terça-feira, 19 de junho de 2012

Fotografia em Moçambique, antes de 1970

em 2012

domingo, 29 de abril de 2012

Angola: monumentos coloniais

http://jornalcultura.sapo.ao/patrimonio-cultural/monumentos-coloniais-a-procura-dos-velhos-pedestais

Monumentos coloniais à procura dos velhos pedestais



Por ocasião do 18 de Abril, Dia Internacional dos Monumentos e Sítios e no ano em que a Convenção da Unesco sobre a Protecção do Património Mundial, Cultural e Natural completa o seu quadragésimo aniversário, entregámos ao director do Instituto Nacional do Património Cultural, Ziva Domingos, algumas questões que aqui deixamos impressas para reflexão dos nossos leitores, principalmente ligadas à gestão do património herdado do colonialismo.

Entrevista ao director do Instituto Nacional do Património Cultural, INPC, Ziva Domingos

O tema proposto pelo ICOMOS (Conselho Internacional Dos Monumentos e dos Sítios) para comemorar o 18 de Abril, Dia Internacional dos  Monumentos e Sítios em 2012 é “40°Aniversário da Convenção do Património Mundial: Reconhecer os Desafios do Futuro”. Considerando que o património é o legado que recebemos do passado, vivemos no presente e transmitimos às futuras gerações, o que nos pode dizer sobre o destino a dar aos monumentos coloniais transladados para o Museu das Forças Armadas? Já se tem o inventário completo de todos esses monumentos e também sítios deixados pela Administração Colonial em Angola?

Ziva Domingos O verdadeiro destino a dar aos monumentos coloniais colocados do Museu das Forças Armadas dependerá da política do Executivo sobre a criação de um Museu de História de Angola com uma das componentes dedicada à História Colonial.
Estes monumentos se encontram neste lugar hoje pelo facto de estarem ligados à origem da fundação da Cidade de Luanda e por ser um dos pontos estratégicos da luta Contra colonialismo.

Considerando a história recente de Angola, a prioridade não era dada a história colonial devido aos danos que o colonialismo causou à vida do povo angolano.  Esta realidade afetou também o sector do Património que ainda não deu um tratamento específico a alguns monumentos e sítios da Administração Colonial. Mas no nosso inventário constam vários edifícios e palácios que serviram de residência aos administradores coloniais e outros lugares que serviram de ponto de resistência ao colonialismo (as fortalezas por exemplo).

JC – A Convenção sobre a Proteção Do Património Mundial, Cultural e Natural, considera como “património cultural” as obras arquitetónicas, esculturas ou pinturas monumentais, Objetos ou estruturas arqueológicas, inscrições, grutas e conjuntos de valor universal excecional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência. Cabo-Verde, por exemplo, conserva até à data todos os monumentos herdados do regime colonial. Dentro da definição da Convenção pode o monumento a Diogo Cão, por exemplo, regressar ao largo frente ao Porto de Luanda?

ZD - A instalação de qualquer monumento dentro de uma cidade depende muito da importância que o Governo, a sociedade civil e as comunidades acordam a este bem considerando o papel que certa personagem jogou na História de qualquer país e a sua ligação comos desafios passados, presentes e futuros. A grande questão que devemos nos colocar aqui é de saber se a descoberta do Continente Africano (de Angola, em particular) feita pelo Diego Cão representa algo simbólico e histórico para o povo Angolano?
Se for, sim, não se coloca qualquer obstáculo para que no futuro o monumento desta personagem seja reinstalado ao largo frente ao Porto de Luanda. Mas se esta personagem é encarada como um colono, talvez no estado atual das coisas, será um pouco difícil que se dê um tratamento especial a este assunto.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Castro Soromenho

Castro Soromenho escritor africano

Por RODRIGUES VAZ


Completaram-se 100 anos no passado dia 31 de Janeiro que, em 1910, na Vila de Chinde, Moçambique, nascia Fernando Monteiro de Castro Soromenho, filho de pai português que foi governador de Luanda e de mãe cabo-verdiana, o qual, depois de ter passado a sua infância e juventude em Angola, se veio a tornar, durante a sua segunda estada em Portugal, um dos pioneiros da ruptura com a até aí chamada literatura colonial.

http://jornalcultura.sapo.ao/letras/castro-soromenho-escritor-africano

sexta-feira, 3 de julho de 2009

José Cabral. URBAN ANGELS. 2009 ("Human condition")


Human condition

Photography in Mozambique was a great collective adventure for about two decades. It was defined by a few books, which, as a rule, were an extension of exhibits and gestures of international cooperation (Moçambique, A Terra e os Homens, 1983; Karingana ua Karingana, 1990; Maputo - Desenrascar a vida, 1997; Iluminando Vidas, 2002). When Europe discovered photography made by Africans, a few years back, Mozambique was in the front line (Africa, Africa, Copenhagen, 1993; Revue Noire, n. º 15, Paris, 1994). With life slowly turning normal in Mozambique (after the revolution and the civil war, after the election of 1994 or 1999…), the chapter of mobilization and propaganda that had called for photography headed to its natural demise and the routes forcibly turned personal. There had been nototious exceptions, such as José Henriques da Silva with Pescadores Macua (Lisbon, 1983 and 1998) and Moira Forjaz with Muitipi, Ilha de Moçambique (Lisbon, 1983).
The aforementioned adventure had trailblazers, Ricardo Rangel and Kok Nam, who came very soon into a colonial press that was more permissive that the one based in Lisbon and who set the models for the transition. More than some Portuguese tradition (Século Ilustrado?), the exciting example of the photographers of Drum magazine, in South Africa, must have made an impact. The adventure then had its headquarters and school, the Associação Moçambicana de Fotografia [Mozambican Association of Photography] and the Centro de Formação Fotográfica [Photography Learning Centre], in which dozens of photographers were trained, some of them more perseverant than others. It had a documental and political style, as a way to answer to the urgencies of socialism, war, hunger and the reconstruction. Times changed.
José Cabral came to this collective history in a unique way, having trained with his amateur photographer and filmmaker father — he also had a grandfather, homonymous, on his father’s side, who was a governor (1910-1938) and who had a park named after him in the old capital (Continuadores Park, today). He started in cinematography and he joined his experience as a news photographer to documental programmes of a less urgent nature. Later, he was probably the first to distance himself from the routines of journalism, and he made that challenge very clear with the choice of works in display in the Iluminando Vidas exhibit: instead of war, misery, victims, ruins and promises of reconstruction, that can still be seen yet another face for exoticism, he showed feminine nudes without any ethnographical pretext. The representation encountered some problems in Bamako, Mali, photographical capital in a country of Islamic severity.
His photography — particularly the fact that he shows it as the work of an artist — became more autobiographical and even more intimate, albeit free from any pretence to self-reference or narcissism. In the country’s new situation of economic growth, that is a battle that matters, a more individualist battle for convivial spaces. As Linhas da Minha Mão [The lines of my hand], in 2006, during the third edition of Photofesta, was an affirmation of the personal dimension of a gallery of portraits and places — meetings with people, landscapes, cities and trees all through Mozambique’s recent history.
The Urban Angels are children: his own three and then four and other people’s children, street children. The differences of colour and of social condition aren’t hidden, quite the opposite, they make the record of the unbearable inequalities more pungent and penetrating. José Cabral’s images are simple and beautiful, tender and terrible, but they always lack the weightings of chance, artifice and policy that so often are the easy formula of the art of photography. They are simultaneously direct and charged with emotion, without distancing themselves from life in search of metaphors. There’s a personal history and many collective histories in these images of Mozambique. One of them associates General Mouzinho de Albuquerque, who defeated Gunganhana in 1895, to Colonel José Cabral’s great-grandson, who had continued his plans for rail tracks and who made a statue to him, which has meanwhile gone down. It is just a family photograph, a child playing…




José Cabral. ANJOS URBANOS. 2009



Condição humana

A fotografia em Moçambique foi uma grande aventura colectiva durante cerca de duas décadas. Ficaram a marcá-la alguns livros, que em geral prolongam exposições e gestos de cooperação internacional (Moçambique, A Terra e os Homens, 1983; Karingana ua Karingana, 1990; Maputo - Desenrascar a vida, 1997; Iluminando Vidas, 2002). Quando a fotografia feita por africanos foi descoberta na Europa, há poucos anos, Moçambique estava na primeira linha (Africa, Africa, Copenhaga, 1993; Revue Noire, nº 15, Paris, 1994). Com a normalização lenta da vida do país (depois da revolução e da guerra civil, depois das eleições de 1994, ou das de 99…), esse capítulo de mobilização e propaganda a que a fotografia tinha sido chamada encaminhou-se para o seu fim natural e os itinerários passaram a ter de ser individuais. Tinha havido alguns casos de excepção, como José Henriques e Silva e os Pescadores Macua (Lisboa, 1983 e 1998), Moira Forjaz e Muitipi, Ilha de Moçambique (Lisboa, 1983).
A referida aventura teve pioneiros, Ricardo Rangel e Kok Nam, que entraram muito cedo numa imprensa colonial mais liberal que a de Lisboa e construíram os modelos da transição. Mais do que uma tradição portuguesa (o Século Ilustrado?), terá contado o exemplo empolgante dos fotógrafos do magazine Drum, da África do Sul. A aventura teve depois uma sede e uma escola, a Associação Moçambicana de Fotografia e o Centro de Formação Fotográfica, no qual se fizeram dezenas de fotógrafos mais ou menos perseverantes. Teve um estilo testemunhal e militante, para responder às urgências do socialismo, da guerra, das fomes e da reconstrução. Os tempos mudaram.
José Cabral chegou por uma via original a essa história colectiva, praticando com um pai amador de fotografia e cinema – e, por sinal, também teve um homónimo avô paterno que foi governador (1910-1938) e um parque com o seu nome na velha capital (hoje Parque dos Continuadores). Começou pela fotografia de cinema e aliou a prática de foto-repórter a programas documentais menos determinados pela urgência. A seguir, terá sido o primeiro a distanciar-se da dinâmica jornalística, e tornou muito claro esse desafio com a escolha das obras para a exposição Iluminando Vidas: em vez de guerra, miséria, vítimas, ruínas e promessas de reconstrução, que podem ser ainda uma outra face do exotismo, mostrou nus femininos que não tinham qualquer pretexto etnográfico. A representação acabou por ter problemas em Bamako, no Mali, sede fotográfica e país de rigores islâmicos.
A sua fotografia – em especial a forma de a mostrar como trabalho de artista - tornou-se mais autobiográfica e até intimista, sempre sem pretender ser auto-referencial e narcísica. Essa é a outra luta que importava travar nas novas condições de crescimento do país, uma batalha já mais individualista para abrir espaços conviviais. As Linhas da Minha Mão, em 2006, por ocasião do 3º Photofesta, afirmava a dimensão pessoal de uma galeria de retratos e de lugares – encontros com pessoas, paisagens, cidades e árvores ao longo da história recente de Moçambique.
Os seus Anjos Urbanos são as crianças: os três e depois quatro filhos do fotógrafo e os filhos dos outros, as crianças da rua. Há diferenças de cor e de condição social que se não escondem, pelo contrário, e que tornam mais incisivo ou mais pungente o testemunho sobre as insuportáveis desigualdades. As imagens de José Cabral são simples e belas, ternas e terríveis, mas sempre sem os cálculos de acaso, artifício ou programa que são tantas vezes a fórmula fácil da arte fotográfica. São ao mesmo tempo directas e carregadas de emoção, sem se distanciarem da vida à procura de metáforas. Há uma história pessoal e há muitas histórias colectivas nestas imagens de Moçambique. Uma delas associa o general Mouzinho de Albuquerque, o vencedor de Gungunhana em 1895, ao bisneto do coronel José Cabral, que tinha continuado os seus planos de vias férreas e lhe ergueu a estátua, entretanto apeada. É só uma fotografia de família, uma criança que brinca…



texto do catálogo, com 3 poemas de Luís Carlos Patraquim




domingo, 10 de maio de 2009

Mikael Levin, Cristina's History, 2009, CCB

capa e guardas

Mikael Levin, Cristina's History, 2007 / 2009 (catal./livro)

edition Le Point du Jour, Cherbourg-Octeville, France / Museu Colecção Berardo, Lisboa
2009
162 pags., P/B; Fr., En., Pr.

textes : Jean-François Chevrier, Carlos Schwarz, Jonathan Boyarin 
( et Mikael Levin - legendas e agradecimentos)

images:
Zgierz, Pologne - pag. 16; 
Lisbonne, Portugal - pag. 48; 
Guinée-Bissau 80.

http://www.mikaellevin.com/cristina.html

pag. 2-3

sábado, 15 de junho de 2002

Fernando Calhau (1948-2002)

"Carreiras paralelas"

FC, artista plástico e ex-director do IAC

Expresso Actual de 15/6/2002

Artista plástico e primeiro director do Instituto de Arte Contemporânea (IAC), Fernando Calhau faleceu na quarta-feira, após prolongada doença. Tinha 54 anos, e as suas últimas obras podem ver-se ainda até ao fim do mês no Pavilhão Branco do Museu da Cidade, numa mostra conjunta com Rui Chafes onde a presença da morte se podia reconhecer logo no título escolhido, «Um Passo no Escuro».

Formado em pintura na Escola de Belas-Artes de Lisboa, em 1973, com estudos de pós-graduação na Slade School de Londres, com Bartolomeu dos Santos, Calhau começou por dedicar-se à gravura. Logo no início dos anos 70, a sua obra tomou a direcção das pesquisas minimalistas e conceptuais, que nunca mais abandonou, tendo participado activamente nas movimentações vanguardistas da década, juntamente com Ernesto de Sousa, Julião Sarmento e outros, nomeadamente na exposição «Alternativa Zero», em 1977. A utilização da fotografia, do filme Super 8 e depois do vídeo tiveram então um largo espaço no seu trabalho, a par da realização de séries de pinturas monocromáticas, onde dominam as superfícies negras.

A seguir, o envolvimento com responsabilidades administrativas na Secretaria de Estado da Cultura, pouco depois do 25 de Abril, tornou mais discreta a sua presença como artista plástico, espaçando-se a sequência das exposições individuais - registem-se, entre outras, as que realizou na Galeria Cómicos, em 1987, 89, 91 e 93, passando à utilização de suportes recortados, de chapas de ferro e do néon. Uma perspectiva global do seu trabalho foi apresentada numa antologia organizada pelo Centro de Arte Moderna em Outubro de 2001, a que se seguiu a atribuição do Prémio AICA-Ministério da Cultura desse ano.

Fernando Calhau deixara já a direcção do IAC, por doença. Sucedeu-se então um breve período de maior intensidade criativa, de que resultaram exposições de pintura, na Galeria Cristina Guerra, e de desenho, também no CAM («Passageiro Assediado»), onde as linguagens reducionistas de sempre se orientaram num sentido menos formalista, em que a emotividade e a inquietação estavam notoriamente presentes.

No âmbito da administração cultural, Calhau manteve uma intervenção oficial continuada ao longo de 25 anos, através de variados contextos políticos (interrompida no mandato de Santana Lopes), tendo chefiado a divisão de Artes Plásticas e o serviço de Comunicação Visual da antiga Direcção-Geral de Acção Cultural da SEC, onde trabalhou com João Vieira, Julião Sarmento, Cerveira Pinto, Margarida Veiga e Delfim Sardo <com os dois últimos criou a empresa Modus Operandi, de prestação de serviços>. Foi membro da comissão organizadora do Museu de Arte Moderna do Porto e integrou as comissões de compras de obras de arte para a SEC e para a Fundação de Serralves, passando a assegurar também a orientação da colecção de arte contemporânea da Caixa Geral de Depósitos entre 1992 e 96. Essa experiência culminaria na actividade à frente do IAC, criado em 1997, depois de já ter presidido à respectiva comissão instaladora.