie de sopa primordial ainda sem nome para as coisas". Essas coisas têm depois nomes e títulos às vezes descritivos ("Natureza morta com bifes temperados", "Jangada puxada por balões", por exemplo), e em mais casos títulos narrativos, enunciados ficcionais, fazendo prolongar o que acontece na tela para o campo do imaginar: o magnífico "O engole-sapos" (de 199 por 140 cm) que na feira Arte Lisboa se destacava entre o que havia para ver.

O que podia ser uma retórica do acontecer da pintura, do fazer enquanto processo ou maneira, da vibração da matéria, do aparecer da forma, etc, torna-se exercício do ver e do efabular, presença real do imaginário, estórias. Por vezes parece faltar ao pintor um projecto ou programa para cumprir, onde um só tema ou assunto (sujet, subject) fosse metodicamente explorado de cada vez por exposição, mais reflexivamente, numa produção disciplinada por séries e menos convulsivamente acidentada. Mas não é esse o rumo actual de Nuno Viegas, e o seu caminho está aberto a todas as possibilidades, sem se encerrar precocemente num formulário estreito.

  


"O ossário", a seguir "O burro muribundo" e "Confissão aos cães", à direita "A serpente engasgada". Uma presença insistente dos animais: fábulas

A "nuvem nódoa" foi antes "Lava" (2003) e "Tinta envenenada" (2004, Cascais) num constante acentuar da "massa lodosa" que é tinta despejada, amassada, raspada, arrastada, lavada, acumulada, etc, sempre à beira ou por dentro do caos, antes de ser figura e imagem, narração observada ou imaginada. "Esse trabalho é também o das ideias", alerta o pintor, mas "mais do que fixá-las, importa soltá-las, ir ao encontro da sua flexibilidade e desmultiplicação". Como ele diz - e explica-se cada vez melhor -, "a experiência prossegue num confronto entre o visível e o imaginável", numa recusa da ilustração do quotidiano observável, às vezes presente sob a capa do humor, contrariando o talento gráfico para tornar mais inquietante o comentário sobre o mundo.

A exposição da colecção (e escolhas afins) do Museu Berardo, "Não te posso ver nem pintado", centrada na permanência da figuração pictural, da representação da vida e do mundo, do retrato (um programa aliciante à partida que é prejudicado por compromissos de circunstância ou conveniência, e escassez de desafios), torna mais evidente a força explosiva desta pintura que se tem mantido na margem exterior do academismo dominante. Pode ser que haja um excesso de ambição na pintura de Nuno Viegas, face aos reducionismos formais e conformismos aplicados que ocupam os salões. Pode ser que a determinação solitária desta pintura não respeite os protocolos de dependência que a circulação pelos salões exige. Mas ela é mais interessante pelos riscos que corre, pelos desafios que faz, pelas recusas que enfrenta. Um desses riscos é o grande êxito de mercado que acompanha desde o início a carreira de Nuno Viegas.

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Se o que se expõe agora no Museu Berardo não me parece empolgante, é surpreendente e muito positivo o grande número de visitantes que o percorrem numa tarde de sábado.

Comments

Este final de artigo é uma tapona na Bescolecção? Seria interessante elaborar... Posted by João Henriques

1 - O começo e o fim do artigo fazem implícitas referências a outras exposições, entre as quais se inclui naturalmente a colecção Bes e a mostra Corral (a srª teve a sua importância, gastou-a e hoje já não serve de aval à coisa: má escolha). Não sei ainda se vale a pena entrar nessas questões, a começar pelas relações problemáticas dos nossos banqueiros com as artes (bens especulativos, activos tóxicos ou apenas trocos?): os 85 Mirós do BPN, o elíptico Alcoitão do Rendeiro/BPP (mais Melo e Lapa), e noutro plano a CGD e o BES - há por aqui um vale tudo que é uma funda marca nacional. Mas não se pode "dizer mal" de tudo, mesmo que quase tudo seja medíocre e entendido como descartável. (Aliás, nunca disse mal de tudo: defendi a colecção Berardo e a solução Berardo para o CCB. Contra quase todos.)

Mostrar assim é parolo (um pouco de tudo, como na botica; a espuma dos magazines, as vedetas e as "emergências", um bodo aos jovens, a alguns e a algumas galerias; uma caderneta de cromos), mas sempre se prestam contas do que se anda a fazer e se fica a saber que ficam por cá umas coisas com qualidade que poderão estar um dia disponíveis para outras exibições.

Aquele salonismo não ajuda a ver: é a arte oficial de hoje. A maioria deslumbra-se com a ostentação do luxo/lixo e alguns procurarão as pérolas e quererão entender como se organiza o sistema da arte. Tratar-se-á de tentar distinguir e escolher, quando tudo está feito para diluir diferenças entre obras e valores, universalizando a ignorância, "democratizando" o acesso ao espectáculo mas sempre com a lógica de diferenciar/distanciar o mais possível os que decidem e os que consomem. Logo à entrada distinga-se a desagradável e ingénua tontice da nossa Almeida e o excelente inventor de acontecimentos que é o chinês Zhang Huan.

Obrigado pelo catálogo, que é um caro coffee-table book natalício mas deu trabalho a muitos "comissários" com pouco emprego. Há sempre um lado positivo em tudo.

2 - Mas o que importa é dizer apenas que a admiração pelo Nuno Viegas não tem nada a ver com esta conversa (terá a ver, de facto, com a exp. "Não te posso ver nem pintado", onde teria lugar de pleno direito, com o risco de fazer sombra a outros, e aí é que bate o ponto - mas o Museu Berardo não precisava de se tornar tão complacente com o nosso podre e pobre stablishment, e por essa via perderá a força da sua diferença inicial). Posted by A.P.

Grato pela resposta, esclarecedora de algumas subtilezas do meio. Se tivesse um pedido a fazer-lhe, seria o de discorrer sobre a colecção própriamente dita, dado que sobre o critério da mostra já se pronunciou. Posted by J.H


Agradeço a boa vontade, mas há certamente outras boas exposições que têm prioridade. E dizem-me que é no espaço BES do Marquês Pombal que estão reunidas obras dos fotógrafos regularmente expostos pela Módulo: António Júlio Duarte, Catarina Botelho, Rodrigo Amado, Duarte Amaral Netto. Tenho que ir ver. Estranho critério de separação esse, entre outras opções dificilmente compreensíveis ou aceitáveis. Mas são grandes questões sobre o actual entendimento salonista da Arte Fotográfica, os neo-picturialismos sustentados no mero aproveitamente dos novos recursos técnicos, a voga do "quadro fotográfico", os mimetismos mundanos das escolhas curaturiais "cosmopolitas", o provincianismo lisboeta em versão espanholada, etc, que valeria a pena abordar com vagar. Posted by A.P

Numa outra nota, acharia interessante uma iniciativa deste género Critical Mass http://www.photolucida.org/current.php ou em tom próximo esta http://powerhousebooks.com/portfolioreview09/ cá em Portugal? Como forma de não só oferecer uma crítica especializada ao trabalho do artista, mas tam´bém de poder proporcionar uma mostra, para além da óbvia montra dos "prémios" instituídos? Posted by J.H



quarta-feira, 1 de outubro de 2008

2008, João Cutileiro fotógrafo, P4


"The nude lies in the centre of Western art"

Inauguração da exposição, dia 9, 5ª feira, a partir das 19h

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Já tem data o leilão de provas vintage e em geral inéditas e ÚNICAS de João Cutileiro, escultor e fotógrafo:

Newsletter-JC-03

a 23 de Outubro e a favor da Abraço.

E ANTES DO LEILÃO VÃO ESTAR EM EXPOSIÇÃO NA P4 A PARTIR DE DIA 9

http://www.p4liveauctions.com

http://www.p4…limited_editions/…

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João Cutileiro expôs fotografias na sua 1ª exposição, em 1961 (que foi a 2ª, contando uma em Monsaraz e Évora aos 15 anos, em 1951). Continuou sempre a fazê-las e,  de longe a longe, a mostrá-las.

Além de escultor é fotógrafo, ou faz óptimas fotografias, em especial retratos. É mesmo um dos nomes certos da revolução fotográfica dos anos 50 e um dos poucos, um dos primeiros, que nesse tempo mostrou publicamente as suas fotografias. Aliás, João Cutileiro até foi fotógrafo profissional, já que tratou durante uns anos a fotografia como uma actividade que podia e devia ser remunerada, no caso de se tratar de prestação de serviços e resposta a encomendas, para além de fotografar por gosto amigos e amigas. Construiu assim uma galeria de retratos que fixou uma geração, ou duas, e deixou registados os tempos de liberdade em Londres (1955-1970).

Também foi e é às vezes um fotógrafo de esculturas, as suas.

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Em Novembro de 1961, na Sociedade Nacional de Belas Artes, o folheto que acompanhou a mostra não trazia reproduções (o autor informa que eram praticante todas retratos). Mas teve título: "25 Esculturas / Fotografias / Desenhos de João Cutileiro"

 Dos "modernos" ou novos desse tempo, tinham mostrado fotografias em exposições individuais de galeria só o Fernando Lemos (em 1952-53) e a dupla Victor Palla/Costa Martins (1958). Foi um pioneiro, portanto.

Um segundo passo público (publicado, neste caso) foi dado só dez anos depois (1971) com a impressão tardia de algumas imagens de Monsaraz (as mais antigas de 1959 e outras de 63, estas expressamente feitas) no livro do irmão José Cutileiro A Portuguese Rural Society (Oxford, Clarendon Press), onde se publicaram também outras fotografias do então desconhecido Gérard Castello-Lopes (era conhecido como crítico de cinema, e tinha mostrado 30 fotografias no pavilhão português da Exposição de Osaka, no ano anterior). Essas fotografias documentais de João Cutileiro eram então "neo-realistas" em sentido lato – mas os retratos de 1961 e os nus que agora se conhecem escapam a todas as classificações. Estas últimas são fotografias do quotidiano, gestos de amizade e amor, descobertas de corpos (explorações físicas antes de serem estudos de formas), momentos de vida antes de serem ou não arte.

Algumas daquelas imagens de Monsaraz e outras mais foram republicadas e expostas em 2005 e 2006 por iniciativa da Fundação PLMJ (Em Foco. Fotógrafos portugueses do pós-guerra, ed. Assírio & Alvim e mostra no Museu da Cidade, Lisboa, com catálogo próprio, em reimpressões digitais modernas).

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"Domingo, a chegada do fotógrafo, Monsaraz, 1963" – impressão digital, jacto de tinta. Col. Fundação PMLJ, de "Em Foco", 2004

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Muitos mais anos depois voltou a expor por ocasião do Mês da Fotografia que aconteceu em Lisboa em 1993, e ficou sem continuidade. Foi na Galeria Valentim de Carvalho: "Memória" (Fotografias inéditas – Colecção do autor). No catálogo geral publicaram-se dois notáveis retratos, um de Álvaro Lapa, 1958, outro de Maria Cabral e Vasco Pulido Valente.
Eram 100 fotografias "vintage", de 1958 a 1970, que não foram então acompanhadas por qualquer outra edição. O que sempre se lamentou, até porque além da importância dos retratos também os retratados tinham razoável notoriedade.

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"Álvaro Lapa em casa de António Caldeira", 1958 (cat. Mês da Fotografia)

((Na ocasião sairam duas "notas" no Expresso (foi pouco, mas o programa do Mês era muito intenso): a 29/05/1993 e 05/06/93))

«Memórias», retratos (inéditos) de amigos e familiares, 1958-70. As fotos foram-se perdendo pelas gavetas e pelas paredes (serviram até de alvo para setas), amareleceram e comeu-as o bicho. Juntas agora, traçam uma galáxia de relações, amizades e amores que veremos ao sabor das identificações disponíveis a cada um: Fernando Mascarenhas (em 65), Jorge Sampaio e Karin Dias, João Cid dos Santos, Francisco Keil do Amaral, Ana Viegas, Maria Cabral e Vasco Pulido Valente, Mário Cesariny (uma parede com seis fotos de 64), Menez (Londres, 63), Reg Butler, José Cardoso Pires (60), Ruy Cinatti, Gérard Castello-Lopes, etc, e um auto-retrato legendado «Paul Newman». Por vezes, as cabeças deixam adivinhar um olhar escultórico, a caminho de outros retratos (Helder Macedo, Azevedo Gomes, Keil do Amaral). Com os retratos de Lemos, tão diferentes, estas fotos privadas levantam um véu sobre um passado oculto, aqui apercebido como um tempo feliz. São pequenos grandes nadas.

100 fotografias que traçam um percurso de cumplicidades pessoais, mostradas em provas de época que transportam as memórias do seu uso (as paredes, os álbuns, o tempo) e um seguro valor de documento sobre os meios intelectuais do seu tempo. Mas é também a procura do sentido do retrato que nelas se encontra, na diversidade dos enquadramentos e das poses «colhidas do natural», ao mesmo tempo que o olhar do escultor se adivinha. Cutileiro mostrara fotografias numa exposição em 1961 e fez parte da geração dos «olhares inquietos» (António Sena) — foi mais um passo na recuperação de uma indispensável memória fotográfica.

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Mário Cesariny em Londres, 1968/69 (De "Londres e Companhia")

Uma dezena desses ou outros retratos foram publicados já em 2004 num livro de memórias de Londres de Luís Amorim de Sousa – Londres e Companhia, ed. Assírio & Alvim, aí se acrescentando um belíssimo encontro com Doris Lessing. Alguns também estiveram expostos no Centro Culturais de Cascais ("Memorabilia", com desdobrável, Nov.-Dez. 2005)

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Doris Lessing, 1963. (De "Londres e Companhia")

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Entretanto, no Museu de Évora, em 1999, apresentou-se "Flores – Esculturas de João Cutileiro – Homenagem a Mapplethorpe". No catálogo publicaram-se 13 fotos suas de esculturas a preto e branco e de página inteira, sendo as do catálogo final de João Cutileiro Junior, com textos de Hellmut Wohl, João Caraça e José Monterroso Teixeira. Das fotografias de flores de Mapplethorpe às flores construídas em mármores e bronze, a cores, somando-se imagens vistas às flores tiradas do natural, e depois refotografadas a preto e branco pelo escultor. Escultura de câmara – a pequena escala e a máquina de ver.

No Expresso Actual publiquei uma entrevista sob o título "De Mapplethorpe a Cutileiro", a 18 de Dez.: http://cutileiro-1999—entrevista.html , e Jorge Calado escreveu a 15 de Jan. 2000 "Flores são flores são flores"

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Por fim (até agora, e se não faltou mais nada pelo caminho), regista-se em Agosto de 2004, na Casa das Artes de Tavira, a exposição "Homenagem a Gustave Courbet"

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"Homenagem a Courbet 10", 2004

fazendo o título e as fotografias púbicas explícita referência ao preciso quadrinho intitulado A Origem do Mundo, desde 1995 exposto no Museu d'
Orsay.  Eram cerca de quatro dezenas de fotografias organizadas em conjuntos de imagens que colocam a par flores, plantas e corpos de mulher, segundo disse Ana Ruivo no Expresso/Actual de 28 de Agosto ("Herbário feminino").

A 4ª exposição em perto de cinco décadas de fotografias está aí. Para se recuperar o tempo perdido. Os negativos perderam-se, as provas são em geral únicas e marcadas pelo tempo. Estão vivas.

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Exposições individuais:
"25 Esculturas / Fotografias / Desenhos de João Cutileiro", SNBA, 1961
"Memória", Galeria Valentim de Carvalho – Mês da Fotografia, 1993
"Homenagem a Gustave Courbet", Casa das Artes,Tavira, 2004

Publicações
José Cutileiro, A Portuguese Rural Society (Oxford, Clarendon Press), 1971 – também com fotografias de Gérard Castello-Lopes.
"Flores – Esculturas de João Cutileiro – Homenagem a Mapplethorpe", Museu de Évora, 1999.
Luís Amorim de Sousa, Londres e Companhia  (Assírio & Alvim), 2004.
Em Foco. Fotógrafos portugueses do pós-guerra. Obras da Colecção da Fundação PLMJ (ed. Miguel Amado),  ed. Assírio & Alvim, 2005, e Fundação PLMJ – Museu da Cidade, Lisboa, 2006

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http://www.p4… photography_books

Estas fotografias de corpos não são esculturas. São corpos de mulheres, tomando o referente fotografado pela coisa mesma (uma facilidade de linguagem, e é uma virtualidade das imagens o tomarem a vez das coisas, substituirem-se a elas, suprirem ou compensarem (em parte) a sua falta; são fotografias de nus (um género fotográfico com grandes tradições, desde o início e, por exemplo, com Edward Weston e Bill Brandt ou o famoso Lucien Clergue, mas as minhas preferências vão para Lee Friedlander (Nudes, Jonathan Cape, London, 1991, por ocasião de uma exposição no MOMA, NY, comissariada por John Szarkowski) – em Portugal, Fernando Lemos e o Victor Palla descoberto na P4, o José M. Rodrigues; e neste caso podemos também vê-las associadas ao trabalho do escultor, que fez muitos corpos de mulheres em pedra, etc. É curioso que a um corpo perfeito ou com qualidades (formais) se chame escultural…

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E agora algumas esculturas: 1969-70, duas páginas de um catálogo da Galeria 111, Lisboa, Dezembro, 1970. (Fotog. de J. Santa-Bárbara)

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Parte de um texto publicado no catálogo da exp. "Amantes". Agosto 1997, Centro Cultural São Lourenço, Almancil

"As for João Cutileiro, he understands the human body and draws out from it what is perhaps most moving: the harmony of its imperfection. All the eroticism of the women hr sculpts resides in this apparent paradox. Today, a Venus created by Cutileiro might have a waist too fragile for the volume and weight of her breasts, frail arms, the shoulders of a young girl, and thighs, compact and disturbing as mercury. Before these figures of Cutileiro, the pleasure is truly an erotic one. But it is not the ambiguous and impotent pleasure of the voyeur. Here the observer leaves himself, transforms, dissimulating himself as agent and accomplice. Looking at these nudes, the well known and calming assertion that complete nudity is chaste loses all sense. These men and women are not undressed to be displayed in a Greek temple or a modern museum: they are naked for love. Which, of, course, is the best reason to be without clothes." text José Saramago (trad. de Glyn Uzzel)


sexta-feira, 12 de setembro de 2008

2008, Africa.cont, índice

 Sumário África.cont

12/09/2008

Comments

É só para te dar os parabéns pela forma como persistentemente tens questionado este projecto. Pela forma como foi levantado, pelas suas implicações, pelas reacções que tem provocado, temos aqui um estudo de caso a partir do qual se pode questionar o modelo cultural dominante, e começar a lançar as bases de um projecto cultural capaz de estar no centro do desenvolvimento e da inovação, um projecto cultural que se quer capaz de afirmar Portugal como uma Plataforma de encontro e contaminação de culturas, de criação do novo. Não um espaço de trocas de favores, de subalternização, onde se afirma a internacionalização por aquilo que se traz de fora e não por aquilo que é cá criado e é capaz de se afirmar e circular internacionalmente.

Penso que seria importante que esta discussão se alargasse a outras expressões artísticas.
Um abraço. A discussão e o debate têm que continuar.

Alexandre Pomar

Obrigado pela colaboração. Toda a gente manda bocas tipo generalidades políticas (sempre contra), mas sobre questões concretas da agenda faz-se silêncio - um silêncio receoso ou de quem fica à espera duma oportunidade. Então na área da cultura é particularmente evidente a falta de vontade ou coragem de intervir ou a desorientação oportunista.
Mas, quanto ao que propões, haverá de facto um modelo cultural dominante? Ou só uma descosida manta de retalhos sem coerência nem credibilidade, que vai sobrevivendo com as mesmas caras e a mesma falta de decisões, do PS para o PSD e vice-versa?
Será de pensar num (em 1) projecto cultural (unificado, centralizado, estatal) ou de equacionar a pluralidade de dinâmicas, projectos, produções, gerações, interesses, etc, aprendendo a viver com essa diversidade, analisando-a e estimulando-a mesmo?
Porquê pensar a cultura (e em geral é em arte que se pensa) como o centro, em vez de tentar dialogar com credibilidade com outros centros (a educação, a ciência), o que agora quase não acontece?
Porquê pensar Portugal como plataforma (com maíuscula) de encontros, como se alguma coisa passasse por aqui (há apenas turistas, de facto), como se não fôssemos só uma franja, uma periferia - e ganharíamos em tomar consciência dessa posição de distância para equacionar as relações com os outros descentramentos do presente. Depois do tempo perdido, temos de ir à procura, apontar a outros eixos, criar antenas e relações lá fora.

Portugal- a negação de algumas existências

"a segregação dos artistas africanos, das diásporas e das imigrações num elegante ghetto lisboeta"

A Segregação dos artistas africanos, das diásporas, das imigrações e descendentes já existe dê-me exemplos de artistas destes (com nacionalidade portuguesa) que representem ou tenham sido selecionados para representar Portugal ou que tenham apoios do Ministério da Cultura.
Melhor sermos segregados num elegante ghetto lisboeta do que continuarem a fingir que não existimos.

sábado, 24 de maio de 2008

João Francisco, 2008: "O arqueólogo amador" : Galeria 111

 24/05/2008 - blog (a 1ª individual)

segunda-feira, 12 de maio de 2008

2008, Africa.cont, o projecto

 Africa.Cont IX

12/05/2008

terça-feira, 22 de abril de 2008

2008, AFAL, Nueva Lente, Photo Visión

 04/22/2008 no blog


Afal Almeria 1956-1964


"El papel de la fotografia: AFAL, Nueva Lente, Photo Visión"

Biblioteca Nacional (com a colaboración de Caja Madrid)

Madrid 29 de noviembre de 2005 a 12 de febrero de 2006

Comissarias: Ángeles Bejerano y Fernanda Llobet 



Catálogo com texto homónimo das comissárias

e "Tres revistas, sendos hitos en la fotografia española del siglo XX», de Marie Loup Sougez


Não tinha percebido que fatalidade pesava sobre a fotografia em Portugal até encontrar esta exposição na Sala Hipóstila da BN madrilena. Para além das obras e dos artistas tinha havido as revistas, os agrupamentos associativos ou informais, uma combatividade organizada, gerações e rupturas geracionais assentes em obra feita e defendida. De regresso ainda fiz algum esforço para que a exposição viesse a  Portugal, mas...


O calendário da renovação nos dois países é o mesmo, de 1956 em diante, mas a dinâmica é outra, com uma diferente caracterização social dos interessados, uma diferente combatividade. Poderá falar-se do diletantismo de alguns privilegiados, de uma volúvel determinação, de um provincianismo elegantemente parisiense com rectaguarda nos Estoris, de uma funda tradição de pegar e largar... Fernando Lemos, figura isolada, partira em 1953 para o Brasil. Os outros pararam, pouco depois de começarem, ao contrário do que aconteceu ao lado. Foram sempre amadores.


António Sena centrou a sua história no seu meio de origem e alimentou a sedução de uma alegada "revolução silenciosa da intimidade". Elogiou a distância arrogante face às associações e aos profissionais, que em Espanha (aqui ou ali) se renovaram e consolidaram novas estratégias editoriais.


Ainda questionei o Castello Lopes sobre se tinham conhecido a revista da AFAL, o anuário de 1958, a sua circulação internacional, etc. Percebi que não.





A revista Afal foi fundada em 1956 por José María Artero e Carlos Pérez Siquier, a partir da Agrupación Fotográfica Almeriense, passando da condição de boletim, a partir do nº 4, à de revista, que chegou a ser bilingue (espanho e francês) e aos 2500 exemplares de tiragem.

O "Anuario de la Fotografía Española", publicado em1958, leva Edward Steichen, à data director no MoMA, a comprar provas para a colecção. Recensões na "Camera" suíça e outras revistas.  Relações com  Cartier-Bresson, Roger Doloy e o grupo  francês 30x40 ( /Les_30x40 ) e Les XV ( Groupe_des_XV ), La Góndola  (Veneza) e La Bussola (Milão) em Itália.

Um exposição em Paris conjunta (Afal + Les 30x40), Munique e Berlim (E e W.), Moscovo. Outras presenças no exterior (Charleroi, etc). Intercâmbio com La Ventana, México. Apresentação de Otto Steinert.

Encerra no fim de 1963 por dificuldades finceiras e de censura.


Na exp. da BN estão representados Joan Colom, Cualladó, Ramón Masats, Oriol Maspons, Xavier Miserachs, Pérez Siquier, Alberto Schommer e Ricard Terré.





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Na sua colaboração em "Vidas privadas", edição Foto Colectania, Pérez Siquier situa a notoriedade de José Ortiz Echague, o picturalismo costumbrista. A dissidência do veterano Català-Roca e Leopoldo Pomés. A Real Sociedad Fotográfica de Madrid e a Agrupación Fotográfica de Cataluña. Cf. Equipo 57 e El Paso.




Nueva Lente, Madrid, 1971 (a 5ª geração da fot. esp.), dir. Pablo Pérez-Minguez y Carlos Serrano, Jorge Rueda (1975-79), ... até 1984


Photo Visión - 1º 1991 sobre Josep Renau.


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08/08/2008

Histórias comparadas


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Terra

Ricard Terré, "La Bizca" (a vesga), Barcelona 1958 


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A história do grupo e da revista Afal (1956-1963), com sede em Almería



é muito importante (também) para perceber o que aconteceu e principalmente não aconteceu em Portugal pela mesma época, com a aparição fugaz de alguns interessados em fazer fotografia de modo diferente da produção dominante nas agremiações de amadores e nos salões oficiais.

As datas são as mesmas, os autores têm a mesma idade e as inquietações são paralelas, as condições de isolamento são semelhantes mas os itinerários têm origens diferentes, não se cruzam e vão depois divergir em absoluto: uns desaparecem, pelo menos durante 20/30 anos, e os outros passam a ser a direcção principal. Segundo parece, não sabiam sequer da respectiva existência. E alguns equívocos terá havido, pelo menos com as colaborações do muito premiado Carlos Santos e Silva e de Augusto Martins (Afal, nº 4, Julho-Agosto de 1956, nos primeiros tempos, portanto).


Em Espanha os novos fotógrafos "dos anos 50" nascem em grande parte nas associações fotográficas de Barcelona e Madrid, e afirmam-se em oposição às suas rotinas; associam-se em núcleos locais e em especial num grupo sediado em Alméria (onde a censura foi mais tolerante), e aí publicam uma revista e um anuário, e internacionalizam rapidamente o seu trabalho, em  contacto com grupos idênticos de França, Itália, Bélgica, México. Em geral consolidam carreiras profissionais de longa duração, e a sua intervenção, mesmo se  contestada nas décadas seguintes por novas afirmações geracionais (e a seguir consagrada com vários prémios nacionais e retrospectivas), teve o efeito de uma ruptura definitiva.


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Os nomes são, em especial, os de Carlos Pérez Siquier (1930-) e José Maria Artero (1921-1991), directores da Afal, e de Joan Colom (1922-), Gabriel Qualladó (1925-2003), Ricard Terré (1928-), Ramón Masats (1931-), Xavier Miserachs (1937-1998), Oriol Maspons (1928-), Josep Maria Casademont (1928-1994), Francisco Gómez (1918-1998), Alberto Schommer (1928-). Vieram mais tarde a ser identificados, em conjunto com a chamada Escola de Madrid, ou La Palangana, e outros mais, com a fotografia neo-realista, sendo esta, agora, uma designação genérica e bastante informal, ou de sentido pouco restritivo.


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Em Portugal (Lisboa), além de Victor Palla (1922- ) e Costa Martins (1922-1996), já depois de Fernando Lemos (1926-), que tiveram pontuais presenças públicas, contam-se as movimentações confidenciais e também episódicas de Sena da Silva (1926-2001), Gérard Castello-Lopes (1925-), Carlos Afonso Dias (1939-) e Carlos Calvet (1928-), para além de João Cutileiro (1937-) que iria expor fotografia em 1961. 

Os propósitos de dar testemunho sobre a realidade do país são aproximados e as referências fotográficas internacionais são idênticas (depois do cinema italiano e da Life) - a rejeição dos formalismos salonistas é paralela, mas faltaram em Portugal condições para experimentar a possível dinâmica de um salonismo renovador. Um aristocrático fechamento de grupo sobre as suas mais ou menos prósperas condições de classe terá igualmente contado - e por isso foram diferentes os caminhos  de Augusto Cabrita (1923-1992) e de Eduardo Gageiro (1935-). 

Entretanto, numa história mais ampla, outras  actividades  fotográficas importará  valorizar a par destas (Orlando Ribeiro, o Inquérito à Arquitectura Popular, o inventário etnológico das equipas de Jorge Dias e Ernesto Veiga de Oliveira), mas a fotografia em Portugal continuaria até aos anos 80 sem condições de reconhecimento e de memória histórica. 


Também existiram em Portugal revistas mais ou menos modernas de fotografia (e muito de cinema amador) - mais modernizadoras ou reformadoras, ou mais identificadas com o salonismo prevalecente, como a última abaixo citada, que segue um modelo idêntico à "Arte Fotografica" publicada em Madrid desde 1952. Nenhuma das revistas, porém, nasceu como publicação própria de um grupo de fotógrafos, e, aliás, nunca chegou a existir qualquer consolidada consciência e dinâmica de grupo. Não houve de facto grupos para além das agremiações de amadores de "arte fotográfica".


Publicaram-se

Objectiva, de 1937 a 1943, com um importante intervalo*: 1ª série, de 15 de Junho 1937 (Nº 1) a Fevereiro de 1939 (Nº 21), e 2ª série, de Abril de 1941 (Nºs 22 e 1) até Junho de 1943 (Nºs 48 e 27)

(*durante esse intervalo, em 39, ter-se-á editado a Foto, que nunca vi: é referida no início da 2ª série de Objectiva)

Foto-Revista, publicação técnica e artística de divulgação fotográfica. Dir., prop. e editor A.Cunha Macedo, Lisboa, 1937 (referida por Emília Tavares na monografia sobre João Martins)

Plano Focal, 1953 (4 nºs) de Fevereiro até Maio-Junho (Ernesto de Sousa foi redactor-chefe)

Fotografia, 1954/55 (10 nºs) de Fevereiro de 1954 a Outubro de 1955.


E tb os boletins dos agrupamentos criados depois de 1950,

boletim do Grupo Câmara, Coimbra, 1951-59 ?

Boletim do Foto Clube 6 x 6, Lisboa, 1956-59 ou 57-60?


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Por outro lado, será preciso elogiar a profundidade e a metodologia do livro de Laura Terré, que resulta de uma tese de doutoramento  defendida em Barcelona em 1998. Não se fizeram por cá coisas assim, investigando a documentação toda, sumariando dados e datas em vez de seguirem devaneios ditos teóricos, e actuando ainda em vida dos protagonistas.


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AFAL 1956/1963 

Historia del grupo fotográfico


exp. e lançamento do livro em 2006, no CAAC, Sevilha: Centro Andaluz de Arte Contemporáneo


http://www.caac.es/programa/afal00/frame.htm


apresentação do livro pelo editor: http://www.photovision.es

"Escrito por Laura Terré, historiadora de la fotografía, y editado por Photovision, AFAL 1956/1963 

Historia del grupo fotográfico es un libro profusamente ilustrado y de interés general. El libro se acompaña de un DVD que contiene la totalidad de las revistas Afal en presentación digital interactiva, para facilitar la búsqueda de autores, de temas y de fotografías.


José María Artero (Almería 1928-1991) y Carlos Pérez Siquier (Almería 1930) lanzaron el primer número de la revista en 1956. Las siglas de Afal siempre recordarán su origen almeriense (contracción de Agrupación Fotográfica Almeriense), aunque su verdadero interés reside en haber vinculado las inquietudes de fotógrafos de toda España, unidos bajo el nombre de Grupo Afal. Se trata de un movimiento interregional -nombrándolo con la terminología del momento- que logra superar las dificultades de comunicación y transporte, para crear una red de autores y asociaciones, de ideas y de estéticas, por encima de los cauces legales y culturales, luchando con los impedimentos de orden superior que imponía la dictadura, con el fin de llevar a cabo un proyecto para la fotografía española. Afal, además de ser sinónimo de fotografía de calidad, nos ofrece una mirada profunda, crítica y humana de la España de aquella época."



"Written by the photography historian Laura Terré and published by Photovision, AFAL 1956/1963 Historia del grupo fotográfico (AFAl 1956/1963 History of the photographic group), is a profusely illustrated volume aimed at the general public. The DVD which comes with the book contains all the issues of Afal presented in interactive digital format, to facilitate searches for authors, subjects and individual photographs.

José María Artero (Almería, 1928-1991) and Carlos Pérez Siquier (Almería, 1930) launched the magazine in 1956. The title Afal (standing for Agrupación Fotográfica Almeriense) reminds us of the magazine’s origins in Almeria, but its real interest lies in the fact that it reflected the concerns of photographers from all over Spain, brought together under the name of Grupo Afal. This was an interregional movement –to use the terminology of the time- with the aim of projecting Spanish photography. Overcoming barriers of communication and transport, the group created a network of authors and associations, of ideas and aesthetics, which transcended the existing legal and cultural channels, despite all the obstacles placed in its way by the Francoist régime. Afal, as well as being a synonym for quality photography, provides us with a profound, critical and human view of the Spain of this period."