sábado, 10 de julho de 1999

1999, NOTAS fotografia

 Carlos Guarita 

Arquivo Fotográfico 

17-07-99

Foto-repórter de carreira inglesa (nasceu em Londres de pais emigrantes, em 1946), Carlos Guarita publicou trabalhos nos grandes magazines internacionais e ganhou em 1995 um primeiro prémio World Photo Press com a série «Teatro de Guerra», sobre os mercados de equipamentos bélicos. Em «Teatro das Estações» apresenta um projecto inédito desenvolvido desde há vários anos em torno das manifestações rituais que assinalam as mudanças das estações e, em especial, a chegada da primavera. Enquadrada por duas fotografias do pôr do sol visto do interior da sala do trono do palácio de Cnossos, em Creta, nos solstícios de Verão e de Inverno (observação de um alinhamento arquitectónico que terá passado despercebido aos arqueólogos), a exp. reúne 40 imagens a preto e branco realizadas principalmente em Inglaterra e Portugal, mas também em diversos outros países europeus, em meios rurais e urbanos, testemunhando cerimónias colectivas e práticas festivas ou ritualizadas, que em geral têm em comum o culto da árvore e a celebração da natureza (cruzes de Maio, ramos bentos, etc). Identificado pelo autor como um «documentário subjectivo» e um projecto de «trabalho sem fim: fotografar a dança da vida», este é também um projecto com interesse antropológico, que foi acompanhado pela edição de um catálogo. (Até 14 Ago.)  



Claude Fauville , Mitra  20-11-99 

«Através da perfeição e da poesia das imagens, confronta-nos, de forma serena e espontânea, com a evidência das imagens», assegura o prefaciador João Soares, que acumula a função com as de presidente da Câmara e conselheiro de Estado. Expõem-se quase duas centenas de provas a preto e branco de pequeno formato, sob o nome «Choréographie du Trouble», todas elas fotografias de nu, feminino, garantidamente artísticas por efeitos de panejamentos e lamas, desfocagens, projectores de estúdio e trucagens de laboratório, poses de escultura antiga ou contorções esforçadas dos modelos (com um volumoso catálogo, ed. CML). O autor é belga e não se destacou por qualquer contribuição original feita a um género particularmente frequente (e, por isso mesmo, exigente), pelo que não se entendem as prioridades da Divisão de Equipamentos Culturais, para além da conveniência de «animar» uma galeria bissexta. Mas a promoção camarária diz que «C.F. oferece matéria visual para uma reflexão sociológica sobre o panorama da arte actual, propondo várias leituras sobre a nudez e a consciência do corpo». Falta referir uma série de fotografias um pouco mais «ousadas», feitas em planos aproximados talvez de inspiração médica, editada em livro numa colecção especializada: são as «Pisseuses», revisitação de um tema que já motivara Rembrandt e Picasso, e que Emmet Gowin e Sally Mann tinham tratado de um modo não voyeurista. (Até 2 Jan.)  


Eva Besnyo 

Cadeia da Relação, Porto 

16-10.99

Húngara como tantos outros grandes fotógrafos, instalada em Amsterdão desde 1932, não é um nome conhecido, mas descobre-se com imenso prazer e proveito, graças a José Manuel Rodrigues, vindo da Holanda e que algo lhe ficou a dever (como Ed Van der Elsken, exposto há tempos). O empenhamento do seu olhar não cabe nas classificações estilísticas (modernismo, construtivismo, humanismo...) e alimenta-se sempre de uma emocionante intimidade com os modelos, como se tudo passasse pelo seu quotidiano pessoal. Os retratos são admiráveis (foi amiga da grande pintora Charley Toorop) e as fotografias de crianças estão no topo do «género»; o catálogo é uma excelente edição. (Até dom.)


Gérard Castello-Lopes 

Casa Fernando Pessoa 

04-12-1999

 Em 1991, para a Europália, Castello-Lopes retratou Vasco Graça Moura procurando aproximar-se fotograficamente da sua poesia - a transcrição dos versos «o mundo não aguenta a narração de mais nada» e a exibição do livro Mimesis de Erich Auerbach foram dois momentos centrais do trabalho então publicado em A Imagem das Palavras (ed. Contexto), um projecto de Eduardo Prado Coelho prefaciado por João Pinharanda. Anos depois foi o poeta que escreveu «onze poemas de circunstância e um labirinto sobre imagens de Gérard Castello-Lopes», escolhidas por ele e em vários casos de muito recente realização. As duas exposições apresentam-se em dois pisos da Casa, «Em demanda de Moura» (referindo o poeta e não a vila alentejana) e «Giraldomachias» (invocando Gérard), a segunda instalando fotografias e poemas no mesmo espaço, e ambas reunidas, em textos e imagens, com posfácios inéditos dos dois autores, deram origem a um livro único de título e autoria duplos, que teve péssima realização editorial da Quetzal, esperando-se que uma noção mínima de dignidade profissional determine uma imediata segunda tiragem. Às exposições se terá de voltar.  



Gil Bensmana 

ImagoLucis, Porto 

27-05.99

Um fotógrafo francês de origem argelina apresenta um conjunto de trabalhos em que a presença da luz com que a película é impressionada surge apenas assegurada pelo uso de uma gambiarra eléctrica que envolve os corpos, sendo por vezes igualmente incorporada na prova impressa em exposição. Noutra série (os dípticos Iconografia da Alma), à iluminação do corpo pelo mesmo sistema, do qual resulta um desenho de manchas quase reduzidas aos contornos, sucede-se a manifestação do seu rasto luminoso, como o registo de uma aura, uma presença ausente. Mais do que um exercício tecnicista e uma «reflexão» sobre o processo fotográfico, é a intensidade erótica das imagens que assim se afirma, no primeiro caso citando explicitamente a sensorialidade barroca dos efeitos de luz do Êxtase de Santa Teresa de Bernini. Note-se ainda a coerência material das relações entre os suportes fotográficos e as caixas-objectos que os incluem. (Até 8 Jun.)


Keil do Amaral 

Museu da Cidade 

14-04-99

Em 1954 e 55, as 8ª e 9ª Exposições Gerais de Artes Plásticas incluíram secções de fotografia, em que K.A. participou ao lado de Victor Palla, Bento d'Almeida, Augusto Cabrita e outros. O facto, que não consta da cronologia publicada no volume que a Câmara Municipal de Lisboa dedicou ao arquitecto mas é referido na recente história de António Sena, desmente um texto anónimo de parede que abre a presente mostra, onde se faz suceder à participação no Inquérito à Arquitectura Regional a «vontade de se dedicar à fotografia, entendida, acima de tudo, como passatempo». Keil do Amaral não poderá ser visto como um grande fotógrafo desconhecido, mas «passatempo» (algo menos que «hobby») é uma palavra inadequada para caracterizar uma prática que integrou o processo subterrâneo e disperso de renovação da fotografia nos anos 50, interessado em conhecer o país e em contrariar a imagem oficial da propaganda e dos salões. Apresentam-se 56 fotografias do arquivo da família - por uma vez, mostram-se provas originais, e não reimpressões, que escolhem e reinterpretam mais ou menos arbitrariamente acervos de negativos -, embora tenham faltado a investigação e o catálogo. A um núcleo de imagens do Porto, centradas na Ribeira e na Sé, mas também com estudos de árvores da Boavista, segue-se um outro conjunto situado nas Beiras, associado ao Inquérito e à origem beirã de K.A., e um terceiro conjunto, do Algarve, Lisboa e praias de Sintra. Três retratos do filho, de 1950-51 (dois com sobreposições de paredes de pedra ou de canas por dupla exposição e outro de costas em frente ao mar), são impressionantes testemunhos da inquietação de um tempo politicamente aprisionado. (Até 24)



Maria Bleda/José Maria Rosa 

Gal. Pedro Oliveira  

06-11-99

Dois jovens artistas- fotógrafos espanhóis apresentam sob o título comum «Espacios Silentes» duas séries de trabalhos que desenvolvem em conjunto: «Campos de futebol» são as imagens desertas e silenciosas de espaços desportivos suburbanos, fotografados com a austera disciplina escolar dos inventários de Bernd e Hilla Becher; «Campos de batalha» é a revisitação de antigos lugares de guerras famosas, através do encontro com as respectivas paisagens actuais (regiões de montanha, terrenos agrícolas ou margem de estradas), sempre despovoadas. Cada uma delas é mostrada em dípticos de imagens sequenciais, a cores, que são acompanhadas por uma legenda impressa com a identificação do episódio histórico. Este é um roteiro de curioso interesse documental sustentado num jogo «conceptual» em que o espaço e o tempo remetem sempre para uma outra realidade ausente. (Até 12)


Mariano Piçarra 

Arquivo Fotográfico 

18-09-99 

A galeria é ocupada por 18 dípticos (quase dípticos, aliás), cada um deles constituído por uma folha original manuscrita e muito rasurada dos aforismos de José Marinho (Aforismos Sobre o que Mais Importa, Imprensa Nacional, 1994), e uma fotografia oculta sob uma portada de madeira que o observador deverá abrir e que se voltará a fechar sozinha pela força de um peso pendente. Assim exposta a escrita quase ilegível, é para a fotografia escondida que se convoca uma «leitura» demorada, atenta à delicadeza da impressão dos jogos de luz e sombra, à decifração das aparências e dos seus sentidos, à interpretação da possível conformidade com o texto junto - o qual se transcreve no catálogo e em folhas facultadas ao visitante. Datadas de 1987 a 96, localizadas de Mértola a Freixo-de-Espada-à-Cinta, estas imagens dão sequência a uma já conhecida «reflexão» sobre como se confundem no registo fotográfico as coisas e as suas sombras, prolongada pela observação da matéria em movimento, na configuração magmática de um relevo pedregoso, na ondulação de um solo vegetal ou na textura viva de uma parede, onde se inscrevem os sinais de um tempo vivido como morte e ressurreição, enquanto outras fotografias surpreendem a manifestação directa da luz, como poder de revelação (a janela fechada, o caminho entre o arvoredo) ou possibilidade da ilusão. Apreciado o trabalho anterior de M.P. («Carneiro» e «Cenotáfio», em 1993; «Obraçon», no Museu do Chiado, em 1996, ou as fotografias da Guiné, nos Encontros de Coimbra também de 96, ambos numa outra direcção documental), poderá observar-se que o presente projecto - intitulado «Grave» - faz coincidir uma insistente atracção formalista com os limites previsíveis da ambição especulativa, num processo que corre o risco de ficar ensimesmado sobre a sua retórica. O interesse do filósofo ou pensador tomado por referência será matéria controversa, mas a concepção artificiosa e rebuscada da instalação, e também do catálogo que a acompanha, carrega sobre a relação texto-imagem (e em especial sobre as fotografias) um constante efeito de sobre-design, distante da eficácia imaginativa de outras montagens do mesmo autor. (Até 16 Out.)  


Marc Riboud 

Culturgest 

 9-01-99

 Ao longo de mais de 40 anos, Riboud percorreu a China. Foi um dos primeiros fotógrafos ocidentais autorizado a visitá-la, logo em 1956, e foi construindo o mais vasto registo da sua constante transformação. Associando imagens com décadas de distância, dos rigores da construção do socialismo à recente atracção pelo mercado e os modelos ocidentais, a exp. é uma longa marcha onde a atenção inteligente aos pequenos indícios escreve a história através do quotidiano e do individual, guiada pelas legendas com os comentários do autor. Documento e interpretação, os «momentos decisivos» de M.R. não acompanham a cronologia da revolução chinesa ou a história das convulsões do regime, mas são um testemunho magnífico, um olhar interessado e crítico sobre o gigante do outro lado do mundo. É uma grande exp. que foi inaugurada em Paris em 1996, mostrada em Pequim e entrou a seguir em digressão internacional, onde está presente a melhor tradição do fotojornalismo elevado ao plano do ensaio fotográfico. (Até 21 Mar.)


Rita Barros 

111, Lisboa 

04-12-1999

 Lugar mítico e mediático, o actual Chelsea Hotel de Nova Iorque é um sobrevivente dos tempos em que o «underground» não coincidia com a superfície mais ou menos mundana do presente. Fundado em 1905, por lá passaram Mark Twain, O'Henry, Bette Davies, Pollock, Nabokov, Tenessee Williams. Rita Barros, que mora no quarto onde Arthur C. Clarke escreveu 2001, fotografa-o há 15 anos e reuniu os retratos dos vizinhos e as memórias pessoais em exposição e livro (que a CML editou, congregando apoios vários). Já publicadas algumas, as imagens mostram-se em formatos variados e repetidos, com a necessária identificação das personagens. O livro, 15 Anos no Chelsea Hotel, alarga a colecção e surge brevemente pré e pós-faciado por João Soares, Gerard Schneider, a autora, José Gil, Arnold Weinstein («poeta de teatro», biógrafo do pintor Larry Rivers), Gerard Malanga (actor de Andy Warhol, fotógrafo) e Taylord Mead («Sperstar. Arts drifter»). O inventário inclui Bon Jovi, Courtney Love e Arthur Miller, ainda a preto e branco, depois Henry Geldzahler, Barry Flanagan, Gregory Corso, James Brown, Jean Baudrillard, Don Cherrye muitos outros. É um documento. (Até 31) 


Rodchenko 

Centro Cultural de Belém 

4.9.99

Rodchenko pintou as «últimas pinturas» em 1921 e declarou extinta a pintura de cavalete (mas regressaria em 1935, com quadros de uma estranha temática circense). No contexto revolucionário da URSS, foi um dos promotores do produtivismo, que visou implicar a prática artística com a construção da nova sociedade, e passou a dedicar-se à comunicação publicitária, ao mobiliário e à cenografia. A sua actividade foi decisiva para a renovação radical que então conheceu o grafismo e a fotografia, incorporando contribuições das pesquisas sobre o espaço que tinham caracterizado o construtivismo.A exp. «A Nova Moscovo», antes inaugurada na Cadeia da Relação, no Porto, apresenta uma colecção de cerca de 90 fotografias que fizeram parte do projecto de um livro encomendado em 1933 por um instituto estatal, com paginação da sua sua mulher, Varvara Stepanova. Aí comparecem algumas das imagens mais emblemáticas das pesquisas fotográficas de Rodchenko, com as suas perspectivas vertiginosas, pontos de vista oblíquos, contrastes de luz e sombra, a composição inesperada assimétrica, e em especial algumas montagens surpreendentes, mas também outras fotos de reportagem muito mais convencionais, que parecem já satisfazer os objectivos da propaganda tal como os defensores da «fotografia proletária» a entendiam, em oposição aos desvios esquerdistas do «formalismo». Os primeiros anos da década de 30 são marcados por uma viva querela ideológica e 1933 é a data da proibição dos grupos independentes de artistas; Rodchenko estava no centro das polémicas estéticas e este projecto de livro é um evidente reflexo de tensões que assumiam então uma extrema violência.

 25.9.99

Quinze dias depois da inauguração, continuava a ler-se à entrada da exp.: «As fotografias da secção de chapas foram reproduzidas a partir de provas fotográficas originais», deficiente tradução da versão inglesa igualmente afixada: «The photos in the plate section were reproduced...» A frase foi retirada do catálogo (onde, aliás, consta «secção de ilustrações» e não de «chapas»), no qual se publicam reproduções, enquanto a exp. mostra de facto provas originais. É uma espantosa demonstração da ignorância e despreocupação dos responsáveis pelas galerias do CCB. Acresce que esta é uma deficiente representação da fotografia de Rodchenko, cujo trabalho já era então vítima (e cúmplice) da repressão estalinista, e é uma manobra promocional de uma colecção posta à venda depois da derrocada do regime soviético. O projecto de livro a publicar em 1933 sucede à expulsão do grupo Outubro, ao esmagamento da esquerda formalista e à proibição das associações de artistas. Nesse ano, R. fotografou a construção do Canal do Mar Branco, onde morreram mais de cem mil prisioneiros (os que as imagens escondem), para uma edição da «URSS em Construção». «A Nova Moscovo» é um produto híbrido e de compromisso, onde as pesquisas construtivas (os pontos de vistas elevados, etc.) se vão tornando um mero sistema de composição, onde o distanciamento (ou estranhamento, «ostranenie») teorizado por Shkovski, rompendo com a percepção habitual (o reconhecimento), dá lugar à ficção da transparência documental, onde o culto da máquina e do progresso técnico vai cedendo terreno à apologia dos «heróis do trabalho». (Até 24 Out.)  


Wim Wenders 

Instituto Alemão e FNAC 

27-02-99

Duas exp. de um grande viajante, a primeira («Foto-Jarra», em itinerância pelos Goethe Institut desde 1995) concentrada na Austrália e usando apenas o formato panorâmico; a segunda, diversa nos meios, a cor ou preto- -e-branco, e nos caminhos, com passagem por Portugal, é um «diário de bordo» («Too Shot Pictures») que faz o circuito das FNAC desde 94. A atracção pela extensão dos espaços naturais, que já se conhecera em «Written in the West» (Coimbra, 1987), prolonga-se nestas imagens do deserto australiano, semeado de escombros da civilização que a natureza irá reabsorver, por entre estranhas paisagens vindas do fundo do mar e a massa imponente do Ayers Rock, a montanha sagrada dos aborígenes. Os negativos de 6 x 17 cm devolvem-nos a magnificência da linha de horizonte e o sentido da marcha, enquanto o calor do deserto domina a cor das provas. A notar ainda o «design» original do catálogo. (Até 15 e 10 Mar.)



Lisboa Anos 90 

Arquivo Fotográfico

18-12-99 

O Arquivo Municipal retoma as encomendas a fotógrafos contemporâneos, como fizera em décadas recuadas, de modo a actualizar o seu espólio e os seus serviços com documentos actuais e novos olhares qualificados. O projecto ver-se-á em três exposições, mostrando a primeira trabalhos de António Pedro Ferreira, Michel Waldmann e Paula Ferreira, num conjunto diversificado e de grande qualidade. (Até 8 Jan.) Hoje às 18h inaugura a participação de Eurico Lino do Vale (retratos) no Convento do Salvador - Centro Magalhães Lima, ao Miradouro de Santa Luzia (Alfama).


Livro de Viagem 

Cadeia da Relação, Porto 

20-03-99

Organizada para Frankfurt 97 por Tereza Siza e já mostrada também no CCB, é uma antologia da fotografia portuguesa conduzida pelo tema da diáspora ultramarina e em geral pela ideia de viagem, tomando embora largas liberdades com tal programa de modo a incluir itinerários históricos cumpridos no interior do país (de Frederick Flower aos «pioneiros» dos anos 50/60 - mas sem Benoliel e Castello Lopes) e também autores contemporâneos alheados da observação do mundo e dos outros. A nova montagem, revista na sua sequência e algo ampliada, atribui toda uma enxovia da Cadeia à edição de Lisboa Cidade Triste e Alegre, trocando a ordem dos autores para Costa Martins/Victor Palla, sem razão compreensível, e reúne algumas páginas da maqueta original a provas oriundas de diversas colecções, mostradas sem as suas datas de reimpressão - o mesmo se passa com Fernando Lemos, embora já nos casos de Paz dos Reis e de Orlando Ribeiro se proceda à correcta datação e atribuição das novas tiragens. Entretanto, assinale-se a identificação de Agostiniano de Oliveira como autor da colecção do Museu do Dundo, antes anónima. Outra sala é atribuída a Carlos Calvet e a Paulo Nozolino, este com uma vasta selecção de 20 anos de trabalho, entrada na colecção do Centro Nacional de Fotografia sob o título «Los Angeles-Tokyo», e mais uma a Fernando Lemos e Jorge Molder, sob a epígrafe «Percursos em torno do objecto fotográfico». O gosto pelas classificações sem sentido prossegue no capítulo «Inventar um signo, revisitar uma ideia», que inclui José M. Rodrigues (portfolio «Viagem», 1997) ao lado de Helena Almeida e Valente Alves, enquanto outro espaço é intitulado «Viagens» e apresenta Aurélio Paz dos Reis, Domingos Alvão (com o trabalho no Douro para o Instituto do Vinho do Porto), Orlando Ribeiro e Albano Silva Pereira - estabelecendo também neste caso a amálgama entre projectos totalmente distintos. Do mesmo modo, «O Labirinto da Saudade» será uma designação improcedente para apresentar António Leitão Marques, António Júlio Duarte e Mariano Piçarra, com que se completa aqui a selecção contemporânea. Importa, aliás, notar o carácter sempre vago e arbitrário dos textos que acompanham os autores ou os tópicos em que se incluem, trocando a informação necessária por comentários supostamente literários (exemplo: «Inquieto e inquietante, Paulo Nozolino carrega, como aquele Fernão de Magalhães que não chegou a dar a volta ao mundo, o inconformismo com o país, a história, a claridade»). O levantamento das imagens coloniais, iniciada nos Encontros de Coimbra, é uma linha de trabalho que mereceria ser continuada. (Até 3 Abr.)  


VI Bienal de Fotografia 

Celeiro da Patriarcal, Vila Franca de Xira 

30.10.99

A difícil conjuntura política local terá favorecido uma edição defensiva, voltada para a manutenção das aquisições anteriores, sem se projectar o concurso para um nível superior de ambição, o que teria de passar pela afirmação prévia de um júri claramente prestigiado, mobilizador de participações já credenciadas ou de candidatos credenciáveis (a participação de Teresa Siza, em representação do Centro Português de Fotografia, vai no sentido da concentração e dependência face ao poder, mesmo que possa ser positiva a sua acção). Entretanto, notar-se-á um maior rigor selectivo nas admissões (42 em 102 concorrentes), que não poderia atenuar o carácter mediano e conformista da generalidade das entregas – destacando-se, além do premiado Valter Vinagre, representante da SNBA, com fotografias de uma operação cirúrgica (num p/b velado que lhes confere uma estranha densidade matérica), o brasileiro Marcelo Buainain, com um notável conjunto de imagens da Índia, e ainda João Mariano, vencedor na edição anterior. O programa prossegue com mostras locais (João Mariano e José A. Chambel, na Quinta da Piedade, a abrir hoje às 16h) e extensões a outras entidades. (Até 28 Nov.)