terça-feira, 5 de junho de 2007

João Francisco 2007 2008 : O arqueólogo amador (111)

1

 

sem título - arca de Noé - 2007 - grafite sobre papel, 100 x 210 cm. / untitled - Noah's ark

depois do dilúvio - after the deluge

Antigo Mercado, Ourique
8 -15 June, 2007

exposição colectiva com/group show with: Luísa Jacinto, André Romão, Filipe Oliveira, Gonçalo Sena, Luís Filgueiras, Maxime Berthou, Miguel Gomes, Miguel Pacheco, Nuno Luz.
curadores/curators: Ana Lúcia Nobre, Miguel Gomes.

2


sem título - sob observação - 2007 - acrílico sobre papel, 140 x 200 cm. / untitled - under observation

 finalistas de desenho - senior students of drawing - (fbaul) 2006/2007

Ministério das Finanças, Lisboa

January 2008


3


sem título - a derrocada - 2007 - óleo sobre tela, 146 x 120 cm.
untitled - the downfall

 finalistas de pintura - senior students of painting - (fbaul) 2006/2007

Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa

January/February 2008

4


sem título - destroços; sem título - livros e cabeças; sem título - o tempo; sem título - a barricada (2008)
untitled - flotsam; untitled - books and heads; untitled - the time; untitled - the barricade (2008) 

 o arqueólogo amador (e outras naturezas mortas) - the amateur archaeologist (and other still-lifes)

Galeria 111, Lisboa

10 may to 14 june 2008








sábado, 5 de maio de 2007

Sara Maia, 2007

 A exposição "Dog's Sleep" na Sala do Veado 

"O excesso necessário"

in EXPRESSO/Actual de 5 Maio 2007

Fomos deixando de saber que a pintura é também um meio de contar histórias, e cada vez que o descobrimos - tem de ser sempre de maneira diferente - o escândalo é maior. É essencial que por esse contar histórias se entenda algo de diferente da ilustração, por mais que se preze a prática do ilustrador que verte em imagens, à sua maneira, a ficção escrita, em geral por outrem. É essencial que as histórias que se contam, as personagens que se constroem, os fantasmas e as fantasias que se soltam cresçam da realidade material da pintura, inscritas no seu fazer, sem que a tradução por palavras (prévia ou posterior) esgote os sinais visuais e sem que os seus sentidos possíveis se congelem numa narrativa estabilizada.



Sara Maia, "O Colo"


Há uma ameaça incontrolada que reside na imagem, no primado do visual antes da fala, que resiste à formulação oral, e é esse indizível - associado ao estranho poder de criar mundos e seres que os povoem - que justificou as suas inúmeras condenações. À rejeição da figura pelo esoterismo simbolista e depois vanguardista, por ela ser incapaz de representar a ideia de absoluto, ou à recusa da pintura como meio, para ser fim em si mesmo, confundindo liberdade de criação com a esvaziada autonomia do medium, associaram-se conceitos de modernidade que reeditavam os interditos iconoclastas e espiritualistas lançados contra as imagens. Elas regressam sempre com novo poder de perturbação.

Com as histórias de Sara Maia libertam-se outra vez fantasmas que partilhamos como nossos. Há cerca de dez anos, a sua pintura afirmava-se pondo em cena relações de poder e crueldade onde o absurdo explícito se reconhecia não como sonho maléfico mas como realidade mais primitiva e mais íntima. Houve figuras que pairavam como que num magma inicial e comum, antes de ganharem autonomia física e espaço próprio. Houve depois teatros que faziam revisitar a tradição do imaginário diabólico e fantástico (Bosch) e a verve caricatural pós-Dadá (Grosz, Dix), sem que essa circulação culta diminuísse a intensidade ficcional das obras.

Agora, Sara Maia aprofunda a raiz popular desses realismos grotescos (há algo de ex-votos nas suas telas) com figuras que se destacam sobre fundos lisos em situações mais cruas e nítidas, assim mais desafiadoras e incómodas. Duas figuras femininas isoladas (A Santa das Garrafinhas e Rainha em Campânula de Vidro) aparecem como imagens de veneração, com os seus estigmas de doença e pesadelo. Quatro casais (A Fingida, O Colo, A Ceia e Ovelha Negra...) traçam um roteiro do convívio conjugal, com os seus rituais de sobrevivência, as suas máscaras, os enredos e engodos. Dois outros quadros referem o triângulo familiar, ambos protagonizados por uma «boa filha». Quem se reconhece nestes retratos ficcionais?

Sara Maia fornece-nos ela mesma o guião e as chaves das suas imagens para tornar mais real a nossa incerteza face ao que vemos. Apesar de haver diversos exemplos anteriores em que o imaginário revelado só poderia ser feminino (Frida Kahlo, Louise Bourgeois, Ana Mendieta, Paula Rego, etc.), ela usa a efabulação e a necessidade do excesso como ninguém o fez antes.

"

No mm Expresso/Actual de 5 de Maio, um retrato da artista por Cláudia Galhós