O museu regional do Dundo reabriu as portas ao público, no passado
dia 23 de Agosto, sete anos depois do seu encerramento para obras de
reabilitação e modernização.
A cerimónia de abertura foi marcada pela exibição do grupo cultural
Akixi e Tchianda, o mais representativo do folclore da região, agora
assumido pela nova geração, no quadro da revitalização das "oficinas
culturais" da aldeia museu, um centro de transmissão dos usos e costumes
da região.
A reabilitação e modernização do museu do Dundo, não
contemplou apenas a renovação da exposição de longa duração, mas também
incluiu novas estratégias de atuação e funcionalidade dos aspetos
técnico-científicos e administrativos do próprio museu.
O museu
regional do Dundo passa agora a ter uma exposição de longa duração que
compreende a sala síntese, sala da pré-história e arqueologia, sala da
organização social, sala da organização política, sala da caça e
atividades domésticas, sala das atividades económicas, sala das artes e
atividades lúdicas, sala intermédia de exibição de filmes etnográficos,
sala da religião, iniciação masculina e medicina tradicional, duas salas
da história mineira e a sala da colonização e resistência contra a
ocupação colonial.
A ministra da cultura, Rosa Cruz e Silva, que
conjuntamente com o governador provincial da Lunda Norte, Ernesto
Muangala, cortaram a fita de reinauguração do museu regional do Dundo,
considerou que a ocasião é um "ato de nobreza, para celebrar a vida, a
cultura na sua expressão máxima de um povo, porque os artefactos, as
peças museológicas, a memória das comunidades das áreas socioculturais
aqui representadas, refletem o ser no mais profundo do seu íntimo,
explicam a história e em suma a própria cultura".
Rosa Cruz e Silva destacou o museu regional do Dundo como "a primeira
e a maior instituição museológica de Angola" por ter revelado dinamismo
na investigação científica em várias disciplinas, "desde a pré-história
ou história mais antiga, onde se dedicaram estudos das estações
arqueológicas que trouxeram a superfície os vestígios dos tempos
memoriais do paleolítico e não só".
Realçou, igualmente, a
etnografia e antropologia enquanto vocação do museu regional do Dundo,
"para dar nota ao modo de estar dos povos do leste de Angola, mas
também, e sobretudo do seu pendor artístico".
A mestria nas
artes, dos povos do leste Angola, segundo a ministra Rosa Cruz e Silva,
"galvanizou, impulsionou e chamou os arqueólogos, os etnólogos, os
homens das ciências sociais, depois os biólogos, que tiveram que
produzir e elaborar até a década de 70 do século XX, uma vasta coleção
de estudos sobre os tuchocwe, todos os seus vizinhos e aparentados".
A ministra considerou, no entanto, que o museu regional do Dundo, tem
cumprido a função mais representativa da experiência museológica, que é
a de investigação científica, que resulta da longa lista bibliográfica
que conectou este museu com o resto do mundo.
"A história desta
instituição foi feita de muitas glórias, no domínio científico e da
celebração da cultura dos povos que aqui se reportam, pois que foram
criados mecanismos de organização cultural, com a formação de grupos de
dança e equipas de recolha do cancioneiro da música tradicional",
enfatizou Rosa Cruz e Silva.
O novo museu
Depois da independência
do país, em 1975, lembrou a ministra, assistiu-se a um decrescer de
eventos em razão da situação difícil que se vivia na altura,
assinalando, no entanto, que " a museologia em Angola, pela mão dos
próprios angolanos, começa a dar os primeiros passos, a partir do museu
do Dundo".
A ministra salientou que os passos para a
reabilitação e renovação do museu do Dundo, começam a ser dados em 2007,
com a elaboração de um programa que previa não só a requalificação da
sua infraestrutura, como também a construção do laboratório de biologia,
aldeia museu, a estação arqueológica do Balabala, assim como a
renovação da exposição permanente.
Reiterou que "estão agora
criadas as condições, para fluir a cultura e sobretudo para que os novos
investigadores angolanos, tenham larga a sua capacidade científica e se
aumentem os conhecimentos sobre a cultura desta região, que nos seus
particularismos ou na sua essência está muito longe da maior dos
angolanos".
A ministra não deixou de render homenagem algumas
personalidades ligadas a cultura, que não só tornaram viável o projeto
de renovação do museu regional do Dundo, como deram contributo
incomensurável no desenvolvimento da cultura nacional.
Rosa Cruz
e Silva lembrou a figura de Henriques Abranches, que a seu modo criou
uma escola de museologia, que distribuiu as peças pelo país para criar
novos museus, escola essa, segundo a ministra, foi renovada, atualizada e
melhorada os seus métodos.
Foi igualmente prestada homenagem a
Felizardo Gourgel, que contribuiu para a guarda e preservação do acervo
do museu do Dundo, nos tempos mais difíceis e ao Francisco Xavier Yambo,
o grande impulsionador da revolução dos museus, que culminou com o
estatuto dos museus que foi recentemente aprovado.
A reabertura
das portas do museu regional do Dundo, foi igualmente possível com o
"engajamento de uma grande equipa, desde a direção dos museus, os
membros da comissão, coordenação do projeto de renovação dos museus
regional do Dundo e sobretudo do executivo angolano.
A reabilitação e renovação do museu regional do Dundo custou aos cofres do estado mais de quatro milhões de dólares.
Sítio de culto da cultura Tchokwe
Ana Clara Guerra Marques,
investigadora da cultura Lunda Tchokwe há mais de vinte anos, disse que o
museu regional do Dundo é e vai continuar a ser "um sítio de culto da
cultura Lunda Tchokwe", numa perspetiva de desenvolvimento, preservação e
estudo contínuo da riqueza cultural da região.
Mostrou-se
satisfeita com os investimentos feitos pelas autoridades, para que o
museu se transformasse numa verdadeira "casa pública" destinada a
guardar peças, reservas memoriais, transmitir e divulgar a cultura
regional, que, na sua ótica, é muito forte e que até ultrapassa as
fronteiras do nosso país.
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Historial
O museu do Dundo, foi criado em 1936, pela então companhia de
Diamantes de Angola (DIAMANG) e tinha como secções fundamentais a
etnografia, pré-história, folclore e música.
Faziam também parte
do museu do Dundo, o museu do Balabala, que se dedicava ao estudo da
arqueologia, um laboratório de biologia que ao longo dos anos apresentou
ao mundo científico a descoberta e o conhecimento de novos mamíferos,
peixes, batráquios, sáurios, aves e novas espécies ou géneros de
insetos, além de contribuições para o estudo da fauna da região da Lunda
e da África Central.
Há a destacar, também, a
"Aldeia Museu"
que abrigava os artistas que trabalhavam regularmente em escultura,
pintura e tecelagem de forma a permitir a revitalização de alguns
padrões culturais em via de extinção.
As
primeiras coleções do
museu do Dundo começaram a ser recolhidas em 1936, tendo sido obtidas em
diversos pontos da região leste do país, mas sobretudo nas atuais
províncias das Lundas Norte e Sul e Moxico.
A iniciativa cabe ao
etnógrafo português José Redinha, colocado ao serviço da administração
colonial, na então vila de Portugália, que começou com uma coleção
privada de objetos etnográficos, a qual evoluiu, com a pronta
intervenção da DIAMANG, para um museu, cujos trabalhos alcançaram o
mundo, tendo sido considerado na década de 1950, como um dos maiores a
sul do Sara.
Até 1974 o museu do Dundo tinha um acervo de mais de 20 mil peças.
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